23 de novembro de 2006

Caçador de leões do Turismo

Sebastiao Imbiriba*

José Ibanez convidou ao Luiz Barra e a mim para falarmos sobre turismo em seu programa de entrevistas que vai ao ar às dez e vinte, nas terças-feiras, na TV Amazônia, canal 7. O superintendente do Aeroporto de Santarém, que agora ostenta o nome do maestro Wilson Fonseca, com a proficiência que lhe é peculiar, no colocou a par do programa da Infraero para a construção da nova estação de passageiros que triplicará a capacidade da obsoleta estação atual.

Segundo Barra, o projeto a ser desenvolvido por arquitetos e engenheiros da própria Infraero, já tem verba alocada no orçamento da autarquia. No entanto, o custeio da construção, que deverá durar de quatro a cinco anos, depende de alocações no orçamento da União. Isto depende de articulação política, de empenho de nossos representantes no Congresso Nacional. Se o projeto ficar pronto em 2007 e a verba for alocada em 2008 para o orçamento de 2009, talvez tenhamos o novo aeroporto em 2013 ou 14.

Mesmo assim, o aeroporto continuará apenas como alternativa em emergências para vôos internacionais cujos tripulantes e passageiros devem permanecer a bordo. Desta forma, não poderá receber vôos diretos de outros países, nem de linha, nem charters. As dificuldades para que isto ocorra são muitas e importantes.

Louvo o esforço e a dedicação de Luiz Barra em promover, sozinho, a construção da nova estação. O projeto era de expansão da atual. Barra convenceu a Infraero de que seria muito memelhor construir a nova. Vale a pena esperar, embora, até 2013, tenhamos que sofrer o inferno da crescente superlotação de nosso aeroporto.

Quem assistiu a entrevista colheu de Luiz Barra estas e outras informações importantes e úteis para melhor visualizar os horizontes do turismo regional. Parabéns a ele. Todos desejamos a vinda de turistas, muitos turistas, oriundos de toda parte, do Brasil e do exterior. Só que o turismo é encarado como algo imediato, quando é atividade com maturação de longo prazo. O esquema político-eleitoral quadrienal, incentivador de interesses imediatistas, descarta planejamento de longo alcance, cujos frutos serão colhidos por outros, em favor de rendimento eleitoral de rápido retorno.

É necessário que o mercado mostre sua força, que a demanda obrigue a tomada de decisões políticas. Para isto, entretanto, é necessário transformar atrativo em produto e vendê-lo. Vender o produto e atender satisfatoriamente o comprador. Quando isto é realizado, cria-se a moda do destino e este é procurado, a demanda cresce, com ela são atraídos os empreendedores e investidores.

Costumo contar a seguinte estória. Certa tribo africana desesperava-se com leões que devoravam suas rezes e sua gente. A tribo passava fome e perdia parentes. Os anciãos resolveram, então, anunciar no New York Times: “Precisa-se caçador de leões”. Não é toda hora que alguém se dispõe a enfrentar leões. O tempo passou até que um sem emprego, sem alternativa e sem tino, se apresentou. Foi contratado na hora e partiu para a floresta. Daqui a pouco vem ele correndo desabaladamente, apavorado, com o leão em seu encalço pronto a abocanha-lo. O caçador entra por uma porta, sai por outra e grita para os africanos: “segura este que vou buscar outro”.

Marketing e venda é exatamente isto. Primeiro, tem que ter o atrativo, a comida do leão, depois, ir buscar o leão, finalmente, cuidar do leão. O leão é o turista, o passageiro, o hóspede, o comprador de artesanato, o freguês do restaurante. Se não seguras o leão, isto é, não sabes cuidar do cliente, não te educas, não te estruturas para isto, o leão passa e vai embora devorando tuas entranhas, falando mal de ti, de teu negócio, de tua cidade.

O caçador representa duas figuras, a do super-vendedor que atrai clientes, cuja função não é a de cuidar deles, senão a de ir em busca de novos compradores e a do vendedor na ponta, na agência emissiva, com tantos produtos para vender que não entende qualquer deles, muito menos o teu e põe a perder todo teu esforço de publicidade, merchandising e relações públicas.

Outros estados formaram suas respectivas culturas de Turismo. Amazonas é prova disto. O Pará ainda não encontrou seu estilo de produzir turismo. O Pólo Tapajós e Santarém, em particular, muito menos. Pessoas que entendem pelo menos um pouco de turismo, como Val, da Santarém Tur e Gabriel, da Amazon Planet, nos deixaram por não vislumbrarem horizontes. O sistema não funciona. Necessitamos mentalidades mais abertas, necessitamos de mais ação, de super-vendedores para iniciar a criação da demanda, de planejadores para ordenar as ações, desde a captação, pelo atendimento, ao despacho e ao follow-up.

Precisamos de profissionalismo. O que vemos, por enquanto, é diletantismo desinteressado e displicente. Estamos entregues aos leões."


* Artigo publicado em O Estado do Tapajós, jornal diário de Santarém, Pará, onde Autor (75) escreve sobre temas de interesse geral, principalmente amazônicos.

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