30 de março de 2007

Alcoa: um viés imperialista?

Sebastião Imbiriba, 29/03/2007

A tradição imperialista de origem das empresas mineradoras deixou marcas profundas que permeiam a cultura corporativa, não apenas em seus escalões superiores, mas em todo o corpo funcional. As empreiteiras contratadas herdam esse jeito centrado em seus próprios interesses, prepotente, colonialista.

O mundo moderno exige outra postura. As novas teorias de administração de negócios, o melhor e ampliado interesse dos acionistas, suas modernas sociedades de origem e as atrasadas comunidades em que atuam, requerem comportamento mais aberto, mais participativo, mais includente, de modo que os ganhos corporativos se tornem mais seguros, estendidos e maiores, na medida em que a repartição dos benefícios seja mais abrangente e mais duradoura. Se todos ganham, todos são felizes.

Seguindo essas diretrizes, as mineradoras estabelecem políticas de direcionamento de aquisições para as áreas em que atuam. Junto com o governo, em seus três níveis, usando a liderança local da Associação Empresarial de Santarém como instrumento de mobilização e coordenação, buscam capacitar e qualificar fornecedores desta região.

Ambos, compradores e fornecedores, tentam criar nova abertura, nova atitude, nova cultura. Abertura, para entender que o esforço atual resultará em benefícios de longo prazo. Atitude, para predispor aos objetivos ampliados. Cultura, para formar a complexa gama de conhecimentos e informações necessários à execução de sofisticados procedimentos. As empresas locais desenvolvem esforço quase insuportável, que requer coragem, investimento e dedicação desproporcionais ao porte das firmas regionais.

Tal esforço tem sido frustrado. Pequenas empresas se estabelecem, iniciam o fornecimento e são preteridas tão logo um fornecedor preferencial se apresente. A sociedade reclama, se mobiliza. A direção da mineradora declara surpresa e promete correção de rumos.

O problema reside na mudança de atitude de aquisição das mineradoras e suas contratadas. A inércia é grande e prejudica as mudanças. O jogo de interesses é muito maior e beneficia grupos e esquemas pré-estabelecidos.

As mais diversas e sutis formas de enganar acionistas e sociedade são adotadas para proteger tais interesses e impedir o ingresso de fornecedores locais. Um artifício, por exemplo, é a consulta genérica, vaga, sem especificações, sem parâmetros, destinada a contemplar apenas a quem esteja familiarizado e saiba o que o comprador de fato deseja. Outro é solicitar propostas complexas, com prazos exíguos de 24 horas. Tudo simplesmente para mostrar ao público, se houver indagações, que as firmas regionais são incompetentes ou não se interessam e, prova disto, é que não se enquadram nos requisitos ou nem respondem às tomadas de preços.

Fornecedores metropolitanos, com relações de amizade e interesse estabelecidos, protegidos e beneficiados por informação privilegiada produzem propostas imbatíveis. Esse estamento se consolida dentro e junto das grandes empresas porque serve para garantir tranqüilidade a executores e executivos. Falhas de fornecedores tradicionais são prontamente escondidas ou neutralizadas. Nenhum comprador se arrisca a contratar desconhecidos, sem credibilidade, fora do esquema, exatamente as empresas locais que desesperadamente lutam por se qualificar.

Retirar minério, adquirindo materiais e serviços qualificados na metrópole, mantendo baixa qualificação na área de produção é extrativismo anacrônico, explorador e colonialista que, ao se esgotar, deixa imenso buraco repleto de frustração e ódio, ignorância e miséria.

A sociedade desta região aclama o advento da ALCOA como abertura de possibilidades de desenvolvimento econômico, social e cultural. Todos acreditam nas doces palavras dos mensageiros do advento, têm fé nos declarados propósitos corporativos de introduzir a empresa em Juruti e seu entorno no Baixo Amazonas, com o menor trauma e o maior benefício para a região e seus habitantes. A prática desmente a palavra.

Ajudaria muito se os procedimentos de aquisição além de éticos, igualitários e transparentes, buscassem com grande ênfase, na fase inicial, promover e consolidar os fornecedores locais, capacitando-os a concorrer com os metropolitanos. Mas o maior benefício seria a capacitação cultural das lideranças locais, trazê-las para o universo do conhecimento e da informação, desenvolver capacidade empreendedora e administrativa nas áreas de governança e empresarial. É o que colonizadores não fazem. É o que está por ser realizado. É o que se espera da Alcoa.

 

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29 de março de 2007

Çairé: Uma estratégia de vendas

Sebastião Imbiriba, 22/03/2007

Santarém necessita que o Turismo gere empregos para absorver as dezenas de novos turismólogos que se formam a cada ano, os milhares de desempregados decorrentes dos entraves aos negócios madeireiros e a outro tanto de jovens que, desesperançados, se apresentam ao mercado de trabalho.

O atual fluxo de turistas é insignificante diante das necessidades. Cerca de trinta mil passageiros dos navios de excursão produzem insignificantes empregos sazonais com apenas cerca de trinta dias de trabalho por ano. O turismo de negócios não tem força suficiente e promove ocupação hoteleira anual inferior a quarenta por cento. O turismo de lazer ocorre com maior intensidade durante o Çairé e, mesmo assim, a maior parte do fluxo se hospeda com familiares, deixando muito pouco para a economia local.

Árduo esforço é desenvolvido por diversas entidades públicas e privadas na tentativa de gerar fluxo turístico para esta região. Esse trabalho se realiza com grande eficiência, mas infelizmente, com pouca eficácia, sem resultados práticos. Esse esforço enfrenta concorrência de centros receptivos muito melhor aparelhados e com maiores recursos, de modo que o Pólo Tapajós desaparece das vistas do público, dos agentes emissivos e dos operadores. Há necessidade de estratégia de vendas muito mais agressiva para vender nossos produtos.

No enfoque do Marketing, nosso produto mais poderoso, sem sombra de dúvidas, é o Çairé, ou melhor, o Festival dos Botos que o acompanha. Será este, portanto, o ponto de partida para esforço de vendas em âmbito mundial que requer recursos e muita, muita audácia.

Proponho a formação de uma troupe de cerca de vinte rapazes e moças, em dois grupos representando os botos Tucuxi e Cor de Rosa que, ensaiada pelo melhor coreógrafo que possa encontrar, equipada com tudo o que seja necessário para um bom espetáculo, se apresentará regionalmente para adquirir experiência e familiaridade com apresentações, tanto em casas de espetáculo quanto ao ar livre. Então, a troupe percorrerá grandes cidades, no Brasil e no exterior, mostrando ao Mundo que temos excelente produto, somos hospitaleiros e ansiosos por receber visitantes.

Parte dos custos serão cobertos por patrocínio cultural, outra, por fundos públicos e privados da área do turismo, o restante por eventual renda de bilheteria.

O objetivo principal é apresentar o Çairé e outros produtos, em ambientes fechados, para convidados do segmento turístico e formadores de opinião. Igualmente importante pelo impacto serão as performances em movimentadas vias públicas e em frente às agências emissivas e operadoras de turismo, formando pequenas multidões em ligeiros carnavais, tudo acompanhado e televisado pela mídia previamente convidada. Enquanto isto, agentes comerciais bem treinados venderão, dentro da agencia, o produto exibido na rua.

A repercussão será grande o suficiente para atrair, e não apenas no Çairé, quantidades crescentes de turistas para usufruir os produtos que podemos desenvolver e oferecer.

O efeito será bombástico pelo uso de música, dança, canto, efeitos cênicos, tudo envolto pela alegria e simpatia naturais de nossa gente. Não temos bombas, mas temos carnaval. No caso, temos Çairé. Então, vamos sair e vender Çairé.

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19 de março de 2007

8 de março - Dia Internacional da Mulher

Discurso, baseado em letras de música popular brasileira, proferido por Maria Avelina Imbiriba Hesketh, Conselheira Federal da OAB, na Sessão Plenária do Conselho Federal da OAB do dia 12MAR2007..

Em nome do Conselho Federal, por delegação do Exmo. Sr. Presidente César Brito, inicio minha fala em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, declamando o

 

POEMA DO POSICIONAMENTO

Clarice Lispector

 

NÃO TE AMO MAIS.

Estarei mentindo se disser que

Ainda te quero como sempre quis.

Tenho certeza de que

Nada foi em vão.

Sinto dentro de mim que

 

Você não significa nada.

Não poderia dizer jamais que

Alimento um grande amor.

Sinto cada vez mais que

Já te esqueci!

E jamais usarei a frase

EU TE AMO!

 

A autora pede que, agora, leiamos o poema de baixo para cima. Vejamos:

 

 

EU TE AMO!

E jamais usarei a frase

Já te esqueci!

Sinto cada vez mais que

Alimento um grande amor.

Não poderia dizer jamais que

Você não significa nada.

Sinto dentro de mim que

 

Nada foi em vão

Tenho certeza de que

Ainda te quero como sempre quis.

Estarei mentindo se disser que

NÃO TE AMO MAIS.

 

Escolhi esse poema, porque somente uma mulher, - quem tem a delegação divina de fazer a vida -, seria capaz de transformar, num único texto, o não amor em amor.

Assim, a MULHER desafiou a história e a humanidade. Rompeu conceitos e preconceitos

Da Amélia que acreditava ser mulher de verdade, num espaço privado, a lavar a roupa e beijar a boca, ela não se conformou mais em viver a toa na vida, vendo e deixando a banda passar.

Cantando coisas de amor, juntou a sua gente sofrida e despediu-se da dor.  Levou a marcha alegre a se espalhar nas avenidas da vida e do mundo, e insistiu para que a Carolina, que passava o tempo na janela, com seus olhos fundos, a guardar tanta dor, visse, apesar da dor deste mundo sentida por tantas mulheres, que o amanhã haveria de ser outro dia.

Agora, falando sério, a moça triste que vivia calada sorriu, e todas as Marias e Marias compreendendo que era preciso ter força, ter raça, ter gana e ter manha, impunharam a bandeira da luta pela liberdade e pelo direito.

Como conquista, a Rosa triste que vivia fechada se abriu e a lua cheia que vivia escondida surgiu para dizer que daí em diante, todos seriam iguais em direitos e obrigações, sem distinção de credo, cor e sexo.

Mas, caminhando e cantando, ainda sem lenço e sem documento, a Rita foi acusada de ter levado o sorriso dele no sorriso dela, junto com ela o que lhe era de direito, arrancou-lhe do peito, causou-lhe perdas e danos, porque levou, também, os seus planos e seus pobres enganos.

Daí, a Maria sem se abater, com a certeza de que a sua gente sofrida se despedira da dor, chamou a Cléa, a Marilma, a Gladys, a Gisela, a Wanderly, a Adélia, a Avelina  e tantas outras, e disse: vocês são um dom, uma certa magia, são o som, a cor e o suor, são mulheres que merecem viver e amar, mas é preciso ter força, ter raça, ter gana e ter manha.

E nós, acreditando ser divinas e graciosas, estátuas majestosas do amor, por Deus esculturadas e formadas com ardor; ser de Deus a soberana flor e a criação, deixamos a porta do nosso barraco sem trinco, para receber de braços abertos a chegada da liberdade, do respeito, do reconhecimento e de todos os direitos.

Mas a lua furando nosso zinco, salpicou de estrelas o nosso chão. E, pisando nos astros distraídas, passamos a ter a certeza de que mais do que nunca, a partir de agora, a despeito de nosso mais novo papel, continuaremos a ser luz, sedução e poema divino cheio de esplendor.

 

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17 de março de 2007

Dois poemas em homenagem ao Dia Internacional da Mulher

Mulher

 

Sebastião Imbiriba

Santarém, 8 de março de 2006

 

Mulher...

Quem te olha,

Quem te quer

Em toda forma

Que tiver,

Seja mãe,

Filha, irmã,

Amante, amiga,

Mulher!

 

Me rendo a ti

E te respeito

E reconheço

O teu valor,

Me rendo a ti

Porque te amo,

Mulher.

 

 

 

Mulheres

 

Sebastião Imbiriba

Rio, 14 de outubro de 1995

 

Mulheres são belas,

Mulheres belas são belas,

Mulheres resolutas são belas,

Mulheres inteligentes são belas.

 

Esposas são belas

E Mães são muito belas,

Avós são lindas

E Mães de avós me deixam pasmo:

Donde vem tanta beleza?

 

Sim... Mulheres são belas.

São belas nos gestos,

São belas no olhar,

São belas no fazer,

São belas no ter,

São belas no ser.

 

Sim... Mulheres são belas.

São belas na alma

E belas no saber

E lindas no querer

E mais ainda no amar.

 

Mulheres.

É muito bom tê-las.

Melhor ainda,

Muito melhor,

É ser delas.

 

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10 de março de 2007

Túneis verdes nas avenidas e estradas de Santarém

Sebastião Imbiriba, 08/03/2007

O artigo "Bosques e jardins Perfumados para Santarém" repercutiu de modo extraordinário; parece que um ponto sensível nos corações das pessoas que vivem e amam esta cidade foi atingido por um toque mágico, exatamente porque, longe de ser uma idéia original nossa ou de qualquer outro, individualmente, há um desejo profundo no inconsciente coletivo de nosso povo de compensar as agressões que Santarém tem sofrido ao longo dos séculos com falta de planejamento e inconseqüência das pessoas.

Alguns me enviaram mensagens comovidas oferecendo colaboração pessoal irrestrita, outros revelam que já cultivam bosques em seus sítios ou consorciam árvores e pastagens em suas fazendas, há quem ofereça mudas ou apresente sugestões, as mais variadas, desde doação de mudas a recém nascidos na própria maternidade até homenagens a pessoas que, por iniciativa individual, plantam árvores em seus quintais, nas ruas e praças desta cidade.

Bem no início da Rua dos Artistas, na Praça São Sebastião há uma frondosa mangueira cuja sombra ocupa a largura da rua. Se vocês já notaram a presença desse belo espécime, saibam que foi semeada há mais de setenta anos pela matriarca de uma das famílias tradicionais de Santarém, Dona Marcolina Ayres. Essa árvore era cercada por um tosco banco de madeira onde seu genro, o vereador Xixito Gentil, recebia correligionários e quantos lhe iam pedir favores. A linda mangueirinha do Trevo da Calcinha foi plantada por Dudu Dourado e Ney Imbiriba em uma manifestação Verde. As estórias são muitas e a crônica delas merece ser levantada e quem souber de casos semelhantes, por favor envie para simbiriba@gmail.com.

Muita gente já sabe, mas ainda não estou autorizado a revelar oficialmente que uma associação civil composta por importantes membros de nossa sociedade toma a iniciativa de um projeto que, posto em prática, transportará essas idéias e ações individuais do mundo de sonhos e fantasia para a realidade concreta através de um projeto realista devidamente financiado por particulares e profissionalmente administrado, evidentemente que em harmonia com o poder público, mas sem ingerência governamental. Será a sociedade civil organizada mostrando sua capacidade de contribuir efetivamente para o desenvolvimento humano desta região. O grande diferencial é que, em vez de falar, estão agindo em silêncio, executando.

O momento é oportuno, portanto, para alertar a sociedade e exigir que duas grandes vias atualmente em obras de reconstrução e ampliação, estradas que dão acesso ao Aeroporto e à hidroelétrica Curuá-una, sejam arborizadas, formando longos e belos túneis verdes. Imagine só o viajante que chegue a Santarém e, no caminho para a cidade, percorra uma bela avenida ajardinada, florida, coberta por árvores perfumadas. Que encantamento, que emoção.

A construtora responsável pela obra da estrada do Aeroporto deveria reparar o péssimo serviço que executou na Orla, com calçadão sem inclinação para correto escoamento das águas pluviais, que ficam empoçadas e sujas, e a imundície em que transformou as praias, tomando a iniciativa de reparar o mal que cometeu e, além disso, arborizar densamente a Fernando Guillon.

Medidas como estas devem, oportunamente, ser adotadas em todas as avenidas, ruas e mesmo as estradas, da cidade, sejam elas federais, estaduais ou municipais. A sociedade civil estará atenta a estas questões e não deixará que se cometam novos atentados contra nossa cidade, ao mesmo tempo em que se aplicará em torná-la mais humanizada e mais bela.

1 de março de 2007

Bosques e jardins perfumados para Santarém

Sebastião Imbiriba, 01/03/2007

Para corrigir e melhorar, não somente o clima, mas os aspectos urbanístico e paisagístico que irão humanizar esta cidade, nada mais adequado, urgente e meritório do que a arborização de nossos logradouros através da criação de parques, bosques e jardins com espécies essenciais perfumosas.

Há muitos anos alerto e escrevo sobre a urgente necessidade de arborização de Santarém, do plantio de parques, bosques e jardins nesta cidade cada vez mais desnudada de sua cobertura arbórea. A ocupação com múltiplas e compactas edificações dos antigos quintais onde outrora existiam frondosas e centenárias árvores, associada à destruição da arborização das vias públicas para abrir espaço aos veículos, eliminou os micro-climas amenizadores do calor de Santarém.

Em 2001, em artigo publicado em um dos periódicos desta cidade, sob o título "Árvore na Orla, nome na História ", instei para que a administração municipal marcasse seu nome nas crônicas desta cidade, para ser lembrada por muitos séculos, plantando alguns milhares de árvores ao longo de toda a orla ribeirinha, reforçando com o argumento de que Santarém ficaria ainda mais bela. Um dos maiores feitos do Imperador Pedro II foi mandar restaurar a Floresta da Tijuca e Mendonça Furtado é lembrado por arborizar com espécies exóticas inúmeras cidades brasileiras.

Em 2004, sob o título "Árvores e bosques para Santarém", afirmei que: "Se há tema que me apaixona e sobre o qual de vez em quando volto a falar, certamente, arborização urbana é um deles".  Numa audiência pública sobre o Plano Diretor de Santarém realizada em 2003 na Câmara Municipal, manifestei preocupação com a falta de árvores na orla e no centro da cidade. Parecia-me inconcebível que tais projetos, de grande importância ecológica, não contemplem o paisagismo, a arborização, a humanização do ambiente urbano.

Há nesta cidade inúmeros locais perfeitamente adequados à construção de bosques, parques e jardins, todos eles ameaçados por olhos ávidos por enchê-los de concreto armado. O pior é que este verdadeiro atentado contra a humanização desta cidade é perpetrado por veneráveis instituições que, elas mesmas, proclamam a defesa ecológica.

Entristece-me profundamente o crime que a construtora da Orla perpetrou ao não plantar sequer um único arbusto e, além disto, revolver as areias, misturando-as com barro, deixando um monte de lixo, restos de estacas de concreto e outros materiais sobre a praia, transformando-a em horror para a vista e risco para banhistas e embarcações que embicam nas margens do rio. Este crime ambiental deve ser reparado e evitado a todo custo no prosseguimento das obras da orla. Alguma solução técnica deve ser introduzida de modo a que o novo trecho da Orla seja arborizado e, quem sabe, se possa beneficiar a parte já construída.

A alameda central da avenida Anízio Chaves, estendida desde a Cuiabá até a margem do rio nas proximidades da Tecejuta, deveria ser totalmente preenchida com árvores frondosas e canteiros de flores. Assim, muitos outros espaços tais como os da Aeronáutica, do Exército, do Ibama poderiam, inclusive por iniciativa de seus detentores, ser transformados em parques, bosques, jardins, canteiros, jardineiras, sempre que possível com plantas essenciais que exalem perfume ou possuam intensa floração.

Este é um sonho antigo, não apenas meu, mas de muitas outras pessoas que amam apaixonadamente esta terra. Por isto mesmo, acompanho, com grande entusiasmo, muita alegria e pleno interesse em integrar-me ao projeto, a iniciativa de pessoas de visão e altamente competentes em suas respectivas atividades particulares, dispostas a investir dinheiro do próprio bolso para disparar o processo de transformação de Santarém num das mais belas, mais floridas e mais perfumadas cidades deste Planeta.

Iniciamos, todos juntos, a marcha para sermos, com profundo orgulho, uma cidade de bosques e jardins perfumados.

Um dino em meu quintal

Sebastião Imbiriba, 09/11/2001
 

Imagine você dirigindo seu reluzente automóvel novinho em folha por uma das principais avenidas da cidade, levando a bordo sua mulher, sua sogra, seu filho de quatro anos parecidíssimo com o avô paterno e seu bebê de oito meses, uma lida menina com a cara de sua mãe. Passeio tranqüilo. De repente você ouve um tropel infernal. Bandos de monstruosos dinosauros perseguem o almoço do dia. Um dos dinos pisa em seu carro e o amassa quase eesmagando todos os que estão dentro. O dino que vem atrás percebe movimento dentro do carro e resolve investigar. Seu bebê lhe parece bem apetitoso. Ele enfia a garra e pucha a sogra com o bebê no colo. Você nada pode fazer. Suas pernas estão presas nas ferragens. Outros dinos percebem o movimento e logo você, sua mulher e seu lindo filho são completamente devorados. Nada resta daquela bela família que saira a passear em tranqüila tarde de domingo. Não sobra quem reclame o seguro.

Se os dinosauros não tivessem desaparecido da face da Terra há milhões de anos, este seria um acidente comum e muitas ONGs estariam gritando que famílias a passeio em tardes de domingo são ameaça de extinção dos dinos.

Existem coisas das quais não sinto a mínima falta e das quais gostaria que a Humanidade se livrasse, para sempre, junto com os dinos e todas as insubstituíveis espécies que já se foram junto com eles. O virus da AIDS é uma delas. Há também os insetos transmissores da dengue, da malária, da doença de Chagas e muitos outros vetores de males que nos afligem. A lista é infindável e o Homem ficaria melhor sem qualquer deles.

No entanto, sou particularmente apaixonado por árvores frondosas, milenares protagonistas da vida natural. É doloroso ver qualquer delas ser derrubada. Milhões vieram a baixo para servir de dormentes no apogeu das ferrovias. Muitos outros milhões delas continuam a ser abatidas para os usos mais diversos, muitos deles muito pouco nobres. É triste ver o desperdício e sinto que se deve fazer muito para evitar a destruição completa.

Mas meu instinto preservacionista é mitigado pela constatação de que esse ideal tem se transformado em fanatismo radical, algumas vezes e, muitas outras, em fachada para esconder a defesa de interesses exóticos descasados das necessidades dos povos da Amazônia. O primeiro caso dá origem a comportamentos idiosincráticos. O segundo a vergonhosos testemunhos de venalidade e subserviência aos financiadores dessa quinta coluna paga para dividir os brasileiros e entregar a Amazônia.

É necessário racionalismo na discussão dos temas ecológicos. Para exemplificar: - tem sido aladeardo o grande potencial de processamento de CO 2 pelas florestas e, daí a importância da preservação destas. No entanto, o volume total de carbono armazenado pela floresta é praticamente constante ao logo de séculos, aumentando um pouco a cada ano. Na realidade, praticamente todo o carbono existente nas florestas de hoje foi acumulado no decorrer das muitas décadas do crescimento das árvores.

 Ao contrário, a quandidade acmulada em campos agrícolas brasileiros com suas duas ou três safras anuais, sendo a palha incorporada ao solo, não somente aumenta substancialmente a cada ano, como o valor econômico da produção é muito maior e mais imediato.

Vejamos o caso da Reserva Extrativista Tapajós Arapiuns situada em região reconhecidamente pobre e esgotada onde a capacidade de produção é ridícula se comparada com a de áreas semelhantes dedicadas à agricultura intensiva. A única razão de ser dessa aberração socio-ecológica é a de justificar o custeio de determinados agentes que vivem de iludir a boa fé dos incautos.

As questões ecológicas deveriam ser analizada do ponto de vista da utilidade social do uso da terra para a Humanidade. Neste caso teríamos de julgar se as terras dos povos em desenvolvimento, como o Brasil, devem servir para neutralizar o veneno gerado pelas nações poluidoras, as mais ricas, ou se devem produzir alimentos para toda a Humanidade.

Gosto muito de visitar museus. Essas instituiçães são repositórios da memória da Humanidade e do Universo. O Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, merece ser revisitado várias vezes pela quantidade e diversidade de seu acervo, desde sarcófagos egípcios até meteóritos gigantes. Bem ali perto, o Jardim Zoológico é museu vivo da nossa fauna, assim como o Jardim Botânico do Rio de janeiro o é da flora brasileira. Foi ali que conheci o Pau Brasil. O Museu de História Natural de Nova Iorque possui gigantescas reconstituições de ossadas de dinossauros.

Parques e reservas são museus naturais vivos. Devem existir em extensão e quantidade suficiente para preservar tesouros desconhecidos e manter a chance de a Humanidade os conhecer sificientemente para deles se beneficiar no futuro.

Se fosse possível evitar  contaminação e propagação de doenças e outros males, sejam eles provocados por micoorganismos ou gigantescos dinossauros, seria recomendável instituir e manter museus biológicos com todas as espécies existentes no Universo, inclusive dinossauros e virus da AIDS. Mas eu jamais me arriscaria, assim como condeno a geração de materiais radioativos em usinas atômicas. O risco é grande demais e todos conhecemos a lei natural que rege: "Se algo pode dar errado, isto certamente ocorrerá".

Se temos que preservar, devemos usar os meios apropriados, museus, conservatórios, reservas e parques para abrigar a flora e a fauna a serem resguardadas, corretamente dimensionados e criteriosamente distribuidos. Mas não podemos impedir que os povos do Mundo sejam alimentados apenas porque alguns xiitas ecológicos querem fazer prevalecer suas irralísticas idéias.

Há alguns anos, brincando em meu quintal com um neto de dois anos, tive a inspiração para um poema intitulado Pitanga. O neto insistia em que eu o levantasse bem alto para que ele catasse as pitanguinhas. Relembrando aqueles momentos de felicidade e de amor, afirmo a vocês: - não sinto a mínima falta de nenhum dinossauro ciscando em meu quintal.



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