30 de agosto de 2016

Realpolitik e Dilma



(Postado momentos antes da votação do impeachment)
A estas alturas não será mais possível devolver o poder a Dilma, mesmo que ela fosse inocente.
Seria um contrassenso, um desserviço ao país o Senado entregar o poder a uma pessoa totalmente incapaz de articular politicamente, de obter consenso sobre um programa de trabalho, qualquer que seja, para retirar o país do atoleiro em que se encontra.
Dilma não dialoga com trabalhadores, não dialoga com empresários e não dialoga com políticos.
Mesmo que Dilma desejasse seguir o mesmo programa de Henrique Meirelles, mesmo que o mantivesse com toda sua equipe no Ministério da Fazenda, a desconfiança do mercado persistiria, tal como aconteceu com Joaquim Levi, e ela não conseguiria obter o clima psicológico necessário à recuperação da confiança e do ânimo do mercado a reinvestir nos projetos paralisados exatamente pela presença de Dilma, seus métodos administrativos e de ideário econômico.
Reintegrar Dilma no poder seria piorar a confusão política e a desorganização da economia, com seríssimas consequências para o povo brasileiro, piora da recessão, da inflação e da desconfiança do mercado na recuperação da economia nacional.
O Senado tem a responsabilidade de evitar o pior mal que seria ter Dilma como presidente e Temer como vice.
O menos pior para o Brasil é o afastamento de Dilma. A qualquer custo. Isto é realpolitik.
Esta e' uma visão realista de um dado momento econômico em um dado contexto político, sem considerações ideológicas. Antes das eleições de outubro de 2014, eu já previa e disse que Dilma não tinha as características políticas necessárias para conduzir o país. Comparando Dilma, Marina e Aécio este me parecia ser o mais aparelhado pessoalmente e com maior trânsito político entre os três, portanto o mais indicado. A realidade dos fatos comprova minha previsão.
Abordei este tema – impeachment de Dilma - como um exemplo de realpolitik a qual abstrai as questões legais e éticas para se concentrar nas consequências dos atos e escolher o mais produtivo ou menos danoso.
Neste sentido, visando apenas o bem do Brasil, neste momento e nestas circunstâncias, pergunto: qual a melhor ou menos pior das duas opções do Senado?
Parece-me que devolver o poder a Dilma seria a pior opção.
As pessoas que se recusam a seguir pensamentos lógicos, que desqualificam os que tentam raciocinar, que se entregam ás suas paixões e preconceitos, se tornam incapazes de contribuir para o bem do país.
A expressão realpolitik foi criada no século XIX pelo alemão von Rochau referindo-se à política de Bismarck que usava procedimentos analisados por Machiavelli para manter a paz e a estrutura de poder na Europa em benefício da Prússia e, por consequência, a criação da Alemanha.
O conceito de realpolitik foi revivido pelo então ministro de relações exteriores da Alemanha Ocidental, depois primeiro-ministro, Willi Brandt, com sua Ostpolitik de reaproximação com a Alemanha Oriental.
Outros exemplos de realpolitik são o de Nixon e Kissinger ao buscarem reatamento de relações diplomáticas dos Estados Unidos com a China e, agora os de Obama e Raul Castro ao reatarem relações diplomáticas entre Estados Unidos e Cuba. Também realpolitik foi a aceitação de sua candidatura à presidência por Tancredo Neves, em eleição indireta, como meio de obter imediata redemocratização do país.
Realpolitik é buscar o mais útil para si ou para o país, em determinado momento histórico, independentemente de posições ideológicas, e mesmo de suportáveis prejuízos momentâneos, em troca de ponderáveis benefícios futuros.
Para a análise realista de um momento político, não importa como e porque se chegou a essa situação, não importa o passado, não importa a culpa de quem quer que seja, as únicas que importam são as consequências futuras das decisões a serem tomadas.
É por isso que, neste momento, tanto faz o que Eduardo Cunha fez ou deixou de fazer, se Dilma é ou não culpada, se cometeu ou não qualquer crime. Neste momento o que cabe indagar é o que ocorrerá se Dilma e Temer continuarem a ser, respectivamente, presidente e vice-presidente, como ambos entre si e estes, individualmente ou em conjunto, interagirão com os meios trabalhistas, empresariais e políticos para obter consenso sobre uma agenda eficaz para reerguer o Brasil da profunda crise econômica, social e política em que está afogado.
Os senadores, aos quais cabe tomar essa gravíssima decisão, devem refletir sobre as consequências de seus atos, e agir coerentemente com o melhor para nosso país.