13 de outubro de 2011

Mangal das Garças em Fordlândia

      Em outubro de dois mil e cinco, retornando da Europa e estando em Belém, visitei o então Secretário de Cultura Paulo Chaves Fernandes para falar sobre minhas conversas com o Secretário Geral do Instituto Dinamarquês de Cultura e com o Curador do Museu de Arte Barroca de Berlim a respeito de possível intercambio cultural com a Amazônia.
      Naquela oportunidade, comentando a restauração e readequação da Estação das Docas, do Parque Residência, Feliz Luzitânia, Polo Joalheiro e Mangal das Garças, disse ao Secretário de Cultura que Belém sempre fora, para mim, apenas um ponto forçado de baldeação entre Santarém e meus destinos finais, mas que agora a capital do Pará era uma cidade agradável de ser visitada e apreciada e que o responsável por isto era ele, Paulo Chaves, por sua visão, sua pertinácia e seu talento.
      Recordo-me disto por ter afirmado, em artigo recente, que o governo e a alta burguesia de Belém sugam e se apoderam dos recursos dos povos do interior para os aplicar em seus parques e palácios para seu próprio uso e prazer. Mas não sou apenas eu que afirma isto e, para exemplificar, embora não concorde no todo ou parte com seus autores, transcrevo alguns comentários a respeito daquelas atrações de turismo e lazer.
      “Olha as construções de obras eleitoreiras: a Alça Viária, o Mangal das Garças, o Palacete Pinho”. O Liberal, Poder, 14/06/2004.
      “Uma obra faraônica, inegavelmente bela, mas claramente elitista que privilegia, sobretudo os turistas de grande poder aquisitivo e a classe média alta. (...)  Mangal da Garças, apresentado como um parque naturalístico, construído em área de aproximadamente 40 mil metros quadrados e cujo custo final, inicialmente estimado em R$ 7 milhões, ficou em R$ 15 milhões.” Diário do Pará, Luxo do Mangal agride a pobreza. 16/01/2005.
      “Vivemos em um país de terceiro mundo, onde realidades distintas se confrontam diariamente, e não podemos vendar nossos olhos para essa realidade que temos e vivemos, ou seja, privilegiar uma parte da população em detrimento de outra. Criar espaços para poucos e monopolizar o direito que é de todos. Temos que compreender o lazer dentro de uma totalidade, levando em consideração os interesses políticos e econômicos que estão intimamente relacionados a ele”. MANGAL: CONSTRUÍDO PRA QUEM? Elba Maia Silva, Esp. em Lazer / UEPA, Eliane do S. de Sousa Aguiar, Esp. em Lazer/ UEPA.
      Os dois primeiros comentários revelam clara oposição política ou contrariedade de interesses com o governo de então, enquanto o terceiro deixa transparecer forte viés ideológico. No entanto, todos corroboram minha firmação quanto à exploração que a metrópole exerce sobre o interior e a pobreza impede o povo de se beneficiar daqueles atrativos.
      Não sou, absolutamente, contra Estação das Docas, do Parque Residência, Feliz Luzitânia, Polo Joalheiro e Mangal das Garças. Muito pelo contrário, sou plenamente a favor. Apenas constato duas coisas: primeiro - que tais atrativos só podem ser alcançados por turistas e cidadãos mais abastados, sendo impossíveis de fruição pela grande maioria da população, as classes de menor poder aquisitivo; segundo – essas obras estão, como sempre, restritas à capital e nada é feito, neste sentido, e muitos outros, nas cidades do interior.
      No primeiro caso, fica evidente que o “Pará que te quero grande” se destina ao gozo de pequena minoria abastada de Belém, enquanto o povo fica relegado ao abandono e à pobreza. De que adianta tal enormidade territorial se o povo não frui nada do que faz grande o Pará?
      No segundo caso, fica mais evidente ainda, que a única maneira de corrigir esta e outras grandes injustiças é o desmembramento do Grão Pará em vários estados conforme as peculiaridades regionais, a começar pela criação do Tapajós e Carajás.
      O que queremos é que obras de embelezamento, lazer e atração turística, como essas que realçam a faceirice de Belém, sejam também realizadas em Óbidos, Marabá, Prainha, Jacareacanga, Altamira, enfim, por toda parte. Que tenhamos restaurações e readaptações similares ao Mangal das Garças e Estação das Docas realizadas em Santarém, Beltrerra, Fordlândia... E que nossas populações se beneficiem do desenvolvimento cultural, social e econômico para poder delas gozar.
      E isto só alcançaremos votando SIM 77 Carajás, SIM 77 Tapajós.

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