29 de maio de 2018

A respeito da hidrelétrica do Tapajós


Quando se debateu a construção da hidrelétrica Belo Monte e agora se discute a do Tapajós, sempre me vem à mente importante instituição a serviço do povo do Pará d’Oeste, o Hospital Waldemar Penna com seu importante centro cirúrgico, e me pergunto: pode ele funcionar sem eletricidade?
Em minha visão, os povos do mundo todo, inclusive as populações das cidades, das florestas e ribeirinhas da Amazônia merecem o mesmo tipo de atendimento que recebem os pacientes do Waldemar Penna, um dos hospitais públicos mais bem administrado do Brasil.
Em 21 de Fevereiro de 1848, Karl Marx e Friedrich Engels publicaram o Manifesto Comunista que lhes fora encomendado pelo Partido Comunista Alemão. Ali eles convocam: “Proletarier aller Länder, vereinigt euch!” ("Proletários de todos os países, unam-se!" ou "Proletários de todo o mundo, uni-vos!"). Naquele momento, Marx e Engels conclamam a globalização do proletariado. Pois bem, hoje, estamos em processo de globalização “global” que inclui não somente proletários, mas todos os tipos de pessoas, classes, organizações e atividades, inclusive nossos ribeirinhos e indígenas.
Quando reflito sobre questões socioeconômicas, não me atenho apenas ao que se restringe à Amazônia, embora esta seja objeto de meu amor, porque sei que a miséria e a ignorância estão por toda parte, inclusive em grandes centros urbanos. É miséria globalizada.
Quando reflito sobre questões socioeconômicas, não me atenho apenas ao que se restringe à Amazônia, embora esta seja objeto de meu amor, porque sei que a miséria e a ignorância estão por toda parte, inclusive em grandes centros urbanos. É miséria globalizada.
Em 1948, numa viagem de estudos pelo interior do Nordeste, assisti bebês morrendo no colo das mães por mera desidratação. Na época, nem eu nem as mães sabíamos por que. Hoje eu já sei, mas muitas mães ainda não sabem que desidratação mata, embora possa ser superada por simples soro caseiro: uma pitada de sal, três de açúcar, um copo d’água.
A conclusão que extraio dessa lição da juventude não é apenas que desidratação seja mortal, mas que ignorância mata, adoece, empobrece, escraviza. Portanto, o mal maior da Humanidade é a ignorância. E é contra ela que todos nós temos que lutar.
Quando alguém diz que há populações que não usam eletricidade nem Internet, na realidade quer dizer que não tem acesso a esta, não podem utilizar esta importantíssima fonte de energia para acesso a conhecimento, informação e bem-estar.
Nos últimos anos em que Dr. Waldemar Penna morou na casa ao lado do solar, hoje demolido e que pertencera à família de Aderbal (Babá) Correa, onde o ilustre médico estabeleceu a Casa de Saúde São Sebastião, eu o visitava todas as noites para conversar sobre quase todos os assuntos. Eu me deleitava com sua verve e sua sabedoria. Pois bem, Dr. Penna se atualizava todas as noites com as mais recentes novidades da profissão médica usando a Internet. Esta é invenção muito mais revolucionária do que a prensa de tipos de Gutenberg. Internet é instrumento indispensável à vida no século XXI.
Décadas atrás, a abertura para o conhecimento se fazia pela revista Seleções do Rider’s Digest. Ali tomei conhecimento da Guerra dos Boxers, o que me induziu a frequentar durante anos a Biblioteca Nacional para ler os doze volumes de “A Study of History” de Arnold Toynbee. Hoje a introdução, a abertura para o conhecimento é o Google e a obra toda está disponível em toda parte e a qualquer um na Internet. Só permanece ignorante e desinformado quem não tem acesso à Internet ou não sabe usá-la.
Dom Manuel I, interessado em concorrer com o monopólio de Veneza, ordenou a Vasco da Gama que fosse à Índia, buscar especiarias do Oriente, numa viagem que começou em 8 de julho de 1497, mas só teve notícias do resultado em 10 de julho de 1499 quando a primeira caravela retornou a Lisboa, dois anos depois. Em 1858 um telegrama de Bombaim levava quarenta dias para chegar ao destino, depois de viajar por mar e terra até a Itália, de onde era retransmitido por cabo para Londres. Em 1865, a primeira linha telegráfica foi estabelecida entre Londres e Bombaim e as mensagens passaram a ser imediatas, embora sucintas, em estilo “telegráfico”. Vejam quão moroso era o processo administrativo, quanto tempo e dificuldade para tomada de decisões vitais.
Hoje bilhões de textos, sons e imagens circulam pelo mundo todo através dos diversos meios de comunicação. Minha consciência não me permite desejar manter povos inteiros no isolamento e na ignorância, que os escravizam e impedem de tomar decisões rápidas baseadas no conhecimento e na informação, quando hoje seja extraordinariamente simples proporcionar acesso a estes preciosos bens: basta um telefone móvel, um tablete ou laptop e, é claro, eletricidade e Internet.
Estou certo de que no momento em que essas facilidades estejam disponíveis, os povos do mundo inteiro, inclusive nossos índios e ribeirinhos, serão livres para decidir seus destinos por si próprios e não induzidos por tantos aventureiros inescrupulosos, todos interessados em propagar suas próprias crenças e defender seus próprios objetivos ou os de quem os financia, quase sempre contrários aos verdadeiros interesses dos povos subjugados.
Defendo que todos os povos sejam instruídos, educados e habilitados a usar instrumentos que lhes permitam apropriar as vantagens do conhecimento e da informação. Esta é a maior e mais importante prioridade. A partir de certo nível de conhecimento, cada indivíduo se torna independente de quem o ensine, porque passa a aprender por si próprio. E isto tem o efeito irreversível de alavancar o desenvolvimento do indivíduo e da Humanidade toda.
Quando o efeito democrático deste tipo de educação se faz sentir, três demandas imperiosas aparecem: energia, Internet e logística. A primeira permite a produção de bens para satisfazer as demais necessidades; a segunda, o conhecimento e a informação para produzi-los; a terceira, que tais bens sejam distribuídos por todos e para todos.
É por essa visão do futuro que defendo o aproveitamento de toda e qualquer fonte de energia que possa ser domada e aproveitada: solar, eólica, geotérmica, do hidrogênio, das ondas e marés, biológica, nuclear (com extremos cuidados), e a mais econômica e ecológica de todas, a hidrelétrica, inclusive a dos desníveis do Tapajós; igualmente, todo tipo de transporte: aéreo, ferro-rodoviário, marítimo e fluvial, inclusive a plena navegabilidade dos rios Tapajós e Teles Pires.
Os danos para o rio, suas margens e pequenas populações ribeirinhas, decorrentes da hidrelétrica do Tapajós e suas eclusas, podem ser plenamente reparados ou mitigados e indenizados. Por outro lado, vejo enormes benefícios para ampla maioria da sociedade, tanto pela oferta de preciosa energia elétrica, quanto pela plena navegabilidade dos rios Tapajós e Teles Pires, além das linhas de alta tensão elétrica serem canais de Internet.
Em um regime democrático, uma vez reparados e indenizados eventuais prejuízos das minorias, prevalece o interesse da maioria. Esta é a regra do jogo republicano.
Comunidades educadas e inseridas no ambiente global independem de ecossistemas restritos, são livres para voos mais extensos. Comunidades tradicionais dependem tão drasticamente de seus ecossistemas porque estão escravizadas pela ignorância e são induzidos por defensores conscientes ou inconscientes, até bem intencionados, de causas paroquiais, restritas, sem visão de maior escopo, ou mesmo por promotores de interesses alienígenos. Um exemplo, fora deste contexto, de equívoco de pessoa correta e bem-intencionada, foi a greve de fome do bispo Dom Luiz Cappio contra a transposição do São Francisco, obra indispensável que, se fosse concluída a tempo, teria salvado o Nordeste das grandes agruras da seca dos últimos anos.
Busco arduamente ser criterioso, política e ideologicamente isento. Penso que estas são visões pragmáticas, realistas e globais, porque, embora focando prioritariamente os interesses de longo prazo da nação brasileira, minha compaixão não se restringe a casos e comunidades isoladas, mas se estende à Humanidade toda.

19 de maio de 2018

O nome Sebastiao.


Sobrinha muito querida e seu garboso marido deram ao filho recém nascido o nome Sebastião.
Ao enviar meus votos de felicidades ao sobrinho-neto, ocorre-me narrar esta historieta.
Eu tinha quatorze anos, atrasado nos estudos por ter adoecido dos 11 aos 12 anos, e frequentava um curso preparatório para o exame de admissão ao Colégio Pedro II.
Num intervalo entre aulas, a filha da dona do curso, uma menina bonita da minha idade, veio se sentar junto a mim e puxou conversa.
Estava indo tudo bem e a conversa animada até que ela perguntou: como é o teu nome? Respondi: Sebastião. Ela falou: chi, que nome feio! Se levantou e foi embora.
Fiquei ressabiado, achando que meu nome era feio. Por sorte, meu segundo nome é Gil e passei a usá-lo com as namoradas.
Só muitos anos depois percebi que Sebastião não era nem bonito ne feio, mas era interessante, com personalidade e, junto com Imbiriba, se torna único, chama atenção, é difícil de esquecer. Aí, passei a gostar do meu nome e considerar um patrimônio importante, a ser preservado.
Aliás, a única namorada que me chamou de Sebastião foi Nancy, com quem estou bem casado a mais de sessenta anos.
Conformado com a perda de minha identidade, porque Sebastião é o Sebastião e agora sou apenas o tio velho do Sebastião, só me resta desejar ao Sebastião que Deus o abençoe e que seja muito feliz.

15 de maio de 2018

A Guerra Fria e o Relatório Colby


Frequentemente me vejo envolvido em polêmicas, mas acredito que minhas ideias sejam tão boas quanto quaisquer outras e que, embora possam ser diferentes, tão toleráveis quanto as de qualquer democrata de espírito tolerante, que não desqualifique a quem pense de forma diversa e divirja respeitando a dignidade alheia.
Também sei que o primeiro direito inalienável é a VIDA, o segundo, a LIBERDADE.
Já que usei a expressão “acredito que minhas ideias sejam boas” ao iniciar este texto, tenho de esclarecer que sigo fielmente as palavras de Bertrand Russell: “não daria minha vida pelas coisas em que acredito, porque posso estar errado”.
Aliás, embora corra desesperadamente em busca dela, acho que seria muita arrogância intelectual minha julgar que eu seja dono da verdade.
Digo isto por que há muito julgamento pró e contra a Ditadura Militar a partir do Relatório Colby.
Tenho grande interesse na discussão da história recente do Brasil e é com esse espírito que me refiro ao que julgo “indefensibilidade do Brasil” diante das superpotências antagônicas USA e URSS.
Abomino pena de morte, com ou sem o devido processo legal e, no Brasil, condeno tanto os assassinatos e torturas do Estado Novo, quanto os do Regime Militar, assim como os dos guerrilheiros comunistas que se opuseram a esses regimes, mas queriam implantar seus próprios estados totalitários.
As décadas de 1950 a 1980 foram períodos de luta por hegemonia entre duas superpotências mundiais, Estados Unidos da América, apoiados pelas potências ocidentais, contra a União Soviética, com apoio de nações comunistas. Havia uma teoria do efeito dominó segundo o qual, se uma nação chave regional caísse sob o poder de uma das duas superpotências as demais da mesma região a seguiriam.
Duas alternativas forçadas, não opções, se apresentavam ao Brasil em 1964: cair sob domínio soviético, com estabelecimento de regime totalitário, ou permanecer sob influência do “modo de vida ocidental”. Não havia o que escolher. Resultou o Movimento de 64 que pretendia apenas evitar a alternativa comunista.
Acredito que o Brasil foi subjugado pela potência mais ágil naquele momento. Não fosse tal agilidade, possivelmente, estaríamos subjugados até hoje, assim como Cuba, submetidos a toda sorte de antagonismo dos Estados Unidos, com grande sofrimento de nosso povo.
E mais, seriam multiplicados aqui os milhares de fuzilamentos no “paredon” de La Cabaña.
A Ditadura Militar implantada pelo Ato Institucional de Arthur da Costa e Silva já é outra história e merece análise própria.