30 de março de 2007

Alcoa: um viés imperialista?

Sebastião Imbiriba, 29/03/2007

A tradição imperialista de origem das empresas mineradoras deixou marcas profundas que permeiam a cultura corporativa, não apenas em seus escalões superiores, mas em todo o corpo funcional. As empreiteiras contratadas herdam esse jeito centrado em seus próprios interesses, prepotente, colonialista.

O mundo moderno exige outra postura. As novas teorias de administração de negócios, o melhor e ampliado interesse dos acionistas, suas modernas sociedades de origem e as atrasadas comunidades em que atuam, requerem comportamento mais aberto, mais participativo, mais includente, de modo que os ganhos corporativos se tornem mais seguros, estendidos e maiores, na medida em que a repartição dos benefícios seja mais abrangente e mais duradoura. Se todos ganham, todos são felizes.

Seguindo essas diretrizes, as mineradoras estabelecem políticas de direcionamento de aquisições para as áreas em que atuam. Junto com o governo, em seus três níveis, usando a liderança local da Associação Empresarial de Santarém como instrumento de mobilização e coordenação, buscam capacitar e qualificar fornecedores desta região.

Ambos, compradores e fornecedores, tentam criar nova abertura, nova atitude, nova cultura. Abertura, para entender que o esforço atual resultará em benefícios de longo prazo. Atitude, para predispor aos objetivos ampliados. Cultura, para formar a complexa gama de conhecimentos e informações necessários à execução de sofisticados procedimentos. As empresas locais desenvolvem esforço quase insuportável, que requer coragem, investimento e dedicação desproporcionais ao porte das firmas regionais.

Tal esforço tem sido frustrado. Pequenas empresas se estabelecem, iniciam o fornecimento e são preteridas tão logo um fornecedor preferencial se apresente. A sociedade reclama, se mobiliza. A direção da mineradora declara surpresa e promete correção de rumos.

O problema reside na mudança de atitude de aquisição das mineradoras e suas contratadas. A inércia é grande e prejudica as mudanças. O jogo de interesses é muito maior e beneficia grupos e esquemas pré-estabelecidos.

As mais diversas e sutis formas de enganar acionistas e sociedade são adotadas para proteger tais interesses e impedir o ingresso de fornecedores locais. Um artifício, por exemplo, é a consulta genérica, vaga, sem especificações, sem parâmetros, destinada a contemplar apenas a quem esteja familiarizado e saiba o que o comprador de fato deseja. Outro é solicitar propostas complexas, com prazos exíguos de 24 horas. Tudo simplesmente para mostrar ao público, se houver indagações, que as firmas regionais são incompetentes ou não se interessam e, prova disto, é que não se enquadram nos requisitos ou nem respondem às tomadas de preços.

Fornecedores metropolitanos, com relações de amizade e interesse estabelecidos, protegidos e beneficiados por informação privilegiada produzem propostas imbatíveis. Esse estamento se consolida dentro e junto das grandes empresas porque serve para garantir tranqüilidade a executores e executivos. Falhas de fornecedores tradicionais são prontamente escondidas ou neutralizadas. Nenhum comprador se arrisca a contratar desconhecidos, sem credibilidade, fora do esquema, exatamente as empresas locais que desesperadamente lutam por se qualificar.

Retirar minério, adquirindo materiais e serviços qualificados na metrópole, mantendo baixa qualificação na área de produção é extrativismo anacrônico, explorador e colonialista que, ao se esgotar, deixa imenso buraco repleto de frustração e ódio, ignorância e miséria.

A sociedade desta região aclama o advento da ALCOA como abertura de possibilidades de desenvolvimento econômico, social e cultural. Todos acreditam nas doces palavras dos mensageiros do advento, têm fé nos declarados propósitos corporativos de introduzir a empresa em Juruti e seu entorno no Baixo Amazonas, com o menor trauma e o maior benefício para a região e seus habitantes. A prática desmente a palavra.

Ajudaria muito se os procedimentos de aquisição além de éticos, igualitários e transparentes, buscassem com grande ênfase, na fase inicial, promover e consolidar os fornecedores locais, capacitando-os a concorrer com os metropolitanos. Mas o maior benefício seria a capacitação cultural das lideranças locais, trazê-las para o universo do conhecimento e da informação, desenvolver capacidade empreendedora e administrativa nas áreas de governança e empresarial. É o que colonizadores não fazem. É o que está por ser realizado. É o que se espera da Alcoa.

 

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