3 de agosto de 2012

A Casa de Estelinita


Em minha recente estada em Santarém, de 4 a 24 de julho, tive oportunidade de participar de dois fatos de grande importância para a difusão do conhecimento e da cultura no Tapajós.
A primeira foi o encontro informal do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós – IHGTap, denominado Primeira Roda de Conversa sobre História e Geografia, com o tema "Tapajós: primeiras notícias", realizado na noite de sexta-feira, 20/07/12. As Rodas de Conversa Sobre História e Geografia são eventos coordenados pelo IHGTap e devem ocorrer mensalmente para popularizar estudos sobre História e Geografia no Estado do Tapajós e em toda Amazônia, levando, a locais públicos, pesquisadores dessas áreas do Conhecimento a interagir com o público interessado nestes temas.
Três representantes de tradicionais famílias de
Santarém, Gil Serique, no clique, e Maurício Miléo e
André Imbiriba, na foto, diante de dois prédios
históricos, as casas de
Alarico Barata e Estelinita Guimarães.
O segundo evento foi a conversa que tive com Carlos Eduardo Aires de Mendonça, dinâmico empresário de Engenharia e Construção, cuja paixão pelo patrimônio cultural do Tapajós o levou a doar à população de Santarém a faixa de terreno onde construiu, às suas custas, a escadaria que dá acesso à Praça do Mirante, além de adquirir e iniciar as obras de restauração de um marco de nossa cultura, a Casa de Estelinita Rodrigues dos Santos Guimarães.
A Escadaria do Mirante é ladeada pela Casa de Alarico Barata, importante intelectual, irmão de Frederico Barata e pai de Rui Barata. Este ali nasceu em 25 de junho de 1920. O Advogado Alarico Barata nasceu em Óbidos, em 1º de fevereiro de 1891 e atuou nessa cidade, em Santarém e Belém nos campos político, jurídico e administrativo, tendo sido um dos preceptores de meu pai, Mario F. Imbiriba, cujo preparo intelectual lhe permitiu, no Rio de Janeiro, ingressar na Escola Politécnica, na Faculdade de Direito e na Escola Militar, decidindo-se pela carreira militar.
Minha mulher, Nancy, avó de André, viu esta foto
e ficou profundamente revoltada com o fotógrafo,
Gil Serique, a quem acusa de ter induzido
seu inocente netinho ao perigo.
Do outro lado da Escadaria fica a Casa de Estelinita, belo monumento de arquitetura eclética construído no último quarto do século XIX. Estelinita Rodrigues dos Santos, tia de Paulo Rodrigues dos Santos, casou-se com Antero Antonio Pinto Guimarães, filho do Barão de Santarém.
Em 16 de março de 1886, nessa casa, realizaram-se as bodas da filha de Estelinita, Thereza Pinto Guimarães, com o filho do Barão do Tapajós, Dr. Manoel Caitano Corrêa. Após a morte de Caitano, Thereza desposou o espanhol Ângelo Rodrigues, com quem teve um filho, meio irmão de Olga.
Ainda nesta casa, em 24 de março de 1897, nasceu a filha de Thereza, Olga Tapajônia Guimarães Correa, que ali, em 3 de fevereiro de 1951, contraiu casamento com meu tio, Umberto Fernandes Imbiriba, cujo óbito também ali ocorreu. Eu mesmo residi nessa casa por cerca de quinze dias, quando, por recomendação de meu pai, ali cuidei de meu tio que sofrera princípio de enfarto.
Com o falecimento de Olga, sem descendentes, a Casa de Estelinita foi herdada por parente colateral, Terezinha Correa, que a deixou em testamento a meu sobrinho Ruy Correa.
A Casa de Estelinita Guimarães, casada
com o filho do Barão de Santarém, foi
sede de grandes acontecimentos
sociais, inclusive o casamento da
filha da proprietária com o filho
do Barão do Tapajós.
Finalmente o imóvel foi vendido a outro sobrinho, Carlos Eduardo, que nela pretende implantar um centro cultural, cujo nome provisório seria Instituto de Documentação Digital do Tapajós – IDDTap, com a finalidade de recolher documentos de alto valor científico e histórico.
Na Primeira Roda de Conversa sobre História e Geografia, o Presidente do IHGTap, Padre Sidney Canto, declarou que para conhecer a História de Santarém é necessário ler Tupaiulândia, principal fonte de conhecimento sobre a História de Santarém, de autoria de Paulo Rodrigues dos Santos, porém, para entender o Autor, é imprescindível ler a bibliografia de Tupaiulândia. No entanto, essas fontes ou desapareceram, ou os documentos que restam são muito raros e de difícil acesso por estarem espalhados em vários centros do conhecimento.
Pois é exatamente esta lacuna que o IDDTap pretende preencher. O principal esforço do Instituto será pesquisar bibliotecas, cartórios, museus, coleções particulares, interagindo com o IHGTap, o ICBS do pesquisador Cristovam Sena, Museu Goeldi, Universidades e outros centros e fontes de conhecimento e informação, digitalizar os documentos e colocá-los na Internet à disposição de estudiosos de todo o Mundo.


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