11 de novembro de 2008

BR 163 – Dez pro Maggi, Zero pra Carepa.

Seria muito bom saber o que se passa no coração do presidente Lula em relação ao prestígio dos governadores, o quanto cada um deles é dignificado com as atenções presidenciais e com a nomeação de seus indicados a cargos relevantes, carreadores de benesses para os respectivos estados.
Não interessa os demais estados. Apenas dois são realmente importantes para esta gente sofrida e sempre desapontada do Pará do Oeste: Mato Grosso e Pará, cujos governadores são, respectivamente, Blairo Maggi e Ana Júlia Carepa. Maggi tem influência e força suficientes para indicar o chefão do DNIT – Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes, órgão que interessa profundamente os estado do Mato Grosso e do Pará, pela importância das estradas Cuiabá-Santarém e Transamazônica.
Desta última nem é bom falar. Seu trecho mais importante e o que carece de maiores cuidados - neste momento de graves problemas econômicos, das agruras sociais deles decorrentes, assim como as agressões ambientais, todos eles mutuamente enrabichados num círculo vicioso - é o compreendido entre Altamira e Itaituba. Aqui, temos zero de investimentos em asfalto e praticamente zero em manutenção. É uma estrada relegada ao abandono. As populações dos municípios a que serve são tratadas como escória sem a mínima importância para os políticos do partido do presidente, inclusive a governadora Carepa. Este partido alardeia ser isto mesmo, partido do presidente. Partido do presidente... Melhor seria se não fosse. Pelo menos não passaria tanta vergonha pelo desprestígio que a cada momento demonstra não possuir. O presidente não lhe presta nem lhe dá a menor atenção. Prefere os aliados, ou mesmo algum adversário mais promissor. Zero pra Carepa.
Pagot é homem de Blairo Maggi, faz o que o governador manda. Maggi falou pra Lula botar Pagot no DNIT. Maggi tem prestígio. Lula sorriu e decretou: Pagot no DNIT. O DNIT faz rodovias, ferrovias e hidrovias. Basta dizer isto pra saber a enorme importância desse órgão para estados como Mato Grosso e Pará, cujas enormes distâncias e economia descentralizada exigem eficiente malha de transportes. Dez pro Maggi.
Pagot esteve em Santarém, prometeu maravilhas pra BR 163 do Pará, logo logo estaria prontinha, brilhando, toda asfaltada, pontes, acostamentos, policiamento, tudo. E tudo pronto já no ano que vem, 2009. Todo mundo aqui ficou contente. Pagot é o tal, o cara, o cão chupando manga. Ninguém se lembrou de que ele disse que há embargos ambientais. Embargos ambientais? Por quê? Projetos mal feitos, incompletos, propositalmente errados para que haja embargo? Se assim é, a culpa é do projetista incompetente, que projetou, e do DNIT desidioso que não controlou, e que talvez tenha encomendado que assim fosse. Temos que desconfiar de tudo e todos. Somos enganados por todos o tempo todo. Isto aqui é casa de Mãe Joana. E a gente não se toca. Zero pra nós.
Ninguém se lembrou de pedir pra Carepa ajudar, dar uma forcinha junto ao Lula. Também, pra que? Carepa não ta nem aí, não quer nem saber, além do mais, não transita no poder do presidente. Pagot virou as costas e mandou ferro. Tirou toda a grana da BR 163 do Pará do Oeste e mandou tudo pra BR 163 do Mato Grosso do Norte. Ficamos a ver navios, ou melhor, a ver as balsas da Maggi que aqui chegam pelo Madeira. O partido do presidente e a governadora do partido do presidente ficaram com cara no tacho, não mandam nada, não apitam nada, nulidade quando se trata de defender interesses do estado. Zero pra Carepa.
Não é a primeira vez que somos atingidos por bofetadas morais do senhor Blairo Maggi. Sua indelicadeza já deixara rubras marcas de seus dedos na face de Simão Jatene quando, junto a Lula, decidiu questões da BR 163 no Pará sem ao menos avisar o governador deste estado. Agora, violenta bofetada atingiu o rosto apático de Carepa e, por extensão, de todos os ingênuos paraenses. Também, com tal representação política que temos por aqui é o que merecemos. Com o partido do presidente a nos defender, tomamos porrada. Com a governadora Carepa a nos proteger, lá vem bordoada. Joga bosta na Geny, Pagot...
Assim se conta a estória, a eterna novela da sempre fracassada defesa de nossos mais legítimos interesses econômicos, sociais, ambientais e morais. Infelizmente, somos forçados a sofrer, impotentes, tamanha vergonha. Não somos capazes de ter representação política à altura de nossas ambições. É por isso que sofremos tantas derrotas, tanta humilhação. Dez pro Maggi. Zero pra Carepa.

7 de outubro de 2008

Um método perverso

Em meu livro "A Montanha da Sabedoria" (que começa a ser distribuído em bancas e livrarias, e os interessados podem solicitar pelo telefone 93 3523-2181 ou pelo e-mail 5poderes@gmail.com) faço referência a alguns métodos de obtenção de conhecimento, o principal deles sendo a lógica, na qual se apóia o método científico. Entre eles, muito utilizado, principalmente a partir de meados do século XIX, está a Dialética, precursora da Lógica.

É claro que nenhum instrumento, seja ele material como o fogo ou a energia atômica, seja intelectual como a Aritmética ou a Lógica, possui qualquer qualidade moral intrínseca. Não são nem bons nem maus, mas absolutamente neutros. É claro, também, que todos podem ser utilizados para o bem ou para o mal. Mas isto diz respeito à qualidade moral e ética do agente e não à do instrumento, que não a possui.

No entanto, a qualidade do método, no que diz respeito à eficácia na obtenção de resultados precisos, no caso, verdadeiros, pode fazer deles instrumentos de construção de teorias absurdas e preconceituosas, muitos dos quais conduzem a atos da mais absoluta e irracional perversidade.

Ao contrário da Lógica, propícia à construção de hipóteses e teorias, passíveis de serem submetidas a aferições comprobatórias práticas, a Dialética tem sido muito utilizada na geração de ideologias impossíveis de contestação a não ser por meio de negações das negações num processo interminável e insolúvel.

Democratismo, Liberalismo, Capitalismo, Socialismo, Comunismo, Fascismo, Nazismo, Ambientalismo ou Ecologismo, como queiram, até mesmo a mistura de conceitos religiosos e ideológicos no caldeirão da Teologia da Libertação e uma infinidade de outras ideologias são fruto deste método cognitivo insuficiente, a Dialética.

A História está plena de exemplos, desde os movimentos que produziram dogmas religiosos, apostasias e combate a estas, às teorias que construíram regimes políticos capazes de destruir milhões de seres humanos, como o de Stalin, na União Soviética e o de Hitler, na Alemanha nazista. Todos eles fruto de método de pensar incapaz de conduzir à verdade, ou pelo menos a hipóteses e teorias defensáveis até que vencidas por descobertas científicas mais esclarecedoras.

De modo geral, as pessoas detestam os recursos mais adequados ao raciocínio, como a matemática e a lógica. Conheço pessoas que se recusam a adotar a aritmética elementar até para ver se o salário chega ao fim do mês, mas afirmam dogmaticamente seus artigos de fé, suas inabaláveis e vãs suposições não verificáveis e, muito menos, mensuráveis.

É perfeitamente possível provar a veracidade de fenômenos físicos e químicos, pelos menos a maior arte deles, e é baseado nesta certeza que se enviam homens e artefatos à Lua e a Marte com sucesso. Mas não é possível verificar determinados fenômenos psicológicos e sociais. O belo edifício da Psicanálise, tão bem construido, desmoronou por falta de comprovação de suas premissas, mas foi defendido com ardor por seus fieis adoradores.

É interessante notar a influência da psicanálise na sociologia, na antropologia, na arte e na religião, nos costumes e na liberalização da discussão dos assuntos sexuais, o que vem comprovar os efeitos da dialética nos assunto humanos, alguns com efeitos amenos, como é o caso da psicanálise, outros com terríveis conseqüências, como a teoria da raça pura nazista.

29 de setembro de 2008

O Líder idealizado

Em A Montanha da Sabedoria, a personagem central discorre sobre as virtudes fundamentais do ser humano, sendo, a última delas, "Liderança, a capacidade de inspirar, motivar, planejar e coordenar o trabalho de várias pessoas em conjunto". Embora haja muitas técnicas efetivas de desenvolvimento de vários aspectos da liderança, que se podem e devem aprender em livros, cursos e seminários, costumamos pensar que o verdadeiro é sempre um líder nato. A História ai está para comprovar esta crença.

De qualquer forma, principalmente em épocas de disputas políticas, cabe refletir sobre o que seja a liderança e qual seria o perfil hipotético, mas desejável, do líder ideal. Aqui está, resumido para caber neste espaço, o resultado desta reflexão.

É evidente que o líder ideal deva incorporar o conjunto das cinco virtudes e, portanto, 1 - ter caráter, isto é, ser íntegro, estóico e corajoso; 2 - possuir sabedoria, obtida pelo estudo e pela reflexão com objetivo de estabelecer sua capacidade de discernir e julgar; 3 - ser saudável, pelos cuidados com a saúde e forma física; 4- ter serenidade, manter o equilíbrio, a boa vontade e o espírito cooperativo na busca de soluções, qualquer que seja a circunstância e por mais exaltados que estejam os circunstantes; 5 - englobar tudo isto na liderança, através da ambição de contribuir para o desenvolvimento próprio e da Humanidade, estabelecendo objetivos elevados e exercitando capacidade empreendedora.

A maioria das pessoas se contenta em esperar por ordens para fazer as coisas. Elas as fazem a contento, é verdade, mas não possuem a iniciativa de agir por conta própria; ao contrário, preferem seguir alguma liderança. Há, porém, aqueles que sentem o impulso interno de fazer acontecer, querem ser cabeça, não a cauda.

Talvez seja verdade que algumas pessoas nasçam com talento natural para a liderança. Porem, mais verdadeiro ainda é o fato de que sem prática, sem impulso interior, sem entusiasmo e sem experiência não pode haver real desenvolvimento no exercício da liderança. Bons líderes trabalham e estudam continuamente para aperfeiçoar suas habilidades naturais.

O líder deve ter a capacidade de promover a melhoria da organização e coesão de seu grupo e possuir a habilidade de influenciar os parceiros a trabalhar em conjunto para atingir seus objetivos. Liderança e poder são coisas distintas. O líder não perturba, não ameaça nem amedronta. Pelo contrário, o líder incentiva, encoraja e motiva as pessoas em busca de um ideal. Mas, para que o líder seja seguido por seus parceiros, é necessário ter um propósito, saber aonde ir e onde se situa na organização, conhecer a hierarquia e as pessoas, os objetivos e metas, meios e métodos da organização.

Ser líder não é o que se faz os outros fazerem, mas o que se é e o que se faz. As bases da liderança são o crédito e a confiança que os parceiros depositam no líder. Por sua vez, as bases do crédito e da confiança são ética elevada, e bom relacionamento. A liderança exige dois protagonistas: o líder e as pessoas em torno dele e o modo como o líder trata seus parceiros e o tipo de relacionamento que constroem juntos forjam a consistência do grupo.

Obtidos o crédito e a confiança, criam-se as condições para informar aos parceiros as metas e objetivos a serem atingidos de forma concisa e clara, o que exige algo de extrema importância, a boa comunicação, sem a qual não pode haver boa liderança.

Cultura e conhecimento técnico associados à capacidade de avaliar e julgar corretamente para tomar decisões acertadas e rápidas são requisitos importantes da liderança, porém, mais importante do que as próprias habilidades do líder, é a capacidade deste de reconhecer e aproveitar as capacidades dos parceiros.

Lao Tsu, filósofo chinês, escreveu há dois mil e quinhentos anos a seguinte definição de um líder ideal: O melhor de todos os líderes é o que ajuda as pessoas tão eventualmente que elas não necessitam dele. Depois vem aquele que o povo ama e admira. Depois, aquele que é temido. Por fim, aquele que permite ser abusado pelas pessoas. O melhor líder fala pouco, mas quando o faz as pessoas escutam e, quando ele termina seu trabalho, as pessoas dizem que foram elas próprias que o fizeram.

28 de setembro de 2008

Energia, Alimentos e Sustentabilidade.

 Durante a era Reagan os Estados Unidos armaram a arapuca da "Guerra nas Estrelas" que induziu militaristas russos a forçar maciços desvios de investimentos dos setores produtivos para os aplicar na indústria bélica, do que resultou colapso da economia e, como conseqüência, dissolução da União Soviética. Após o governo Reagan constatou-se que tudo não passara de tremendo blefe. É claro que outros fatores contribuíram para o fim da URSS, inclusive a corrupção interna do Partido Comunista, podridão que se revelou de forma explosiva na transição para a economia de mercado, mas o efeito da cartada de Reagan foi decisivo na desorganização e ineficiência econômica e na insustentabilidade política.

A China e os Estados Unidos provavelmente não chegarão a colapso político semelhante, mas encontram-se à beira de seriíssima convulsão econômica decorrente da ineficiência na geração e uso de energia. A atual dificuldade no setor imobiliário estadunidense é uma das múltiplas manifestações dessa ineficiência. Por algumas estimativas, a China, além de já haver atingido o posto de maior poluidor do planeta, é também um dos mais ineficientes produtores e utilizadores de energia e, embora tenha oficialmente lançado ambicioso plano de redução na intensidade de uso de energia, os resultados práticos até agora são irrelevantes. Este país se arrasta atrás dos paises mais industrializados no que diz respeito à eficiência. O setor industrial absorve mais de 70% da grade energética e a economia chinesa cresce em taxas tão elevadas que as pequenas melhorias obtidas na eficiência ficam plenamente neutralizadas pelo crescimento do volume.

Uma comparação simplista do uso de energia nos mostra que, ao câmbio e preços de 2005, para cada cem dólares despendidos pela China com o uso de energia na formação do produto interno bruto (PIB), os Estados Unidos gastariam 25, o Reino Unido 17 e o Japão apenas 13. Isto significa que, para cada dólar de PIB gerado, a China consome 35.766 BTUs, os Estados Unidos 9.133, o Reino Unido 6145 e o Japão 4.519 (um BTU é a quantidade de energia necessária para elevar em um grau Fahrenheit uma libra de água). Incrivelmente, há países ainda mais ineficientes, como a Rússia e outros órfãos da União Soviética. A Ucrânia despende mais de 138 mil BTUs para gerar cada dólar de seu PIB.

O Brasil é o décimo maior consumidor mundial de energia, o terceiro maior no Hemisfério Ocidental, atrás dos Estados Unidos e Canadá. A grade brasileira de consumo energético é composta de 48% de petróleo e etanol, 35% de hidroeletricidade, 7% de gás natural, 5% de carvão mineral, 2% de biodiesel e outros renováveis, e 1% de energia nuclear.

O Japão junto com a Dinamarca são os países mais eficientes na utilização de energia. Com os altos custos da energia e com tamanha ineficiência, não há economia que resista e não é por outro motivo que a China se lançou no projeto de construção da maior hidroelétrica do Planeta. Este é enorme, embora um dos poucos, investimento estatal no setor. Os investimentos privados chineses são limitados pela falta de um mercado financeiro mais sofisticado. Embora a China possua reservas crescentes que se aproximam dos dois trilhões de dólares o mercado financeiro é tão incipiente que não é capaz de suprir as necessidades do setor energético privado do país.

Os Estados Unidos despendem cerca de um décimo de seu produto interno bruto para abastecer de energia suas casas, automóveis e caminhões, fábricas, edifícios de escritórios, centros comerciais, aparelhos sem conta e tudo o mais que ajuda a constituir e manter sua civilização com eficiência medíocre. Um trilhão por ano – o custo estimado de toda a guerra no Iraque até agora - é muito dinheiro, mesmo com dólar desvalorizado. Um pouco de eficiência reduziria esse gasto pela metade.

A sociedade estadunidense tem sido perdulária em muitos sentidos, edificações amplas, consumidoras de materiais de construção e com grande dispêndio de eletricidade para iluminar, aquecer no inverno e esfriar no verão, carros grandes e pesados, consumidores de aço, tinta, borracha e com grande dispêndio de combustível para se moverem, muita roupa, muita comida e enormes quantidades de lixo. Os Estados Unidos importam mais de sessenta por cento de suas necessidades de energia e empurram os preços do petróleo para a estratosfera, encarecendo não apenas a sua, mas a economia global, afetando a todos os países com enorme prejuízo para as nações pobres.

Esta sociedade perdulária, como não poderia ser diferente, gera uma classe política que reflete essa cultura do desperdício e age irresponsavelmente como se tudo estivesse às mil maravilhas. É possível que muitos políticos influenciados pela industria petrolífera, em proveito desta, propositalmente adotem posturas legislativas contrárias a praticamente tudo que possa fazer essa sociedade se tornar mais eficiente no uso da energia de que dispõem e na busca de fontes alternativas.

Nas últimas décadas o Congresso dos Estados Unidos barraram a construção de usinas nucleares, de novas e mais eficientes refinarias de petróleo, de portos de gás natural, de campos de geradores eólicos de eletricidade, exploração de petróleo em águas marinhas no Alasca, na Califórnia e na Flórida, o financiamento de pesquisa energética, retardando o estabelecimento de padrões de eficiência mais rígidos no uso de combustíveis automotivos e, ainda por cima, impuseram taxa de importação sobre o barato e limpo etanol de cana de açúcar brasileiro e incentivaram a produção de etanol de milho que provocou carestia nos alimentos que dependem dessa matéria prima.

Os processos comerciais atuais de produção de energia de biomassa nos Estados Unidos, que se concentram no Cinturão do Milho, no Meio Oeste, sofrem fundadas críticas pelo brutal encarecimento dos alimentos que provocam. Com investimentos relativamente pequenos o milho poderia ser substituído pelas novas perspectivas que se abrem para fontes de matéria prima não alimentícias tais como capim nativo, cavacos e briquetes de madeira e resíduos florestais.

Se o maior consumidor de energia do mundo continua com o desperdício e seu ambicioso seguidor, a China, vai no mesmo caminho, com ineficiências ainda maiores, e outras nações atingem o limiar das sociedades de consumo, como a índia, não há como evitar a escalada dos preços do petróleo. Os custos de produção são cada vez maiores por exigirem tecnologias cada vez mais avançadas e mais caras: exploração em águas profundas, perfurações horizontais e direcionais e outros. Mas o pior de tudo é o estado de guerra permanente do Oriente médio onde se concentram as maiores reservas globais de petróleo. O Iraque ainda está longe de retornar ao auge da produção dos tempos de Hussein, o Iran vive em estado permanente de beligerância, Israel, Líbano e Palestina são uma mistura explosiva e tudo isto representa ameaça, não apenas á continuidade da produção, forçada ou voluntária, também a do transporte do precioso líquido.

Uma usina termoelétrica comum, alimentada por carvão, gás ou petróleo é ineficiente por natureza, transformando em eletricidade apenas trinta por cento da energia contida no combustível e jogando na atmosfera o restante sob a forma de calor e toneladas de CO2. Se a energia térmica fosse utilizada, quer para o pré-aquecimento da água que alimenta as turbinas, quer para outras formas de aproveitamento, a eficiência poderia atingir oitenta por cento.

Os esforços atuais em busca de fontes alternativas se mostram insuficientes, embora haja casos exemplares e elogiáveis. Por exemplo, grades energéticas já são atendidas por fontes alternativas em 40% na Dinamarca e 14% na Alemanha. Porém, a maior parte de tudo o que se produz de energia renovável, ou se pretende produzir em futuro próximo, está muito longe de exercer efeitos perceptíveis no deslocamento de combustíveis fósseis emissores de carbono. A menos que ocorra alguma importante quebra de barreira tecnológica, todas as fontes de energia renovável necessitam crescer de modo extremamente rápido para qualquer efeito notável nas questões de energia limpa e mudança do clima.

Além dos efeitos econômicos, a ineficiência no uso de energia exacerba os nocivos efeitos dos gases de efeito estufa, as alterações climáticas e a insuportável poluição que torna o ar irrespirável em Pequim, São Paulo e outras metrópoles. Mas o problema não fica circunscrito aos grandes consumidores e maiores poluidores, todos os paises são ineficientes e muitas das soluções provocam efeitos secundários danosos seja ao meio ambiente, seja no encarecimento dos alimentos. Estamos diante de grande encruzilhada entre o indispensável uso de energia, a imediata satisfação das necessidades alimentícias e a sustentabilidade do Planeta.

Petróleo mais caro não significa apenas gasolina mais cara, significa que todos os derivados que servem de insumos para uma pletora de indústrias ficarão mais caros, inclusive os insumos agrícolas, do que decorre alimento mais caro para a humanidade.

A solução para essa terrível ameaça que já se manifesta de modo tão agressivo poderia advir de duplo esforço, um no sentido de se obter melhores índices de eficiência na geração e no uso da energia, outro no de desenvolver fontes de energia renovável.

A luz solar que atinge a Terra em apenas uma hora contém suficiente energia para abastecer toda a população humana durante um ano. Isto é potência equivalente a dez mil milhas cúbicas de petróleo. "Milha cúbica de petróleo" é uma aproximação grosseira do consumo mundial anual do produto, algumas vezes utilizada para comparações com fontes alternativas de energia, tais como solar, eólica, geotérmica e de biomassa. Para suprir o equivalente a uma milha cúbica de petróleo seriam necessárias 4,2 bilhões de placas captadoras de energia solar de telhado ou três milhões de turbinas eólicas, ou 2.500 usinas termo-nucleares ou 300 hidroelétricas de Itaipu. Até a pouco não tínhamos tecnologia adequada para captar toda essa energia a custos economicamente viáveis. Os preços atuais do petróleo e os que se prevêem em futuro próximo tornam realizável essa perspectiva.

Embora o Brasil não seja tão bem aquinhoado em energia eólica, está entre os mais abençoados com abundante insolação, recursos hídricos, potencial hidroelétrico, solo fértil e florestas. Seria crime contra a humanidade não colocar esse potencial a serviço da reversão do efeito estufa e da estabilização do clima, mesmo ao custo de concessões razoáveis ao rigor na proteção ambiental. A menos que se trate de aberrações ecológicas, os ganhos ambientais seriam enormes. Eis algumas áreas onde se deveria atuar com vigor e decisão em termos de melhoria da eficiência na geração e uso e na produção de energia renovável, não apenas em nosso país, mas em todo o Planeta.

1 - Na melhoria da eficiência: O transporte público deveria oferecer vantagens econômicas e de comodidade sobre o uso de automóveis particulares. A energia térmica gerada por diversas fontes deveria ser aproveitada para aplicações diversas inclusive alimentando termoelétricas. A rede pública de distribuição elétrica deveria receber e compensar economicamente os excedentes da produção particular, inclusive a residencial, incentivando o uso de milhões de pequenos geradores solares, eólicos e hidroelétricos. Os equipamentos deveriam mostrar, de forma padronizada, o índice comparativo de eficiência energética em relação a padrões pré-estabelecidos.

2 - Na geração de energia: Com as raras exceções de viabilidades econômica ou ambiental, todo o potencial hidroelétrico deveria ser aproveitado. As regiões desérticas deveriam ser extensivamente aproveitadas como campos de captação de energia solar e as sombras dos equipamentos utilizadas na tentativa de desenvolver vegetação. Campos de moinhos de vento para geração eólica de eletricidade deveriam ser implantados onde houver condições adequadas. O metano, proveniente dos dejetos dos criatórios e dos aterros sanitários, deveria ser extensivamente aproveitado na geração de eletricidade. O mercado de carbono deveria ser simplificado e popularizado pela diminuição dos emperramentos burocráticos da ONU.

3 - Na geração de biomassa energética: Além da já bem estabelecida indústria de etanol proveniente da cana de açúcar, outras fontes deveriam ser pesquisadas. O desenvolvimento do biodiesel ainda é incipiente e irrelevante na substituição do diesel de petróleo e deveria receber investimentos adequados para pesquisa cientifica e tecnológica. Lenha, cavacos, briquetes, aglomerados de liteira (material orgânico no chão das matas) e muitas outras formas de aproveitamento da biomassa das florestas e da agricultura deveriam ser pesquisados e desenvolvidos comercialmente. Lenha e carvão têm sido coibidos para combater o desmatamento; no entanto são importantes fontes energéticas e deveriam ser melhor desenvolvidos tecnologicamente e incluídos nos planos de manejo florestal e nas grades energéticas dos paises onde haja viabilidade técnico-econômica.

Um ponto importante a ser considerado é como e onde desenvolver tais fontes em melhores condições. Óleo, gás e hidroeletricidade são produzidos apenas nos lugares de ocorrência, conseqüentemente, os possíveis. Disponibilidade e custos de captação são coisas totalmente regionais. No Texas, por exemplo, embora haja planos para implantação da maior fazenda de moinhos de vento do planeta, as mais poderosas fontes potenciais de energia eólica dos Estados Unidos, passos de montanha e topos de colinas desse estado, permanecem desaproveitadas. A maior parte dos territórios das Américas entre os Estados Unidos e o Brasil, dos países mediterrâneos, da África, Oriente Médio, Sul da Ásia e Austrália, é grandemente propícia ao aproveitamento da energia solar. Grande parte dos mesmos territórios é convidativa à produção de biomassa.

Todas estas formas de energia, que hoje são alternativas, mas em breve se tornarão importantes concorrentes da energia fóssil, exigem grandes investimentos, no entanto, pouco esforço estatal seria necessário uma vez que os altos preços do petróleo as tornam cada vez mais competitivas e suficientemente atrativas para a iniciativa privada, desde que a burocracia ambiental ortodoxa não emperre os projetos industriais.

Produção e uso de energia e de alimentos estão intimamente vinculados. Abundância de energia barata, resultante da melhoria da eficiência e do desenvolvimento de fontes alternativas, resultará em maiores quantidades de alimentos mais baratos e, consequentemente, em melhor bem estar para toda a Humanidade. E, é claro, na sustentabilidade do Planeta.

2 de setembro de 2008

A utilidade de um bebê

Carl Sagan, em Broca's Brain, Reflexions on the Romance of Science (Ballantine Books, 16th Edition, 1990, pg. 38), narra a visita da rainha Victoria, em meados do século XIX, ao laboratório de pesquisas físicas de Michael Faraday. Entre as múltiplas descobertas do celebrado físico, em grande parte um auto-realizado cientista, sua majestade encontrou alguns dispositivos de óbvia aplicação prática e outros de finalidade desconhecida, simples curiosidades de laboratório. A rainha perguntou que utilidades tinham tais pesquisas, ao que Faraday respondeu: "Senhora, qual a utilidade de um bebê?"

Quando uma descoberta surge, é como um bebê cujo futuro é completamente desconhecido. Ninguém sabe no que o novo pequeno ser pode se converter, num Capone ou num Einstein.

No mesmo capítulo, Sagan discorre sobre como James Clark Maxwell, elaborando sobre as pesquisas de Faraday, desenvolveu quatro equações matemáticas relacionando cargas e correntes elétricas com campos magnéticos e elétricos, com as quais ficou insatisfeito pela falta de simetria que as tornava deselegantes. Para compensar este efeito, de forma intuitiva e pouco científica, porque sem comprovação experimental, Maxwell propôs que uma das equações deveria ter um termo adicional que ele denominou de corrente de deslocamento, o qual implicava a existência de radiação eletromagnética, o que inclui raios-X e gama, irradiação de ondas de rádio, de luz ultravioleta, infravermelha e visível, que induziram Einstein ao estudo que conduziu à teoria da Relatividade Especial.

Seria impossível, na época de Faraday e Maxwell, prever ao que levariam, cem anos depois, aquelas pesquisas elementares em eletricidade e eletromagnetismo. O mundo de hoje, a vila global em que nos transformamos, se tornou possível pelos avanços tecnológicos nesses campos do conhecimento humano.

O valor econômico e social da modernidade tecnológica é incomensurável diante do dispêndio original na pesquisa científica básica, por maiores que parecessem ter sido na época. O retorno do investimento em pesquisa científica no início do século XX se apresentava de uma a três gerações posteriores. Hoje, com ajuda de hardware e software computacionais, esse retorno se faz de modo muito mais rápido. É certo, que nas ciências biológicas, nas médicas de modo especial, por obediência a regras de segurança, os resultados práticos se apresentam de forma um pouco mais lenta, mas a rapidez do retorno é cada vez mais acelerada.

Isto significa, como conseqüência política, que a prioridade do investimento nacional se deveria concentrar em duas frentes da maior importância: educação básica de excelente qualidade e pesquisa científica e tecnológica. A primeira formaria o manancial revelador de futuros cientistas; a segunda formaria o cabedal de conhecimentos propulsor do desenvolvimento autônomo de nossa sociedade, não isolada do resto do mundo, mas dele participando como contribuinte e parceiro efetivo.

Esta reflexão tem nexo com a mais que oportuna criação da Universidade Federal do Pará d'Oeste, que se apresenta como futuro centro de pesquisas científicas amazônicas. Pará d'Oeste, e Santarém, em particular, já constituíram o principal centro de pesquisas em nosso país. Este trabalho, desenvolvido pelo LBA, foi extremamente frustrante pelos fracos resultados científicos, em grande parte devido à falta de publicação dos trabalhos científicos, acredito que mais por malícia, mas também por se tratar de pesquisas descasadas com os interesses econômicos e sociais amazônicos. Essa lacuna promete ser preenchida pela nova universidade.

Alguns pensam, e eu concordo, que a pesquisa deva ter seu principal compromisso com o conhecimento e com a verdade científica e, apenas secundariamente, com interesses utilitários, de natureza econômica ou social. Mas eu também gostaria de pensar, a respeito de um centro de pesquisas amazônico, que um pouco de comprometimento com as necessidades mais fundamentas dos povos da Amazônia possam ter alguma prioridade como objeto de pesquisas.

25 de agosto de 2008

Dilema de Esmeraldo

Amigos viram este artigo e todos me aconselham a não atiçar o ódio da Igreja. Acho que não é o caso. Minha intenção é provocar reflexão, não ódio. Além do mais, ódio não é sentimento de cristãos, a quem endereço estas palavras. Se me odiarem é porque são o que são, não por serem cristãos. Sou apenas o que assiste o desfile do rei vestido em sua roupa invisível e, enquanto acólitos aplaudem, ele aponta: “o rei está nu”.
Dom Esmeraldo informa a seleto grupo eclesiástico e laico as dificuldades financeiras de sua diocese, a crítica situação e sobrevivência ameaçada da Rede Vida e da Rádio Rural, lamenta que seu pedido a benfeitores alemães fora gentilmente negado e pergunta aos circunstantes o que fazer?
Talvez eu não tenha resposta positiva à pergunta do senhor bispo, mas certamente sei o que não pode fazer. Que Esmeraldo não cometa o erro de Lino, seu antecessor.
Dom Lino, numa postura odiosa, arrogante, intransigente, enviesada, preconceituosa, carente de caridade, por isso mesmo anticristã, ordenou a seus captadores de recursos que não procurassem nem recebessem donativos da Cargill e de sojeiros.
Pior, Dom Lino foi deselegante e ofendeu a senhoras católicas criadas na fé cristã e na obediência à Igreja, que o procuravam para pleitear tratamento mais caridoso do que as injustiças que receberam de setores ideológicos radicais desta diocese pelo simples fato de serem mães, esposas e filhas de agricultores, pessoas de bem, trabalhadores, honestos e religiosos, tanto de Santarém quanto os que para cá vieram atraídos por boa expectativa econômica.
Algumas destas senhoras buscaram minha colaboração em memorial que enviariam ao papa. Não fui de boa ajuda. A indignação, que minhas palavras expressavam, discordava da humilde postura de fieis que se recusam a ser enérgicas perante padres, bispos ou papa. Não sei se enviaram tal documento, nem se João Paulo o leu ou tomou qualquer providência. Sei que elas continuam a freqüentar missas dominicais e comungar regularmente. Duvido, porém, que seus maridos contribuam financeiramente ou anunciem na Rádio Rural.
Não sei qual a diferença ética, moral, religiosa ou política entre agricultores pelo fato de cultivarem trigo, milho, arroz ou soja. Ou entre estes e criadores de gado, aves, suínos ou peixes. Sei que eles ajudam a alimentar a mim, a Esmeraldo e a Humanidade. Sei que não há diferença entre o dinheiro deles, que compra as mesmas coisas. Sei também que foi um agricultor, criador, armador e empresário que financiou os vitrais que ornamentam a catedral de Santarém, assim como, ele e outros, ao longo de décadas, doam novilhas e bezerros leiloados nas festas da Padroeira, com o que todos os bispos que antecederam Esmeraldo – e, estou certo, ele próprio – sempre se mostraram muito felizes.
Ao longo dos séculos, Santas Casas foram erigidas e mantidas por doações generosas de pessoas de posses, até que estas se sentissem discriminadas e ofendidas e cessassem o patrocínio, ou se sentissem em ambiente mais cristão na Universal. Pessoas de posses... Jesus não teve pejo em aceitar convite para banquete de casamento em casa de pessoa de posses, pois foi este o local que escolheu para seu primeiro milagre. Foi pessoa de posses que cedeu o próprio túmulo para que Jesus, o pobre que não tinha onde cair, após degradante morte na cruz, fosse untado com suntuosos óleos, envolto em ricos tecidos e sepultado com dignidade.
A distribuição da riqueza pode ser injusta e, quando o seja, deve ser aperfeiçoada. Mas não há alternativa para a pobreza senão a criação de riqueza. A riqueza é um bem, por ser libertadora, enquanto sua má distribuição é um mal, por injusta, e a pobreza mal maior, por escravizante. Isto é realidade econômica, fato social e verdade ética. Demonizar o bem é irracional e ineficaz.
A Rádio Rural, para a qual por muitks anoq minha mãe escreveu crônicas sobre matéria de fé e vocação sacerdotal, já prestou bons serviços à nossa comunidade. Hoje, é péssimo veículo publicitário e seus reduzidos anunciantes continuam mais por doação gratuita do que pelo retorno da publicidade.
A Rede Vida é pior ainda. Quando a diocese de Santarém se propôs a implantar aqui a Rede Vida, procurou pessoas de posses em busca de apoio moral e financeiro. A Rede Vida foi implantada. Na época, foi proposta, e muito mal interpretada, a criação de conselho editorial que sugerisse temas para tornar a audiência da emissora atraente aos anunciantes. A auto-suficiência nunca foi boa conselheira, muito menos o preconceito e o viés ideológico xiita.
Quando a Rádio Rural precisou de novos transmissores, Edilberto Sena foi à Holanda pedir a pessoas de posses o dinheiro necessário. Pois pessoas de posses da Holanda, lá como aqui, podem ser católicos e generosos, mas podem também, como na Alemanha, e lá como aqui, cansar de ser enganados, ofendidos, discriminados, alijados do convívio cristão por ativistas ideológicos, travestidos de clérigos, propagadores de crenças esdrúxulas e anacrônicas que nada têm a ver com a fé cristã nem com os tempos correntes.
Antigos benfeitores certamente continuarão, a contragosto, apenas por compromisso de fidelidade a Cristo, a freqüentar miscas dominica)s e cnmungar freqüentemente, manter a pratica da fé, mas recusar a contribuir para destinos enganosos o dinheiro do qual se sentem extorquidos. Pois não é dinheiro aplicado em obras pias, templos, Santas Casas, asilos, educandários, mas em política ideológica e ridåculas marchas contra ALCA, Alcoa, Bush e Cargill, contra sojeiros, contra globalização, quixotescamente, contra um monte de coisas, reais e imaginárias. E, agora, preconizando inconstitucionalidades contra candidatos que tem direito ao benefício da dúvida e à defesa plena até que seus processos transitem em julgado, pois o mal não está em que sejam julgados, mas na demora do julgamento.
Hoje, a Igreja faz quase tudo, quase nada a favor do que realmente importa e pertence à religião. A Igreja Católica Apostólica Romana destas bandas latinas perdeu seu objeto, abandonou a religião pela ideologia. A Igreja perdeu seu destino, perdeu Cristo.
Certamente, voltando para Cristo, terá o necessário para suas obras. O Senhor provê, mas por intermédio daqueles que dispõem do que oferecer, como ricaços holandeses ou sojeiros daqui mesmo.

19 de agosto de 2008

Meia lágrima por uma árvore

Bem no meio da Rua dos Artistas, defronte da Praça São Sebastião - tem outro nome, eu sei - há uma frondosa mangueira, vetusta, majestosa, elegante. Foi plantada há mais de oitenta anos por Marcolina Ayres da Silveira, mãe de minha mulher, Nancy. No "Trevo da Calcinha", encontro da Travessa Inácio Correa com a Avenida Adriano Pimentel, há uma pequena mangueira, juvenil, mimosa, também elegante. Foi plantada há uns quinze anos por Ney Imbiriba, meu irmão. Pela cidade toda, há belas árvores plantadas por pessoas comuns, como eu e você, que amam a natureza e apreciam o frescor de uma sombra num dia de sol abrasador.

Na Avenida Marajoara havia vinte e duas mangueiras cuja beleza enfeitava e humanizava a aridez da poeirenta via, cujos frutos faziam a alegria da garotada e cuja sombra amenizava a canícula deste clima equatorial. Foram plantadas por moradores daquela avenida, pessoas comuns, como eu e você, que amam a natureza e contribuem voluntariamente para fazer desta cidade um lugar bom para se viver. Todas estas pessoas merecem consideração, reconhecimento. Merecem respeito.

O povo de Santarém não merecia tal bofetada, ofensa tão rude. Já havia um precedente odioso que todos desejavam que jamais se repetisse, o crime do Elmano, o pérfido interventor, abatedor de mangueiras.

Infelizmente, num lapso imperdoável, hediondo crime foi cometido a céu aberto, diante de populares atônitos e incrédulos, filmado pela TV, visto pelo Mundo. Dezenas de belas mangueiras enfileiradas no eixo central da Avenida Marajoara foram abatidas, mortas, assassinadas.

Tratores enormes arremeteram contra árvores indefesas, inocentes vítimas da incompetência, da desfaçatez, da absurda falta de sensibilidade, da distorcida ganância eleitoreira, do absurdo descompasso com as mais simples e comezinhas idéias ambientais. Qualquer criança de pré-escola aprende o valor das árvores, de como elas devem ser cuidadas, preservadas e amadas. Os assassinos de aluguel não tiveram piedade. Cumpriram fielmente o que os mandantes do crime ordenaram. E tudo isto por um falso benefício, inatingível pelo erro do método: compra de votos por asfaltamento de última hora.

Muitos erros foram cometidos, a começar pela postura indefesa dos moradores que, apanhados de surpresa, não se atiraram de encontro às máquinas assassinas, não ergueram barreiras com seus corpos, não envolveram as mangueiras com seus abraços, não impediram que o crime fosse cometido, não protegeram as árvores que plantaram e regaram com as próprias mãos. Alguns residentes da Marajoara foram condicionados pelo ativismo político manipulador que institui associações de moradores à sua feição para que falsamente legitimem seus escusos interesses. Foram enganados e se tornaram cúmplices do bárbaro crime.

A Secretaria de Infra-estrutura confessa, com argumentação pueril, que não planejara a obra de asfaltamento, por isso mesmo não previra canteiros e ilhas de proteção das árvores e prevenção de acidentes. Na pressa de completar a obra eleitoreira, ordena o injustificável crime, contrata os assassinos e põe por terra o intento imoral. Em lugar de votos recebe a repulsa de um povo indignado. Se os responsáveis queriam ajudar a patroa deram com burros n'água e colhem frutos da incompetência e da falta de ética.

O Instituto Sócio-ambiental se apresenta aos olhos do público como entidade apática, displicente, alienada do governo a que pertence, sem vez e sem voz. A ideologia ecológica que deveria permear toda a estrutura governamental simplesmente não existe, ninguém obedece aos princípios mais elementares da sustentabilidade ambiental. O ISAM não se respeita e ninguém respeita o ISAM. Não houve vigilância. O ISAM não cumpriu seu papel.

De tudo isto resta imensa tristeza, desconsolo profundo, maiores do que a revolta e a indignação pelo crime cometido e por comprovar que pessoas que tiveram minha consideração não merecem respeito.

Meu pranto indignado chora seco meia lágrima por árvore abatida.

12 de agosto de 2008

Alforria

Na página 89 da edição de março de 2007 da Revista de História da Biblioteca Nacional, encontrei notícia de carta da alforria passada pelo jovem proprietário de uma escrava. A incongruência e imoralidade de uma sociedade escravista me fazem usar palavras do alforriante ao transformar drama em poesia.

Alforria

 

Neste ano da Graça de 1869,

Perante o Notário

Da comarca de Campinas,

Província de São Paulo,

Digo eu,

Isidoro Gurgel Mascarenhas,

Que, entre os mais bens que possuo,

Sou senhor

E possuidor

De uma escrava,

De nome Ana,

Que herdei de meu pai,

Lucio Gurgel Mascarenhas.

 

E, como a referida escrava é minha...

Verificando-se minha maioridade, hoje,

Pelo casamento, de ontem,

Por isto achando-me com direito,

Concedo à referida...

Plena liberdade,

A qual concedo de todo meu coração,

Pois que, Ana, escrava minha,

Que foi de meu pai,

É também... minha Mãe.

 

5 de agosto de 2008

Turismo – Foco no essencial

Ao procurar outro documento, encontrei por acaso palesras do Encontro Nacional dos Convention e Visitors Bureaux realizado em Brasília, nos dias 15 e 16 de setembro de 2005, com ênfase no Programa Excelência em Gestão de Turismo de Eventos. Entre as palestras, a de Rui Carvalho, uma das cabeças pensantes do turismo no Brasil, que conheci quando ele era executivo do bureaux de Campinas.

O que considero importante não são as palestras, mas o tema: Eventos. E é isto que me traz a escrever novamente sobre esta minha paixão: Turismo.

As ações do corpo institucional de governo dedicado ao turismo, Ministério, Secretarias estaduais e municipais, Embratur e outras agências semelhantes, com apoio do Sebrae e suas similares, tem papel importante na estruturação e aperfeiçoamento da atividade turística. No entanto, como não poderia deixar de ser, tratando-se de orgãos oficiais ou para-oficiais, suas ações possuem os entraves da mentalidade e da legalidade burocráticas. E isto se reflete em todas as atividades dessas instituições. Elas são necessárias como órgãos normativos e promotores, mas não são nem poderiam ser, pela própria natureza delas, é claro, executores dos negócios turísticos.

Isto me faz pensar no que de fato constitui a base do turismo e qual o resultado desejado. Turismo se faz, essencialmente, com espírito de aventura e empreendedorismo.

Ninguem faz turismo sem o mínimo de curiosidade e disposição para o encontro de situação diferente das habituais. Conheço gente que não sai de casa nem para ir até a esquina comprar cigarro; se o vício não a move, nada mais o fará. Portanto, quanto maior seja a predisposição e a curiosidade para o contato em primeira mão com paisagens, pessoas, costumes, sons e sabores nunca dantes encontrados, ou o desejo de reencontrá-los, maior será a iniciativa de pegar as malas, ou a moxila, e partir no rumo do mundo. Para estes não há necessidade de infra-estrutura, de facilidades, de amenidades. Tem gente que se aventura e dorme em cama feita de sal no deserto de Astracan e enfrenta outros desconfortos, alguns ainda piores.

O apóstolo Paulo inventou o turismo religioso e percorreu regiões marginais do Mediterraneo levado pelo espirito catequético. Marco Polo inventou o turismo cultural. Quem teria inventado o turismo científico? Ou o de negócios? E quantos viajantes não percorreram dificuldades enormes em nome ou em busca da Ciência? Turismo requer a ânsia da novidade.

Mas nem todos os que têm esse desejo dispõem dos recursos necessários. É ai que entra o outro elemento essencialmente necessário ao turismo, o empreendedor, a pessoa que vislumbra oportunidades e os meios de as realizar. Thomas Cook, por exemplo. Aproveitando excesso de capacidade de navios de transporte de tropas inglesas e francesas, Cook vendeu a abastados londrinos a oportunidade de conhecer o mítico Egito.

Nas épocas de Paulo, Marco Polo, de Cook e sua clientela, não havia aeroportos nem lindas recepcionistas uniformizadas, o próprio conceito e a palavra turismo não existiam. Não havia infra-estrutura turística. No entanto, o turismo se fez com apenas suas duas coisas essenciais: aventurismo e empreendorismo.

Fico refletindo sobre o enorme desperdício de talento e dinheiro com firulas acadêmicas e burocráticas a pretexto de promoção, aperfeiçoamento e incentivo ao turismo. Sei que muitos destes investimentos são necessários no mundo moderno e globalizado desta idade do conhecimento e da informação. O que desejo é chamar a atenção para o fato de que se perde o foco na essencia e se despende esforço desproporcional no acessório.

Todos sabemos, é claro, que o grosso do dinheiro da atividade turísticca encontra-se no turismo de eventos. Não está no turismo ecológico, não está no turismo de laser, está em eventos. Eventos culturais e profissionais, principalmente. Mas estes eventos, por vezes, são realizados sem o apoio ou intervenção, até mesmo sem o conhecimento dos órgãos promotores do turismo. Isto porque são iniciativas de grupos diretamente interessados, sejam em congressos médicos ou feiras comerciais.

Evento é a conjugação de esforços de muitas áreas de atividade, cultural, profissional, econômico, social, com suas diversas nuances, na qual o setor do turismo entra como especialista no planejamento e coordenação de eventos, colocando-se a serviço do setor diretamente interessado. Apesar disto, ressalta a carência de iniciativas consistentes, abrangentes e competentes de alguns setores do turismo nesta importantíssima função.

O investimento dos órgão promotores deveria priorizar o espírito de aventura e o empreendedorismo, o aventureiro e o empreendedor, o turista e o operador de turismo. E se o objetivo for o faturamento, lotar hoteis e restaurantes, fazer casas de diversão, comércio e taxistas felizes, então o foco é um só: Eventos.

29 de julho de 2008

Raymond Aron sobre Maquiavel e Marx


"O caminho que leva a Maquiavel passa pela literatura sobre Maquiavel..." "De modo análogo, não se pode remontar a Marx sem passar pelos marxistas, e que cansaço sentimos ao traçar os limites  entre marxianos e marxistas, marxólogos e marxistas. Certamente, os marxólogos não são todos marxistas e, inversamente, muitos marxistas ignoram quase totalmente Marx". Quantos abominam Maquiavel enquanto cidadãos comuns e praticam seus piores exemplos quando se apoderam do governo? "Ninguém acusará Böhm-Bawerk de não ser sincero ao refutar O Capital, ao revelar a contradição entre o primeiro e o terceiro livro de O Capital, entre a teoria do valor e a do lucro".

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Google Imagem - Marx

Aron constata que Maquiavel, fingindo dar lições aos reis, deu grandes lições aos povos e, reproduz Spinoza: "[Maquiavel] talvez tenha querido mostrar o quanto um povo livre deve evitar confiar completamente sua segurança às mãos de um só, o qual, se não é tolo e pensa, então, que também pode não obter a simpatia de todos, deve cotidianamente temer insídias, a ponto de ter que cuidar de sua própria segurança, mas também insinuar insídias ao povo em lugar de tratá-lo"... "Eu sou ainda mais levado a esta convicção em relação a este prudentíssimo homem pelo fato de que ele foi evidentemente um partidário da liberdade e também deu conselhos muito salutares para defende-la".


O sociólogo, filósofo e jornalista francês, Raymond Aron, um dos mais brilhantes intelectuais do século XX, ao contrário da maioria dos intelectuais do pós-guerra, cujo partidarismo radical se posicionava de modo intransigente ao lado de regimes totalitários, foi analista acurado e isento dos sistemas políticos. Em sua obra maior, Introduction à la philosophie de l'histoire, publicada em 1938, às vésperas da Segunda Grande Guerra e, posteriormente, 1955, em L'Opium des intellectuels, um de seus livros mais comentados, Aron questiona marxistas da estirpe de Jean-Paul Sartre pelo incondicional apoio destes à União Soviética diante da agressão às liberdades e opressão de povos da Europa Oriental.
Pois bem, possuo uma versão de O Príncipe, em excelente tradução por Maria Júlia Goldwasser, publicado pela Livraria Martins Fontes Editora, 1999, que tenho lido e relido sempre passando por cima do Prefácio e desprezando o Apêndice, sem a eles dar a mínima atenção. Desta vez, ao consultar as notas ao fim do livro, abri por acaso uma página do Apêndice cujo texto me prendeu até o fim onde encontrei a assinatura do autor, Raymond Aron. Reli o Apêndice e em seguida busquei o Prefácio. Este é um texto importante, consistente e pleno de conhecimento sobre Maquiavel e sua obra. Mas o Apêndice é obra prima de lucidez, precisão analítica, consistência lógica e estilo impecável, na comparação entre o pensamento de Nicolau Maquiavel e o de Karl Max.
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Google Imagem - Maquiavel
O espaço aqui é insuficiente. Apenas comento pontos que me parecem mais relevantes. O primeiro dos quais é o impossível consenso sobre os propósitos e a ética de Maquiavel, tornando quem dele se aproxime um "maquiaveliano, maquivélico ou leitor de Maquiavel", todos incapazes de decifrar a esfinge. Segundo Aron, apenas são dignos de apreciação os que "lêem em O Príncipe ou nos Discursos o que não está escrito, põem em discussão o que é evidente e procuram a máscara atrás do rosto, já que não conseguem vê-la na frente". É com estes que Aron busca conhecer melhor o florentino. Para melhor compreende-lo estabelece paralelo com homens ilustres. "Com quem estabelecer paralelo a não ser com Marx?"
"Tese: Maquiavel e Marx, comparáveis pela descendência inumerável e dividida, por uma problemática não idêntica, mas próxima; uma vez colocada a necessidade prioritária do estudo da realidade tal como é, como rejeitar as lições que esta realidade nos dá, qual seja, a freqüente imoralidade dos meios eficazes?"
"Antítese: Maquiavel e Marx representam dois modos de pensar, duas visões do mundo, duas figuras, dois mestres, exemplares e contraditórios".
"Eis, portanto, a primeira síntese: o marxista, estrategista da luta de classes, da revolução, da organização da guerrilha, da acumulação primitiva, age como maquiavélico, com a força e a astúcia, com a persuasão e a coação. Uma vez chefe de Estado não governa com métodos substancialmente diferentes daqueles das elites do passado nos principados que Maquiavel teria chamado de novos".
Ontem como hoje, muitos dos que falsamente proclamam amor à liberdade de que gozam são de fato amigos da opressão pela qual lutam com armas maquiavélicas. O marxismo se esfumaça no passado. Em nossa memória queda da Bastilha e do Muro de Berlim são contemporâneos longínquos. Infelizmente, a "política real", a dos "meios eficazes", não é privilégio de revolucionários marxistas. Outros há que também conduzem à tirania, à depravação, à corrupção, á falta completa de ética, à pactuação com o crime e com o terrorismo. Todos adotam o que há de pior em Maquiavel.
Felizmente, o próprio Maquiavel os desmascara completamente, os desnuda por inteiro, nos aponta o perigo e indica o caminho da segurança e da liberdade. Compete a nós a atitude prudente

25 de julho de 2008

Cotas da irresponsabilidade

Qualquer pessoa, sociedade ou nação que deseje superar suas limitações atuais e se lançar em busca de um lugar na civilização, em qualquer dos campos de atividade humana, nos círculos das competições desportivas, principalmente as olímpicas, nos meios científicos e acadêmicos, no mundo das artes e, principalmente dos negócios, tem, em primeiro lugar que comprometer-se com férrea disciplina e integral dedicação na busca de excelência. Em tais meios não se admitem condescendências com a insuficiência. Os exemplos são abundantes: a Alemanha e o Japão a partir do término da Segunda Guerra Mundial; a Finlândia quando seu Parlamento anunciou a meta de se transformar o país, no prazo de uma geração, em uma sociedade do conhecimento; Taiwan, a Coréia e outros. Os paises desenvolvidos prezam a excelência em todos os níveis e em todas as atividades. O Prêmio Nobel só é concedido aos expoentes da Ciência, da Literatura e da Paz.

É entristecedor constatar que o Brasil, em lugar de buscar a excelência na educação, se lança de corpo e alma na mediocridade, no rebaixamento dos padrões, no nivelamento por baixo, condescendendo com a insuficiência através da demagogia das políticas de cotas, como se a concessão de uma cota pudesse dar a qualquer pessoa, qualquer que seja seu extrato social ou origem étnica, a capacidade de calcular a quem não saiba tabuada.

As denominadas "ações positivas" por intermédios de cotas raciais, cotas de currículo em escola pública, ou qualquer outra, são apenas deslavada demagogia associada a profunda distorção ideológica, que a título de compensar os desvalidos de uma sociedade injusta, introduz ou agrava o racismo e as injustiça, desconsiderando completamente o fato de que tais políticas em nada contribuem, muito pelo contrário, para transformar nosso país em uma nação moderna, equânime e justa.

O uso de cotas é não passa de abuso em um sistema de ensino que já funciona pessimamente. Em lugar de melhorar, avacalha. As universidades particulares, com honrosas exceções, são meras arapucas de distribuir diplomas. As universidades públicas brasileiras nem sempre cultuam o mérito, mostrando-se displicentes no rigor científico da feitura dos trabalhos acadêmicos, sejam de conclusão, de mestrado ou doutorado e poucas são as que realmente produzem pesquisa científica da qual nosso país tanto necessita – das tecnológicas mais ainda. Pior do que isto, interesses particulares usam os centros de pesquisa em proveito próprio escamoteando a documentação dos trabalhos realizados, a maioria deles financiados com dinheiro público nacional. Um vergonhoso exemplo desse descalabro é a falta de documentação da maioria das pesquisas do LBA, tema que merece aprofundamento.

Imaginemos um sistema de cotas para pobres e ricos, homens, mulheres e intermediários, jovens, adultos e senis, negros, brancos, indígenas e asiáticos todos obesos e sedentários, que se sentissem excluídos e injustiçados, e desejassem fazer parte da equipe olímpica brasileira. Seria uma equipe fenomenal, com certeza, mas que faria tremendo fiasco numa competição em que os melhores buscam o mais alto e o mais distante, com mais força e mais rapidamente.

A política a ser adotada para acesso à universidade é muito semelhante à forma como o Comitê Olímpico Brasileiro procede na preparação dos atletas e em nada difere da escolha dos jogadores nem da disciplina com que Bernardinho convoca e treina a equipe brasileira de vôlei. Tem que começar do pré-escolar disciplina e conteúdo e prosseguir com aferições contínuas e rigorosas dos valores individuais até os centros universitários de pesquisa. Não há outro modo de transformar o Brasil em uma potencia econômica, cientifica e cultural, na qual todos tenham iguais possibilidades de buscar a própria felicidade.

É certo que existem muitos que não tiveram oportunidade de se prepararem adequadamente para introdução nas universidades federais. O que se deve fazer não é abrir as portas à insuficiência, através da lei do menor esforço de um demagógico sistema de cotas, mas sim recuperar o insuficiente por meio de cursos especiais, intensivos e remunerados, nos quais testes freqüentes apontem o mérito a ser impulsionado para estágio superior.

Cota é racismo. Cota é injustiça com o merecedor preterido. Cota é humilhação a quem a aceita. Cota é desmoralização do sistema de mérito. Cota é demagogia. Cota é degradação dos valores acadêmicos. Cota é imoral. Cota é regressão e impedimento ao progresso rumo à sociedade do conhecimento.

Gil Serique - Referências

Estou com uma fila de livros aguardando a vez de serem lidos e apreciados. O primeiro é "East to the Amazon" (A Leste da Amazônia), de John Blashford-Snell e Richard Snailham. O Segundo, "Drowning World – a novel of the commonwealth" (Mundo Alagado – uma novela do bem-estar-comum), do autor de bestsellers Alan Dean Forster. O ultimo, "The Thief at the End of the World – Rubber, Power and the Seeds of Empire" (O ladrão no Fim do Mundo – Borracha, Poder e as Sementes do Império), de Joe Jakson, autor do incrível trabalho de pesquisa de "World in Fire" (Mundo em Fogo) que li e comentei recentemente.

O que estas três obras têm em comum? Todas fazem referencias ao nome de conterrâneo muito especial, Gil Serique.

"East to the Amazon", para meu gosto literário e preferências por informações científicas, dentre as três obras a menos interessante, relata como, em maio de 2001, John Blashford-Snell e sua equipe partiram através da densa floresta tropical da Bolívia em busca do Grande Paititi, a mística terra que os conquistadores espanhóis denominaram El Dorado, e dos segredos de suas rotas de comércio para o Velo Mundo. Os aventureiros percorreram rios perigosos em jornadas incríveis em pleno coração da Amazônia, onde encontraram e obtiveram ajuda de Flávio e Gil Serique.

"Drowning World" é uma obra de ficção científica - sobre Fluva, imaginário planeta onde chove o ano todo, exceto um mês - dedicada por Alan Dean Forster a Gil Serique por causa de... "Mamirauá, a floresta inundada, onde vimos a preguiça de três dedos, o boto rosa e o elusivo macaco uacari branco. A força do Iguaçu. A cerimônia do candomblé nas favelas de Salvador. Os grandes jacintos azuis do Piauí. Os pássaros de Itatiaia. A observação de capivaras e jacarés. A estupenda festa gastronômica no pequeno restaurante de Tefé. O licor caseiro de maracujá no Dia das Mães na Bahia. O mercado de Manaus e os sorvetes que tomamos lá e em Barreiras. E, o mais memorável, nadar com lontras gigantes no Pantanal".

De todos, "The Thief at the End of the World" me parece a obra mais importante, quer pelo primoroso trabalho de pesquisa – para a qual contribuíram, entre outros, meus amigos Cristovam Sena e Elcio Amaral - quanto por se tratar de assunto pertinente a Santarém. Joe Jackson narra a estória de Henry Wickham, que se aventurou pelas escuras florestas da Venezuela e do Brasil, das quais emergiu com setenta mil sementes de seringueira, obtidas ilegalmente, o primeiro caso de bio-pirataria em massa da era moderna. O autor enviou a Gil Serique um exemplar com a seguinte dedicatória: "Gil, I couldn't have writted this without you, pal. It's as much your book as it is mine. Best, your friend, Joe Jackson (Gil, eu não poderia ter escrito isto sem ti, meu chapa. Este livro é tão teu quanto meu. Tudo de bom, teu amigo, Joe Jackson".

Além de haver contribuído para a produção literária de outros, Gil possui seus próprios méritos como autor de "Birds – Your personal guide to Amazon wildlife (for the inquisitive initiate)" (Pássaros – Seu guia pessoal para a vida selvagem da Amazônia [para o iniciado inquiridor[). Eis o que Alan Dean Foster, autor de Star Trek, Star Wars e Alien, escreveu sobre "Birds": "Mestre guia e naturalista, Gil Serique não apenas vive na Amazônia... Ele vive a Amazônia cada dia de sua vida. Desde suas populosas e vibrantes cidades às pequeninas vilas que abraçam igarapés margeados de árvores, das filas de formigas hiper-ativas, em busca de alimento, à onça que, silenciosamente, percorre sombras beijadas pela Lua, enquanto ruidosos macacos fazem coro nas copas, ninguém conhece os segredos do grande rio, e do território que o envolve, melhor do que Serique".

 

A Política segundo Shakespeare e Maquiavel

A política se manifesta através de pessoas e de instituições. Quanto mais estruturado seja o estado, maior importância adquirem as instituições, mais ainda quanto mais perfeito seja o estado de direito.

Instituições são criadas para proteger e servir a um indivíduo ou uma classe, geralmente um senhor ou senhores, donos de bens de produção, barões, reis, ditadores com poderes discricionários. Podem, ainda, as instituições serem criadas para proteger e servir a sociedade toda, à totalidade dos indivíduos da coletividade, em sistema igualitário no sentido de que as pessoas tenham oportunidade e direito de passar de uma classe para outra conforme os respectivos talentos e boa sorte. No primeiro caso temos as instituições ditatoriais, no segundo, as democráticas.

As instituições são regidas por leis e regras, assumindo papel assemelhado ao de pessoas reais, ficção denominada "pessoa jurídica", agindo perante a sociedade com obrigações e direitos como se pessoas fossem de verdade. No entanto, pessoas jurídicas, instituições, não podem atuar sem agentes humanos verdadeiros, necessitam de indivíduos, pessoas para se tornarem funcionais. Estes funcionários devem operacionalizar os objetivos da instituição: sendo ela ditatorial, no interesse do ditador, se democrática, no interesse do povo. Quando a sociedade em que se insere a instituição possuir forte cultura ética, há grande probabilidade de que os funcionários sejam éticos, na maioria, e obedeçam ao espírito das leis. Se os costumes forem pouco éticos, a maioria dos funcionários agirá em benefício próprio, satisfazendo seus próprios desejos em lugar dos interesses do instituidor, seja o ditador, seja o povo.

Por sua própria natureza não ética e pela falta de transparência, pelo sigilo necessário à sua existência e manutenção, a ditadura corrói o espírito ético da sociedade, permite que atos contrários ao interesse das instituições sejam cometidos e acobertados em beneficio dos infratores e daqueles que, pares, subordinados e chefes, tomem conhecimento e exijam compartilhar do botim. As instituições se corrompem, já não mais atendem às suas finalidades, mas às dos corruptos.

Alguns autores analisaram os atos dos governantes, sistemas de governo e suas instituições. Dois dos mais incisivos, mais profundos e mais reveladores são Shakespeare e Maquiavel. Ambos trataram extensivamente de assuntos políticos.

Exceto pela comédia "A mandrágora", cheia de erotismo e sarcasmo, a principal peça do gênero na literatura italiana, a obra do diplomata florentino foi integralmente dedicada à política. Além de sua obra mestra, "O príncipe", o autor produziu "A arte da guerra", "Comentários sobre os primeiros dez livros de Tito Lívio" e "Histórias de Florença". No primeiro, Maquiavel lança os fundamentos da Ciência Política, na segunda, propõe a criação de milícias populares como forma de garantir a segurança do estado contra ameaças de golpe pelas tropas regulares e seus comandantes, nos "Comentários" estuda a história de Roma e no último, a de Florença.

Das vinte e sete peças do taumaturgo inglês nada menos do que vinte e duas, incluindo as mais interpretadas, "Hamlet" e "Julio César", tiveram a política quer como tema central ou como pano de fundo.

Shakespeare e Maquiavel puderam desvendar a natureza e a operacionalidade das instituições e do pensamento político. O primeiro, exatamente por se afastar o quanto possível dos aspectos institucionais e ressaltar os mais íntimos e secretos aspectos subjetivos da alma humana, o segundo por dar maior ênfase ao funcionamento das estruturas de poder institucionalizado. Os dois se combinam, se completam e enriquecem o conhecimento da alma humana e de suas instituições.

Suas lições principais são as virtudes da legitimidade, da transparência e da publicidade para a prevalência da ética no trato da coisa pública. Instituições legítimas, nas quais não existam segredos e cujos atos sejam sempre públicos ou publicados, permitem que os cidadãos coíbam o exercício ilegítimo da função pública, extingam as benesses indevidas a funcionários corruptos e exijam a extensão das vantagens a todo o corpo social.

Tal ambiente só pode existir no estado de direito republicano e democrático, no qual prevaleçam leis gerais aplicáveis a todos os cidadãos, em que a coisa pública seja gerida em benefícios de todos e a decisões da maioria respeitem os direitos das minorias.

Shakespeare e Maquiavel nos tornam mais céticos, talvez mais amargos, algumas vezes desiludidos, porém mais realistas e mais aptos para discernir o jogo dos políticos, mais capazes de julgar quais possam produzir melhor o bem comum e quais estejam apenas fabricando ilusões para enganar o povo, o pobre povo, aqueles que, como nos relata o Evangelho, olham e não enxergam, ouvem e não entendem.

 

Energia, Alimentos e Sustentabilidade

 

Durante a era Reagan os Estados Unidos armaram a arapuca da "Guerra nas Estrelas" que induziu militaristas russos a forçar maciços desvios de investimentos dos setores produtivos para os aplicar na indústria bélica, do que resultou colapso da economia e, como conseqüência, dissolução da União Soviética. Após o governo Reagan constatou-se que tudo não passara de tremendo blefe. É claro que outros fatores contribuíram para o fim da URSS, inclusive a corrupção interna do Partido Comunista, podridão que se revelou de forma explosiva na transição para a economia de mercado, mas o efeito da cartada de Reagan foi decisivo na desorganização e ineficiência econômica e na insustentabilidade política.

A China e os Estados Unidos provavelmente não chegarão ao colapso político mas encontram-se à beira de seriíssima convulsão econômica decorrente da ineficiência na geração e uso de energia. A atual dificuldade no setor imobiliário estadunidense é manifestação dessa ineficiência. Por algumas estimativas, a China, além de já haver atingido o posto de maior poluidor do planeta, é também um dos mais ineficientes produtores e utilizadores de energia e, embora tenha oficialmente lançado ambicioso plano de redução na intensidade de uso de energia, os resultados práticos até agora são irrelevantes. Este país se arrasta atrás dos paises mais industrializados no diz respeito à eficiência, o setor industrial absorve mais de 70% da grade energética e a economia chinesa cresce em taxas tão elevadas que as pequenas melhorias obtidas na eficiência ficam plenamente neutralizadas pelo crescimento do volume.

Ao câmbio e preços de 2005, uma comparação simplista do uso de energia nos mostra que, para cada cem dólares despendidos pela China com o uso de energia na formação do produto interno bruto (PIB), os Estados Unidos gastariam 25, o Reino Unido 17 e o Japão apenas 13. Isto significa que, para cada dólar de PIB gerado, a China consome 35.766 BTUs, os Estados Unidos 9.133, o Reino Unido 6145 e o Japão 4.519 (um BTU é a quantidade de energia necessária para elevar em um grau Fahrenheit uma libra de água). Incrivelmente, há países ainda mais ineficientes, como a Rússia e outros órfãos da União Soviética. A Ucrânia despende mais de 138 mil BTUs para gerar cada dólar de seu PIB.

O Brasil é o décimo maior consumidor mundial de energia, o terceiro maior no Hemisfério Ocidental, atrás dos Estados Unidos e Canadá. A grade brasileira de consumo energético é composta de 48% de petróleo e etanol, 35% de hidroeletricidade, 7% de gás natural, 5% de carvão mineral, 2% de biodiesel e outros renováveis, e 1% de energia nuclear.

O Japão junto com a Dinamarca são os países mais eficientes na utilização de energia. Com os altos custos da energia e com tamanha ineficiência, não há economia que resista e não é por outro motivo que a China se lançou no projeto de construção da maior hidroelétrica do Planeta. Este é enorme, embora um dos poucos, investimento estatal no setor. Os investimentos privados são limitados pela falta de um mercado financeiro mais sofisticado. Embora a China possua reservas crescentes que se aproximam dos dois trilhões de dólares o mercado financeiro é tão incipiente que não é capaz de suprir as necessidades do setor energético privado do país.

Os Estados Unidos despendem cerca de um décimo de seu produto interno bruto para abastecer de energia suas casas, automóveis e caminhões, fábricas, edifícios de escritórios, centros comerciais, aparelhos sem conta e tudo o mais que ajuda a constituir e manter sua civilização com eficiência medíocre. Um trilhão por ano – o custo estimado de toda a guerra no Iraque até agora - é muito dinheiro, mesmo com dólar desvalorizado. Um pouco de eficiência reduziria esse gasto pela metade.

A sociedade estadunidense tem sido perdulária em muitos sentidos, edificações amplas, consumidoras de materiais de construção e com grande dispêndio de eletricidade para iluminar, aquecer no inverso e esfriar no verão, carros grandes e pesados, consumidores de aço, tinta, borracha e com grande dispêndio de combustível para se moverem, muita roupa, muita comida e enormes quantidades de lixo. Os Estados Unidos importam mais de sessenta por cento de suas necessidades de energia e empurram os preços do petróleo para a estratosfera, encarecendo não apenas a sua, mas a economia global, afetando a todos os países com enorme prejuízo para as nações pobres.

Esta sociedade perdulária, como não poderia ser diferente, gera uma classe política que reflete essa cultura do desperdício e age irresponsavelmente como se tudo estivesse às mil maravilhas. É possível que muitos políticos influenciados pela industria petrolífera, em proveito desta, propositalmente adotem posturas legislativas contrárias a praticamente tudo que possa fazer essa sociedade se tornar mais eficiente no uso da energia de que dispõem e na busca de fontes alternativas.

Nas últimas décadas o Congresso dos Estados Unidos barraram a construção de usinas nucleares, de novas e mais eficientes refinarias de petróleo, de portos de gás natural, de campos de geradores eólicos de eletricidade, exploração de petróleo em águas marinhas no Alasca, na Califórnia e na Flórida, o financiamento de pesquisa energética, retardando o estabelecimento de padrões de eficiência mais rígidos no uso de combustíveis automotivos e, ainda por cima, impuseram taxa de importação sobre o barato e limpo etanol de cana de açúcar brasileiro e incentivaram a produção de etanol de milho que provocou carestia nos alimentos que dependem dessa matéria prima.

Os processos comerciais atuais de produção de energia de biomassa nos Estados Unidos, que se concentram no Cinturão do Milho, no Meio Oeste, sofrem fundadas críticas pelo brutal encarecimento dos alimentos que provocam. Com investimentos relativamente pequenos o milho poderia ser substituído pelas novas perspectivas que se abrem para fontes de matéria prima não alimentícias tais como capim nativo, cavacos e briquetes de madeira e resíduos florestais.

Se o maior consumidor de energia do mundo continua com o desperdício e seu ambicioso seguidor, a China, vai no mesmo caminho, com ineficiências ainda maiores, e outras nações atingem o limiar das sociedades de consumo, como a índia, não há como evitar a escalada dos preços do petróleo. Os custos de produção são cada vez maiores por exigirem tecnologias cada vez mais avançadas e mais caras: exploração em águas profundas, perfurações horizontais e direcionais e outros. Mas o pior de tudo é o estado de guerra permanente do Oriente médio onde se concentram as maiores reservas globais de petróleo. O Iraque ainda retornou ao auge da produção dos tempos de Hussein, o Iran vive em estado permanente de beligerância, Israel, Líbano e Palestina são uma mistura explosiva e tudo isto representa ameaça, não apenas á continuidade da produção, que forçada, quer voluntária, também a do transporte do precioso líquido.

Uma usina termoelétrica comum, alimentada por carvão, gás ou petróleo é ineficiente por natureza, transformando em eletricidade apenas trinta por cento da energia contida no combustível e jogando na atmosfera o restante sob a forma de calor. Se a energia térmica fosse utilizada, quer para o pré-aquecimento da água que alimenta as turbinas, quer para outras formas de aproveitamento, a eficiência poderia atingir oitenta por cento.

Os esforços atuais em busca de fontes alternativas se mostram insuficientes, embora haja casos exemplares e elogiáveis. Por exemplo, grades energéticas já são atendidas por fontes alternativas em 40% na Dinamarca e 14% na Alemanha. Porém, a maior parte de tudo o que se produz de energia renovável, ou se pretende produzir em futuro próximo, está muito longe de exercer efeitos perceptíveis no deslocamento de combustíveis fósseis emissores de carbono. A menos que ocorra alguma importante quebra de barreira tecnológica, todas as fontes de energia renovável necessitam crescer de modo extremamente rápido para qualquer efeito notável nas questões de energia limpa e mudança do clima.

Além dos efeitos econômicos, a ineficiência no uso de energia exacerba os nocivos efeitos dos gases de efeito estufa, as alterações climáticas e a insuportável poluição que torna o ar irrespirável em Pequim, São Paulo e outras metrópoles. Mas o problema não fica circunscrito aos grandes consumidores e maiores poluidores, todos os paises são ineficientes e muitas das soluções provocam efeitos secundários danosos seja ao meio ambiente, seja no encarecimento dos alimentos. Estamos diante de grande encruzilhada entre o indispensável uso de energia, a imediata satisfação das necessidades alimentícias e a sustentabilidade do Planeta.

Petróleo mais caro não significa apenas gasolina mais cara, significa que todos os derivados que servem de insumos para uma pletora de indústrias ficarão mais caros, inclusive os insumos agrícolas, do que decorre alimentos mais caros para a humanidade.

A solução para essa terrível ameaça que já se manifesta de modo tão agressivo poderia advir de duplo esforço, um no sentido de se obter melhores índices de eficiência na geração e no uso da energia, outro no de desenvolver fontes de energia renovável.

A luz solar que atinge a Terra em apenas uma hora contém suficiente energia para abastecer toda a população humana durante um ano. Isto é potência equivalente a dez mil milhas cúbicas de petróleo. "Milha cúbica de petróleo" é uma aproximação grosseira do consumo mundial anual do produto, algumas vezes utilizada para comparações com fontes alternativas de energia, tais como solar, eólica, geotérmica e de biomassa. Para suprir o equivalente a uma milha cúbica de petróleo seriam necessárias 4,2 bilhões de placas captadoras de energia solar de telhado ou 3 milhões de turbinas eólicas, ou 2.500 usinas termo-nucleares ou 300 hidroelétricas de Itaipu. Até a pouco não tínhamos tecnologia adequada para captar toda essa energia a custos economicamente viáveis. Os preços atuais do petróleo e os que se prevêem em futuro próximo tornam realizável essa perspectiva.

Embora o Brasil não seja tão bem aquinhoado em energia eólica, está entre os mais abençoados com abundante insolação, recursos hídricos, potencial hidroelétrico, solo fértil e florestas. Seria crime contra a humanidade não colocar esse potencial a serviço da reversão do efeito estufa e da estabilização do clima, mesmo ao custo de concessões razoáveis ao rigor na proteção ambiental. A menos que se trate de aberrações ecológicas, os ganhos ambientais seriam enormes. Eis algumas áreas onde se deveria atuar com vigor e decisão em termos de melhoria da eficiência na geração e uso e na produção de energia renovável, não apenas em nosso país, mas em todo o Planeta.

Na melhoria da eficiência: O transporte público deveria oferecer vantagens econômicas e de comodidade sobre o uso de automóveis particulares. A energia térmica gerada por diversas fontes deveria ser aproveitada para aplicações diversas inclusive alimentando termoelétricas. A rede pública de distribuição elétrica deveria receber e compensar economicamente os excedentes da produção particular, inclusive a residencial, incentivando o uso de milhões de pequenos geradores solares, eólicos e hidroelétricos. Os equipamentos deveriam mostrar, de forma padronizada, o índice comparativo de eficiência energética em relação a padrões pré-estabelecidos.

Na geração de energia: Com as raras exceções de viabilidades econômica ou ambiental, todo o potencial hidroelétrico deveria ser aproveitado. As regiões desérticas deveriam ser extensivamente aproveitadas como campos de captação de energia solar e as sombras dos equipamentos utilizadas na tentativa de desenvolver vegetação. Campos de moinhos de vento para geração eólica de eletricidade deveriam ser implantados onde houver condições adequadas. O metano, proveniente dos dejetos dos criatórios e dos aterros sanitários, deveria ser extensivamente aproveitado na geração de eletricidade. O mercado de carbono deveria ser simplificado e popularizado pela diminuição dos emperramentos burocráticos da ONU.

Na geração de biomassa energética: Além da já bem estabelecida indústria de etanol proveniente da cana de açúcar, outras fontes deveriam ser pesquisadas. O desenvolvimento do biodiesel ainda é incipiente e irrelevante na substituição do diesel de petróleo e deveria receber investimentos adequados para pesquisa cientifica e tecnológica. Lenha, cavacos, briquetes, aglomerados de liteira e muitas outras formas de aproveitamento da biomassa das florestas e da agricultura deveriam ser pesquisados e desenvolvidos comercialmente. Lenha e carvão têm sido coibidos para combater o desmatamento; no entanto são importantes fontes energéticas e deveriam ser melhor desenvolvidos tecnologicamente e incluídos nos planos de manejo florestal e nas grades energéticas dos paises onde haja viabilidade técnico-econômica.

Um ponto importante a ser considerado é como e onde desenvolver tais fontes em melhores condições. Óleo, gás e hidroeletricidade são produzidos apenas nos lugares de ocorrência, consequentemente, os possíveis. Disponibilidade e custos de captação são coisas totalmente regionais. No Texas, por exemplo, embora haja planos para implantação da maior fazenda de moinhos de vento do planeta, as mais poderosas fontes potenciais de energia eólica dos Estados Unidos, passos de montanha e topos de colinas desse estado, permanecem desaproveitadas. A maior parte dos territórios das Américas entre os Estados Unidos e o Brasil, dos países mediterrâneos, da África, Oriente Médio, Sul da Ásia e Austrália, é grandemente propícia ao aproveitamento da energia solar. Grande parte dos mesmos territórios é convidativa à produção de biomassa. Estas formas de energia, que hoje são alternativas ms em breve se tornarão importantes concorrentes da energia fóssil, exigem grandes investimentos, no entanto, pouco esforço estatal seria necessário uma vez que os altos preços do petróleo as tornam cada vez mais competitivas e suficientemente atrativas para a iniciativa privada, desde que a burocracia ambiental ortodoxa não emperre os projetos industriais.