24 de maio de 2012

Rio +20, Parte I - O Homem mata a si próprio


Desastres naturais acontecem, muitos são imprevisíveis, alguns são catastróficos, outros prolongam sua ação mortífera por anos ou décadas, ceifam milhares de vidas, estão quase todos fora do alcance do homem interferir e evitar que aconteçam. Terremotos, tsunamis, vulcões, tufões e tornados, avalanches, trombas d’água, resfriamentos glaciais e aquecimentos, inundações e secas, pestes, são o que na língua inglesa se chama Atos de Deus.

Tais acontecimentos ocorreram desde a formação do planeta Terra e são conhecidos por seus vestígios geológicos ou foram objeto de registro histórico, todos produzindo efeitos ecológicos, afetando e ceifando a vida do ser humano, tanto nas imediações espaciais e temporais da ocorrência, quanto em locais e épocas remotas. Para exemplificar, citemos apenas alguns casos.

Nosso planeta executa diversos movimentos em torno do Sol e de si mesmo em ciclos desencontrados de milhares de anos, inclinação axial e orbital, precessão axial e absidal alterando os efeitos da radiação solar sobre a Terra toda e seus hemisférios, fazendo com que há cerca de vinte e cinco mil anos atrás tenha atingido seu Máximo Térmico do Holoceno, ou seja, nessa época a temperatura global atingiu seu maior nível, depois baixou para níveis glaciais e, novamente, volta a aquecer. É claro, que nesses ciclos, o Saara já foi floresta e agora é deserto, e coisas semelhantes ocorrem por toda parte.

Quando o vulcão Huainaputina, ao sul do Peru, explodiu no ano 1600, numa das maiores erupções do último milênio, não somente destruiu tudo ao seu redor, abalou e cobriu de cinzas a cidade de Arequipa, a setenta quilômetros, e jogou lava candente no oceano Pacífico a cento e vinte quilômetros de distância. Seus efeitos foram duradouros. Suas cinzas encobriram o Sol e esfriaram a Terra toda destruindo colheitas e provocando fome em lugares tão distante quanto a Rússia em 1601, o ano mais frio nos últimos seis séculos.

Como vemos, fenômenos naturais produzem importantes efeitos climáticos. Quanto a estes pouco podemos fazer senão mitigar suas consequências. Mas há fatores humanos extremamente impactantes, tanto ou mais que os naturais. Neste caso, certamente, podemos tomar providências. Vamos ver alguns deles e como seus efeitos produziram reações que conduzem a Humanidade a discutir os meios de como os evitar.

Comecemos com os testes nucleares do pós-guerra poluindo a atmosfera com radiação atômica. Outros desastres atômicos ocorreram, inclusive o de Chernobyl, em 1986, o mais grave acidente nuclear, até hoje, contaminando todo o Norte da Europa, do Reino Unido até a Rússia.

Muitas vezes as boas intenções degeneram em graves consequências. No contexto do Grande Salto de Mao Zedong, iniciado em 1958, foi lançada a campanha contra as Quatro Pragas, mosquitos, moscas, ratos e... pardais comedores de grãos tão necessários à alimentação do povo chinês. Os pardais foram quase totalmente exterminados, mas eles não comiam apenas sementes, se alimentavam principalmente de insetos que, sem seu maior predador, proliferaram e dizimaram as colheitas, provocando a maior fome e grande mortandade na China.

Em fevereiro de 1984 a explosão de um dos dutos da refinaria da Petrobrás, que passava por baixo da Vila Socó, incendiou todos os barracos e matou dezenas de pessoas. Logo em seguida, a cidade de Cubatão, então a mais poluída do Brasil, sofreu outro acidente. A Vila Parisi, com milhares de trabalhadores da Companhia Siderúrgica Paulista e outras indústrias extremamente poluidores, padeceu a agonia das doenças provocadas pela ignorância, miséria, ausência de saneamento e extrema poluição atmosférica.

Estes exemplos de como o Homem mata a si próprio com atitudes impensadas e agressões à natureza são pequena amostra do que a Humanidade tem feito contra si mesma. A Reação a esse estado de coisas conduziu à realização, em Estocolmo, no ano 1972, da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, na qual foram discutidos problemas dos recursos naturais não renováveis, do meio ambiente e das políticas capazes de superá-los.

Vinte anos após Estocolmo 72 realizou-se a Rio 92. Mas isto será assunto da Parte II. Até a próxima semana.

Um comentário:

Modos de pensar: cultura, indumentária e figurino disse...

É isso mesmo. O homem se mata, também a seu semelhante, os que nem cresceram e os que ainda vão nascer. É triste. TLAI