3 de maio de 2012

Farinha do mesmo saco


Qual a diferença substancial entre o partido de Fernando Henrique e o partido de Lula?

Outro dia, num desses canais culturais de TV, assisti entrevista de Paulo Vanzolini que, como todos sabem, é cientista de grande renome internacional e compositor popular com sambas como "Volta por Cima" e "Na Boca da Noite". Vanzolini, entre muitas outras coisas, principalmente relacionadas ao modo de fazer ciência no Brasil, relatou seu entusiasmo com a candidatura Lula em conversa com um “scholar” de Harvard o qual, muito cético, apontou a origem sindical do político como fator de desconfiança.

As lutas internas no mundo sindical, por toda parte, nem sempre foram dirimidas em processos civilizados. Nos Estados Unidos, houve períodos em que as ligações entre Máfia e sindicatos foram, no mínimo, muito estreitas. No Brasil, o sindicalismo sempre esteve atrelado ao poder, tanto que seus líderes foram apelidados “pelegos” por se deixarem montar pelos políticos e se venderem aos patrões, entregando os companheiros à própria sorte, se o ganho for suficiente. Na realidade, os trabalhadores eram e ainda são utilizados como massa de manobra para criar dificuldades que permitam negociar facilidades por baixo dos panos.

É interessante notar que a autonomia sindical era uma das principais bandeiras de Lula e do PT os quais, para tanto, propunham acabar com o imposto sindical criado por Getúlio exatamente como forma de domínio estatal nos moldes fascistas. Ao chegar ao poder, Lula e o PT logo mudaram de posição e atrelam os movimentos sindicais aos seus interesses políticos. Tanto assim que sindicatos e MST só se manifestam quando há algum interesse de seus patrões, Lula e PT.

Os métodos sindicais foram trazidos à prática política pelo PT e o assassinato de Celso Daniel ainda está por ser esclarecido, mas dá bem a ideia de como o partido age para se financiar e comprar apoio que o leve e mantenha no poder.

Escândalos sucessivos - privataria tucana, mensalão do PT, mensalão do DEM, o efeito dominó da queda de ministros do recém-formado governo Dilma e, agora, o fenômeno Cachoeira que não poupa ninguém - conduzem ao episódio relatado por Eduardo Suplicy na tribuna do senado. Estava ele em um restaurante paulista na noite de 1º de maio, quando um cliente se levantou e em tom severo o admoestou pela corrupção generalizada no meio político. Verberava o manifestante que havia pouco fizera sua declaração de imposto de renda e se sentira frustrado e indignado por ver os tributos arrecadados pelo governo se esvaindo pelos antros da corrupção. Suplicy não teve como contraditar.

Governadores do PSDB, do PT e do PMDB são apontados como implicados em maracutaias do esquema Cachoeira-Cavendish. A Construtora Delta, da qual Cavendish é presidente, é uma das maiores empreiteiras de muitos governos, inclusive do federal na obras do PAC. Políticos de todos os partidos se encontram envolvidos nesses e outros esquemas de corrupção e roubo do dinheiro do povo.

Quando despontou o escândalo aparecendo o senador Demóstenes como um dos principais implicados, a base aliada, ao contrário de outras ocasiões em que se sentia ameaçada, correu a permitir a criação de comissão parlamentar de inquérito destinada a ter como alvo um dos inimigos mais odiados pelo PT. Seria a salvação da lavoura, desviaria a atenção sobre Zé Dirceu em vias de enfrentar o julgamento do mensalão no STF. Mas quando viu que o próprio PT e PMDB estão envolvidos, a primeira providência da CPMI, relatada pelo primeiro e presidida pelo segundo, foi inaugurar imenso cofre pra ali sepultar todas as acusações que possivelmente possam macular a cândida alvura da honra desses verdadeiros santos do pau oco.

O cidadão brasileiro fica atônito ao ver tanta desgraça ao seu lado - a degradação e o aviltamento dos hospitais e postos de atendimento médico, das escolas, do transporte, da segurança e de todo o serviço público – se contrapondo às imagens na TV do governador do Rio de Janeiro se refestelando no La Tour d’Argent, em Paris, com seu anfitrião o senhor Cavendish.

Olhando esse degradante panorama, constatamos a triste verdade: por ação ou omissão, os políticos são todos culpados da corrupção que grassa neste país. Podemos dizer que “nunca antes neste país” houve tanta e tão deslavada corrupção como a que degrada a honra e o decoro de tantos, quem sabe todos, os políticos nos dias que correm. Não escapa um. São todos farinha do mesmo saco. 

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