25 de fevereiro de 2015

Nau à deriva.

Quem é o responsável? O comandante é sempre o responsável pela vitória ou derrota, por chegar a porto seguro ou naufragar, e é sempre o último a abandonar o navio. A culpa de comandante anterior não elimina a responsabilidade do atual. Vejamos alguns comandantes:
Sarney conduziu o Brasil durante a redemocratização, mas aumentou a inflação a níveis nunca vistos até então, e não combateu a corrupção. A corrupção aumentou.
Collor iniciou a modernização do Estado, mas paralisou o país ao sequestrar as economias dos cidadãos e das empresas, e não combateu a corrupção. A corrupção aumentou mais.
Fernando Henrique criou o Plano Real, mas foi responsável pelo Apagão, e não combateu a corrupção. A corrupção aumentou mais ainda.
Lula converteu várias bolsas na grande Bolsa Família, mas deixou o Mensalão acontecer na sala ao lado e, pelo que estamos sabendo, não evitou e não combateu a corrupção nas estatais, principalmente na Petrobras. Pelo contrário, promoveu a corrupção generalizada ao leiloar cargos em repartições e estatais. A corrupção extrapolou.
Dilma prosseguiu com Bolsa Família. Ainda ministra de Lula e depois como presidenta, controla a Eletrobrás na qual criou caos financeiro e energético, não combateu a corrupção nas estatais, principalmente na Petrobras. Pelo contrário, amamentou a metástase da corrupção com a distribuição de cargos a vilões comprovados. A corrupção explodiu.
Em doze anos de governo do PT, seus dois comandantes supremos dividiram ministérios, repartições e estatais em satrapias a cargo de políticos sedentos por se enriquecerem a qualquer custo. Lula e Dilma colocaram ratos a tomar conta do navio, comer mantimentos, corroer o casco, infectar a tripulação e deixá-lo à deriva em mar encapelado.
É esse barco que deve ser conduzido a porto seguro. Para isto se requer comandante à altura do desafio. Será Dilma capaz de fazer navegar tal barco em tal oceano?
O que estamos presenciando é o esgarçamento dos sistemas, o da corrupção, atacado pela Polícia Federal, pelo Ministério Público e pelo Judiciário, e o do governo que perde capacidade de conduzir o país.
A corrupção na Petrobras será conduzida pela Justiça e todos nós acreditamos que corruptos e corruptores acabarão na cadeia. Será a sanitização da Petrobras e exemplo para outros malfeitores. Felizmente, a Petrobras conta com um quadro funcional correto e competente que saberá extirpar corpos infectados de seu meio e recuperar o prestígio da empresa.
  Já a governabilidade, longe de depender das boas graças da base parlamentar em um Congresso venal, manhoso e exigente de recompensas, dependerá fundamentalmente da conquista de apoio popular, não por passes de mágicas marqueteiras, mas por atos que restaurem a credibilidade perante o mercado, principal formador de opinião, que se manifestará nas prateleiras e nas etiquetas dos supermercados.
A revolta dos caminhoneiros é mais uma faceta de um monstro de muitas caras que ameaça a governabilidade. A atitude do governo perante as manifestações dos caminhoneiros será crucial para enfrentar as prometidas manifestações do próximo quinze de março. Terá Dilma a firmeza de atitudes aliada à habilidade política à altura desse enorme desafio?
Joaquim Levy tem que correr a toda velocidade atrás do prejuízo que se acumula há mais de oito anos, vencendo barreiras, as amigas ainda mais terríveis que as inimigas. Mas ele corre só. Sem a liderança da presidenta, firmemente e declaradamente empenhada na responsabilidade fiscal, na recuperação da credibilidade, nada de bom vai acontecer e a deterioração da governabilidade prosseguirá até um fim melancólico que não sabemos qual será.
Vamos acompanhar a odisseia dessa nau em oceano tormentoso.