5 de novembro de 2021

ARQUIMEDES LALOR: DANÇARINO E REVOLUCIONÁRIO

* por Eduardo Dias
Archimedes Machado de Lalor, nasceu em 1896 em Belém, era filho de Pedro Gonçalves Lalor e Beatriz Meireles Machado (filha do Dr. Machado, o Barão do Solimões), e faleceu em 1943, foi diretor técnico da Usina de Luz, Água e Gelo de Óbidos, participou do movimento conhecido como a Revolução Constitucionalista do baixo amazonas, ocorrida em agosto de 1932, quando a 4ª bateria de costa do exército sediada em Óbidos, sublevada, montados em navios mercantes da época com canhões e metralhadoras, foram atacar Manaus, mas ao chegar em frente a cidade de Itacoatiara, encontraram a resistência das tropas legalistas de Vargas, dando origem a única batalha naval ocorrida no Brasil no século XX. 

Álbum de família, 
Lalor com a irmã Beatriz 

ARQUIMEDES AGITADOR Sobre suas peripécias, segundo Informações extraídas do inquérito realizado pelo Inspetor de Polícia Marítima, assim nos informa: “Archimedes Machado de Lalor, 38 anos, chegou a Óbidos em outubro de 1931. Depois de uma conturbada passagem pelo cargo de diretor técnico da Usina Municipal de Luz, Água e Gelo, foi exonerado pelo prefeito, Ignácio Freire, um velho coronel da extinta Força Pública. O prefeito alegou que o subordinado fugiu de suas atribuições ao assumir o papel de defensor dos negros do Trombetas contra interesses dos proprietários de castanhais. Archimedes Lalor passava muitos dias em viagens pelo interior do Baixo Amazonas, fora da área de competência da Usina, imiscuindo-se na vida das comunidades negras. O documento revela o envolvimento de Lalor com mocambeiros em luta contra grandes proprietários de terra, velhos coronéis do latifúndio que fizeram fortuna com a exploração de cacau, exportação de castanha e criação de gado. Na visão do prefeito, estes coronéis eram os homens que protegiam e amparavam os interesses da grande comunidade negra da área. Essa foi a Exposição de motivos do prefeito Ignácio Freire ao interventor Magalhães Barata, 4 de julho de 1932. Fundo Gabinete do Interventor, Série Ofícios, 1932. Caixa s/n. APEP. Os negros exploravam castanha, comercializada com regatões em troca de alimentos e mercadorias. Na época da revolta de 1932, os comerciantes José Gabriel Guerreiro, Manoel Costa, Costa Lima, Francisco Sousa, entre outros, começaram a transferir lotes de terra dos negros para seus nomes. Foi neste ambiente conflagrado de luta pela terra que Arquimedes Lalor atuou ao lado dos mocambeiros. 

ARQUIMEDES REVOLUCIONÁRIO 
A exoneração de Archimedes Lalor do Cargo de diretor técnico da Usina Municipal de Luz, Água e Gelo o fez aderir à revolta em Óbidos. A Revolta Constitucionalista havia efetivamente começado em Óbidos, tão silenciosamente como em São Paulo e quando o 4º GAC foi sublevado, Getúlio Vargas registrou em seu diário: “A revolta tende a alastra-se como uma furunculose. Rebela-se o Forte de Óbidos, no Amazonas”. Mesmo com o Exército levando ampla vantagem sobre as tropas paulistas, Vargas pareceu preocupado com a entrada em cena de uma pequena guarnição militar na longínqua cidade de Óbidos. Na manhã de 18 de agosto, ao assumir o cargo de “prefeito constitucionalista”, Arquimedes tratou de exonerar Ignácio Freire. Em seguida, ao tomar conhecimento que o Sargento Almir Huet iria a Oriximiná buscar lanchas, Lalor pediu-lhe que descesse até os rios Trombetas e Erepecuru, de onde deveria trazer alguns homens pretos. Huet trouxe vinte negros para Óbidos. No entanto, como Lalor já tivesse partido para Parintins em missão rebelde, os negros foram alojados em cabanas no sopé da Serra da Escama. Seja por meio de violência, seja de forma espontânea, em três dias, o Serviço de Alistamento da Força Constitucionalista registrou o ingresso de mais 104 homens. Desta forma, o efetivo do 4º GAC, durante a sublevação, duplicou. 

ARQUIMEDES ARTISTA 

Na coluna Cine Diário do Jornal da Noite, fomos encontrar um artigo sobre Arquimedes Lalor, com o título de “A ÚLTIMA DE ANTONIO ROLANDO”. Arquimedes Lalor ou melhor, Antonio Rolando, e sua “patner” quando na América do Norte no Coconoat Grover, dançava o maxixi, cantava o Papagaio louro, e fazia outas exibições artísticas, não pensando ainda em fazer revoluções... Antonio Rolando não há fã que não o conheça, e não saiba de suas inúmeras aventuras, no Brasil e no estrangeiro. Aventuras cinematográficas, reais, repletas de situações, as mais dispares, como um filme em série... Foi Antonio Rolando quem, com Syn de Conde formou o primeiro par de artistas que o cinema americano nos apresentou. Syn de Conde conseguiu trabalhos mais importantes, chegando a figurar em papéis de relevância ao lado de Nezimova, a Greta Garbo da época. Mas rolando foi sem dúvida, muito mais popular. Figurou em vários Films, dançou no coconoat grove, de ziegield, o tango argentino, o maxixe, o sapateado e quanta dança havia na época. Cantou para os americanos O Papagaio Louro, e trocando a profissão de actor pela de mecânico, algumas vezes. Em outras surgiu como correspondente cinematográfico, visitando estúdios, envolvidos em casos com artistas famosos, e quanta coisa mais para encher em letra de forma os noticiários dos jornais. Porque Rolando é da publicidade, quando veio ao Brasil aqui lançou as trombetas do reclame em torno de sua pessoa, e, se, o cinema brasileiro não conseguiu ser uma realidade, não foi por falta de retumbantes e convincentes publicações dos jornais e confiança do público. Mas Antonio Rolando se tentou fazer cinema, logo se deixava para se fazer bailarino, actor de variedades, jornalista, inventor e tantas outras profissões que abraçava, sempre com maior ou menor sucesso. Espírito inquieto, amando as aventuras, não raro Rolando deixava tudo isso para se meter em um empreendimento arriscado e por muito tempo não se ouvia falar mais nele. Até que um dia aparecia aqui ou no estrangeiro sendo recebido por banda de música, como aconteceu em Tampico, ou metido com revoluções, caçadas, expedições, qualquer coisa, enfim, que redundasse em publicidade. Agora depois de muito tempo que não se ouvia falar de Rolando, soubesse do movimento revolucionário em Óbidos, e como Rolando estava por aquelas bandas, se não nos enganamos como fazendeiro, era impossível que ele não surgisse em primeiro plano nos noticiários dos jornais. E assim foi culminando com o telegrama de ontem, que assim transcrevemos: UM DOS IMPLICADOS NO LEVANTE DE ÓBIDOS TENTAVA FUGIR COM VESTES FEMININAS. Belém, - telegrama procedente de Óbidos informam que o destacamento do Cabo Corumbá, prendeu Arquimedes Lalor, um dos cabeças do último movimento. No momento em que foi preso, Lalor usava vestes femininas. Qual, Antonio Rolando não se fez revolucionário convicto...é mais uma oportunidade de que ele se aproveitou para publicidade, para representar ao ar livre o que ele desejaria representar dentro de um estúdio cinematográfico. 

Files: Corações em suplicio, 


 • Eduardo Dias é advogado, compositor, agitador cultural, membro do Instituto histórico e geográfico do Tapajós. 
Fonte: PINTO, Walter, A Revolução Constitucionalista do Baixo Amazonas Jornal da Noite /RJ 
Fotos: Álbum de família/Nelly Imbiriba 
Contribuição: Sebastião Imbiriba/sobrinh