9 de agosto de 2012

Criatividade ou atrazo


O Congresso Nacional acaba de encaminhar à sanção presidencial projeto de Lei reservando metade das vagas nas universidades federais a candidatos que cursaram exclusivamente escolas públicas. Mais uma vez a demagogia, em vez de resolver os problemas,  engana pretensos beneficiários e prejudica a nação toda.
Diante dos critérios atuais de seleção vestibular, o correto seria a prestação de ensino fundamental e médio de alta qualidade a todo o povo brasileiro. A opção por escola particular não seria por qualidade, mas por religião ou filosofia de ensino. Assim, todos os candidatos estariam em idênticas condições nas barreiras de entrada ao ensino superior de qualidade.
Ocorre que o real interesse nacional, mais do que equalizar por baixo a capacitação profissional, está em acelerar o desenvolvimento, dar saltos de produtividade, aumentar a eficiência dos setores produtivos e de toda a sociedade. Para isto é fundamental identificar, incentivar, acalentar, fortalecer o talento inovador, ir buscá-lo onde se encontre para que cumpra importantíssima função.
E isto é medida extremamente simples, trocar os critérios do ENEN e dos vestibulares, substituindo a aferição de grau de conhecimento pela de talento inovador. Talentos inventivos surgem em toda parte, da mesma forma como futuros astros de futebol e outros esportes se revelam sem distinção de classe, renda ou etnia.
Os fatores mais fundamentais que impulsionam pessoas, empresas e nações ao desenvolvimento, à riqueza e ao bem estar, são: inovação, empreendedorismo e informação.
Costumo citar como exemplo da importância da informação o triste caso de jovem mãe em silencioso pranto sobre lenta agonia do filho em seu colo definhando por diarreia e desidratação. Todo aquele sofrimento deriva de falta de informação sobre higiene e de que um pouco d’água, uma pitada de sal e três de açúcar podem salvar o bebê. Informação simples, mas vital.
Pessoas adquirem conhecimento, se educam para apreciar melhor as belezas das artes, da cultura, da natureza e da vida, mas principalmente para encontrar informações de que necessitam para progredir e, até mesmo, para salvar vidas.
Assistimos, hoje em dia, grande ênfase às técnicas do empreendedorismo, estímulo proporcionado por entidades de governo e, principalmente, pelo SEBRAE aos jovens empreendedores, em todas as áreas, nas artes, nos esportes, na agricultura, comércio, indústria, muitas vezes em conjunto com associativismo e cooperativismo. Aqui não se trata de mudança de enfoque ideológico, mas de estratégia.
E se atribui grande valor à ação individual, à iniciativa em resolver problemas, superar dificuldades, atingir objetivos. Porque se reconhece que o somatório dos benefícios individuais resulta no benefício comum compartilhado por toda a sociedade. Dai tanta ênfase ao empreendedorismo.
A relevante posição do Brasil como segundo maior exportador mundial de alimentos se deve à inovação, à criatividade, fruto de pesquisas científicas e tecnológicas da EMBRAPA, mas também do talento inventivo dos agricultores e criadores brasileiros. As indústrias de nosso país mais bem sucedidas no enfrentamento da concorrência internacional, do alto custo de nossa infraestrutura, dos elevados impostos e da moeda sobrevalorizada, são exatamente as empresas inovadoras. E as corporações mundiais mais criativas são, também, as mais competitivas; algumas criam necessidades nunca imaginadas.
É inegável o valor da cultura enciclopédica. O conhecimento é fator de realização íntima, mas, por si só, não conduz ao desenvolvimento, embora seja importante porta para a informação, o real instrumento do empreendedor.
Quando cada qual está equipado com conhecimento, informação e capacidade empreendedora, e todos possuem os mesmos instrumentos, ninguém sobressai, ninguém avança, todos concorrem com os demais nos mesmos termos.
Nesta planície, somente avança, apenas se eleva, quem adquire vantagem competitiva pela capacidade inventiva, pelo talento criativo, inovador, diferenciador do produto ou serviço. Ganha quem oferece novas opções, novas oportunidades, novos métodos, novos caminhos para o desenvolvimento, para a prosperidade e o bem estar.
Não precisamos de demagogia. O que o Brasil precisa é de empreendedorismo e inovação.

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