13 de fevereiro de 2007

De volta à Terra da Felicidade

Sebastiãoo Imbiriba

Nancy e eu passamos setenta e cinco maravilhosos dias em companhia de nossa filha, genro e netos, Valéria, Ricardo, Ícaro, Ivo e Clara, vivendo as delícias de estar em frente ao mar, na praia de Boa Viagem, com pessoas tão amadas e há tanto tempo distantes de nossos olhos e nossos carinhos. E ainda tivemos a felicidade de nossa neta Jaqueline vir do Rio de Janeiro nos brindar com sua alegria e nos matar as saudades.

Muito cedo pela manhã, antes do Sol começar a espiar por cima da África distante, do outro lado do oceano, já estava eu à janela apreciando a beleza dinâmica do vento movendo ondas por sobre os arrecifes, jogando-as contra as areias, em espetáculo de movimento contínuo, não só do mar, mas das folhas dos coqueiros animadas pela brisa constante, das pessoas compenetradas a se exercitarem na pista de Cooper, dos automóveis, raros naquele momento, que começavam o percurso matinal para o trabalho que logo se transformaria em rush, formando tudo um conjunto de sensações prazerosas, inesquecíveis.

Ali ficava eu embevecido, aguardando que dentro em pouco Nancy me convidasse a gozar as delícias das piscinas naturais que se formam de quando em quando por toda a extensão da imensa praia, porque o ambiente ali era todo irrecusável convite à ação, à agitação, ao frevo. Frevo. Em festas contínuas, Recife comemorava cem anos de frevo.

Mas as saudades apertavam. Retornamos. Santarém, ah Santarém... Enquanto vínhamos do aeroporto para casa lembrava-me do que meu pai me dissera há tantos anos quando comentei o quanto esta cidade era grande, dinâmica e bela. Ele amou Santarém com toda sua alma e buscou dar-lhe o melhor de seu espírito operoso e magnânimo, mas num momento de realismo cético disse: "Vais agora ao Rio, na volta compara e me diz o que achas".

Cheguei e logo fui pedir benção a minha mãezinha. Gratificado por ter revisto minha mãe muito amada, macambúzio por vê-la no hospital onde se recupera de mais um problema de um organismo quase centenário, reanimado por sua inquebrantável vontade de viver, caminhava pela cidade, observando-a, com os antigos pensamentos repovoando minha cabeça.

Muito cedo na manhã seguinte, antes do Sol começar a espiar por cima da floresta imensa do outro lado do grande rio, já estava eu à janela apreciando a beleza tranqüila do Tapajós passando diante de mim em sua lenta marcha nupcial com o Amazonas. Não me contive, atravessei a rua e fui à beira-rio, reencontrando rostos conhecidos que me abanavam a mão e me sorriam enquanto passavam em seus compenetrados exercícios matinais. Olhei as águas escuras com seus tons avermelhados típicos das cheias quando o rio lava as árvores dos igapós. Olhei as mangueiras pejadas de frutos quase maduros fazendo a alegria de multidões de periquitos. Olhei o casario familiar, a fachada da casa onde moro e na qual meu pai viveu seus últimos dias. Aqui tudo é tranqüilidade, convite ao pensamento, à reflexão, ao estudo desta terra e da gente que a habita.

Então me dei conta de onde realmente estou. Não há outro lugar onde queira estar. Pois que aqui é meu lugar, o lugar ao qual pertenço, a terra que amo, o povo a quem amo, Santarém, a Terra da Felicidade.

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