1 de março de 2007

Um dino em meu quintal

Sebastião Imbiriba, 09/11/2001
 

Imagine você dirigindo seu reluzente automóvel novinho em folha por uma das principais avenidas da cidade, levando a bordo sua mulher, sua sogra, seu filho de quatro anos parecidíssimo com o avô paterno e seu bebê de oito meses, uma lida menina com a cara de sua mãe. Passeio tranqüilo. De repente você ouve um tropel infernal. Bandos de monstruosos dinosauros perseguem o almoço do dia. Um dos dinos pisa em seu carro e o amassa quase eesmagando todos os que estão dentro. O dino que vem atrás percebe movimento dentro do carro e resolve investigar. Seu bebê lhe parece bem apetitoso. Ele enfia a garra e pucha a sogra com o bebê no colo. Você nada pode fazer. Suas pernas estão presas nas ferragens. Outros dinos percebem o movimento e logo você, sua mulher e seu lindo filho são completamente devorados. Nada resta daquela bela família que saira a passear em tranqüila tarde de domingo. Não sobra quem reclame o seguro.

Se os dinosauros não tivessem desaparecido da face da Terra há milhões de anos, este seria um acidente comum e muitas ONGs estariam gritando que famílias a passeio em tardes de domingo são ameaça de extinção dos dinos.

Existem coisas das quais não sinto a mínima falta e das quais gostaria que a Humanidade se livrasse, para sempre, junto com os dinos e todas as insubstituíveis espécies que já se foram junto com eles. O virus da AIDS é uma delas. Há também os insetos transmissores da dengue, da malária, da doença de Chagas e muitos outros vetores de males que nos afligem. A lista é infindável e o Homem ficaria melhor sem qualquer deles.

No entanto, sou particularmente apaixonado por árvores frondosas, milenares protagonistas da vida natural. É doloroso ver qualquer delas ser derrubada. Milhões vieram a baixo para servir de dormentes no apogeu das ferrovias. Muitos outros milhões delas continuam a ser abatidas para os usos mais diversos, muitos deles muito pouco nobres. É triste ver o desperdício e sinto que se deve fazer muito para evitar a destruição completa.

Mas meu instinto preservacionista é mitigado pela constatação de que esse ideal tem se transformado em fanatismo radical, algumas vezes e, muitas outras, em fachada para esconder a defesa de interesses exóticos descasados das necessidades dos povos da Amazônia. O primeiro caso dá origem a comportamentos idiosincráticos. O segundo a vergonhosos testemunhos de venalidade e subserviência aos financiadores dessa quinta coluna paga para dividir os brasileiros e entregar a Amazônia.

É necessário racionalismo na discussão dos temas ecológicos. Para exemplificar: - tem sido aladeardo o grande potencial de processamento de CO 2 pelas florestas e, daí a importância da preservação destas. No entanto, o volume total de carbono armazenado pela floresta é praticamente constante ao logo de séculos, aumentando um pouco a cada ano. Na realidade, praticamente todo o carbono existente nas florestas de hoje foi acumulado no decorrer das muitas décadas do crescimento das árvores.

 Ao contrário, a quandidade acmulada em campos agrícolas brasileiros com suas duas ou três safras anuais, sendo a palha incorporada ao solo, não somente aumenta substancialmente a cada ano, como o valor econômico da produção é muito maior e mais imediato.

Vejamos o caso da Reserva Extrativista Tapajós Arapiuns situada em região reconhecidamente pobre e esgotada onde a capacidade de produção é ridícula se comparada com a de áreas semelhantes dedicadas à agricultura intensiva. A única razão de ser dessa aberração socio-ecológica é a de justificar o custeio de determinados agentes que vivem de iludir a boa fé dos incautos.

As questões ecológicas deveriam ser analizada do ponto de vista da utilidade social do uso da terra para a Humanidade. Neste caso teríamos de julgar se as terras dos povos em desenvolvimento, como o Brasil, devem servir para neutralizar o veneno gerado pelas nações poluidoras, as mais ricas, ou se devem produzir alimentos para toda a Humanidade.

Gosto muito de visitar museus. Essas instituiçães são repositórios da memória da Humanidade e do Universo. O Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, merece ser revisitado várias vezes pela quantidade e diversidade de seu acervo, desde sarcófagos egípcios até meteóritos gigantes. Bem ali perto, o Jardim Zoológico é museu vivo da nossa fauna, assim como o Jardim Botânico do Rio de janeiro o é da flora brasileira. Foi ali que conheci o Pau Brasil. O Museu de História Natural de Nova Iorque possui gigantescas reconstituições de ossadas de dinossauros.

Parques e reservas são museus naturais vivos. Devem existir em extensão e quantidade suficiente para preservar tesouros desconhecidos e manter a chance de a Humanidade os conhecer sificientemente para deles se beneficiar no futuro.

Se fosse possível evitar  contaminação e propagação de doenças e outros males, sejam eles provocados por micoorganismos ou gigantescos dinossauros, seria recomendável instituir e manter museus biológicos com todas as espécies existentes no Universo, inclusive dinossauros e virus da AIDS. Mas eu jamais me arriscaria, assim como condeno a geração de materiais radioativos em usinas atômicas. O risco é grande demais e todos conhecemos a lei natural que rege: "Se algo pode dar errado, isto certamente ocorrerá".

Se temos que preservar, devemos usar os meios apropriados, museus, conservatórios, reservas e parques para abrigar a flora e a fauna a serem resguardadas, corretamente dimensionados e criteriosamente distribuidos. Mas não podemos impedir que os povos do Mundo sejam alimentados apenas porque alguns xiitas ecológicos querem fazer prevalecer suas irralísticas idéias.

Há alguns anos, brincando em meu quintal com um neto de dois anos, tive a inspiração para um poema intitulado Pitanga. O neto insistia em que eu o levantasse bem alto para que ele catasse as pitanguinhas. Relembrando aqueles momentos de felicidade e de amor, afirmo a vocês: - não sinto a mínima falta de nenhum dinossauro ciscando em meu quintal.



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