27 de janeiro de 2009

Aeroporto mixuruca

Meu dileto amigo Odair Correa - com seus novos e belos cabelos negros, que há algum tempo prefere, em lugar de suas antigas e características melenas grisalhas, que lhe davam certo charme, que perdeu - criou e protagonizou belíssimo factóide ao melhor estilo César Maia. Odair induziu o presidente da INFRAERO a vir a Santarém do Tapajós pagar tremendo mico. O brigadeiro trouxe o contrato do projeto do que será a futura estação de passageiros do Aeroporto de Santarém, contrato este já assinado em Brasília pelas partes competentes, para que nosso amado vice-governador lhe acrescentasse sua preciosa assinatura, como TESTEMUNHA, sob caridosos aplausos de convidados muito bem selecionados.

A esdrúxula ocorrência se deu na tarde de 22 de janeiro de 2009, no auditório da UEPA em Santarém. Cerimônia plena de pompa e circunstância para falso testemunho. O que seria de total inutilidade, não fosse a oportunidade aproveitada por espíritos atentos que detectaram incongruência no pré-projeto e alguém mais atrevido não alertasse o público para o crime que se prepara contra Santarém do Tapajós, contra o Pará d'Oeste, o futuro Estado do Tapajós renegado por Odair.

A premissas que orientam o projeto a ser elaborado e recém-contratado tem um horizonte de oito anos, isto é, define as instalações necessárias ao atendimento do número de pessoas que circularão no Aeroporto Wilson Fonseca em 2017. Ocorre que o tempo gasto, a partir da assinatura do contrato, para elaboração do projeto mais o que será despendido na construção - se não houver hiato entre o término de um e a licitação da outra - decorrerão quase quatro anos, metade do horizonte previsto.

Trocando em miúdos, isto significa que, a partir da data de sua inauguração, em 2013, a vida útil do novo aeroporto será de apenas quatro anos, quando já estará saturado e requerendo ampliação. Quatro anos após sua inauguração, o novo aeroporto estará nas mesmas condições precárias de atendimento ao público em que o atual se encontra hoje. Para projeto desse porte, vida útil de apenas quatro anos é, realmente, absurda insignificância.

Não sou noviço no assunto. Acompanhei o projeto do aeroporto do Galeão, realizado pela Hidroservice na segunda metade da década de 1960, o qual previa quatro módulos, um dos quais foi construído em seguida. Logo, esse módulo estava saturado. No entanto, o segundo módulo só foi construído após delongas e hesitações. Era o caso de vários aeroportos pelo Brasil afora que tiveram que aguardar por longos anos até que a Infraero construísse novas instalações. Um dos poucos casos sem solução é o aeroporto de Santarém do Tapajós e todos sabemos do empenho com que, desde que chegou a esta Terra da Felicidade, Luiz Barra se esforça por fazer a direção da Infraero a dar soluça de emergência à atual estação de passageiros e iniciar a construção do novo aeroporto.

Em toda parte, muito tardiamente se tomou a iniciativa de projetar e construir melhores aeroportos. Em todos os casos, por muitos anos, as cidades servidas por eles sofreram a obsolescência de seus aeroportos. E nós ainda teremos que penar tais agruras por mais quatro anos enquanto se projeta e constrói as novas instalações. Infelizmente, conforme se depreende da forma como foi apresentado o pré-projeto, este aparentemente inevitável problema se repetirá a partir de 2017 com a prematura obsolescência do novo aeroporto de Santarém do Tapajós.

Por isso mesmo, o projeto deve prever ampliações rápidas, fáceis e baratas. O assunto tem que ser discutido e esclarecido, e nada melhor para isto do que a realização de audiências públicas para debater premissas, parâmetros e paradigmas do projeto a ser elaborado. Agora sim, aqui caberia bela iniciativa de Odair, não para criar palanque de prosopopéias e autopromoção, mas para que o povo objetivamente discuta e decida sobre assunto de tão vital importância para sua vida econômica, cultural e social.

É isto o que esperamos de Odair. É isto o que lhe restituirá respeito e apreço dos que, apesar dos desapontamentos, continuam amigos de sempre. Audiência pública e imediata do aeroporto. É isto o que exigimos.

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América, o renascer da Liberdade.

Na fase mais intensa da Guerra Fria, em 1966, estando na Califórnia, visitei um jovem casal que percorrera a Amazônia em viagem de férias no ano anterior. John e Mary residiam em Manhatan Beach, cidade satélite de Los Angeles. Sentei-me à esquerda do diretor de recursos humanos da companhia telefônica, empresa de severas regras tradicionais e, ele mesmo, um patriota radical que presidia o jantar e era o pai de John. Na conversa, mencionei a vida comunitária dos cristãos primitivos, o que foi interpretado como defesa do comunismo e causou reação violenta do senhor à cabeceira da mesa, o que deixou a todos muito constrangidos.

Após o jantar, o casal procurou amenizar o desconforto e John indagou quem e por que, em minha opinião, sairia vencedor da Guerra Fria. Respondi que, certamente, os Estados Unidos seriam vitoriosos pelo simples fato de que, na América, onde há liberdade e o governo é democrático, os cidadãos são livres e empreendedores, enquanto que, na Rússia, o povo sempre vivera subjugado e com iniciativa atrofiada pela burocracia. A liberdade carrega o germe da renovação e da correção de rumos, enquanto a ditadura conduz à estratificação e deterioração moral irreversíveis a não ser por um colapso ou ruptura violenta.
Menos de trinta anos depois minha profecia se concretizou.

A América não é um paraíso de paz eterna. Pelo contrário, é caldeirão de interesses contrapostos a disputar posições que, às vezes, chegam a brutais agressões dos opressores aos que tentam se livrar do jugo. Apesar disto, há mais de duzentos anos a América é uma democracia estável. Exceto pela Guerra de Secessão durante o mandato de Lincoln, que estabeleceu o princípio da indivisibilidade dos Estados Unidos, todas as suas grandes questões tem sido resolvidas institucionalmente pelos poderes constituídos. Os que projetaram a democracia americana construíram não o paraíso dos sonhos, mas o ambiente propício a que interesses de todos os tipos se entrechoquem até que o debate esteja suficiente maduro e, então, a solução surja por uma resolução da Casa
Branca, lei do Congresso, decisão da Suprema Corte ou, mais importante, pelo voto livre e espontâneo dos cidadãos ou pelo ajuste entre as partes.

Os autores da Declaração de Independência afirmam acreditar "que todos os homens são criados iguais, que eles são investidos pelo Criador em certos direitos inalienáveis, entre os quais a Vida, a Liberdade e a busca da felicidade. Que para assegurar estes direitos, os Homens instituem governos que derivam seus justos poderes do consentimento dos governados".

A incongruência desta declaração - ao mesmo tempo sua mensagem de esperança em que o Homem, vivendo em liberdade e sob governo democrático e consentido, pode, progressivamente, aperfeiçoar seu modo de vida - reside no fato de que a maioria de seus signatários eram senhores de escravos. De quatro de julho de 1776, data de sua assinatura, ao dia da posse de Barack Obama, em vinte de janeiro de 2009, decorreram duzentos e trinta e três anos de governo estável presidindo disputas intensas em busca da plenitude dos direitos humanos. O povo americano nunca teve nada concedido, tudo que conseguiu foi obtido em lutas memoráveis e comoventes, como o ano inteiro de boicote às empresas de ônibus discriminatórias liderado por Martin Luther King.

Nestes mais de duzentos anos, todos os demais países sofreram toda sorte de alterações políticas bruscas, muitas vezes violentas, quase sempre por iniciativa de minorias desligadas do povo, quase todas acompanhadas de grande mortandade, a começar pela Revolução Francesa, inspirada na Revolução Americana.

A Declaração de Independência afirma, ainda, e aqui está o embasamento da estabilidade institucional: "A prudência impõe que governos longamente estabelecidos não devam ser mudados por motivos leves e transitórios"... "Mas, quando um longo desencadear de abusos e usurpações"... "escapa a projeto de reduzi-los, é seu dever, é seu direito, despachar tal governo e providenciar novos guardiões de sua segurança futura". Portanto, governantes democráticos sabem que não serão substituídos sem poderoso motivo, porém não podem abusar
indefinidamente da paciência do povo.

O mundo está voltado para a América. A eleição de Barack Obama tem o significado transcendental da restauração das aspirações de liberdade do povo americano, mudança de rumo quando o caminho trilhado contrariava a vontade da maioria, renovação de esperanças de que o trabalho de todos conduza a uma América mais justa, mais igualitária, mais estável economicamente e mais segura para se viver. E o que de bom acontece na América se reflete e inspira o mundo.

A posse de Barack Obama na presidência dos Estados Unidos da América é o fecho extraordinário de uma grande série de lutas de muitos líderes, como Abraham Lincoln e Martin Luther King, é o recomeço da República, é o reviver do sonho, é o renascer da Liberdade.

Onde reside a Felicidade?

Quando olhamos ao nosso redor, quando lemos os jornais e revistas ou assistimos televisão, tanto faz se noticiários ou novelas, parece-nos que o mundo está cheio de infelicidade e que a busca da felicidade, embora intensa, é infrutífera. Assim como os da ficção, os romances da vida real são oceanos infindáveis de sofrimentos morais intermináveis. Será que o ser humano foi criado para sofrer? É este seu implacável destino?

Há pessoas que vivem para sofrer, estão sempre descontentes com tudo e com todos, nada nem ninguém as satisfazem, carregam a amargura pela vida e despejam essa carga negativa sobre quem delas se aproxima. É extremamente penoso conversar socialmente ou mesmo tratar de negócios com esses espantalhos da alegria, cabides de pesares e arautos do purgatório.

No entanto, conheço pessoas que teriam muitos motivos para se sentirem infelizes. Uma, em particular, perdeu o marido assassinado quando ainda jovem e com cinco filhos pequenos. Depois perdeu um irmão que saiu de sua casa, onde morava, para ir até a esquina comprar cigarros e, simplesmente, desapareceu sem nunca mais se ter notícias dele. Em seguida, em intervalos de poucos anos, perdeu três filhos falecidos prematuramente, e um dos que restaram raramente dá alguma notícia.

Pois bem, esta mulher, que hoje tem noventa e oito anos, e se mantém ativa e lúcida, sempre foi a alegria em pessoa. Mesmo nos momentos mais traumáticos, ela irradia felicidade e todos os que se aproximam dela são tomados pela aura de contentamento perene que a envolve. Certamente, esta é uma pessoa abençoada. Mas de onde tira ela tanta alegria, tanta serenidade, como consegue ser feliz e fazer outras pessoas tão felizes quanto ela própria? Depois de ter convivido com ela e com outras pessoas que também são assim ou que adquiriram essa preciosa qualidade, cheguei à conclusão de que elas possuem a felicidade dentro de si mesmas. E se não a tinham, aprenderam, com o tempo, a cultivar a felicidade dentro de seus corações.

É fato que a felicidade não exclui o sofrimento, transforma-os. Nada pode atenuar a dor da perda de um filho ou de outro ser amado. Mas, quando somos felizes por nossos próprios meios, independentemente de outros, esse sofrimento se transforma em saudades, em lembranças agradáveis de nosso convívio com o ente querido que perdemos. Sim, perdemos a visão material da pessoa, seu toque, som, cheiro, mas o convício permanece na lembrança, na rememoração dos momentos felizes que tivemos juntos.

A felicidade não está em algo ou alguém fora de nós. Não é em outras pessoas ou em coisas que devemos buscar a felicidade, nem será com elas ou nelas que a encontraremos se não a tivermos em nós próprios. Quando dependemos de alguém para ser felizes, estamos condenados á infelicidade. Se buscamos a felicidade em coisas materiais obteremos apenas frustração.

A felicidade reside em cada um de nós. Em maior ou menor grau, ela está dentro de nós. Nascemos com o germe da felicidade. É necessário reconhecer este fato. Quando descobrimos que a felicidade está dentro de nós e começamos a cultivá-la, tratá-la com carinho, aninhá-la, aquecê-la, ela florescerá e frutificará. Não podemos dar o que não temos. O amor é completo quando cada amante carrega dentro de si seu próprio tesouro de felicidade. Não poderemos dar felicidade se não a tivermos em primeiro lugar. E quando a tivermos, se a fizermos crescer e fortalecer, então, não apenas seremos felizes, ainda que em momentos de sofrimento e solidão, como saberemos fazer felizes aqueles que
amamos.

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Santarém 2009 – Segundo Turno

Há entendimento unânime de que oficiais de Estado não podem participar de atividades políticas. Neste caso incluem-se os que exercem funções judiciais, fiscais, militares e policiais. Uma interpretação, possivelmente falsa, desta premissa democrática do Estado de Direito nos trouxe à presente situação. Após eleições invalidadas, ainda pendentes de decisão final no Supremo Tribunal Federal, nos preparamos para eleger o prefeito de Santarém.

As forças que se deparam num cenário de possibilidades de sucesso eleitoral são as comandadas por Maria do Carmo, Lira Maia e Antonio Rocha. Três forças que, sozinhas, são insuficientes para conduzir seus candidatos à chefia do município, mas que unidas duas contra uma, aumentam a probabilidade de vitória. Isto foi plenamente provado na recente eleição invalidada. Maria e Antonio juntos foram vitoriosos.

Este "Segundo Turno", no entanto, é uma nova eleição e o que valia na primeira não se aplica na segunda. Antonio Rocha sabe que tem faca e queijo na mão. A facção de Maria depende do apoio dele, e sabe disto. A de Lira Maia também sabe. Maria e Lira Maia terão que oferecer o que puderem em troca do apoio de Rocha. Ambos já demonstraram explicitamente que desejam tal acordo. Há quem diga que Lira Maia ofereceu apoio ao candidato que Rocha indicar.

Everaldo Martins, em nome de Maria, não fica atrás, só que ainda tenta indicar candidato. A decisão não depende apenas de Antonio Rocha. Jader ainda não se manifestou e pode usar o caso de Santarém para, mais uma vez, colocar em cheque a governadora Ana Júlia. O caso seria matéria será estritamente paraense, dependendo da qualidade do cacife de Maria e de Ana em nível federal para forçar a direção de Jader. Para isto teria que haver explícito e improvável pedido de Lula. Assim, Santarém será o gambito de Jader para promover seus interesses com vistas às próximas eleições estaduais.

Estamos, desta forma, entregues às decisões de Jader Barbalho e Antonio Rocha. Na hipótese de que estes se decidam por promover o PMDB, terão que entrar em acordo com DEM e PSDB. Se mantiverem a atual convivência com o PT será em troca de maiores e mais importantes concessões, inclusive a indicação do candidato.

Alguns levantam a possibilidade de que, numa opção de Rocha contrária a Maria, Ruy e Maurício Correa poderiam se manter fieis a esta. Eis um caso de divergência entre compromissos pessoais e fidelidade partidária. Uma incógnita. Quem desejar saber a resposta terá que pagar o preço.

Os demais partidos da atual aliança com o PT constituem frágil malha que se esgarçará ao menor esforço. Aqui não há a menor coesão. Os interesses partidários e pessoais prevalecerão. Ainda mais porque há fortes ressentimentos por alegada falta de apoio financeiro do PT aos estes aliados das últimas eleições.

As escaramuças apenas começam e não se pode especular em ralação aos possíveis candidatos. O PT anseia com o desespero de uma dispnéia pelo ar que Antonio Rocha lhe possa dar. Lira Maia julga acertadamente que sozinho não irá a lugar nenhum e joga seu peso político no apoio a Rocha.

O certo é que Antonio Rocha sabe que este é o seu momento. Os riscos são grandes, as recompensas maiores. A decisão que tomar o levará a um promissor futuro político ou à estagnação no estágio atual. Cabe a ele acertar seus interesses com os de Jader e alçar seu próprio vôo.

A palavra final, no entanto, será nossa. Nós, eleitores, decidiremos.