31 de outubro de 2012

Integração do Tapajós através do Turismo


O presente texto se destina especialmente aos olhos de Alexandre Von no momento em que se prepara para assumir o cargo de prefeito de Santarém, posição supramunicipal de fato que lhe oferece oportunidade de coordenação igualitária com outros prefeitos do Pará d’Oeste na condução do movimento de emancipação do Estado do Tapajós.
Um dos instrumentos mais eficazes para esse objetivo é o Turismo de Roteiro. Além de sua própria extensa cadeia produtiva a indústria do turismo possui natureza abrangente, com grande inter-relacionamento, e integração aos setores secundário e terciário.
Estruturado para atender desejos e necessidades dos turistas, suas demandas de alimentação, transporte, hospedagem, roteiros guiados, compras e divertimento no correr do processo da viagem, o turismo se liga naturalmente a uma infinidade de outras atividades, na quase totalidade dos campos cultural e econômico.
Neste processo, o turismo cria novos conjuntos de demandas, novos mercados, novos produtos, novas tecnologias e novos serviços, injetando vitalidade na economia. Tal abrangência de inter-relacionamentos inclui, certamente, a política e a geopolítica.
Exemplo importante é a integração centro-americana que inclui os sete países da América Central (Belize, Guatemala, El Salvador, Honduras, Nicarágua, Costa Rica e Panamá), além da República Dominicana, no Caribe, os quais, através de uma série de acordos, se empenham no processo de integração através do turismo, promovendo a prosperidade da região nas duas últimas décadas.
O governo Lira Maia desenvolveu alguns estudos e tentativas de integração do turismo regional, mas não de integração regional pelo turismo. A administração Maria do Carmo, através da Coordenadoria de Integração Regional, subordinada à Secretaria de Turismo, foi mais a fundo nessa tentativa, no entanto pecou por tentar a integração com objetivo explicito de promover o Estado do Tapajós. Com isto, provocou antagonismo do governo do Estado que bloqueou a atuação municipal.
O que propomos é estreita cooperação com PARATUR e AMAZONASTUR no sentido de resolver problemas de acesso aéreo de passageiros provenientes do Brasil e do Mundo a Santarém, bem como com os municípios amazonenses e paraenses do Baixo Amazonas, e os das rodovias 163 e 230 no sentido de aperfeiçoar os atuais e criar novos produtos turísticos de roteiros pelas múltiplas atrações naturais e eventos que a região oferece, e muitos outros que podem ser inventados.
O empresariado de Santarém tem se mostrado pouco disposto ao aperfeiçoamento e à formação de cadeias produtivas. Pelo menos, isto é o que se deduz das tentativas do SEBRAE em desenvolver a indústria moveleira e a do turismo receptivo. Por outro lado, há exemplos de iniciativas de alta qualidade como os da Pematec, do Belo Altér Hotel e do Amazon Dream. Os empresários locais do setor turístico devem ser incentivados e outros, de fora, convocados. Tudo sem esquecer que turismo é cadeia produtiva longa, complexa e, portanto, deve ser concebido e gerenciado como tal: processo.
Processo econômico, mas, no caso, acima de tudo político, porque seus objetivos finais serão políticos: integração regional pluripartidária, senão apartidária, para eleger o maior número possível de representantes à Assembleia, à Câmara Federal e ao Senado (neste caso, junto ao Carajás) e, por fim, emancipar o Estado do Tapajós.
O que se diz aqui abertamente, na prática, será realizado na mais absoluta surdina. O objetivo aparente, de fato importante e justificável por si só, é o desenvolvimento do turismo regional pela implantação de múltiplos e variados roteiros, abrangendo sempre muitos municípios, promovendo o desenvolvimento sustentável, criando empregos e gerando renda para milhares de pessoas. O Turismo será a redenção econômica do Pará d’Oeste.
Como resultado de tudo isto, teremos a confirmação da nova e importante liderança regional emergente que, associada a outras lideranças regionais, promoverá a criação do Estado do Tapajós e a felicidade de seu povo.

26 de outubro de 2012

Novo Astro no Tapajós


Corria o ano de 2005, meu irmão Ney e eu aguardávamos um parente no Aeroporto de Val de Cans quando a figura imponente nos acena de longe e se aproxima para nos abraçar. Era o deputado à Assembleia Legislativa do Pará Alexandre Von, que embarcaria no próximo voo para a Pérola do Tapajós.

Com os voos atrasados, tivemos tempo de conversar. Depois das amenidades e tradicional rasgar de sedas, Alexandre, apaixonado pelo que faz, discorre sobre seus sonhos, seus planos, sua missão de engrandecer o Pará, libertar o Tapajós, promover a felicidade de Santarém e de seu povo.

Alexandre fora o planejador da administração Ruy e colocara a casa em ordem na Prefeitura. Tão bem se saíra que Lira Maia o manteve no cargo onde continuou a prestar excelentes serviços até se candidatar à Assembleia.

Agora, em 2012, Alexandre obtém a mais expressiva vitória na história política de Santarém, a maior margem de votos sobre seus concorrentes, feito que se deve a três fatores igualmente importantes: a aliança e apoio de Lira Maia, a derrocada e desprestígio da administração Maria do Carmo e do Partido dos Trabalhadores e, finalmente, o próprio bom conceito de Von perante o eleitorado.

Relembro o que disse em crônica publicada, logo após as eleições do ano 2000, a respeito da reeleição de Lira Mais: “O sangue frio de Joaquim o salvou e o transformou em grande líder”... “Se for bem sucedido se tornará o maior líder do Oeste do Pará e terá todas as condições de se tornar o Pai do Estado do Tapajós. Não terá mais que tomar benção de Jader, este terá que vir pedir-lhe ajuda; poderá mandar para longe o espantalho Amazonino, todos cobiçando tornar-se o primeiro governador do novo estado”... “Se tiver que afastar-se do cargo, terá feito um dos maiores favores à nossa terra e a nossa gente: o fato de ter escolhido Alexandre Voughn como seu vice. Estaremos em boas mãos, graças a Deus e a Joaquim”.

Finalmente, Alexandre Von está onde sempre quis, na Prefeitura de Santarém, e isto me trás à lembrança outra crônica escrita no pós-eleições de 2000: “... este é o momento de Lira Maia. É possível que seja seu apogeu, precursor do declínio, ou começo de grande e gloriosa trajetória. Se for este o caso, esperemos que amadureça a esperança de personificação do grande líder democrático que o Estado do Tapajós precisa para se tornar realidade”.

Continuando: “A última eleição para esses cargos, em 1998, representou amarga lição para Santarém e todo o Oeste do Pará. Parece que os chefes políticos de Belém fizeram de tudo - inclusive inserindo aqui políticos estranhos ao nosso meio para esvaziar a votação dos candidatos locais - no sentido de evitar que esta região pudesse ter representação capaz de auxiliar na divisão do Pará e criação do Estado do Tapajós. Mas a culpa principal é nossa, de nossos líderes e de nós, eleitores”.

Tudo o que falei sobre Lira Maia em 2000 se aplica diretamente a Alexandre Von em 2012 e, além disto, com base nas recentes lições recebidas, podemos acrescentar:

·                    Alexandre é a nova liderança que alça voo liberto de amarras e com imensas responsabilidades, que não significam quebrar alianças, mas buscar novas, inclusive na oposição;

·                    Sua missão é integrar politicamente todo o Tapajós para junto com Carajás expurgar candidaturas forasteiras e eleger importante representação pluripartidária na Assembleia, na Câmara de Deputados e no Senado;

Encerro reproduzindo o último parágrafo da crônica de 2000: “É por isso que este é o momento da grandeza. Grandeza do oponente ao criticar e denunciar de modo objetivo e leal. Grandeza dos que não foram bem sucedidos nas urnas em reconhecer a vitória do oponente e oferece colaboração. Grandeza do vitorioso em aceitar, com singeleza e humildade, ajuda para o esforço comum. É também este o momento da reflexão. Reflexão do vitorioso. Reflexão dos demais, inclusive daqueles que submergiram para dar tempo ao tempo e que agora pretendem retornar às lides políticas. Porque este é o momento da União. União para que nas próximas eleições o povo do Oeste do Pará vote apenas nos candidatos regionais e eleja poderosas bancadas estadual e federal, quem sabe, até um senador. Isto é o que o povo merece e terá daqueles que são seus verdadeiros líderes”.


 

18 de outubro de 2012

Ópios dos povos

Karl Marx, em a Crítica da Filosofia do Direito de Hegel, publicada em 1844, afirma que “A religião é o suspiro da criatura oprimida, o ânimo de um mundo sem coração e a alma de situações sem alma. A religião é o ópio do povo”. Isto é, a religião relega para o além-vida promessas de felicidade que a vida real terrena nega ao ser humano. “Vida real”, neste caso e no entender de Marx, é opressão das classes desfavorecidas pelos detentores dos meios de produção, a classe burguesa que utiliza a religião para amortecer a revolta e perpetuar o conformismo com a infelicidade terrena, na esperança do paraiso após a morte.

Marxista pragmáticos, posteriores ao fundador da ideologia comunista, perceberam que não poderiam converter ao agnosticismo os crentes em alguma fé religiosa, nem alienar esse numeroso contingente, necessário como massa de manobra para atingir o poder. Assim, propuseram, primeiro a cooptação dos fieis e, depois, a adaptação do fundamentalismo de algumas seitas cristãs primitivas às idéias comunistas, criando movimentos que culminaram, entre outros, na Teologia da Libertação.

A ideologia comunocristã espalhou conceitos dessa simbiose na América Latina, de população majoritariamente católica, mas não sensibilizou a maioria do povo. Pelo contrário, grande número dos que professam denominações evangélicas e multidões católicas que seguem o Círio de Nazaré e lotam a Basílica de Aparecida são os que mais se opõem ao ateismo marxista. Assim, a religião continua a ser o ópio de povo.

Mas não apenas esta. Outros interesses afastam o povo de preocupações político-econômicas e do comunismo. Carnaval, futebol, novelas e programas de auditório de TV são muito mais interessantes e mais bem produzidos, realizados por profissionais altamente competentes, ao contrário do diletantismo da maioria dos políticos, excetuado, é claro, o populismo cultuador da personalidade, com astros como Vargas, Ademar de Barros, Jânio, Collor e Lula.

Os marxistas são unânimes em declarar ignorante e alienado esse povo religioso, amante do samba, do carnaval e do futebol, apreciador de novelas e cultuador de ídolos como Bieber, Madona e Neymar, além de Roberto Carlos e Lula, é claro. E querem a todo custo mudar o perfil cultural do brasileiro típico, a começar pelo controle do ensino público e da mídia que passaria a oferecer conteudo de “real interesse do povo”, ou seja idéias marxistas, totalitárias e repressivas.

Em primeiro lugar, devemos considerar que o modo de ser do povo brasileiro é fruto de quinhentos anos de doutrinação católica incompetente, porquanto, apesar da verberação de padre Antonio Vieira e outros como ele, nossa moral foi e continua sendo a do faça-o-que-digo-não-faça-o-que-faço, e todos nós queremos resolver nossos problemas dando sempre um jeitinho. Reclamamos da corrupção geral dos políticos e damos gorjeta ao funcionário para que este cumpra sua estrita obrigação. Como ninguém é perfeito, a mesma pessoa que reza contritamente no Círio ou em Aparecida pode praticar pequenos deslizes morais sem se aperceber da falta cometida. Ao mesmo tempo, somos um povo alegre e divertido, honesto em muitos sentidos, capaz de procurar o dono e devolver dinheiro perdido, num misto de bem e mal onde o bem supera em muito o mal.

E tem gente querendo a todo custo mudar o que somos, o que quinhentos anos de herança portuguesa misturada com tudo que existe de culturas, costumes, éticas e religiões moldaram até formar o que chamamos com muito orgulho de povo brasileiro.

A ditadura chinesa pode esvaziar de tibetanos o Tibet, mas não mudará a essência de seu povo. Quando a União Soviética desmoronou, os povos da Russia e das republicas que se tornaram independentes se revelaram o que sempre foram, apesar de submetidas a terrível jugo e intensa doutrinação por setenta anos. Nem a ditadura Vargas, nem a Militar puderam mudar o jeito de ser brasileiro. A democracia pode fazer isso, não por um passe de mágica, mas num processo paulatino pelo qual, naturalmente, aos valores permanentes se agregam novos, os valores republicanos e democráticos, os dos Direitos Humanos, ecológicos, e éticos.

Enquanto isso, seguimos com nossos ópios, acompanhando o Círio e apreciando obras de arte genuina, de alto nível, como um drible de Neymar ou uma cena de Adriana Esteves interpretando Carminha.

4 de outubro de 2012

O eremita e o doutor


O profundo silêncio do vetusto claustro era interrompido a horas certas pelo coro da santa missa - a elevar as vozes do cantochão envolto nas nuvens do turíbulo até ás abóbodas do antigo templo, senão até os céus - ou, após a primeira parte das refeições do meio dia e das vésperas, pela leitura por um dos monges, seguida por debate do tema que acabara de ser lido. Fora disto, o tempo todo se fazia ouvir o mais profundo silêncio a convidar à reflexão e à oração.

Há muito, o velho monge se habituara àquela absoluta falta de sons interrompida pelo cantar da cotovia e pelo farfalhar das árvores balançadas pela brisa constante no alto da montanha. Mas este era como o marulhar das praias, ao qual rapidamente se acostuma, que acalma e conduz à introspecção, a recolhimento e à prece.

No entanto, as discussões ao final das refeições lhe davam momentos de real prazer, seu cérebro disparava em busca de soluções e de argumentos. Não lhe movia a glória efêmera do silogismo perfeito com que derrotava algum desavisado que lhe contestasse ideia original ou explicação de obscuro tema. Sua modéstia o impedia de humilhar adversários ou de extrair qualquer gozo nisto. Mas o debate era estimulante, o exercício da dialética colocava em cheque suas opiniões, faziam-no revê-las ou lhe consolidava a convicção.

O abade, no entanto, o observava com olhos e ouvidos zelosos da virtude, e notava o brilho em seus olhos enquanto ouvia atentamente a leitura, preparando-se para a contenda que viria a seguir. O abade, certamente, não permitiria que aqueles rompantes, que lhe pareciam mera vaidade, prosseguissem sem reparo. Ordenou ao confessor que aconselhasse o velho monge a refletir sobre o pecado da arrogância intelectual e o induzisse a se retirar a algum eremitério e lá ficasse pelo tempo necessário a se corrigir de modo definitivo.

Foi assim e por isto que o velho monge passou dez anos a pão e água em seu retiro no deserto, sem livros, em completo jejum intelectual, recolhido apenas às orações, a refletir sobre a fatuidade do extenso saber pelo mero prazer do conhecer, sem consequências praticas no caminho da virtude e da salvação.

Quando julgou que se submetera à necessária humildade, retornou à abadia e se reintroduziu na rotina monasterial onde encontrou, recém chegado de cursos e aulas nas universidades de Bolonha, Paris, Oxford e Modena, o brilhante jovem monge que fora seu pupilo anos atrás, agora doutor e palestrante convidado pelo abade.

A alegria do reencontro logo se transformou em ansiosa expectativa de deliciosas e estimulantes conversas sobre temas adormecidos em sua mente de eremita, agora reavivadas pela presença de tão grandiosa inteligência e cultura. Como seria empolgante o enfrentamento daquela mente poderosa, quanto a aprender, a conferir a exatidão da lógica, a validar hipóteses por longo tempo adormecidas no silêncio do deserto.

O jovem monge proferiu sua palestra, contrapondo abordagens do mesmo tema por Agostinho e Aquino, seguida de comentários do abade. Tão pronto este concluiu seu pensamento, o velho monge, que desde seu retorno do eremitério se mantivera silencioso nos debates do refeitório, incontidamente, se lançou a discorrer argumentos contrários aos do jovem conferencista, e com tanto entusiasmo e ênfase que os demais monges se recolheram a recatada mudez, o abade o fitava de olhos esbugalhados e o jovem doutor, impassível, se limitava a arquear a sobrancelha direita.

O velho monge calou-se de repente, espantado com o próprio ardor e com o silencio sepulcral que o cercava. Entrelaçou os dedos junto ao peito, inclinou a cabeça e assim se manteve até que o abade proferisse a oração de encerramento da refeição. Ergueu-se com os demais e os acompanhou pelas arcadas que conduziam às celas, ajoelhou-se diante do leito e ali permaneceu por horas, em profunda contrição.

No dia seguinte, ao faltar à missa matinal, o velho monge foi encontrado morto, ainda ajoelhado no chão, meio corpo atirado sobre o modesto catre. Vergonha e embaraço liquidaram a ânsia por saber, o desejo do debate e, sem isto, a vida o abandonara.

20 de setembro de 2012

Vestais no Mensalão IV


(Continuação)
O pássaro que piava durante todo o alvorecer emite de novo seu canto persistente e monotônico; daqui a pouco ele para; fim da tarde voltará a piar. Meu olhar perdido vaga pelas copas das árvores da Mata Atlântica diante de minha janela e estanca na silhueta da montanha a uma distância que me parece alcançável com as mãos. E me vem a nostalgia dos horizontes infinitos de minha Amazônia ribeirinha, do meu Tapajós querido cuja longínqua margem oposta, a quatro léguas distante, quase me foge do alcance da vista na lembrança saudosa.
É momento de divagação, mais do que de reflexão.
De repente, o espírito vagante volta à realidade, aos duros fatos da vida real, do dia-a-dia das coisas corriqueiras ou ao dia-sim, dia-não do julgamento do mensalão.
E me ocorre o fato de que praticamente todos os políticos que estão no poder e muitos dos que fazem oposição estiveram nas lutas contra o Regime Militar e pela redemocratização do país.
Pois foram estes políticos que fizeram a Constituição vigente, que instituíram os poderes que nos governam, formataram e construíram a nação que temos hoje.
Até quatro semanas atrás o Supremo Tribunal Federal era repositório de orgulho e esperança de todos esses políticos. Afinal, praticamente todos os ministros do STF foram nomeados por aliados pertencentes ao estamento atualmente no poder.
Sarney, hoje aliado de Lula, nomeou Celso de Mello. Collor, agora também parceiro de Lula, indicou Marco Aurélio. Lula apontou Ayres Britto, Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski, Joaquim Barbosa e Dias Toffoli. E Dilma escolheu Cármen Lúcia, Rosa Weber e Luiz Fux. Dos dez ministros com mandato vigente apenas Gilmar Mendes foi apontado pelo atual oposicionista Fernando Henrique. E Lula ainda nomeara os já aposentados Eros Grau, Carlos Alberto Menezes Direito e Cezar Peluso.
Assim, se prevalecesse a fidelidade ao nomeante, Lula, Dilma e seus aliados Sarney e Collor possuiriam maioria de nove votos contra apenas um no STF. Se assim fosse os indiciados no processo penal 470, o famoso julgamento do mensalão, os réus que tem recebido públicas manifestações de afagos e carinhos de Lula e Dilma, estariam muito tranquilos. Não haveria o que temer e seriam todos absolvidos. Portanto, nada a reclamar de subserviente Tribunal.
No entanto, na medida em que os réus vão sendo julgados, a maioria deles condenada e o julgamento se aproxima de seu ponto culminante, com os principais acusados ameaçados do mesmo destino, as manifestação depreciativas, desqualificadoras e até ofensivas à honra dos juízes e á dignidade do Tribunal se tornam cada vez mais intensas e virulentas.
Profissionais do Direito, escolhidos por Lula e Dilma segundo os mais rigorosos critérios de reputação ilibada e reconhecido saber jurídico, antes honrados e prestigiados, são agora achincalhados por votarem de acordo os mesmos parâmetros de honradez e técnica legal que os tornaram ministros do Supremo Tribunal.
É de se supor que a escolha fora mal feita, e neste caso os culpados do mau passo são Lula e Dilma, ou as decisões dos juízes estão corretas e as reclamações são feitas de má-fé por velhacos inconformados e interessados na impunidade de corruptos e corruptores. A estes não interessa a moralização da vida pública, que tem um de seus primordiais esteios na imposição exemplar da Lei.
O julgamento ainda não terminou. Os protagonistas do escândalo ainda não foram submetidos ao escrutínio do egrégio colégio de juízes e não se pode prever se serão ou não condenados.
O que a nação brasileira espera é que o Supremo Tribunal Federal esteja à altura da missão que a Constituição lhe confere, ao nível das altas esperanças que a nação brasileira e seu povo lhe depositam.

13 de setembro de 2012

Uma proposta de reforma política


O regime eleitoral instituído pela Constituição estabelece distritos eleitorais coincidentes com territórios das unidades federativas, independentemente do tamanho das respectivas populações, e eleições majoritárias nacionais para presidente e distritais majoritárias para senadores, governadores e prefeitos.
As eleições para deputados federais, estaduais e vereadores são distritais - os distritos são os mesmos - proporcionais e majoritárias, sendo eleitos os representantes mais votados individualmente dentro de cada partido até o limite do quociente eleitoral obtido por cada legenda. Isto é, os partidos que obtenham mais votos elegem maior número de representantes pela ordem da votação individual de cada um em sua legenda.
Portanto, eleições distritais e majoritárias já existem e funcionam perfeitamente. Até aqui não se fazem reparos relevantes a esse sistema que parece ser integralmente aprovado pela opinião pública. No entanto, juntamente com estas, existem eleições distritais proporcionais com votação nominal nos candidatos a deputados e vereadores. Quanto a esta modalidade há inúmeras manifestações de contrariedade e desejos de mudanças.
As criticas se voltam, em primeiro lugar, contra a incongruência de candidatos com inexpressiva votação serem eleitos por sobras dos campeões de votos. Há exemplos marcantes como o de Enéas cuja votação colocou no Congresso seis deputados com menos de mil votos, e o de Tiririca que arrastou consigo quatro candidatos com votação igualmente insignificante.
Outra questão é que, devido ao efeito Tiririca, candidatos com grande votação individual, mas cujos partidos não obtenham quociente eleitoral são preteridos em favor dos beneficiados pela distorção inerente ao sistema.
Os candidatos mais endinheirados, através de cabos eleitorais, compram inúmeras pequenas parcelas de votos distribuídos por toda extensão do distrito eleitoral, seja o município ou o estado, superando com o somatório a votação de candidatos com grande liderança em suas bases eleitorais territoriais, porém menos ricos ou com menores patrocínios, estes muitas vezes espúrios.
Candidatos dos mesmos partidos concorrem entre si, nos mesmos territórios ou segmentos socioeconômicos e ideológicos, exacerbando as disputas internas em detrimento da unidade e dos esforços partidários comuns. O eleitor é bombardeado com propaganda de centenas de candidatos nas mesmas comunidades, impossibilitando que o eleitor conheça qualquer deles o suficiente para bom julgamento e voto consciente.
Estes e outros fatores contribuem para a confusão do eleitor e dissociação deste com o eleito, bem como para o encarecimento exorbitante das despesas das campanhas eleitorais, levando alguns candidatos à prostituição política atrás de recursos financeiros.
Fala-se em financiamento público das campanhas eleitorais, mas esta será uma medida inócua se desacompanhada de outras. O político corrupto receberá financiamento de campanha do governo e continuará a recorrer ao caixa dois, com grande vantagem financeira sobre o candidato ético que se contente com o financiamento público. A eleição, tal como está, é dispendiosa demais.
São necessárias mudanças profundas em três questões fundamentais. Primeiro, a reformulação dos distritos que, em lugar de casados com as atuais unidades federativas e municipais, passem a ser demográficos, cada distrito com o mesmo número aproximado de eleitores, conforme o princípio republicano: “cada eleitor, um voto”.
Segundo, votação em duas modalidades paralelas. Metade dos candidatos eleitos por voto majoritário, em dois turnos, nos respectivos distritos: vereadores nos pequenos distritos submunicipais, candidatos às Assembleias, nos distritos subestaduais, e candidatos à Câmara, nos distritos subfederais, sendo todos os distritos definidos conforme os respectivos sensos demográficos.
A outra metade seria eleita, tal como hoje, por votação nominal dentro da legenda. Neste caso, a diferença seria que os candidatos a vereadores receberiam votação na extensão do município, os candidatos à Assembleia no alcance do Estado, e os candidatos à Câmara em todo o território nacional. Neste caso, os candidatos não fariam campanhas individuais, mas partidárias.
As câmaras municipais, estaduais e federal seriam compostas por metade de seus membros eleitos por voto majoritário distrital, consequentemente, dedicados a defender interesses locais. A outra metade seria eleita por voto proporcional, tal como hoje, apenas com nova modalidade de distrito eleitoral e, assim, interessada nos temas programáticos e ideológicos.
Os mandatos de vereadores e deputados seriam reduzidos para dois anos; o dos senadores para seis anos, com uma renovação a cada dois anos.
Pela votação distrital majoritária ficariam atendidos os interesses locais. Os interesses dos grupos minoritários, étnicos, programáticos e ideológicos seriam protegidos pela votação proporcional dos partidos em âmbitos supradistritais.
Imagino que esse sistema poderia moralizar as campanhas eleitorais e tornar mais democrática a representação popular.

5 de setembro de 2012

Vestais no Mensalão III


(Continuação)
O Mensalão é apenas a ponta do enorme iceberg da estrutura mafiosa do Partido dos Trabalhadores desde suas origens como sindicato. Muitos outros casos, dezenas deles, são indicativos irrefutáveis dessa estrutura corrupta.
São incontáveis os escândalos: Celso Daniel, mensaleiros, sanguessugas, forjadores de dossiês, aloprados, etc., etc., etc.
Fabio Luiz da Silva, filho de Lula e dono da Gamecorp, fez contrato misterioso de 5,2 milhões de Reais com a Telemar. José Guimarães, irmão de José Genoino, mediou negócios de empreiteiras com o Banco do Nordeste e recebeu pelo menos 100 mil dólares encontrados na cueca de seu assessor. Antônio Palocci Filho foi acusado de receber propinas mensais de empresa de coleta de lixo quando era prefeito em Ribeirão Preto e de municiar o caixa dois do PT. O lixo alimentaria caixa dois na maioria das prefeituras petistas.
Quem desejar percorrer listas de escândalos do PT e do governo Lula pode visitar os links abaixo:
O esquema mafioso do governo Lula esparramou para o de Dilma resultando em escândalos e ministros demitidos: Alfredo Nascimento (Transportes), Antonio Palocci (Casa Civil), Luiz Sergio (Relações Institucionais), Pedro Novais (Turismo), Wagner Rossi (Agricultura).
E o PT está total e completamente enquadrado por Lula, o que torna quase impossível a Dilma se desvencilhar da tutela e das amarras que a contém. Até mesmo figuras antes impolutas desse partido, como Suplicy (aquele que não conteve lágrimas ao assinar o pedido de CPI dos Correios) e Mercadante, quando quiseram mostrar independência, ao se posicionarem pela Ética contra Sarney, foram chamados a palácio e devidamente encaixilhados por Lula.
Enquanto isto, figuras do cenário nacional, de cujas ideias se pode discordar, mas são respeitadas por reconhecida integridade moral foram expulsos do PT ou dele se afastaram inconformados com algumas de suas práticas: Babá do Pará, Chico Alencar, Heloisa Helena, Henrique Afonso, Ivan Valente, João Alfredo, João Fontes, Luciana Genro, Luiz Bassuma, Maninha, Marina Silva, Orlando Fantazzini e muitos outros.
É muito triste para muitos de nós - que votamos em Lulinha Paz e Amor por não acreditarmos em Serra nem em Alkmin, ou para aqueles que nele votaram por mera simpatia, fé ideológica ou se convencerem de que haveria mudanças - ter que reconhecer que o Poderoso Chefão da Máfia petista é o próprio Lula.
Reconheço que milhões de partidários, militantes, eleitores e simpatizantes do PT são pessoas de absoluta integridade moral, de comportamento ético irreparável, inclusive pessoas muito próximas de mim, filhas, sobrinhos, amigos e conhecidos. Muitas dessas pessoas abandonaram ou foram expulsas desse partido, outras estão desconsoladas, desapontadas e frustradas, mas continuam por acreditar que antigos ideais merecem fé e nova chance.
Em homenagem ao mérito de pessoas muito amadas e respeitadas, concedo ao PT o direito de se reabilitar, reerguer e continuar a prestar ao país os relevantes serviços que tem indubitavelmente prestado. Mas para isto, o primeiro passo é abandonar o cinismo de negar o mensalão, fazer contrito mea culpa, rigoroso expurgo interno e trilhar o estrito caminho da legalidade, do decoro político e da Ética. Enquanto isso, Lula deve passar o bastão definitivamente à Dilma e se recolher monasticamente à vida privada.
A Ação Penal 470 em curso no Supremo Tribunal Federal, até aqui, condenou cinco dos envolvidos no escândalo do Mensalão. Apesar do destoante voto de Dias Toffoli, que a absolveu, pelo menos uma de suas vestais foi desnudada em público: João Paulo Cunha.
Dias Toffoli – ex-advogado condenado em primeira instância e absolvido em recurso em processo por ilegalidade na prestação de advocacia ao governo do Amapá; acusado pela advogada Christiane Araújo de Oliveira de manter relações íntimas com ela em troca de favores relativos ao escândalo do Mensalão no Distrito Federal; ex-assessor parlamentar do PT na Câmara dos Deputados; ex-advogado das campanhas de Lula em 1998, 2002 e 2006; ex-subchefe na Casa Civil na gestão José Dirceu - no entender de importantes juristas deveria se declarar impedido na AP 470.
É certo que João Paulo receberá punição exemplar, com a qual o STF indicará, a todo e qualquer ocupante de cargo público que, daqui por diante, o serviço à República será prestado por dois modos: que o seja com decoro e ética, como devido, ou que a espada da Justiça se abata sobre o culpado.
O exemplo iluminará a consciência de toda a sociedade brasileira.

30 de agosto de 2012

Carajás, Tapajós e a Realpolitik


De nada importa se eu quero aproveitar o domingo para ir à praia e chove torrencialmente. Mesmo que aprecie banho de rio ou de mar com chuva, não poderei transitar nas ruas inundadas. Tenho que conviver com a intempérie. É “ato de Deus” ou de “força maior”. Nada posso fazer a respeito, senão conviver com o inevitável.
É certo que a luta continua. Tapajós e Carajás estão firmes em diversas frentes políticas e judiciais batalhando nosso inconformismo com a forma como o plebiscito foi realizado, com seu resultado e com as imensas barreiras que temos pela frente. De qualquer forma, vamos em frente, certos de que idealismo, vontade irredutível e fé na realização do secular sonho de autonomia nos levarão à vitória final.
Enquanto isto, a vida continua e temos que enfrentar os fatos da vida real, devemos ser realistas, pragmáticos, objetivos na obtenção dos melhores benefícios e vantagens que possamos extrair do governo do Grão Pará, até mesmo por chantagem.
Pois esse maldito governo do Grão Pará inaugurou recentemente quatro centro de cidadania, dois em bairros periféricos de Belém, um em Marabá e outro em Santarém. Todos encimados pela bandeira usada na campanha do NÃO e o dístico “Governo do Pará”. Aquela era flâmula a que amávamos, mas que hoje olhamos com desconfiança.
Todos nós, tapajoaras que sonhamos com o Estado do Tapajós, e carajaenses, que lutamos pelo Estado do Carajás, e temos que lá ir pagar tributo ou buscar um RG, olhamos para o alto, vemos a marca da opressão, e lá entramos humilhados pelo símbolo da sujeição a que estamos submetidos.
Os novos e imponentes prédios são mero cala-boca concedido pelo opressor na vã tentativa de nos acalentar com a migalha que nos tiram da boca. E muito mais virá, porque os potentados do Grão Pará sabem muito bem que muito mais terão que fazer para nos convencer ou pelo menos nos fazer aceitar o pelego sobre o qual nos montam. Para eles isto nada custa, pois é apenas gota do sangue que nos sugam desde os tempos das drogas do sertão.
De qualquer forma, a administração pública brasileira é exercida pelos eleitos em sufrágio popular por via de partidos e coligações, o que impõe a associação de pessoas que, embora rezem por cartilhas diferentes, persigam seus diferentes interesses políticos por meio das mesmas agremiações partidárias. Desta forma, não importa se Ana Julia foi derrotada ou se o eleito seja Simão Jatene. Ambos foram nãozistas e seus correligionários pró Carajás e Tapajós são forçados a conviver politicamente com eles para se elegerem prefeitos e vereadores, nas próximas eleições e, a partir daí, governar seus municípios.
Por isso mesmo, antes e depois de eleitos, prefeitos e vereadores necessitam se relacionar, em virtude dos respectivos ofícios, mesmo a contragosto, com os malditos mandarins, senão com o próprio diabo. Isto é “realpolitik”.
Talvez Maquiavel tenha sido o filósofo do realismo político, e César Bórgia seu mais fiel discípulo, mas a aplicação desse modus operandi em sua forma mais moderna foi realizada por Bismark, mais recentemente pela dupla Nixon-Kissinger, isto sem falar em Willy Brandt com sua Ostpolitik. De um modo ou de outro, o verdadeiro estadista pode, sem abandonar seus objetivos ou ideais mais elevados, adotar políticas realistas na associação com gregos e troianos nas relações entre potências ou no trato entre suseranos e seus vassalos.
Não me admiro, portanto, ao ver políticos do SIM se associando com outros do NÃO, nem mesmo por ver Ana Julia assinar a lista do PLIP. Me espantaria se ela não o fizesse ao subir em um palanque em Marabá. Faz parte da falsidade mútua que sempre existirá neste tipo de relação em que parceiros se cumprimentam com as pontas dos dedos. Nem tudo é permitido, mas a latitude é grande e os caminhos amplos desde que o ideal seja mantido e que a luta pelo Tapajós e pelo Carajás jamais esmoreça.

26 de agosto de 2012

Vestais no Mensalão II


O mesmo Lula que criou o PAC, o maior esquema de contratação de empreiteiras de todos os tempos, e fez surgir a milagrosa Construtora Delta que de uma hora para outra atingiu o cume das concorrências federais, e também o ápice das revisões contratuais com majoração de preços na maior farra de apropriação indébita de dinheiro público de todos os tempos. Nunca na história deste país se viu tanta multiplicação de preços originais das concorrências públicas federais, estaduais e municipais, tanta degradação da regência dos dinheiros públicos.
O mesmo Lula que, no fragor do escândalo do mensalão, declarou em Brasília que ele e o Partido dos Trabalhadores tinham que pedir desculpas ao povo brasileiro. Declaração que se revelou cínica e falsa, pois em vez de perseguir e punir culpados tratou de protegê-los usando todos os subterfúgios que pode inventar, inclusive - já agora, não mais presidente da República, mas renitente defensor de seus companheiros, ou comparsas - tentar chantagear um ministro do Supremo Tribunal Federal em vésperas do início do julgamento do mensalão.
Este julgamento pode nos proporcionar a oportunidade de presenciar uma das maiores farsas judiciais já vistas neste país. Membros da Polícia Federal e Ministério Público Federal nomeados e comprometidos com o ex-presidente Lula, aparelhados pelo PT, começam o inquérito e iniciam a acusação neutralizando as testemunhas que melhor produziriam provas irrefutáveis e indestrutíveis, transformando-as em réus, cujas declarações lhes podem agravar as penas, e por isso se calam, se desmentem e acusam falsamente.
Se for assim, será tremenda armação, revelada por acusação displicente, propositalmente falha, que não comunica sujeito ao ato criminoso, que aponta crimes impessoais, réus sem tipificação penal, acusa grupos, não pessoas, de hipotéticas intenções, não de fatos criminosos concretos. Seria incongruente atuação do Ministério Público Federal com a nítida intenção de prejudicar o julgamento e impedir qualquer condenação.
Eis o prato cheio onde se refestelam os maiores e melhores advogados brasileiros. Armados com poderoso domínio da ciência jurídica, dialética impecável, oratória brilhante, não poderiam desejar maior inépcia acusativa para, com toda facilidade, destruir ponto a ponto cada um dos falhos argumentos da promotoria.
No ponto em que se encontra o processo penal 470, já se manifestaram o Ministério Público - que discorreu por pouco menos de cinco horas sobre pecados de quase quarenta réus, menos de oito minutos, em média, para cada malfeitor – e quase quarenta advogados - cada um dos quais falou por uma hora defendendo seus santos e imaculados clientes.
Neste momento, os ministros relator e revisor iniciam o julgamento discutindo ponto por ponto cada um dos alegados crimes, e já se manifestaram pela condenação dos cinco réus já analisados. Os ministros Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski parecem não se terem impressionado pela magnífica oratória dos advogados.
Qual o resultado esperado desse julgamento? Não sei. Muitos dos crimes acarretam penas leves, já prescritas. Muitas das provas são circunstanciais. Todo mundo está convencido, inclusive o próprio, de que o cônjuge é traído pelo consorte, e até se sabe com quem, mas se nunca alguém presenciou o ato sexual, explicitamente cometido, então a prova judicial objetiva não existe. Da mesma forma, o povo todo sabe que houve crime e quem são os criminosos do Mensalão. Os julgadores sabem e estão convencidos disto, mas, tecnicamente, talvez não possam condenar. Então, alguns, muitos ou todos os réus podem não ser condenados. Mas nenhum será inocentado. Porque, no consciente coletivo, até no daqueles que por simpatia ou partidarismo apaixonado desejem salvar seus ídolos, o crime existiu e esta é a verdade inexorável.
Esta é a verdade necessária, quer chamemos o crime de mensalão ou de inocente e puro caixa dois.

16 de agosto de 2012

Vestais no Mensalão I


O processo penal 470 em curso no Supremo Tribunal Federal, mais conhecido como julgamento do Mensalão, apresentado ao vivo pela TV Justiça, é acompanhado atentamente por grande público que assiste bombástica acusação do Procurador Geral da República declarando que Ali Babá e Quarenta Ladrões são culpados de peculato, prevaricação, corrupção ativa e passiva, formação de quadrilha, gestão fraudulenta e  lavagem de dinheiro, enquanto brilhantes advogados afirmam que seus clientes são virtuosos e imaculados cidadãos.

Quando muito, dizem os causídicos, os acusados seriam culpados dessa coizinha insignificante chamada caixa dois, como se caixa dois fosse a mais santa das virtudes republicanas, como se caixa dois não fosse alimentada por dinheiro sujo roubado do povo brasileiro em fantásticas falcatruas, concorrencias viciadas, preços majorados, funcionários corrompidos, políticos corruptos e corruptores e empreiteiras vice-versa, tudo para eleger governos venais que criam programas mirabolantes de obras faraônicas a serem empreitadas pelas mesmas empreiteiras que sustentam o mesmo esquema eterno que mama nas tetas do Estado e escravisa a República.

Ah! Não houve mensalão, que alívio! Houve apenas caixa dois, apenas caixa dois, apenas caixa dois, caixa dois, caixa dois, caixa dois... E repetem a ladainha sem fim, é apenas caixa dois!

Ah! Mas caixa dois não é invenção do PT, nem de Lula, nem de Zé Dirceu. Isto é coisa que vem do tempo do Azeredo, lá das Minas Gerais, coisa do tucanato. Tucanos, pensa Lula, aquilo é que gente fina, de bom trato, elegante e, agora que visto ternos Armani, boa invenção do Duda, sou como eles, estou dentro . Então podemos todos imitar, seguir o exemplo, e até construir em cima, elaborar, engrandecer o projeto original, aperfeiçoar os métodos dessa grande invenção, o sagrado caixa dois do PSDB, agora entronizado e canonizado, o fabuloso caixa dois do PT.

Antes de ser governo, PT e petistas se apresentavam como vestais da República, virgens imaculadas, guardiãs das virtudes cívicas, incapazes de cometer tais crimes. Ao contrário, eram acusadores ferozes de corruptos e corruptores. Acusavam mais do que o acusador mór, o ex-senador Demóstenes Torres. Mas, quando se preparava para assumir o poder e, como tal, corrigir todos os males da nação brasileira, o PT já praticava o sacrosanto caixa dois com dinheiro proveniente sabe-se lá de onde, quem sabe, de empreiteiras de limpeza pública, dessas que se encarregam do lixo das ruas e do lixo dos políticos, dinheiro obtido por gente capaz de matar Celso Daniel porque este concordava com o crime político, o roubo para financiar o PT, mas queria condenar quem dele se aproveitava para enriquecer pessoalmente, como se ambos delitos não fossem crimes e fins justifiquem meios. Ver o que escrevi a respeito em:

Então, ainda na campanha eleitoral que elevou Lula ao poder, as vestais da República, virgens imaculadas, guardiãs das virtudes cívicas se prostiruiam nos prostíbulos do caixa dois, se entregando a quantos quizessem comprar o direito de participar do butim prometido para logo que Lula vestisse a faixa presidencial.

Essas vestais não eram figuras mitológicas, criaturas da ficção. Eram e são os próprios políticos do PT, seus líderes maiores, inclusive o principal deles, o futuro presidente Lula, o mesmo que, quando já no cargo supremo, estando em Paris, declarou com a maior candura que mensalão era apenas inocente e casto caixa dois praticado por todos os partidos políticos, inclusive pelo PT.

O mesmo Lula que criou o PAC, o maior esquema de contratação de empreiteiras de todos os tempos, e fez surgir a milagrosa Construtora Delta que de uma hora para outra atingiu o cume das concorrências federais, e também o ápice das revisões contratuais com majoração de preços, a maior farra de apropriação indébita de dinheiro público de todos os tempos. Nunca na história deste páis se viu tanta multiplicação de preços originais das concorrências públicas federais, estaduais e municipais, tanta degradação da regência dos dinheiros públicos.

(Prossegue na próxima edição)

9 de agosto de 2012

Criatividade ou atrazo


O Congresso Nacional acaba de encaminhar à sanção presidencial projeto de Lei reservando metade das vagas nas universidades federais a candidatos que cursaram exclusivamente escolas públicas. Mais uma vez a demagogia, em vez de resolver os problemas,  engana pretensos beneficiários e prejudica a nação toda.
Diante dos critérios atuais de seleção vestibular, o correto seria a prestação de ensino fundamental e médio de alta qualidade a todo o povo brasileiro. A opção por escola particular não seria por qualidade, mas por religião ou filosofia de ensino. Assim, todos os candidatos estariam em idênticas condições nas barreiras de entrada ao ensino superior de qualidade.
Ocorre que o real interesse nacional, mais do que equalizar por baixo a capacitação profissional, está em acelerar o desenvolvimento, dar saltos de produtividade, aumentar a eficiência dos setores produtivos e de toda a sociedade. Para isto é fundamental identificar, incentivar, acalentar, fortalecer o talento inovador, ir buscá-lo onde se encontre para que cumpra importantíssima função.
E isto é medida extremamente simples, trocar os critérios do ENEN e dos vestibulares, substituindo a aferição de grau de conhecimento pela de talento inovador. Talentos inventivos surgem em toda parte, da mesma forma como futuros astros de futebol e outros esportes se revelam sem distinção de classe, renda ou etnia.
Os fatores mais fundamentais que impulsionam pessoas, empresas e nações ao desenvolvimento, à riqueza e ao bem estar, são: inovação, empreendedorismo e informação.
Costumo citar como exemplo da importância da informação o triste caso de jovem mãe em silencioso pranto sobre lenta agonia do filho em seu colo definhando por diarreia e desidratação. Todo aquele sofrimento deriva de falta de informação sobre higiene e de que um pouco d’água, uma pitada de sal e três de açúcar podem salvar o bebê. Informação simples, mas vital.
Pessoas adquirem conhecimento, se educam para apreciar melhor as belezas das artes, da cultura, da natureza e da vida, mas principalmente para encontrar informações de que necessitam para progredir e, até mesmo, para salvar vidas.
Assistimos, hoje em dia, grande ênfase às técnicas do empreendedorismo, estímulo proporcionado por entidades de governo e, principalmente, pelo SEBRAE aos jovens empreendedores, em todas as áreas, nas artes, nos esportes, na agricultura, comércio, indústria, muitas vezes em conjunto com associativismo e cooperativismo. Aqui não se trata de mudança de enfoque ideológico, mas de estratégia.
E se atribui grande valor à ação individual, à iniciativa em resolver problemas, superar dificuldades, atingir objetivos. Porque se reconhece que o somatório dos benefícios individuais resulta no benefício comum compartilhado por toda a sociedade. Dai tanta ênfase ao empreendedorismo.
A relevante posição do Brasil como segundo maior exportador mundial de alimentos se deve à inovação, à criatividade, fruto de pesquisas científicas e tecnológicas da EMBRAPA, mas também do talento inventivo dos agricultores e criadores brasileiros. As indústrias de nosso país mais bem sucedidas no enfrentamento da concorrência internacional, do alto custo de nossa infraestrutura, dos elevados impostos e da moeda sobrevalorizada, são exatamente as empresas inovadoras. E as corporações mundiais mais criativas são, também, as mais competitivas; algumas criam necessidades nunca imaginadas.
É inegável o valor da cultura enciclopédica. O conhecimento é fator de realização íntima, mas, por si só, não conduz ao desenvolvimento, embora seja importante porta para a informação, o real instrumento do empreendedor.
Quando cada qual está equipado com conhecimento, informação e capacidade empreendedora, e todos possuem os mesmos instrumentos, ninguém sobressai, ninguém avança, todos concorrem com os demais nos mesmos termos.
Nesta planície, somente avança, apenas se eleva, quem adquire vantagem competitiva pela capacidade inventiva, pelo talento criativo, inovador, diferenciador do produto ou serviço. Ganha quem oferece novas opções, novas oportunidades, novos métodos, novos caminhos para o desenvolvimento, para a prosperidade e o bem estar.
Não precisamos de demagogia. O que o Brasil precisa é de empreendedorismo e inovação.

3 de agosto de 2012

A Casa de Estelinita


Em minha recente estada em Santarém, de 4 a 24 de julho, tive oportunidade de participar de dois fatos de grande importância para a difusão do conhecimento e da cultura no Tapajós.
A primeira foi o encontro informal do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós – IHGTap, denominado Primeira Roda de Conversa sobre História e Geografia, com o tema "Tapajós: primeiras notícias", realizado na noite de sexta-feira, 20/07/12. As Rodas de Conversa Sobre História e Geografia são eventos coordenados pelo IHGTap e devem ocorrer mensalmente para popularizar estudos sobre História e Geografia no Estado do Tapajós e em toda Amazônia, levando, a locais públicos, pesquisadores dessas áreas do Conhecimento a interagir com o público interessado nestes temas.
Três representantes de tradicionais famílias de
Santarém, Gil Serique, no clique, e Maurício Miléo e
André Imbiriba, na foto, diante de dois prédios
históricos, as casas de
Alarico Barata e Estelinita Guimarães.
O segundo evento foi a conversa que tive com Carlos Eduardo Aires de Mendonça, dinâmico empresário de Engenharia e Construção, cuja paixão pelo patrimônio cultural do Tapajós o levou a doar à população de Santarém a faixa de terreno onde construiu, às suas custas, a escadaria que dá acesso à Praça do Mirante, além de adquirir e iniciar as obras de restauração de um marco de nossa cultura, a Casa de Estelinita Rodrigues dos Santos Guimarães.
A Escadaria do Mirante é ladeada pela Casa de Alarico Barata, importante intelectual, irmão de Frederico Barata e pai de Rui Barata. Este ali nasceu em 25 de junho de 1920. O Advogado Alarico Barata nasceu em Óbidos, em 1º de fevereiro de 1891 e atuou nessa cidade, em Santarém e Belém nos campos político, jurídico e administrativo, tendo sido um dos preceptores de meu pai, Mario F. Imbiriba, cujo preparo intelectual lhe permitiu, no Rio de Janeiro, ingressar na Escola Politécnica, na Faculdade de Direito e na Escola Militar, decidindo-se pela carreira militar.
Minha mulher, Nancy, avó de André, viu esta foto
e ficou profundamente revoltada com o fotógrafo,
Gil Serique, a quem acusa de ter induzido
seu inocente netinho ao perigo.
Do outro lado da Escadaria fica a Casa de Estelinita, belo monumento de arquitetura eclética construído no último quarto do século XIX. Estelinita Rodrigues dos Santos, tia de Paulo Rodrigues dos Santos, casou-se com Antero Antonio Pinto Guimarães, filho do Barão de Santarém.
Em 16 de março de 1886, nessa casa, realizaram-se as bodas da filha de Estelinita, Thereza Pinto Guimarães, com o filho do Barão do Tapajós, Dr. Manoel Caitano Corrêa. Após a morte de Caitano, Thereza desposou o espanhol Ângelo Rodrigues, com quem teve um filho, meio irmão de Olga.
Ainda nesta casa, em 24 de março de 1897, nasceu a filha de Thereza, Olga Tapajônia Guimarães Correa, que ali, em 3 de fevereiro de 1951, contraiu casamento com meu tio, Umberto Fernandes Imbiriba, cujo óbito também ali ocorreu. Eu mesmo residi nessa casa por cerca de quinze dias, quando, por recomendação de meu pai, ali cuidei de meu tio que sofrera princípio de enfarto.
Com o falecimento de Olga, sem descendentes, a Casa de Estelinita foi herdada por parente colateral, Terezinha Correa, que a deixou em testamento a meu sobrinho Ruy Correa.
A Casa de Estelinita Guimarães, casada
com o filho do Barão de Santarém, foi
sede de grandes acontecimentos
sociais, inclusive o casamento da
filha da proprietária com o filho
do Barão do Tapajós.
Finalmente o imóvel foi vendido a outro sobrinho, Carlos Eduardo, que nela pretende implantar um centro cultural, cujo nome provisório seria Instituto de Documentação Digital do Tapajós – IDDTap, com a finalidade de recolher documentos de alto valor científico e histórico.
Na Primeira Roda de Conversa sobre História e Geografia, o Presidente do IHGTap, Padre Sidney Canto, declarou que para conhecer a História de Santarém é necessário ler Tupaiulândia, principal fonte de conhecimento sobre a História de Santarém, de autoria de Paulo Rodrigues dos Santos, porém, para entender o Autor, é imprescindível ler a bibliografia de Tupaiulândia. No entanto, essas fontes ou desapareceram, ou os documentos que restam são muito raros e de difícil acesso por estarem espalhados em vários centros do conhecimento.
Pois é exatamente esta lacuna que o IDDTap pretende preencher. O principal esforço do Instituto será pesquisar bibliotecas, cartórios, museus, coleções particulares, interagindo com o IHGTap, o ICBS do pesquisador Cristovam Sena, Museu Goeldi, Universidades e outros centros e fontes de conhecimento e informação, digitalizar os documentos e colocá-los na Internet à disposição de estudiosos de todo o Mundo.


28 de julho de 2012

Belém e Tapajós, amor e ódio – III


Tem mais é que separar, mesmo, para que todos sejam felizes para sempre. Estas sábias palavras de meu sobrinho poderiam ter sido concretizadas no plebiscito de outubros de 2011, se as elites do Grão Pará tivessem grandeza de espírito para perceber e praticar o que é justo, magnanimidade para conceder o que nada lhe custa e clarividência para decidir o que seja o melhor para todos.
E o melhor seria cada um pro seu lado, Pará, Carajás e Tapajós, cada qual cuidando de sua vida, realizando sonhos de autonomia, felizes para sempre. Separados mas se amando, porque o amor que existe entre pais e filhos não se extingue quando estes se tornam maiores e independentes. Pelo contrário, o amor aumenta com a chegada dos netos e há entendimento pleno, afeto sincero e puro.
O povo do Oeste do Pará, do Tapajós, sempre amou o povo de Belém, sempre amou as pessoas que vivem em Belém, e sempre amou a cidade de Belém, sua eterna capital, onde muitos estudaram, se formaram, adquiriram profissão, conquistaram amigos, relações de negócios e de família. Belém, a cidade de todo o Pará.
Mas a recíproca nem sempre foi verdadeira. Nativos do Baixo Amazonas, nem sempre, porém muitas vezes, foram e são tratados pelas elites belenenses de cima para baixo, com ares de superioridade, como senhores do Grão Pará condescendo em se relacionar com inferiores merecedores de pouca consideração e respeito.
Esse tipo de relação se revelou por inteiro no plebiscito. O povo do Tapajós veio - cheio de amor e esperança, confiando plenamente em que o povo de Belém se comportasse como irmãos, filhos dos mesmos pais - pedir apoio e benção para se emancipar, seguir seu destino independente, como acontece em qualquer família comum.
A recíproca, no entanto, não foi verdadeira. Agindo da mesma forma perversa com que colonizadores portugueses e espanhóis percorriam sertões aprisionando e escravizando indígenas, as igualmente perversas elites do Grão Pará mantiveram os grilhões com que subjugam os povos do Carajás e Tapajós.
Usando todos os meios de que dispõem - poder político e econômico, poder de persuasão dos grandes jornais, da TV, do Rádio e de artistas comprados a peso de ouro - as elites do Grão Pará convenceram o inocente povo de Belém de que o bem era o mal, divisão era perversão, Carajaenses eram forasteiros indignos roubando riquezas alheias e Tapajoaras bugres ignorantes incapazes de gerir seus próprios destinos.
Enquanto os propagandistas do Tapajós e Carajás apregoavam as virtudes da multiplicação dos Estados, com proposições lógicas e sólidas, as elites do Grão Pará, promotores do NÃO, proclamavam inverdades e apelavam para sentimentos menos nobres: egoísmo, ganância e preconceito, com sua propaganda subjetiva e sentimentalista, ridicularizando e agredindo, até fisicamente, os pacíficos defensores do SIM.
Essa infeliz propaganda do NÃO feriu mortalmente o amor do povo do Tapajós por Belém, o que era afeto se transformou em ressentimento, rancor e até ódio, num desamor se dirige às elites do Grão Pará, mas se reflete, irracionalmente, no povo de Belém.
E, quando esse ressentimento se manifesta em queixas amargas do povo do Tapajós, o povo de Belém se ressente e fica também amargurado. As sementes do ódio estão lançadas. E com tanta mais força quanto mais intensa foi demonstrada a vontade das partes. 3/4 do povo de Belém votaram NÃO. 3/4 dos povos do Tapajós e Carajás votaram SIM. E o povo do Xingu ficou dividido meio a meio.
A divisão está feita. Hoje, sabemos que existem cinco estados perfeitamente delimitados, resultante do plebiscito, Pará, Marajó, Xingu, Carajás e Tapajós. A divisão não se realizou por marco legal. A divisão existe por vontade e sentimento do povo.
Antes, a separação era sonho de patriotas visionários do Tapajós que amavam Belém. Hoje a separação é fato provocado por resentimento e mágoa contra Belém.
O povo do Tapajós amava o Pará, amava Belém. Mas onde havia amor, existe agora rancor e ódio. Um dia, quando a autonomia chegar e a bandeira do Tapajós tremular vibrante na brisa da Liberdade, o afeto antigo ressuscitará, e o amor reinará sobre o triplo Pará.