30 de maio de 2012

Rio +20, Parte II – O Homem se alarma


As inúmeras ocorrências de assassinato industrial em massa por explosões, vazamentos tóxicos e pela simples emissão tóxica das chaminés, associadas aos desastres naturais que sempre ocorrem, provocaram a reação de parcelas expressivas da sociedade, que passaram a discutir, nos foros mais diversos, as possíveis causas e controles de tais acontecimentos. Os próprios fatos, os debates e sua repercussão na mídia provocaram o medo da morte, do futuro e das mudanças. As pessoas, o público em geral passou a acreditar que, a continuar tal estado de coisas, não haveria futuro para as novas gerações e que as mudanças climáticas causariam infindáveis mortes. Foram estas preocupações que os especialistas levaram a Estocolmo 72.

Mensagens alarmistas percorreram os meios de comunicação levadas por pessoas, muitas delas bem intencionadas, e também por aquelas interessadas em lucrar com o alarmismo, algumas com fundamentos científicos e outras por mero charlatanismo. Toda essa gama de informações dominou a conferência e, principalmente, o seu entorno constituído por grupos de opinião popular e ativistas políticos, tudo isto repercutido por uma imprensa ávida de notícias bombásticas.

Acresce que o desencanto com o Stalinismo, a brutal repressão à Primavera de Praga e outros acontecimentos políticos na área do socialismo, deixaram inúmeros formadores de opinião, órfãos de ideologia e à procura de nova razão de viver, prontos a se incorporarem a grupos ideológicos alternativos, dispostos a empregar todo “ardor patriótico” à nova causa da ecologia a qualquer custo. Muita inverdade, modelos, hipóteses se misturaram a teorias desenvolvidas no rigor da metodologia científica. 

Ficou extremamente difícil separar o joio do trigo, ainda mais que as notícias mais estapafúrdias são exatamente as que repercutem em maior extensão na mídia global. Pessoas e instituições bem intencionadas passaram a contribuir religiosamente alimentando organizações, geralmente as mais teatrais, com o dízimo ecológico. A abundância de dinheiro e trabalho voluntário criou imenso e diversificado complexo propagandístico e midiático dedicado a instilar mitos que suplantam em muito os acanhados esforços da divulgação científica. A mistificação impera.

Essa mitologia é extremamente nociva ao esforço de ecologistas bem intencionados e bem assentados em genuínas teorias científicas. Entre os mitos estão ideias de que a Amazônia seja o pulmão do mundo, de que CO2 - o gás da vida - seja nocivo e gerador do efeito estufa, que aquecimento global seja fenômeno antropogênico, enfim, uma série de inverdades fartamente divulgadas e acreditadas como dogmas de fé.

Nenhuma dessas hipóteses leva em conta que a Terra já foi mais quente e mais fria do que as mais radicais profecias climáticas anunciam; que os ciclos de concentração de CO2 na atmosfera são defasados em séculos dos ciclos de crescimento da temperatura, sendo, portanto, consequência em não causa; que as medições de temperatura se realizam mormente nos centros urbanos, por motivos óbvios cada vez mais quentes dos que os campos e florestas, e que só recentemente se difundiram as medições oceânicas; que a massa oceânica é muito maior e termicamente mais estável do que a massa continental antropogenizada; enfim uma série fatos e de dados distorcidos ou inadequadamente coletados, analisados e inseridos em modelos matemáticos baseados em premissas pouco confiáveis.

Todas essas hipóteses e teorias alimentaram os debates em Estocolmo 72, tomaram corpo e acabaram adotadas pelas Nações Unidas e incorporadas em propostas, convenções e acordos como os da Conferência Rio 92, Protocolo de Kyoto de 1997, Convenção de Copenhague de 2009 e diversos outros cujas conclusões foram acatadas de modo recalcitrante e jamais implementadas de forma consistente, exatamente pela fraqueza de seus fundamentos científicos. Entre essas medidas encontra-se a compensação de créditos de carbono e seus sucessores, REDD e REDD+ cuja aplicação tem sido meramente pontual e raramente ou até impedidas onde poderia ser mais efetiva, nas florestas tropicais, principalmente na Amazônia.

Tudo isto é uma lástima porque os problemas ambientais são muitos e muito sérios, graves demais para terem seus corretivos preteridos e postergados por conflitos entre dogmas e descrenças meramente ideológicos. A Humanidade precisa conhecer a realidade em bases realmente científicas e proceder no sentido de corrigir seus rumos no caminho da sustentabilidade ecológica, econômica e social. Será isto o que teremos na Rio + 20?

24 de maio de 2012

Rio +20, Parte I - O Homem mata a si próprio


Desastres naturais acontecem, muitos são imprevisíveis, alguns são catastróficos, outros prolongam sua ação mortífera por anos ou décadas, ceifam milhares de vidas, estão quase todos fora do alcance do homem interferir e evitar que aconteçam. Terremotos, tsunamis, vulcões, tufões e tornados, avalanches, trombas d’água, resfriamentos glaciais e aquecimentos, inundações e secas, pestes, são o que na língua inglesa se chama Atos de Deus.

Tais acontecimentos ocorreram desde a formação do planeta Terra e são conhecidos por seus vestígios geológicos ou foram objeto de registro histórico, todos produzindo efeitos ecológicos, afetando e ceifando a vida do ser humano, tanto nas imediações espaciais e temporais da ocorrência, quanto em locais e épocas remotas. Para exemplificar, citemos apenas alguns casos.

Nosso planeta executa diversos movimentos em torno do Sol e de si mesmo em ciclos desencontrados de milhares de anos, inclinação axial e orbital, precessão axial e absidal alterando os efeitos da radiação solar sobre a Terra toda e seus hemisférios, fazendo com que há cerca de vinte e cinco mil anos atrás tenha atingido seu Máximo Térmico do Holoceno, ou seja, nessa época a temperatura global atingiu seu maior nível, depois baixou para níveis glaciais e, novamente, volta a aquecer. É claro, que nesses ciclos, o Saara já foi floresta e agora é deserto, e coisas semelhantes ocorrem por toda parte.

Quando o vulcão Huainaputina, ao sul do Peru, explodiu no ano 1600, numa das maiores erupções do último milênio, não somente destruiu tudo ao seu redor, abalou e cobriu de cinzas a cidade de Arequipa, a setenta quilômetros, e jogou lava candente no oceano Pacífico a cento e vinte quilômetros de distância. Seus efeitos foram duradouros. Suas cinzas encobriram o Sol e esfriaram a Terra toda destruindo colheitas e provocando fome em lugares tão distante quanto a Rússia em 1601, o ano mais frio nos últimos seis séculos.

Como vemos, fenômenos naturais produzem importantes efeitos climáticos. Quanto a estes pouco podemos fazer senão mitigar suas consequências. Mas há fatores humanos extremamente impactantes, tanto ou mais que os naturais. Neste caso, certamente, podemos tomar providências. Vamos ver alguns deles e como seus efeitos produziram reações que conduzem a Humanidade a discutir os meios de como os evitar.

Comecemos com os testes nucleares do pós-guerra poluindo a atmosfera com radiação atômica. Outros desastres atômicos ocorreram, inclusive o de Chernobyl, em 1986, o mais grave acidente nuclear, até hoje, contaminando todo o Norte da Europa, do Reino Unido até a Rússia.

Muitas vezes as boas intenções degeneram em graves consequências. No contexto do Grande Salto de Mao Zedong, iniciado em 1958, foi lançada a campanha contra as Quatro Pragas, mosquitos, moscas, ratos e... pardais comedores de grãos tão necessários à alimentação do povo chinês. Os pardais foram quase totalmente exterminados, mas eles não comiam apenas sementes, se alimentavam principalmente de insetos que, sem seu maior predador, proliferaram e dizimaram as colheitas, provocando a maior fome e grande mortandade na China.

Em fevereiro de 1984 a explosão de um dos dutos da refinaria da Petrobrás, que passava por baixo da Vila Socó, incendiou todos os barracos e matou dezenas de pessoas. Logo em seguida, a cidade de Cubatão, então a mais poluída do Brasil, sofreu outro acidente. A Vila Parisi, com milhares de trabalhadores da Companhia Siderúrgica Paulista e outras indústrias extremamente poluidores, padeceu a agonia das doenças provocadas pela ignorância, miséria, ausência de saneamento e extrema poluição atmosférica.

Estes exemplos de como o Homem mata a si próprio com atitudes impensadas e agressões à natureza são pequena amostra do que a Humanidade tem feito contra si mesma. A Reação a esse estado de coisas conduziu à realização, em Estocolmo, no ano 1972, da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, na qual foram discutidos problemas dos recursos naturais não renováveis, do meio ambiente e das políticas capazes de superá-los.

Vinte anos após Estocolmo 72 realizou-se a Rio 92. Mas isto será assunto da Parte II. Até a próxima semana.

17 de maio de 2012

CPI do abafa


A nação brasileira está ameaçada de assistir a feitura de gigantesca pizza de marmelada no encerramento da Comissão Mista Parlamentar de Inquérito que investiga Carlos Augusto Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira, e seus comparsas nos meios políticos nacionais.

Waldomiro Diniz era companheiro de quarto, amigo dileto e assessor de Zé Dirceu, ministro chefe da Casa Civil do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em seu primeiro mandato. Zé Dirceu era o segundo homem mais poderoso da República Federativa do Brasil, despachava diretamente com Lula e coordenava todos os demais ministros do Poderoso Chefão. Pois bem, há oito anos, esse Waldomiro foi filmado pedindo propina a um empresário então desconhecido, o hoje famosíssimo Carlinhos Cachoeira. Desse evento surgiram as CPIs dos Bingos, Correios e Mensalão.

Carlinhos foi esquecido pela mídia, mas não pela Polícia Federal, nem pelo Ministério Público, que desvendaram os mistérios na nova caverna de Ali Babá e seus incontáveis ladrões, instalada em pleno Planalto Central Brasileiro, donde dominava os acontecimentos no Estado de Goiás e no Distrito Federal e irradiava seus tentáculos pelo resto do país. A PF detonou a Operação Monte Carlo e prendeu Cachoeira.

As primeiras notícias revelavam que informações de Cachoeira à mídia investigativa alimentaram as denúncias das falcatruas do PT que derrubaram Zé Dirceu e seus comparsas e ameaçara a estabilidade do governo Lula. Alguns petistas viram ai a oportunidade de desqualificar os denunciantes, desmoralizar a mídia e impedir os investigadores do mensalão, inclusive Roberto Gurgel, Procurador Geral da República. Como náufragos desesperados, agarraram-se ao primeiro objeto que boiava ao alcance das mãos, a tábua de salvação para livrar Zé Dirceu e seus comparsas do xilindró.

Lançaram-se à formação da CPMI, a que denunciaria os denunciantes, desmoralizaria a mídia e inocentaria os culpados. Melhor ainda, o mais ferrenho inimigo do PT, Senador Demóstenes, estava intimamente implicado com Cachoeira, e com cereja no bolo, Marconi Perillo, governador de oposição também envolvido. Zé Dirceu, o intocável, Rui Falcão, presidente do PT, Vaccarezza, deputado do PT e o próprio Lula saltitavam contentes com o desenrolar dos acontecimentos.

De repente, foi um deus nos acuda, corre-corre, mexe-mexe. A CPMI nem fora ainda inaugurada, embora já sem retorno, quando explodiram as denúncias de que o governador petista do DF, Agnelo Queiroz, o governador aliado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho, e outros políticos de vários partidos, mormente da base aliada, pertenciam à folha de pagamento de Cachoeira e seu comparsa, Fernando Cavendish, presidente da Construtora Delta, maior empreiteira superfaturadora dos governos federal e do Rio de Janeiro.

Zé Dirceu confessou: "O efeito foi o contrário do imaginado. A única consequência da CPI foi acelerar o processo do mensalão". Cândido Vaccarezza contemporizou: "Não podemos fazer dessa CPI um debate político ou um acerto de contas entre desafetos". Lula decretou: “Esta CPI tem ficar do jeito que está”, isto é, nada fazer, ficar na moita.

A CPMI comandada pelo PT e seu mais íntimo aliado, o PMDB, se reúne em sessões secretas. Sua primeira providência foi criar sala super-reservada, guarnecida por seguranças e com cofre-forte destinado a enfurnar documentos da investigação, impedindo que o público tome conhecimento de fatos que afetam profundamente os interesses do povo brasileiro.

Isto, simultaneamente com a entrada em vigor da Lei de Acesso à Informação, exatamente a que dá efetividade aos preceitos constitucionais de que “todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado”, garantindo “o acesso dos usuários a registros administrativos e a informações sobre atos de governo.

O que estamos assistindo, é a tentativa de nada inquirir, nada registrar e nada revelar para não afetar mais e novos integrantes do PT, o partido mais bem estruturado no uso e abuso de todos os métodos de corromper para dominar. A CPI do Cachoeira está se transformando em incrível, lastimável e abjeta CPI do abafa.

10 de maio de 2012

Quem matou Celso Daniel?


Na manhã de 10 de maio de 2012, no Tribunal do Júri de Itapecerica da Serra, cinco acusados se postam diante de sete cidadãos que compõem o Conselho de Sentença. São estes os encarregados de decidir se os réus são ou não culpados do assassinato do prefeito de Santo André ocorrido em 2002. Dez anos decorreram desde o trágico acontecimento. Está na hora do povo brasileiro saber a verdade.

Mais do que a verdade, queremos as verdades todas, porque o cruel assassinato decorreu de vários crimes, revelados por diversas formas, mas não devidamente esclarecidos por processos judiciais. Primeiro, os crimes contra a administração pública – peculato, concussão, corrupção passiva, prevaricação e advocacia administrativa – praticados em concorrências públicas pré-arranjadas e superfaturamentos destinados ao pagamento de propinas. Em seguida, o financiamento de campanhas eleitorais do Partido dos Trabalhadores com fundos oriundos dessas propinas. Finalmente, a apropriação pessoal desses fundos, pelos agentes criminosos, em detrimento do destinatário original, o PT.

É voz corrente em todos os meios que a obtenção de fundos partidários por concorrências superfaturadas era prática corriqueira das prefeituras geridas pelo PT. Diversos prefeitos petistas estiveram envolvidos em casos semelhantes.

Notícias correntes informam: o promotor no processo afirma que Celso Daniel foi vítima de “encomenda mediante paga” e aceitava a corrupção em seu governo para que o dinheiro desviado fosse para o caixa dois do PT. “O prefeito conhecia o esquema de dinheiro para o caixa 2 de seu partido, para beneficiar o PT nas eleições, inclusive para a campanha do presidente Lula naquele ano. Ele estava de acordo. Aí descobriu que o dinheiro também servia para enriquecimento pessoal de integrantes do esquema”.

Uma testemunha teria relatado ao promotor que o assessor de Celso Daniel na Prefeitura de Santo André, Gilberto Carvalho, atual secretário geral de Dilma e réu em ação civil por improbidade durante sua atuação em Santo André, “levava dinheiro do esquema de corrupção pessoalmente ao então presidente do PT, José Dirceu”.

Muitas revelações surgiram em investigações policiais, do Ministério Público e da CPI do mensalão, quando se verificou o exercício contumaz desse tipo de arrecadação pelo PT. O mensalão não foi um fato isolado, mas a continuidade de práticas sindicais antes da fundação do partido. O próprio Lula confessou isto, em entrevista dada em Paris, quando tentou minimizar os crimes como sendo apenas caixa dois de campanha eleitoral, segundo ele, prática usual de todos os partidos.

Mais tarde, diante da ameaça que o escândalo representava, Lula declarou: “Estou indignado pelas revelações que aparecem a cada dia, e que chocam o país. O PT foi criado justamente para fortalecer a ética na política e lutar ao lado do povo pobre e das camadas médias do nosso país. Eu não mudei e, tenho certeza, a mesma indignação que sinto é compartilhada pela grande maioria de todos aqueles que nos acompanharam nessa trajetória”. Adiante, no mesmo discurso, Lula prossegue:Queria, neste final, dizer ao povo brasileiro que eu não tenho nenhuma vergonha de dizer ao povo brasileiro que nós temos que pedir desculpas. O PT tem que pedir desculpas”.

Ao que parece, pelas manifestações de apreço, amizade e carinho que Lula tem demonstrado publicamente por Zé Dirceu, principal acusado pelas falcatruas do PT, tal pedido de desculpas foi mera encenação para tirar o foco das atenções de sobre o partido e seus arrecadadores.

A impressão que tudo isto nos deixa é que o PT foi estruturado como máquina arrecadadora para ganhar eleições, assumir o poder e continuar a arrecadar mais e mais dinheiro, aperfeiçoando seus próprios métodos e se apropriando de esquemas consagrados por seus adversários com maior tempo de zona, para se perpetuar no poder, elegendo e reelegendo Lula, e elegendo sua sucessora.

O que matou Celso Daniel foi sua ingenuidade em acreditar que fins justificam os meios, acreditar que pecado deixa de ser pecado quando cometido para defender a fé, acreditar que crime deixa de ser crime quando praticado para impelir sua facção à vitória, acreditar que seus “laterones” tinham a mesma pureza de sentimentos e não se aproveitariam da oportunidade do roubo para se locupletarem com o botim, acreditar que poderia reprimir, não o crime, mas a apropriação pessoal dos resultados do crime, finalmente, acreditar que sairia incólume dessa repressão.

Seu credo era totalmente falso, assim como falsos eram seus amigos, companheiros e comparsas, seus “laterones”, como o Sombra, o principal deles que, para se proteger, comandou a perpetração do assassinato.

Um dos criminosos de aluguel já foi condenado, embora esteja foragido. Outros sentam agora no banco dos réus, enquanto Sombra aguarda em liberdade sua vez de enfrentar a hora da verdade. Estes são os assassinos diretos de Celso Daniel. O capo mor, Zé Dirceu, e outros aguardam na fila do STF a boa vontade do Ministro Ricardo Lewandovsky.

Enquanto isto, o Poderoso Chefão passeia incólume o seu irresistível charme pelo crédulo povo brasileiro.

3 de maio de 2012

Farinha do mesmo saco


Qual a diferença substancial entre o partido de Fernando Henrique e o partido de Lula?

Outro dia, num desses canais culturais de TV, assisti entrevista de Paulo Vanzolini que, como todos sabem, é cientista de grande renome internacional e compositor popular com sambas como "Volta por Cima" e "Na Boca da Noite". Vanzolini, entre muitas outras coisas, principalmente relacionadas ao modo de fazer ciência no Brasil, relatou seu entusiasmo com a candidatura Lula em conversa com um “scholar” de Harvard o qual, muito cético, apontou a origem sindical do político como fator de desconfiança.

As lutas internas no mundo sindical, por toda parte, nem sempre foram dirimidas em processos civilizados. Nos Estados Unidos, houve períodos em que as ligações entre Máfia e sindicatos foram, no mínimo, muito estreitas. No Brasil, o sindicalismo sempre esteve atrelado ao poder, tanto que seus líderes foram apelidados “pelegos” por se deixarem montar pelos políticos e se venderem aos patrões, entregando os companheiros à própria sorte, se o ganho for suficiente. Na realidade, os trabalhadores eram e ainda são utilizados como massa de manobra para criar dificuldades que permitam negociar facilidades por baixo dos panos.

É interessante notar que a autonomia sindical era uma das principais bandeiras de Lula e do PT os quais, para tanto, propunham acabar com o imposto sindical criado por Getúlio exatamente como forma de domínio estatal nos moldes fascistas. Ao chegar ao poder, Lula e o PT logo mudaram de posição e atrelam os movimentos sindicais aos seus interesses políticos. Tanto assim que sindicatos e MST só se manifestam quando há algum interesse de seus patrões, Lula e PT.

Os métodos sindicais foram trazidos à prática política pelo PT e o assassinato de Celso Daniel ainda está por ser esclarecido, mas dá bem a ideia de como o partido age para se financiar e comprar apoio que o leve e mantenha no poder.

Escândalos sucessivos - privataria tucana, mensalão do PT, mensalão do DEM, o efeito dominó da queda de ministros do recém-formado governo Dilma e, agora, o fenômeno Cachoeira que não poupa ninguém - conduzem ao episódio relatado por Eduardo Suplicy na tribuna do senado. Estava ele em um restaurante paulista na noite de 1º de maio, quando um cliente se levantou e em tom severo o admoestou pela corrupção generalizada no meio político. Verberava o manifestante que havia pouco fizera sua declaração de imposto de renda e se sentira frustrado e indignado por ver os tributos arrecadados pelo governo se esvaindo pelos antros da corrupção. Suplicy não teve como contraditar.

Governadores do PSDB, do PT e do PMDB são apontados como implicados em maracutaias do esquema Cachoeira-Cavendish. A Construtora Delta, da qual Cavendish é presidente, é uma das maiores empreiteiras de muitos governos, inclusive do federal na obras do PAC. Políticos de todos os partidos se encontram envolvidos nesses e outros esquemas de corrupção e roubo do dinheiro do povo.

Quando despontou o escândalo aparecendo o senador Demóstenes como um dos principais implicados, a base aliada, ao contrário de outras ocasiões em que se sentia ameaçada, correu a permitir a criação de comissão parlamentar de inquérito destinada a ter como alvo um dos inimigos mais odiados pelo PT. Seria a salvação da lavoura, desviaria a atenção sobre Zé Dirceu em vias de enfrentar o julgamento do mensalão no STF. Mas quando viu que o próprio PT e PMDB estão envolvidos, a primeira providência da CPMI, relatada pelo primeiro e presidida pelo segundo, foi inaugurar imenso cofre pra ali sepultar todas as acusações que possivelmente possam macular a cândida alvura da honra desses verdadeiros santos do pau oco.

O cidadão brasileiro fica atônito ao ver tanta desgraça ao seu lado - a degradação e o aviltamento dos hospitais e postos de atendimento médico, das escolas, do transporte, da segurança e de todo o serviço público – se contrapondo às imagens na TV do governador do Rio de Janeiro se refestelando no La Tour d’Argent, em Paris, com seu anfitrião o senhor Cavendish.

Olhando esse degradante panorama, constatamos a triste verdade: por ação ou omissão, os políticos são todos culpados da corrupção que grassa neste país. Podemos dizer que “nunca antes neste país” houve tanta e tão deslavada corrupção como a que degrada a honra e o decoro de tantos, quem sabe todos, os políticos nos dias que correm. Não escapa um. São todos farinha do mesmo saco.