17 de novembro de 2011

Subserviência e procrastinação

      A República Brasileira foi açoitada por dois rudes golpes nesta semana. O primeiro, desferido pela Câmara Federal, o segundo, pelo Supremo Tribunal.
      A origem dos parlamentos, sua raiz, sua essência está na inconformidade de barões ingleses da idade média com tributos impostos pelo rei sem devida consulta prévia aos contribuintes. A partir de então, assembleias anuais de pagadores de impostos, ou seus representantes, no mundo todo, se reúnem para discutir, e eventualmente aprovar, mensagens dos poderes executivos (reis, primeiros-ministros, presidentes, governadores, prefeitos) discriminando despesas e fontes de receitas previstas para o ano seguinte. A tradição mantém a anualidade imposta pelo ciclo climático das regiões temperadas, mas esse regime está sendo alterado pelas atuais facilidades de comunicação e processamento de dados, fazendo com que tributos, que antes, legalmente, somente poderiam ser cobrados no ano seguinte ao da lei que os instituía, entrem em vigor em prazos de 90 dias ou coisa semelhante.
      Temos aqui dois conceitos interligados de extrema importância para o regime democrático republicano moderno: controle em tempo oportuno, prazo menor do que um ano, das atividades fiscais do executivo pelos representantes do povo. Esta é a razão de ser das câmaras de deputados. Pois foi exatamente esta atribuição precípua que os deputados federais, em abjeta subserviência, colocaram aos pés da soberana Dilma ao prorrogarem até 2015 a famigerada DRU – desvinculação dos recursos da União, pela qual, receitas não constitucionalmente discriminadas são aplicadas discricionariamente pelo executivo, tornando letra morta o orçamento anual previamente votado pelo Congresso. O Congresso Nacional já havia abdicado, em decisão recente, de sua prerrogativa de legislar sobre Salário Mínimo, o que torna ainda mais grave a submissão do Legislativo ao Executivo. O Congresso demonstra sua própria inutilidade. O Congresso pede pra ser fechado. A República está derrotada.
      O segundo golpe provêm do Supremo Tribunal Federal ao protelar o julgamento da constitucionalidade da Lei da Ficha Limpa e sua aplicabilidade ao pleito de 2012. O tema está sobejamente debatido pela sociedade que a originou. O tema está esmiuçado pelos constitucionalistas. O tema foi apresentado por três advogados altamente conceituados, pelo Procurador Geral da República e exaustivamente analisado pelo Ministro Relator em longuíssima exposição. Não havia porque procrastinar. Mas o Ministro Joaquim Barbosa que, em sessão anterior, mostrara insuficiência técnica e demonstrara antagonismo pessoal ao relatar o processo movido por Jader Barbalho contra o Ministério Público Eleitoral que o impede de assumir cadeira senatorial para a qual foi votado, insensível ao clamor do povo pela pronta decisão da Ficha Limpa, inexplicavelmente, talvez revelando despreparo ou desinteresse, requer vistas ao processo, adiando decisão ansiosamente esperada. Decepção, desolação, frustração.
      Se tivéssemos em vigor a Lei da Ficha Limpa, talvez não fossemos obrigados a assistir lastimável abdicação de seus sagrados deveres por nossos congressistas, nem, quem sabe, que ver o Supremo se debater nas firulas legais de pleitos como o de Jader.
O povo brasileiro merece mais, muito mais, de seus legisladores e juízes.

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