30 de março de 2019

Brasil, vítima da Guerra Fria.

Ao final da Segunda Grande Guerra Mundial, os principais líderes aliados, Roosevelt, Churchill e Stalin, adotaram a proposta de um assistente do presidente americano, Henry Morgenthau, Jr., de completa desindustrialização da Alemanha com objetivo de dizimar sua população, uma vez que não havendo capacidade agrícola de alimentar o país e sem exportações industriais para importar alimentos a fome abateria mais de um terço de seus sessenta milhões de habitantes. A Alemanha, não somente perdeu extensas porções de terras a Leste e Oeste, como todas suas fábricas da zona de ocupação militar soviética e algumas da zona francesa foram desmontadas e transportadas para a União Soviética e para a França.
Morgenthau e Roosevelt queriam, realmente, se vingar da Alemanha e, também, do Japão. Mas, após a morte de Roosevelt, os líderes ocidentais se deram conta de que tal política produziria descontentamentos, revoltas, crescimento dos partidos comunistas, desestabilização e até tomada de poder nas democracias vitoriosas. Seria tremendo erro geopolítico.
O Komintern (Comunismo Internacional) foi criado por Lenin para supervisionar e promover a criação e expansão de partidos comunistas em todos os países, sendo extinto em 1943, às vésperas da reunião de cúpula de Teerã, entre Stalin, Roosevelt e Churchill, como gesto de boa vontade com as potências ocidentais. No entanto foi substituído pelo Kominform em 1947 com finalidades semelhantes, até sua dissolução em 1956 quando a complexidade e independência dos partidos comunistas nacionais, principalmente o francês e o italiano obrigou o PCUS a tratar diretamente, caso a caso, com seus congêneres formais e grupos diversos de todos os matizes revolucionários e terroristas, treinados em países como China, Coreia do Norte, Cuba, Tchecoslováquia e Alemanha Oriental.
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Evidentemente, todo esse complexo de interferências do PCUS em praticamente todos os países também ocorreu no Brasil, aumentando de intensidade a partir da inauguração da presidência Jânio Quadros, quando começou o treinamento de guerrilheiros brasileiros em Cuba, e mais ainda com João Goulart e toda sorte de movimentos esquerdistas.
Para o Ocidente, era evidente o perigo de expansão comunista em plena Europa Central. O Plano Morgenthau foi substituído pelo plano Marshall. A Europa Ocidental prosperou, enriqueceu e adotou sistemas social-democráticos, onde a livre iniciativa produz riqueza e o Estado a distribui, num equilíbrio mais ou menos estável entre Liberdade e Igualdade que predomina até hoje. O Ocidente estava salvo do Comunismo.
No entanto, a política expansionista soviética exercia forte pressão em todos os países do Terceiro Mundo, principalmente sobre colônias asiáticas e africanas, e países latino-americanos. Uma pretensa revolução democrática em Cuba logo se revelou ser artifício para mascarar a tomada de poder pelo Comunismo. O que supostamente poderia ocorrer no Brasil, tendo em vista o ato de Jânio Quadros ao conceder a mais alta condecoração brasileira ao Che Guevara.
Assim como em praticamente toda a América, do México à Patagônia, o Brasil estava submerso em agitações, subversões e conspirações de dois lados, de um o Komintern e seus sucessores na URSS, China, Cuba, etc., e suas diversas ramificações lutando para conquistar o poder, do outro, a reação dos Estados Unidos através da CIA e outras agências e programas de propaganda e ajuda militar e financeira, entre os quais, apenas para exemplificar, a oferta de cursos, na New York University, de operações com ações para operadores nas bolsas de valores brasileiras.
A interferência norte-americana na América Latina vem de muito longe, passando pela Doutrina Monroe da “América para os Americanos”, intervenções nas “banana republics” e ajudas econômicas, algumas de efeito realmente úteis e duradouros, como o “trigo anão” mexicano desenvolvido pela Fundação Rockfeller a pedido do Departamento de Estado, ou da Companhia Siderúrgica Nacional, fruto de negociação direta entre Roosevelt e Getúlio Vargas, em troca do uso da Base Aérea de Natal.
Se a União Soviética se infiltrava e agia nas classes estudantis e trabalhadoras da América Latina toda, os Estados Unidos cooptavam políticos, empresário e militares. E estes detinham, desde tempos coloniais, as fontes do poder: terras, domínio da máquina político-eleitoral e poder econômico num sistema oligopolista em que grupos rivais do mesmo estamento se revezavam no comando das nações. Nestes países predominava o capitalismo de compadrio em que quem estava no poder distribuía cargos, contratos e concessões a seus aliados em troca de outros tantos favores semelhantes. O livre mercado jamais funcionou em tais regimes, ao contrário do que ocorria no Norte das Américas, na Europa Ocidental e nos Tigres Asiáticos. Desta forma, na América Latina, na África e no Sudeste Asiático havia uma minoria dominante muito rica, pequena classe média, dividida, mas formadora de opinião e imensa maioria imersa na mais profunda pobreza, excelente caldo de fermentação de descontentamento e revolta, de comunismo.
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A história dos Estados Unidos da América revela uma nação em constante conflitos de interesses, entre escravocratas e antiescravagistas, monopólios e livre iniciativa, racismo e direitos humanos, machismo e feminismo, etc. A promessa implícita da opção pelo regime capitalista era a possibilidade de solução de tais conflitos por processos democráticos, algumas vezes impostos, nos Estados Unidos, por força armada, institucionalmente democrática, como a Guerra Civil, outras por decisões do Congresso ou da Suprema Corte. Ou seja, os anticomunistas brasileiros acreditavam que o regime democrático capitalista seria intrinsicamente autocorretivo, enquanto os comunistas propunham uma justiça imposta pela ditadura do proletariado.
Acresce que em meados do século XX a sociedade brasileira e da América Latina era, em sua grande maioria, católica e conservadora nos costumes e abominava o ateísmo marxista. A grande imprensa e o estamento político refletiam os sentimentos e os costumes predominantes.
Foi nesse estado de conflito geopolítico entre dois impérios, Estados Unidos e União Soviética, e de opinião popular e da mídia que o Partido Comunista Brasileiro, infiltrado o governo Goulart preparava o golpe para assumir o poder.
Em fevereiro de 1964, soube que um amigo - que eu conhecera em Fernando de Noronha, onde ele servira como tenente do Exército Brasileiro e eu, ainda adolescente, passava férias escolares - estava matriculado na Escola de Estado Maior, já no posto de major. Foi esse amigo que me introduziu à poesia de Omar Caiam e ao Socialismo, e me emprestou livros sobre marxismo, que li às escondidas de meus pais.
Fui visitá-lo. Na conversa, o amigo me revelou que o Partido Comunista Brasileiro estava preparado para assumir o governo, mantendo João Goulart como figura de frente, mas com o poder nas mãos de Luiz Carlos Prestes e que ele, meu amigo, assumiria algum posto importante.
Se meu amigo, major do Exército, de modo tão confiante, me revelava planos secretos do golpe comunista, os serviços de inteligência das Forças Armadas, certamente, estariam ainda mais bem informados.
As Forças Armadas agiram em resposta ao clamor popular, da mídia e do Congresso Nacional, e mais ainda, em autodefesa para evitar a repetição da mortandade da Intentona Comunista de 1935, e o fizeram impulsionadas pela CIA e as Forças Armadas do Estados Unidos que agiam não somente no Brasil, mas também em outras nações latino-americanas e mundiais em luta titânica contra a União Soviética. O Movimento Militar de 31 de março de 1964, foi uma ação de autodefesa da sociedade brasileira e do poder norte-americano, institucionalizado com a posse do Senador Ranieri Mazzilli na presidência da República e fortemente apoiado por multidões em passeatas por todo o país, por empresários, proprietários rurais, classe média, Igreja Católica, pelos governadores Magalhães Pinto, Adhemar de Barros e Carlos Lacerda, pelos Diários Associados e seus rádios, revistas, jornais e emissoras de TV, O Globo, Rede Globo, Folha de São Paulo, Correio da Manhã, Jornal do Brasil, O Estado de São Paulo e O Estado de Minas.
A Ditadura Militar, consolidada pelo AI 5 emitido em 13 de dezembro de 1968, para combater insurgências e guerrilhas de forças comunistas, ocorreu com a posse na presidência pelo General Costa e Silva, em 15 de março de 1967, e a morte do Marechal Castelo Branco.
Houvesse prevalecida a opinião de Morgenthau, a Alemanha, independentemente da vontade de seu povo e de seus líderes retornaria à Idade Média. Felizmente, para esse país, para a Europa e para o Mundo, visão mais esclarecida prevaleceu e livrou a maior parte das nações da desgraça do Comunismo, geopolítica de verdadeiros estadistas, do Presidente Harry S. Truman, com a Doutrina Truman, e do General George Catlett Marshall, Jr., com o Plano Marshall.
Da mesma forma que a Alemanha escapou da miséria, do genocídio e do Comunismo, também o Brasil foi salvo pela ação geopolítica dos Estados Unidos da América, e é isso que a História nos afirma: O Brasil foi vítima da Guerra Fria.