15 de julho de 2013

Os pelegos foram às ruas

Os sindicatos de trabalhadores sempre tiveram o vezo de utilizar ideário e linguagem antipatronal e anticapitalista, para atrair associados em numero suficiente a legitimar e dar prestígio a seus líderes. Mas estes logo se enriquecem entregando seus liderados à sanha dos patrões. São os pelegos, expressão gaúcha - derivada do pelo de carneiro que peões colocam sobre a sela para amaciar a andadura do cavalo – usada nos tempos de Getúlio Vargas para designar sindicalistas vendidos ao governo e ao patronato.
Os sindicatos de metalúrgicos do ABC Paulista, e seus líderes, entre os quais Lula, escreveram belas páginas de lutas em defesa dos interesses dos trabalhadores. Mas logo que se firmaram como porta-vozes da classe, os líderes abandonaram o foco sindicalista pelas conquistas políticas e a ambição de poder. Então, fundaram o PT e lançaram candidato a presidente: Lula.
 A três derrotas consecutivas de Lula serviram de escola para os caminhos tortuosos da política. Lula logo percebeu que sem dinheiro nunca se elegeria. Então, iniciou o processo sistemático de arrecadação sub-reptícia, o caixa dois, não declarado à Justiça Eleitoral, constituído de dinheiro obtido ilegalmente por prefeitos eleitos pelo PT, através de superfaturamento dos contratos com empresas de ônibus, de coleta de lixo e outras empreiteiras. Algumas dessas operações ilícitas vieram à tona, entre elas a do prefeito de Santo André, Celso Daniel, assassinado por não concordar com que o dinheiro roubado do povo e destinado ao PT enchesse os bolsos de seus auxiliares mais diretos.
À medida que os quadros sindicalistas se transformavam em correligionários do PT, se elegiam vereadores, deputados, prefeitos e senadores, e preenchiam os cargos de confiança criados aos montes, não somente foram se enriquecendo, como foram se adaptando ao conforto e ao bem viver que o dinheiro proporciona.
Quando Lula, finalmente com as burras do caixa dois cheias de ouro, teve dinheiro suficiente para contratar marqueteiros de primeira linha, alimentar a enxurrada publicitária, e se eleger presidente, os esquemas municipais se transformaram no fenomenal esquema de corrupção e aparelhamento do Estado que, estarrecidos, estamos desvelando.
Mas então, aqueles quadros sindicalistas, cheios de idealismo, vontade e vigor para lutar pelas belas causas originais, estão agora amortecidos pelo ócio, pelo interesse monetário, pelo atrelamento político, verdadeiros gatos gordos acostumados ao calor e conforto do sofá, do qual não querem sair.
Pior do que isto, esses quadros estão desmoralizados pelos escândalos do dinheiro nas meias, malas e cuecas, não têm cara para enfrentar combates que exigem moral elevado. E ainda mais, perderam a legitimidade, não têm mais contato com a realidade das fábricas e lojas, não representam mais ninguém, e ninguém mais os aceita como representantes.
Esse processo aconteceu com todo o esquema petista, desde a CUT ao MST, e com seus associados, como a Força Sindical e outros, todos cooptados, todos comprados, todos amarrados. Está tudo dominado. Lula controla os pelegos pelo bridão.
Mas, se está tudo dominado, é pra ficar quieto, não protestar, não reclamar de nada, está tudo dominado, mas pra aplaudir, pra puxar o saco.
Como é que essa gente pensa que os outros são tão otários que ainda acredite neles? É que perderam a noção da realidade, vivem no mundo dos sonhos, na beleza da propaganda que criaram para enganar o povo e com a qual se enganam a si próprios.
Estão bem acostumados ao bem bom, às mordomias, ao champanhe e chocolate. Agora, para agitar bandeiras, pagam 50 pilas a cada jovem desempregado que queira agarrar o bico. Gente como Salvatti e Hoffman, ou a própria Dilma, que antes acordava de madrugada para fazer agitação e terrorismo, não pode mais se dignar a sair às ruas para protestar contra elas mesmas. Então, acostumados ao serviço burocrático, os pelegos organizam umas passeatazinhas bem arrumadinhas, bem burocráticas, começando às nove horas, é claro, com todo cuidado pra não desarrumar nada, não quebrar nada, não prejudicar ninguém, não ofender ninguém, afinal, pelego não pode atacar patrão.
Lula pensa que ainda está no aerolula e mandou as massas irem para as ruas. Que massas? As massas agora estão aburguesadas, acomodadas, aconchegadas nos ninhos do poder e das barganhas. Mas Lula teve o cuidado de não aparecer, de não dar as caras, nem ele, nem o PT. A CUT saiu meio escondida, vergonhada do vexame. Puseram o Paulinho da Força como boi de piranha, para ver que bicho ia dar. Fiasco completo.

Pois foi assim que os pelegos foram às ruas. Que papelão!

Nenhum comentário: