30 de agosto de 2012

Carajás, Tapajós e a Realpolitik


De nada importa se eu quero aproveitar o domingo para ir à praia e chove torrencialmente. Mesmo que aprecie banho de rio ou de mar com chuva, não poderei transitar nas ruas inundadas. Tenho que conviver com a intempérie. É “ato de Deus” ou de “força maior”. Nada posso fazer a respeito, senão conviver com o inevitável.
É certo que a luta continua. Tapajós e Carajás estão firmes em diversas frentes políticas e judiciais batalhando nosso inconformismo com a forma como o plebiscito foi realizado, com seu resultado e com as imensas barreiras que temos pela frente. De qualquer forma, vamos em frente, certos de que idealismo, vontade irredutível e fé na realização do secular sonho de autonomia nos levarão à vitória final.
Enquanto isto, a vida continua e temos que enfrentar os fatos da vida real, devemos ser realistas, pragmáticos, objetivos na obtenção dos melhores benefícios e vantagens que possamos extrair do governo do Grão Pará, até mesmo por chantagem.
Pois esse maldito governo do Grão Pará inaugurou recentemente quatro centro de cidadania, dois em bairros periféricos de Belém, um em Marabá e outro em Santarém. Todos encimados pela bandeira usada na campanha do NÃO e o dístico “Governo do Pará”. Aquela era flâmula a que amávamos, mas que hoje olhamos com desconfiança.
Todos nós, tapajoaras que sonhamos com o Estado do Tapajós, e carajaenses, que lutamos pelo Estado do Carajás, e temos que lá ir pagar tributo ou buscar um RG, olhamos para o alto, vemos a marca da opressão, e lá entramos humilhados pelo símbolo da sujeição a que estamos submetidos.
Os novos e imponentes prédios são mero cala-boca concedido pelo opressor na vã tentativa de nos acalentar com a migalha que nos tiram da boca. E muito mais virá, porque os potentados do Grão Pará sabem muito bem que muito mais terão que fazer para nos convencer ou pelo menos nos fazer aceitar o pelego sobre o qual nos montam. Para eles isto nada custa, pois é apenas gota do sangue que nos sugam desde os tempos das drogas do sertão.
De qualquer forma, a administração pública brasileira é exercida pelos eleitos em sufrágio popular por via de partidos e coligações, o que impõe a associação de pessoas que, embora rezem por cartilhas diferentes, persigam seus diferentes interesses políticos por meio das mesmas agremiações partidárias. Desta forma, não importa se Ana Julia foi derrotada ou se o eleito seja Simão Jatene. Ambos foram nãozistas e seus correligionários pró Carajás e Tapajós são forçados a conviver politicamente com eles para se elegerem prefeitos e vereadores, nas próximas eleições e, a partir daí, governar seus municípios.
Por isso mesmo, antes e depois de eleitos, prefeitos e vereadores necessitam se relacionar, em virtude dos respectivos ofícios, mesmo a contragosto, com os malditos mandarins, senão com o próprio diabo. Isto é “realpolitik”.
Talvez Maquiavel tenha sido o filósofo do realismo político, e César Bórgia seu mais fiel discípulo, mas a aplicação desse modus operandi em sua forma mais moderna foi realizada por Bismark, mais recentemente pela dupla Nixon-Kissinger, isto sem falar em Willy Brandt com sua Ostpolitik. De um modo ou de outro, o verdadeiro estadista pode, sem abandonar seus objetivos ou ideais mais elevados, adotar políticas realistas na associação com gregos e troianos nas relações entre potências ou no trato entre suseranos e seus vassalos.
Não me admiro, portanto, ao ver políticos do SIM se associando com outros do NÃO, nem mesmo por ver Ana Julia assinar a lista do PLIP. Me espantaria se ela não o fizesse ao subir em um palanque em Marabá. Faz parte da falsidade mútua que sempre existirá neste tipo de relação em que parceiros se cumprimentam com as pontas dos dedos. Nem tudo é permitido, mas a latitude é grande e os caminhos amplos desde que o ideal seja mantido e que a luta pelo Tapajós e pelo Carajás jamais esmoreça.

Um comentário:

Anônimo disse...

Essa ANA JÚLIA e seu PT corrupto, jogaram o estado do Pará a um estado de penúria. Falsa com é, ela nem fede nem cheira... aliás, FEDE mais que cheira, pelo puro oportunismo imbecil. Fala uma coisa e depois age outra... Quanto aos prédios novos dos serviços do Governo Jatene que o senhor menciona, é mesmo apenas um início silencioso para alijar aos poucos qualquer novo desejo separatista por políticos campeões da bandalheira. Aguarde e verá!