27 de outubro de 2011

Carta aberta a Gregory R Page


Meu prezado Greg,
Sou de Santarém, Estado do Pará, Brasil, onde a Cargill dispõe de facilidades de exportação de soja e, aos oitenta anos de idade, suponho que adquiri o direito de chamar a qualquer um pelo primeiro nome, assim, deixe-me aproximar para falar de sentimento do povo de minha terra muito próximo aos dos colonos das Treze Colônias que provocou o Tea Party e culminou com a grande Declaração de 1776.
O Estado do Pará é enormidade equivalente à área aproximada dos estados de Montana, Wyoming, Colorado, Dakota do Norte e do Sul, Nebraska, Kansas, Oklahoma, Texas, Minnesota, Iowa, Missouri, Arkansas e meia Louisiana juntos, onde as distâncias e a falta de comunicações tornam impossível a qualquer governo estadual administrar tão vasta região. Por mais de um século, o povo do Oeste do Pará, onde está situada a cidade de Santarém, tem lutado por se separar do Pará e criar o novo Estado do Tapajós. Experiências semelhantes trouxeram prosperidade ao Amapá, Roraima, Rondônia, Tocantins e Mato Grosso, assim como aos respectivos estados de origem.
Recente Decreto Legislativo Federal convoca plebiscito para aprovação ou não do novo estado no dia 11 de dezembro de 2011. O povo do Oeste do Pará está em campanha a favor da criação do Estado do Tapajós. Esta é uma luta de mais de um século assumida por legítimas e democráticas lideranças de todos os matizes ideológicos e políticos, embasada em fortes argumentos socioeconômicos, apoiada por ardente paixão de todo o povo desta região, com vistas ao desenvolvimento sustentável e harmônico com a grande biodiversidade, as grandes florestas e os grandes rios da Amazônia.
Desde o primeiro momento, em 1999, nós, a sociedade, as lideranças e o povo de Santarém e todas as cidades e vilas do Oeste do Pará abrimos as portas à Cargill, recebemos a Cargill de braços abertos, apoiamos a Cargill, defendemos a Cargill de seus inimigos, com risco da própria vida alguns de nós ajudamos a expulsar navio e manifestantes do Greenpeace de recintos da Cargill, nós todos nos empenhamos de forma desprendida, de coração e espírito pela Cargill.
Este é o momento em que precisamos da Cargill, não para nossos interesses pessoais, mas para o bem público, para o bem da prosperidade geral, para o bem dos empregos e rendas, para o bem dos negócios, para o bem, inclusive, da Cargill, porque sabemos o quanto, inclusive a Cargill, todos nós seremos beneficiados pelo empuxo que a criação do Estado do Tapajós proporcionará.
No entanto, a Cargill nos recusou pequena contribuição para a campanha Pró Estado do Tapajós. A Cargill nos falha neste momento crítico. Isto nos deixa profundamente consternados, apreensivos e refletindo sobre o que fazer a seguir.
O Comitê de Ação Política da Cargill, Inc. tem contribuído sistematicamente para campanhas político-partidárias nos Estados Unidos há pelo menos seis eleições, repartindo suas contribuições em torno de 25 por cento para Democratas e 75 por cento para Republicanos. Portanto, contribuição política não é novidade para Cargill. No caso presente, não se trataria de contribuição político-partidária, mas de apoio a movimento cívico objetivando mudança administrativa de profundas consequências.
Por isto, meu caro Greg, lhe faço meu apelo, apelo de ancião que tem vivido por um ideal, o ideal da libertação política, libertação do atraso, libertação do conformismo, libertação da humilhação. Não se furte de contribuir para este sonho de grandeza e de prosperidade. Seja grande como grande é a empresa que lidera.
Um grande abraço
Do seu (agora) amigo,
Sebastião

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