15 de dezembro de 2011

O indiviso Pará dividido


A missão que parecia impossível revelou-se, de fato, inatingível. O sonho da criação do Estado do Tapajós esvaiu-se em frustração, tristeza e luto diante do carnaval acintoso e debochado de pseudo-vitoriosos. Mas não a esperança, nem a indomável vontade dos filhos do Pará d’Oeste de, um dia, tomar seu destino nas próprias mãos e seguir rumo ao futuro em busca da felicidade.

O resultado do plebiscito de 11 de dezembro de 2011 foi pior do que minha pobre estatística antecipara, ou almejara... O eleitorado conjunto de Tapajós e Carajás constitui apenas trinta e cinco por cento do total. Sessenta e cinco por cento compõem a maioria do Pará do Nordeste. Diante desta desproporção, seria necessário um esforço extraordinário e vetorizado em múltiplas ações de agitação e propaganda para angariar substancial parcela de votos favoráveis ao Tapajós na área de influência de Belém.

Isto não foi feito. Não nego sua alta qualidade técnica, muito bem feita, como era de se esperar, mas a campanha pró Tapajós limitou-se, praticamente, à TV e a uma ou duas carreatas, quando seriam necessárias muitas manifestações e criação de núcleos de doutrinação espalhados por todo o Nordeste do Pará e iniciados muito mais cedo.

Além disto, a campanha de TV pro Tapajós foi dogmática, racional, argumentativa. Enquanto isto, a taxativa campanha adversária, a do Não e Não, além de extremamente emocional – superobjetiva, neste sentido - exaltou os piores sentimentos de ódio, preconceito, menosprezo, despeito e inveja contra Tapajós e Carajás, enquanto provocava nostalgia, ufanismo, orgulho e amor pelo Pará.

De qualquer forma, o que foi feito foi realizado com garra, coragem, dedicação, comprometimento com a causa, e todo o Tapajós só tem a reconhecer e agradecer aos seus heroicos guerreiros e a todos os que contribuíram e apoiaram essa homérica luta.

À medida que o bairrismo prevalecia, cresceu a radicalização. Com exceção de dois ou três municípios em cada lado da batalha, a votação foi sempre superior a noventa por cento pelo Sim no Tapajós e Carajás ou pelo Não no Nordeste do Pará. Foi uma polarização raramente ocorrida em qualquer referendo efetivamente democrático no mundo todo. O Pará, que não quis se dividir, está irremediavelmente dividido. Esta é a nova realidade, uma verdade que permanecia latente, cuja verdade somente se pode revelar com a realização do plebiscito.

O Supremo Tribunal Federal, em absurda quebra de isonomia, ordenou a realização do referendo em todo o território do Pará, e não apenas das regiões diretamente interessadas, como tem sido no caso da criação de novos municípios. Esta decisão criou obstáculo, como vimos, intransponível. A luta deve ser travada em outra direção e em conjunto com outras reivindicações.

Minha sugestão é que a reestruturação das unidades federativas se faça em conjunto e no bojo de reforma política, com criação de voto distrital e redistribuição dos distritos para dar aos estados mais populosos a representação devida e diminuir a preponderância dos estados mais poderosos pela redivisão e aumento do número de estados.

Sabemos todos que toda regra tem exceções, mas estas são mínimas no caso da criação de novos estados e municípios. O fato inconteste é que a totalidade dos estados e municípios criados por desmembramento de outras unidades resulta sempre em desenvolvimento e progresso para ambos, cedente e recebedor do território da nova unidade. Aos argumentos de aumento de despesas administrativas se contrapõe o fato de que, apesar disto, ou por causa disto, aumenta a prestação e melhoria do serviço público.

Assim, a criação de novos estados é uma necessidade para o aperfeiçoamento da administração pública nacional. No entanto este objetivo somente será possível, ao mesmo tempo em que a torna factível, se associado à reforma política.

Este é o caminho a seguir. A luta se dará no âmbito do Congresso Nacional, mas não será vitoriosa se não estiver associada a permanentes manifestações e atos de resistência pacífica em toda parte, principalmente nas regiões antagônicas às divisões. O Pará está dividido embora esta verdade permaneça latente nos demais estados. A luta não termina aqui, agora é muito mais ampla, é no Brasil todo.

Quanto ao Grão-Pará, agora e sempre, é simplesmente NÃO e NÃO!

Um comentário:

Anônimo disse...

Demos uma enorme contribuição para a democracia.A maioria de nossa região acatou a decisão das Urnas,pacificamente,embora contrária ao seu incontestável desejo de independência.A realidade está exposta e o recado está dado:Temos nome,enderêço e personalidade própria.Queremos ser consultados e atendidos.1.200 mil votos não são meia dúzia de gatos pingados.Para o Projeto do "Ficha Limpa"foram coletadas 1.500 mil assinaturas.Precisamos saber como transformar esse "capital eleitoral" em benefícios para nós.O Grão-Pará já foi dividido em Amazonas e Amapá e continuará dividido com o nosso NÂO e NÃO!
WAGNER aROUCA