21 de outubro de 2014

Eleições 2014 – Dilma ou Aécio?

Antecedentes

Luiz Inácio Lula da Silva, ao tomar posse, recebeu um estado estruturado e hiperinflação dominada, mas uma economia conturbada pela desconfiança do mercado em relação aos seus pretensos propósitos socializantes e estatizantes. A carta-compromisso que dirigiu aos brasileiros, as declarações tranquilizadoras de Fernando Henrique Cardoso e a escolha do mais importante industrial do setor têxtil como seu vice-presidente, ocorridas antes das eleições, bem como, logo no início do governo, a nomeação e as medidas ortodoxas de Henrique Meirelles, no Banco Central, e de Antônio Palocci, no Ministério da Fazenda, estabeleceram e mantiveram a confiança do mercado durante o primeiro mandato de Lula.
A imediata volta à estabilização do Real, a forte demanda mundial por commodities, criando importantes superávits comercial e fiscal, proporcionou um período de crescimento econômico, aumento do emprego, eliminação da dívida pública externa e financiamento de um dos maiores programas mundiais de transferência de renda para as classes menos favorecidas, as quais aumentaram a base de consumidores, ampliando o mercado interno nacional.
No segundo mandato de Lula, a crise do sistema financeiro mundial, colocando a economia global em recessão, o escândalo do mensalão, a demissão de Palocci e nomeação de Guido, o câmbio valorizado e outros fatores internos e externos iniciaram um processo de degradação de diversos setores industriais brasileiros e a progressiva diminuição dos saldos positivos no comércio externo.

O estado da economia brasileira

Ao assumir a presidência, Dilma se viu às voltas com sucessivos escândalos de corrupção em alto nível, tendo que demitir sete ministros e um sem número de outros altos funcionários, em seu primeiro ano de governo. Dilma e Mantega adotaram diversas medidas heterodoxas - diminuindo o superávit fiscal, praticaram “pedaladas” contábeis, tentando esconder o crescente déficit, contiveram os preços dos combustíveis e esvaziaram o caixa da Petrobras, reduziram as margens das empresas de eletricidade - provocando suspeição e descrédito no mercado quanto à correta condução da economia brasileira. O descrédito fez com que a Bovespa, já afetada e não recuperada da crise financeira mundial de 2008, continuasse despencando e inviabilizando projetos dependentes da confiança dos investidores.
O panorama mundial revela decréscimo da demanda de commodities, afetando o agronegócio e as mineradoras brasileiras; a autossuficiência já atingida pelos Estados Unidos na produção de gás e quase alcançada na de petróleo, coloca a indústria petroleira mundial na perspectiva de superprodução e queda de preços. A balança comercial externa brasileira é afetada negativamente pelo menor valor das commodities e positivamente por menores dispêndios na importação de petróleo e derivados. A próxima entrada em funcionamento de algumas refinarias e dos poços do pré-sal darão ao Brasil autossuficiência em petróleo e seus derivados, no entanto, baixos preços mundiais e os altos custos da produção em grandes profundidades impedirão que o país se torne grande exportador de petróleo.
O emprego está caindo e o desemprego já se manifesta em alguns setores industriais. A destruição provocada pela seca prolongada que afetou a maior parte da agricultura no Sudeste brasileiro levará de dois a quatro anos para ser recuperada e retornar aos níveis de produção e produtividade de 2013. Um dos instrumentos de alavancagem do crescimento econômico, o incentivo ao consumo pelo mercado interno pelo oferecimento de crédito fácil esgotou sua capacidade devido ao endividamento da população.
Tudo isto indica que a economia brasileira enfrentará sérias dificuldades nos próximos anos.

O perfil dos candidatos

Qualquer que seja o próximo presidente, Dilma ou Aécio, terá que enfrentar esses problemas com os arsenais que possuem.
Ambos os candidatos tem formação acadêmica em Economia e experiência em administração pública, possuem visão estratégica e geopolítica, são patriotas e bem intencionados, gozam de boa saúde, são dinâmicos, enérgicos, disciplinados e são suportados por grandes partidos coligados a outros de menor porte. Ambos e se propõem a bem servir ao Brasil e a seu povo.
As propostas dos dois são muito semelhantes: combate a inflação, à criminalidade e à corrupção; melhoria na saúde e na educação; expansão dos programas sociais; investimento em infraestrutura. Embora o governo Dilma tenha sido marcado por algumas heterodoxias, é possível que sua promessa de substituição de Mantega e slogans de campanha “governo novo” e “ideias novas” indiquem o retorno à ortodoxia do início do governo Lula. A prática econômica dos dois candidatos pode ser classificada como socialdemocracia próxima às vigentes no norte europeu.
Embora isto não seja óbice eleitoral, Dilma possui um discurso complicado - às vezes desconexo, com incorreções gramaticais, prejudicado por caretas e trejeitos - que lhe dificulta a interlocução, enquanto o discurso Aécio é claro, correto e fluido, apoiado em adequada expressão facial e corporal. Mas a principal diferença entre Dilma e Aécio é a experiência político-eleitoral de cada um.
A única experiência anterior de Dilma foi sua candidatura a presidente, proposta, planejada e dirigida por Lula. Dilma agora conduz sua campanha à reeleição com mais autonomia, porém ainda com o apoio indispensável de Lula, sem o qual, provavelmente não teria chances. No entanto seu período na presidência lhe proporcionou grande conhecimento e experiência nos diversos aspectos do exercício do cargo.
Aécio foi educado na habilidade política de seu avô, Tancredo Neves; participou, articulou e conduziu eleições vitoriosas para deputado federal, presidente da Câmara dos Deputados, governador de um grande estado e para senador da república; sua capacidade de articulação e congregação ficou demonstrada quando muitos políticos de partidos da base de apoio a Dilma e quase todos os candidatos derrotados no primeiro turno lhe declaram apoio no segundo.

Perspectivas

O ano de 2015 será crucial para o sucesso do mandato do presidente eleito, seja Dilma ou Aécio.
Como visto, são pouco promissoras as previsões para a economia brasileira nos próximos anos. Há uma crise de confiança do mercado na solidez econômica nacional.
Houve renovação no Congresso Nacional. Na Câmara dos Deputados, ocorreu diminuição da atual bancada de apoio firme a Dilma, de 121 para 99 deputados; também houve racha dentro de outros partidos apoiadores pouco confiáveis; estes partidos fazem parte de uma bancada - propensa a aderir a quem mais ofereça - que aumentou de 253 para 262; a bancada de apoio firme a Aécio aumentou de 136 para 147 deputados.
A nova configuração na Câmara aponta a possibilidade Dilma ter que enfrentar dificuldades mais sérias para constituir maioria do que no mandato anterior. As dificuldades de Aécio seriam menores devido à sua maior base de apoio firme. Ambos, porém, não terão vida fácil no Congresso: - Dilma por necessitar de intermediários devido à sua limitação na interlocução direta e Aécio devido ao reconhecido poder de fogo opositor do PT e seus aliados, PDT e PCdoB.
Os investimentos em infraestrutura têm papel primordial na alavancagem da economia e na melhoria da competetividade nacional. Resta saber de onde advirão os recursos tão grandes e tão necessários para concluir tantas obras inacabadas e iniciar outras tantas ainda maiores. E isto sem descurar da educação, da saúde, da segurança e da redução da pobreza.
O cenário exige grande competência administrativa, alta capacidade de liderança, muita firmeza e paciência, e extraordinária habilidade política.
Ambos os candidatos são muito dignos e muito competentes, mas qual dos dois disporia de maior capacidade de liderar, criar confiança, atrair investidores, conciliar o Congresso em torno de projetos nacionais, introduzir processos administrativos mais eficazes e incentivar a participação cooperativa dos servidores públicos, levantar o moral dos empreendedores e da população?
Esta é a resposta que cabe ao eleitor.
Isto é o que descobriremos ao fim do mandato.


14 de outubro de 2014

What is the future of the pre-salt?

Brazil has high hopes in much it can do with the resources generated when it becomes a major exporter of oil from the pre-salt.
The main question is how much the pre-salt oil can contribute to the much needed resources to projects in the areas of education and health, the two major Brazilian problems, if international oil prices fall due to American self-sufficiency.
The pre-salt oil is the most expensive in the world because of the enormous difficulties of operating in so deep and so far from the coast waters.
The United States is approaching self-sufficiency in oil and shale gas. If and when this happens, there will be overproduction of oil in the world.
In this case, there will be two hypotheses: a) For strategic and environmental reasons the USA will keep their deposits as reserves and continue to import; b) For economic reasons and to improve the balance of payments the USA would become exporters of oil and gas. In both cases the price of a barrel of oil will drop to very low levels, even more in the second case, the most likely, not only to liberate Europe from the withers imposed by Russia, but also to maintain economic hegemony on the Chinese threat.
In the first case, if there is no self-sufficiency or the USA opting to continue importing and the Brazilian pre-salt producing enough to supply the domestic and export at high prices, profits, royalties and taxes will generate huge sums applicable in educational and medical projects.
On the other hand, if the USA, which now imports a hugeness of oil from various countries, achieves self-sufficiency, indeed, the international price of the product will fall, affecting the economies of all producers, including Brazil, if the production of pre-salt becomes important, as expected.
In this case, Brazil could meet their needs with imported oil at prices below the pre-salt production cost, which would remain as a reserve for over fifty years. Petrobras would continue supplying the domestic market with either expensive oil from pre-salt, or with cheaper imported oil, but most probably would not have the expected huge income.
To get an idea, currently (2014), Japan and Korea pay $ 14 per thousand cubic feet of gas from Qatar, the Russian Gazprom charges $ 12 for gas supplies to Europe, while the price of gas in the United States is only USD $ 2.90, a price drop of 80% since 2008 resulting in an annual savings of $ 100 billion to the country's trade balance.
The North American shale gas is a serious threat to Russian gas and Putin uses its media and propaganda power to try to prevent the United States from becoming global suppliers, including supporting American environmentalists. A big geopolitics sickle battle.
Of course, there are many variables, both economic, and environmental and geopolitical. Also, one can’t ignore the interests of those big American oil companies and their lobbyists, and even more those of the world biggest oil companies outside the USA. But the economic facts are impressive, and my concern that the dream will not realize seems very real.
It should be noted, the artificial low imported gasoline prices that Petrobras is being forced to practice by government policies almost completely eliminated the Brazilian ethanol industry.
That's why I haul this discussion in an attempt to seek a solution to what seems to be an important threat: the frustration of the pre-salt promises invalidating all hopes of financing Brazilian programs in health and education.

I will greatly appreciate receiving comments and critiques on these assumptions.

Qual o futuro do pré-sal?

O Brasil deposita muitas esperanças no muito que poderá fazer com os recursos que obterá quando se tornar grande exportador de petróleo do pré-sal.
A dúvida principal é o quanto o pré-sal poderá contribuir para o tanto de recursos necessários aos projetos nas áreas da educação e saúde, os dois grandes problemas brasileiros, se o preço internacional do petróleo cair devido à autossuficiência norte-americana.
O óleo do pré-sal é o mais caro do mundo devido às enormes dificuldades da exploração em águas tão profundas e tão afastadas da costa.
Os Estados Unidos se aproximam da autossuficiência com petróleo e gás de xisto. Se e quando isto acontecer, haverá superprodução de petróleo no Mundo.
Neste caso, se apresentam duas hipóteses: a) Por motivos estratégicos e ecológicos os EEUU manteriam seus depósitos como reserva e continuariam a importar; b) Por motivos econômicos e para melhorar a balança de pagamentos os EEUU se tornariam exportadores de petróleo e gás. Em ambos os casos o preço do barril de petróleo cairá a níveis muito baixos, ainda mais na segunda hipótese, a mais provável, inclusive para libertar a Europa do garrote imposto pela Rússia, e para manter a hegemonia econômica diante da ameaça chinesa.
No primeiro caso, não havendo a autossuficiência ou os EEUU optando por continuar importando e o pré-sal brasileiro produzindo o suficiente para o abastecimento nacional e para exportação a bons preços, os lucros, royalties e impostos gerarão imensas somas aplicáveis nos projetos educacionais e médicos.
Por outro lado, se os EEUU, que hoje importam uma enormidade de petróleo de diversos países, atingirem a autossuficiência, certamente, os preços internacionais do produto cairão, afetando as economias de todos os produtores, inclusive o Brasil, se a produção do pré-sal se tornar importante, como esperado.
Neste caso, o Brasil poderia suprir suas necessidades com óleo importado a preços muito inferiores ao custo de produção do pré-sal, que permaneceria como reserva por mais uns cinquenta anos. A Petrobrás continuaria abastecendo o mercado interno quer com o caro óleo do pré-sal, ou com o importado mais barato, mas, muito provavelmente, não disporia da enorme renda esperada.
Para se ter uma ideia, atualmente (2014), Japão e Coreia pagam US$ 14 por mil pés cúbicos de gás do Qatar, a Gazprom russa cobra US$ 12 pelo gás que fornece à Europa, enquanto o preço do gás nos Estados Unidos é de apenas US$ 2.90, uma queda de preço de 80% desde 2008 resultando numa economia anual de 100 bilhões de dólares para a balança comercial do país.
O gás de xisto norte-americano é séria ameaça ao gás russo e Putin usa sua mídia e poder de propaganda para tentar impedir que os Estados Unidos se tornem fornecedores mundiais, inclusive apoiando os ambientalistas norte-americanos. Guerra de foice geopolítica.
Sei que são muitas as variáveis, tanto econômicas, quanto ambientais e geopolíticas. Também, não posso desconsiderar os interesses das próprias grandes petroleiras norte-americanas e seus lobbies, mais ainda das maiores petroleiras mundiais que estão todas fora dos EEUU. Mas os fatos econômicos são expressivos, e minha preocupação de que o sonho não se realize é real.
Basta notar que a estabilidade artificial do preço da gasolina que a Petrobras está sendo forçada a praticar, quase eliminou totalmente a indústria alcooleira nacional.
É por isso que lanço essa discussão, na tentativa de buscar uma saída para o que me parece ser importante ameaça, as promessas do pré-sal se frustrarem, invalidando todas as esperanças de financiamento dos programas nacionais de investimento com os recursos do pré-sal em saúde e educação.

Eu apreciaria muitíssimo receber comentários e críticas a estas hipóteses.

11 de outubro de 2014

De saco cheio

Quando um médico submete alguém a tratamentos extremamente penosos, como o do câncer, por exemplo, não o faz por maldade, mas para o bem do paciente. O tratamento é muitas vezes demorado, doloroso, exigindo critério, planejamento e muita disciplina.
A criação do cartel da OPEP, que aumentou o preço do petróleo, colocou a economia do Governo Militar numa crise que se estendeu até a administração Sarney, a qual Collor quis debelar congelando todos os depósitos bancários, deflagrando, por sua vez, outra crise ainda pior.
Itamar herdou uma economia doente, quase terminal. Havia necessidade de tratamentos rigorosos e severos. Foi isso que Fernando Henrique, Pedro Malan e Pérsio Arida fizeram. O paciente se salvou, recuperou as energias, se tornou saudável. Não estava em forma ainda, mas podia andar com as próprias pernas.
Foi esse Brasil que FHC passou a Lula em uma transferência de poder harmoniosa, republicana, leal, até elegante.
É esse Brasil que Lula e Dilma pintam com as piores cores de um arsenal de mentiras preconceituosas, despeitadas e raivosas.
Lula recebeu um país pronto a aproveitar a bonança do crescimento da economia mundial, de excelentes superávits comerciais e da atração de capitais decorrentes do crédito e da confiança gerados pela estabilidade da economia, e também, é claro, pela mística de um trabalhador proveniente da classe trabalhadora.
Grande herança e, também, mérito próprio.
Lula usou esse capital para promover e aperfeiçoar tudo o que fora contra até assumir o poder, inclusive a bolsa escola e a estabilidade monetária.
Infelizmente, a par do aperfeiçoamento da herança recebida nas áreas econômica e social, Lula aparelhou o Estado brasileiro aumentando de cerca de sete mil para mais de trinta mil os cargos de confiança, preenchendo-os com hostes do PT habituadas às práticas corruptas de alimentar o caixa dois do partido com propinas dos serviços municipais petistas de transporte urbano, coleta de lixo e demais contratos de obras públicas.
Logo rebentaram as dezenas de escândalos que infestam os governos Lula e Dilma, denúncias que se perpetuam porque o esquema continua em funcionamento, o aparelhamento corrupto do governo permanece desgraçando e desmoralizando o país por toda parte.
As denúncias não param.
Lula, raivoso, vocifera que está de saco cheio com elas.
Lula deveria estar de saco cheio com a própria prática, com sua própria liderança dos mafiosos que ocupam os diversos setores do governo, as agências reguladoras, as empresas estatais, fazendo com que mensalões e petrolões se sucedam infindavelmente.
O Brasil quer o imediato fim dessa prática infernal, tão disseminada, tão corriqueira que algumas pessoas, inclusive as que sei serem boas e honestas, a aceitam como normal e inevitável, algo determinado pelo destino, e a justificam alegando alguns benefícios recebidos. Ressuscitaram o slogan de Ademar: “Rouba mas faz”.
Quem está de saco cheio é o Brasil.
É por isso que o Brasil quer mudança.
É por isso que o Brasil vota Aécio 45.