20 de março de 2015

Petrobras – A reestruturação necessária

Em entrevista à revista DINHEIRO, edição de 18/03/2015, o navegador, empresário e economista Amyr Klink, comparando empresa em dificuldades com barco fustigado pela tempestade, respondeu, entre outras, às seguintes perguntas:
DINHEIRO: Como navegar na tempestade, ter frieza para lidar com o perigo?
AMIR KILNK: O senso de urgência determina isto. Esse é o problema, por exemplo, de uma empresa em dificuldade. Num caso assim, quando você é empregado e está ganhando seu salário, sabe que que está difícil, mas não tem aquela urgência de resolver. O pensamento deve ser: é hoje que nós temos que solucionar o problema. Não é amanhã. É já. Na crise em alto mar, ninguém dorme até resolver. Não tem outro jeito. Deu um problema? Enquanto não resolver, ninguém dorme. Ninguém come.
DINHEIRO: Se a Petrobras fosse um barco, no meio de uma tempestade, que senso de urgência deveria prevalecer?
KILNK: Neste caso, a solução é: abre o registro, afunda e aciona o seguro. Faz outro. Lá, eles não têm senso de urgência. Uma empresa que detém um monopólio dessa escala não pode ser competente. Já trabalhei com eles, já tive patrocínio deles, é um inferno. Funcionário da Petrobras num canteiro de obras olha para o funcionário terceirizado com um desdém deplorável. Esse tipo de orgulho discriminador, classista, não faz bem para nenhuma empresa. Tem que fechar a Petrobras e abrir quatro empresas novas, divididas por áreas. Transporte, exploração, refinaria. Há modelos interessantes. Não precisa só olhar para a Noruega. Tem que estudar. Mas não pode ser um modelo baseado no monopólio puro. Senão a gente vai para a Venezuela.
Se bem que Amyr Klink não esteja certo em tudo do que disse, suas ideias nos proporcionam matéria suficiente para refletir longamente sobre a empresa orgulho dos brasileiros.
É claro que a Petrobras possui corpo funcional de primeira linha, com alguns muito abnegados. Mas também é certo que a muitos deles falta senso de urgência, de comprometimento e que alguns hajam com arrogância de quem tenha rei na barriga.
Outro ponto é o monopólio em si e a imensidão dele no caso da Petrobras.
Alguns dizem que monopólio estatal é útil para dar funcionalidade a políticas de governo.
Discordo. Políticas por meio de estatais, são discricionárias, não passam pelo crivo dos representantes do povo, e por isso mesmo, frequentemente, causam grandes problemas a essas empresas e, por fim, ao povo e ao interesse nacional.
Se o governo quer subsidiar agricultura, comprador de casa própria ou consumidor de gasolina, deve fazê-lo diretamente ao cidadão a ser beneficiado. Mas quando o fizer será a todos para que não cometa injustiças, ou não abra portas à corrupção.
Péssimos resultados de más administrações se ocultam sob alegação de gastos no cumprimento de políticas de governo
Políticas de Estado devem ser exercidas exclusivamente por meio de orçamento previamente discutido e aprovado pelo Congresso Nacional.
O mesmo princípio cabe ao desenvolvimento tecnológico necessário à exploração do pré-sal. Se é política de governo a obtenção de autossuficiência nacional na produção de petróleo, e este não é encontrado em quantidade suficiente no território nem no mar continental, é forçoso procura-lo em mares profundos.
Para isto se torna necessária nova tecnologia para cuja pesquisa e desenvolvimento se requerem pesados e demorados investimentos, os quais devem, também ser objeto de proposta orçamentária debatida e aprovada pelo parlamento.
O que não deveria ser admitido é a sobrecarga do consumidor, o cidadão comum, que paga altos custos de fretes cumulativos embutidos em todos os preços, cujo insumo maior é o combustível superfaturado para cobrir custos de políticas governamentais não aprovados pelo Congresso. Isto sem falar em propinas a funcionários e políticos corruptos.
Se assim fosse, a Petrobras seria saneada de obrigações que não lhe competem e poderia manter o foco, com maior zelo e eficiência, em suas atribuições específicas: pesquisa, exploração, refino e oleodutos entre estes dois últimos. Ainda melhor se também se livrasse de atividades fora de seu escopo, como geração de energia, distribuição de combustíveis e produção de álcool e petroquímicos.

Esta grande crise por que passa a Petrobras pode ser a grande oportunidade de reestruturação e consolidação de que tanto necessita.

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