5 de dezembro de 2020

Carta de um apaixonado

Meus queridos pais

A mudança que se operou na minha maneira de encarar as coisas, de analisar os acontecimentos, foi tão extraordinária, que às vezes fico a imaginar se o que se passou comigo, se passa com todos os que se casam.

Tudo se apresenta diante de mim com a face real, que só podemos ver quando estamos amadurecendo o caráter. Penso que é a minha verdadeira personalidade que se apresenta como de chofre.

A sua nova filha Nancy é uma moça encantadora, que supera as minhas expectativas. Sou plenamente feliz.

O que julguei um dia ser uma temeridade – casar – não passa de um passo que dei no momento exato com a pessoa certa.

Milhões de beijos e abraços do filho

Sebastiao Gil

Rio, 1.9.56


3 de dezembro de 2020

Lenda e Origens da Família Imbiriba


Diz a lenda familiar que uma donzela da família Fernandes, católica, do Recife se casou com um militar holandês, do exército de Maurício de Nassau, luterano, o qual retornou para seu país de origem após a derrota para os pernambucanos em 26 de janeiro de 1654. Constrangida pela censura da sociedade local após a retirada dos holandeses, a família da esposa abandonada migrou para Quixeramobim, na região central do Ceará.

Devido à ascendência holandesa, os Fernandes de Quixeramobim eram altos, louros, de olhos muito azuis e tez vermelha como as sementes da imbiriba, árvore de porte médio nativa do Nordeste, de cuja semelhança deriva a alcunha agregada ao nome de família: Fernandes Imbiriba.

Afligidos pela grande seca que atingiu o Nordeste em 1877-79, os Fernandes Imbiriba migraram do Ceará (não sei se restou algum Imbiriba em Quixeramobim, mas  há referências a uma tia Teté Fernandes, respeitada matrona da família, que lá permaneceu), e se estabeleceram no Baixo Amazonas, principalmente em Santarém e Oriximiná os primeiros dos quais foram:

·         Machado Imbiriba, do qual não sei o nome de batismo, mas seus descendentes diretos foram:

o   Tereza Rosa de Jesus Machado Imbiriba + João Baptista Imbiriba Fernandes,

o   Antonio Machado Imbiriba,

o   Ana Machado Imbiriba + João Guerreiro,

o   Francisca Machado Imbiriba (Chiquinha) + José Gabriel Guerreiro,

o   Joana Machado Imbiriba (1ª esposa de João Baptista Imbiriba Fernandes);

·         Manoel Coriolano Monteiro Imbiriba, casado com Maria Tapajós Nogueira Fernandes, e

·         Gonçalo Ramalho Fernandes, casado com Argemira Geracina Imbiriba.

Destes três ancestrais (os dois últimos eram irmãos, mas não sei quanto ao primeiro) descendem todos os Imbiribas consanguíneos (há muitos afilhados que adotaram o Imbiriba dos padrinhos). Com o tempo, a família perdeu o nome Fernandes e passou a ser apenas Imbiriba.

 Os Imbiribas do Baixo Amazonas migraram para todas as partes e hoje se espalham pelo Mundo, embora sem perder suas raízes amazônicas, contando (em 2020) com cerca de 500 membros em 9 gerações na árvore genealógica.

O Autor pede contribuições de informações e voluntários co-mantenedores da árvore genealógica da Família Imbiriba.

Sebastiao Imbiriba - simbiriba@gmail.com - +55 21 974 355 370


7 de setembro de 2020

O virtuoso incorruptível

Quando se trata de querer mudar as pessoas para produzir o bem do povo, talvez o melhor seja cada qual tentar melhorar a si próprio do que os outros.

Isto nos faz lembrar um virtuoso advogado, inteligente, culto enciclopedista, excelente orador e idealista sincero que desejava ardentemente “mudar os costumes, o espírito e os hábitos”* de seu povo.

Para tal, começou por matar os inimigos do povo, depois, seus inimigos que, como tal, eram também inimigos do povo, então os próprios amigos, até que, por fim, depois de matar mais de quarenta mil cidadãos, foi ele mesmo para a guilhotina.

Seu nome: Maximilien François Marie Isidore de Robespierre.

Mas poderia ser: Adolf Hitler, Augusto Pinochet, Che Guevara, Idi Amin Dada, Joseph Stalin, Kim Il-Sung, Leopoldo II, Mao Tsé-Tung, Pol Pot, Vladimir Lenin...

François Auguste Marie Mignet


3 de agosto de 2020

A VONTADE DO POVO

Segundo nossa Constituição, a vontade do povo se impõe pela maioria de votos em eleições, plebiscitos e referendos. A vontade dos que não votam não pode ser aferida e, portanto, não pode ser considerada.

O presidente é eleito pela maioria do universo nacional de votantes, enquanto senadores o são por maiorias estaduais e os deputados por maiorias setoriais pulverizadas. A eleição de um presidente é, também, a aprovação, pela maioria nacional dos eleitores, de seu programa de governo. Esta é a real e verdadeira vontade do povo.

No entanto, nossa Constituição, concebida para o regime parlamentarista, rejeitado pelo povo, foi remendada às pressas para um presidencialismo de coalizão, no qual o programa de governo do presidente eleito fica submetido à vontade do parlamento.

Tais impasses impediam a França de manter governo parlamentarista estável e efetivo até Charles De Gaulle ser chamado pela nação francesa a convocar nova constituinte. Pela atual constituição francesa, presidencialista, tal incongruência é dirimida pela convocação de plebiscito pelo qual o povo decide se prefere a proposta do presidente ou a do parlamento.

    

No Brasil a convocação de plebiscitos e referendos depende de vontade exclusiva do Congresso tornando o presidente escravo do parlamento, o que dá origem a todo tipo de bandidagem política, inclusive corrupção deslavada.

A solução seria conceder ao presidente a prerrogativa de convocar plebiscitos e referendos, inclusive quando o impasse seja com o judiciário, mas dificilmente o Congresso aprovaria tal emenda constitucional.

INFELIZMENTE.


24 de julho de 2020

A metamorfose de Bolsonaro

Bolsonaro foi por muito tempo uma espécie de líder sindical que a Polícia Militar não pode ter e que, para se eleger e reeleger várias vezes, faz declarações aberrantes cujas reações repercutem na mídia por longo tempo, tanto espontaneamente, quanto reagindo com pavio curto a provocações que constantemente recebe exatamente por isto. Ele sabe e aproveita o quanto essa tática representa em votos nas urnas e é assim que ele ganha eleições.

Lula, após três eleições agressivas ao extremo representando o líder sindical, percebeu que a sociedade estava farta de agressividades. Então, vestiu ternos Armani e se transformou no estadista Lulinha paz e amor, e venceu. Mas o humor do povo mudou e, Bolsonaro, percebendo o quanto a maioria conservadora do eleitorado estava aborrecida com Mensalão e Petrolão de Lula, e recessão econômica e incompetência política de Dilma, personificou essa raiva que o elegeu.


Bolsonaro se elegeu, assumiu e sofreu muitos revezes do sistema corrupto que herdou, muitas vezes por continuar com pavio curto e não perceber que o período eleitoral havia terminado e, agora, a tática deveria se adequar ao novo campo em que teria que atuar

Bolsonaro fará pronunciamento na TV contra isolamento - ISTOÉ ...

Ele achava que ganhar eleição lhe daria poder. Custou a aprender duas coisas: primeiro, fala mansa é mais eficaz quando se quer conquistar e aliar poder ao cargo que ocupa; segundo, que poder, em seu caso, teria que ser conquistado, tanto com fidelização dos se elegeram surfando na sua onda, quanto com a cooptação sistemática do melífluo Centrão, para garantir maioria em um Congresso criado para ser parlamentarista em regime presidencialista. Parece que só agora leu O Príncipe de Maquiavel. Mas, a duras penas e pouco a pouco, está aprendendo.

A par de seus defeitos, Bolsonaro possui uma grande virtude. Ele é humilde. Reconhece e tenta corrigir seus erros. Assim como reconhece suas insuficiências em vários campos, principalmente na economia. Por isso nomeou ministros como Paulo Guedes, Tarcísio, Teresa Cristina e outros cujos nomes não me ocorrem agora, mas quase todos muito competentes em suas áreas.

Por sorte do povo brasileiro, infelicitado por séculos de corrupção, a mesma raiva que elegeu Bolsonaro renovou o Congresso com candidatos conservadores que, apesar de não se alinharem em tudo com o novo presidente e lhe infligir algumas derrotas, aceita as ideias de Paulo Guedes como alternativa desejável ao que se praticou na área econômica no Brasil até agora.

Em consequência, projetos como reforma da Previdência, marco regulatório do saneamento, reforma tributária e outros, são ou serão debatidos e aprovados, reestruturando a administração pública e a economia brasileiras, dando-lhes maior eficiência, dinamismo e competitividade. 

Não fosse a pandemia do coronavirus, o Brasil já estaria saindo da recessão e voltado a criar riqueza a taxas que, dentro em pouco, se aproximariam de dez por cento ao ano. E riquezas que poderiam alimentar programas como o Renda Brasil, de grande alcance social e única solução para o desemprego sistêmico gerado pela robotização e a inteligência artificial.

Tudo isto porque Bolsonaro, um nacionalista recém convertido ao neoliberalismo, apesar de seus defeitos e deficiências, é um patriota sincero, bem intencionado, humilde e fiel ao seu eleitorado conservador, de maioria evangélica e católica tradicionalista. 

Bolsonaro é presidente democraticamente eleito e empossado, precisa, deve e merece a chance de terminar seu mandato com o mínimo de tranquilidade, cumprir suas promessas eleitorais e executar seu plano de governo.

Basta não cometer os mesmos erros políticos de Dilma.


11 de julho de 2020

Manifesto Pró Criação de BOSQUE Estrada Everaldo Martins

A população de Alter do Chão solidariamente apoiada pela de Santarém conclama as autoridades executivas, legislativas, judiciais e do ministério público a tomarem providências para constituição de uma área de defesa ambiental e paisagística ao longo da Estrada Everaldo Martins que une as duas localidades, com base nas seguintes considerações e princípios fundamentais:

Atrativo turístico é patrimônio de valor cultural e econômico de extrema importância social para qualquer comunidade que as possua e deve ser protegido por todas as formas legais;

Alter do Chão é atrativo turístico de renome universal e uma de suas belezas é a própria estrada que lhe dá acesso;

A ocupação desordenada das margens dessa estrada ataca o meio ambiente, degrada a paisagem, dificulta o trânsito, desagrada os usuários e afugenta turistas com a consequente redução econômica do turismo, afetando o emprego e a renda de ambas as localidades;

É, portanto, necessária a criação de uma faixa de proteção ecológica e paisagística em toda extensão dessa estrada, com dimensão acima da faixa de domínio legal já determinada, de ambos os lados da rodovia, o que proporcionaria a criação de um parque longitudinal, proporcionando a preservação da fauna e flora nativas.

Os signatários requerem do Governador do Estado, da Assembleia Legislativa, do Ministério Público Estadual, do Ministério Público Federal, do Prefeito Municipal e da Câmara Municipal, cada qual em sua esfera precípua de atuação as seguintes e imediatas providências:

Fiscalização permanente da faixa de domínio legal da estrada;

Criação de bosque contínuo em toda extensão com implantação de projeto paisagístico e florestal que permita futuras construções de trilhas e calçadas para pedestres nas duas bandas desses bosques, afastadas da estrada e próximas às edificações;

Criação de normas de implantação, manutenção e uso dos bosques e suas facilidades;

Alter do Chão, 06 de junho de 2019

Assinaturas

Ney Imbiriba

Antônio Imbiriba

Assine você também, click aqui https://secure.avaaz.org/community_p…


26 de junho de 2020

Arte Tapajó

Exposição de Arte Brasileira do Tapajós

Sebastião Imbiriba

Artigo publicados em O Estado do Tapajós de 10 a 24/11/2005 após viagem de três meses pela Europa onde o Autor estabelecera os contatos aqui mencionados.

O Projeto

A Exposição de Arte Brasileira do Tapajós é um projeto de longo alcance objetivando o desenvolvimento de Santarém e todo o Oeste do Pará através de um movimento estético identificador de nossa região, de nossa cultura, de nosso povo, tendo como consequência a transformação desta região em destino turístico-cultural capaz de absorver grandes contingentes de mão de obra e criar importantes negócios promotores do desenvolvimento econômico e social.

A Exposição de Arte Brasileira do Tapajós é uma coleção de obras de arte, tanto trabalhos atuais baseados em peças arqueológicas quanto as próprias peças originais, a ser apresentada ao público europeu a partir de novembro de 2006 em Copenhague, Dinamarca e, em 2007 ao público brasileiro. A nova estética a ser apresentada consiste na aplicação de grafismos da cerâmica Tapajó pré-colombiana em obras de artes atuais como forma de as identificar como “Arte Santarém” ou “Arte Tapajó”. A exposição será composta de:

1 - Vasos arqueológicos da coleção do Museu João Fona de Santarém, do Museu Emílio Goeldi e da Universidade de São Paulo, se possível, representativos da cultura Tapajó;

2 - Réplicas atuais de cerâmica original;

3 - Peças de arte atuais, figurativas representando velhas lendas amazônicas produzidas em diversos meios como colagem de materiais da floresta em óleo sobre tela, joalheria, talha em madeira e outras formas de expressão artística, bem como, estilizações e alegorias dos motivos da cerâmica Tapajó.

Os objetivos do projeto são:

1 - Promover a criação e divulgar uma estética identificadora da arte produzida na região de influência dos antigos tapajó, os rios Tapajós, Trombetas e Baixo Amazonas, e seus afluentes;

2 - Aperfeiçoar a cultura artística, a estética e a técnica dos artistas e artesãos dessa região;

3 - Melhorar a renda dos artistas e artesãos envolvidos no projeto através da divulgação e apoio às vendas dos objetos de arte produzidos;

4 - Elevar os indicadores sociais e econômicos das famílias dos artistas e, consequentemente de toda a sociedade.

O escopo do projeto abrange:

1 - Arregimentação, motivação e treinamento dos artistas (início de 2006);

2 - Concurso de Seleção das obras a serem incluídas na exposição (junho de 2006);

3 - Exposição (novembro 2006) na Dinamarca, escolhida pela grande simpatia que este país tem pelo Brasil e pelos contatos estabelecidos pelo idealizador do projeto com Sr. Finn Andersen, Gerente Geral do Instituto Dinamarquês de Cultura e Sra. Libusé Muller, proprietária da Galleri SHAMBALA de Copenhague;

4 - Exposição itinerante por universidades e centros culturais brasileiros (no correr de 2007);

5 - Palestras concomitantes com as exposições;

6 - Relações públicas e divulgação através de entrevistas coletivas, notas à imprensa, publicidade na mídia eletrônica e impressa;

7 - Curatela e seguro para os objetos arqueológicos cedidos por museus.

 

Justificativa cultural

A justificativa histórica, arqueológica e artística tem origens em vários fatos e circunstâncias desde os primórdios de nossa história e da pré-história. Em carta de 1637, durante sua expedição pelo rio Amazonas, num exercício de exagero imaginativo, o explorador português Bento da Costa afirmava que “se do ar deixassem cair uma agulha, há de dar em cabeça de índio e não no solo”. Tentava ele indicar a enormidade da população indígena que àquela época povoava as margens do grande rio de que fora o primeiro explorador lusitano a navegar até seus confins. Estima-se hoje que a população daquele tempo possa ter atingido mais de sete milhões de indivíduos, aproximadamente a atual população conjunta dos Estados do Amazonas e Pará.

Exageros à parte, pesquisas arqueológicas realizadas a partir da década de 1980 indicam ter havido dois povos amazônicos pré-colombianos mais avançados, tecnológica e artisticamente, do que seus contemporâneos e mesmo que seus descendentes da época do descobrimento. Estes povos foram os Marajoara e os Tapajó. Há vestígios comprovados, de ambos os povos, datados dos primeiros séculos da era cristã. Os marajoaras desapareceram, inexplicavelmente, por volta do ano 1300. Seus domínios, as ilhas do arquipélago do Marajó, foram posteriormente ocupados por gente de outra origem, os Aruaque.

Os Tapajó parecem ter chegado ao Baixo Amazonas já em seu melhor estágio cultural e, ao longo do tempo, perderam conhecimento e se moldaram em outras etnias, como Mundurucu, Wai-wai e Pauxi, alguns dos quais permanecem até nossos dias. É nesse estágio de regressão cultural que foram catequizados por missionários jesuítas comandados pelo padre Felipe Bettendorf.

A memória desses dois grandes povos foi quase totalmente apagada pela ação do tempo, da selva, do vandalismo do colonizador e do preconceito do catequista. Dos Marajoaras restaram potes de cerâmica utilitária magnificamente decorada. Do legado Tapajó herdamos utensílios de pedra polida e cerâmica produzida com finalidade principalmente estética, objetos de arte refinada, altamente elaborada.

A nação Tupaiu, Tapajó, tapajoara, tapajônica ou, ainda, santarena, como queiram, parece ter sido, se não um império no senso próprio do vocábulo, pelo menos, o domínio de um povo hegemônico central sobre etnias periféricas situadas até a mais de trezentos quilômetros de Santarém, estendendo-se acima e abaixo pelo Baixo Amazonas, Trombetas e Tapajós, como indicam os achados arqueológicos em sítios espalhados por toda essa região. Um relato da existência deste “império” foi feito em 1662 pelo português Maurício Heriarte ao descrever sua expedição ao Amazonas.

      Há notícias, certamente exageradas ao extremo, de movimentos bélicos de grandes proporções envolvendo muitas dezenas de milhares de guerreiros do povo Tapajó, o que, consideradas as dificuldades logísticas de seu estágio de civilização, seria uma impossibilidade, principalmente quando se movimentassem em expedições por grandes distâncias. No entanto, os Tapajó eram certamente os mais aguerridos dos povos da Amazônia, envenenavam suas flechas com curare e suas mulheres participavam das campanhas, talvez até como combatentes. É provável que os relatos das amazonas do rio Nhamundá não se referissem a nativas daquela região, mas a esposas e filhas de guerreiros Tapajó que ali os estivessem acompanhando. Daí, possivelmente, a origem da famosa lenda. Evidentemente, não há senão especulações.

Mas, se a arte da guerra pode ter sido marca da civilização tapajó, não há dúvida de que a da cerâmica tenha sido seu maior apanágio e é isto que veremos a seguir.

 

A Cerâmica Tapajó

Vaso de cariátides

Frederico Barata, um dos mais ilustres intelectuais de Santarém - jornalista, escritor, arqueólogo - desenvolveu trabalho de grande importância recolhendo peças de cerâmica Tapajó, descrevendo-as, analisando-as, coletando sua morfologia e seus grafismos, procedendo à análise estilística dessa arte ao mesmo tempo tão sofisticada e tão simples. É tal o valor de sua obra que, embora realizada de forma empírica e com poucos recursos, serve como fundamento bastante e necessário a todos os trabalhos acadêmicos, os de bacharelado assim como os de mestrado e doutorado, que se realizam sobre a arte do povo Tapajó. Frederico Barata esgotou a essência do assunto.


Os dois principais tipos de vasos, o de gargalo e o de cariátides[i] tinham aplicações diferentes. O primeiro, certamente, servia para depósito de líquidos ou cinzas, pois que todos os deste tipo encontrados intactos continham uma destas substâncias, enquanto que em nenhum dos de cariátides jamais foi encontrado vestígio de qualquer material. As cinzas seriam as dos mortos. Os líquidos seriam vinhos com algum teor alcoólico derivados do milho ou do arroz-bravo. Fala-se da possibilidade de que existissem bebidas alucinógenas, mas disto não parece haver comprovação entre o povo Tapajó.

A principal forma de expressão da arte Tapajó é a cerâmica, tanto na forma de vasos quanto de ídolos. Por seu estilo e técnica é cerâmica única na Amazônia. De pequenas dimensões, não ultrapassam os trinta centímetros quer na altura ou na largura. Os ídolos cerâmicos têm dimensões ainda menores.

O “vaso de cariátides” é um cálice raso montado sobre pedestal de menor diâmetro, em forma de carretel, tendo este, em sua parte mediana, três bustos de figuras femininas. O vaso é decorado com grafismos de tal precisão geométrica que os módulos gráficos percorrem toda a circunferência sem que haja alteração de suas proporções para que suas extremidades se encontrem perfeitamente. O cálice é decorado com figuras ântropo ou zoomorfos.

O “vaso de gargalo” é constituído de um bojo encimado por um estreito e curto gargalo, sua única abertura, sobreposto a um pedestal; a peça é decorada com cabeças e caudas de lagartos ou pássaros aplicados ao bojo, como se este fosse o corpo do animal.

O “vaso de carenagem” é mais simples e tem seu bojo circular dividido em gomos que sobressaem do diâmetro normal, formando as carenagens que lhe dão o nome e beleza.

Tanto os vasos quanto os ídolos eram profusamente adornados com motivos riscados ou em relevo. Algumas peças eram coloridas em vermelho, branco e preto. Há, também, exemplares que receberam maior número de figuras modeladas em forma de animais estilizados.

É muito provável que aqueles povos antigos produzissem outras formas de arte, cestaria, por exemplo, ou tecelagem de redes, cocares e outros adornos de penas, como o fazem, até hoje, os povos que os substituíram.

Os atuais artistas ceramistas do Marajó souberam incorporar a herança estética recebida dos antepassados e elaborar sobre ela, criando um estilo muito particular que lhes dá identidade e os torna imediatamente reconhecidos. O mesmo não ocorreu com os artistas de Santarém. Talvez por ser um centro de tráfego mercantil intenso e sofra toda sorte de influências das mais diferentes origens, sua arte tenha se tornado mais cosmopolita e, portanto, menos identificável. Esta falta de identidade, a ausência de um estilo particular, exclusivo de fazer arte, pode ser resolvida, exatamente por estarmos criando, desenvolvendo, formando e conformando uma cultura artística que seja nossa, a Arte Santarém ou a Nova Arte Tapajó, uma estética própria que a torne conhecida e reconhecida, facilmente identificável pelos apreciadores de arte em todo mundo.

O que os artistas que se engajam nesta busca por novos horizontes artísticos estão fazendo não é mera cópia da expressão artística dos antigos Tapajó. Temos aqui um movimento estético criativo que toma emprestado a herança arqueológica para construir em cima e além dela, inovando, inventando, acrescentando, contribuindo. Mesmo porque, não se restringe à cerâmica, aventura-se por todas as formas de expressão em que o espírito humano possa vislumbrar oportunidades de se exaltar e transcender. É claro que o começo surge nas artes plásticas e prosseguirá por algum tempo pelas artes manuais, mas nada impede que, no seu amadurecimento, possa percorrer os caminhos da literatura e da música.

Haverá um dia em que artesãos e artistas da região do Tapajós, tendo ultrapassado a fase da iniciação e, depois, a do engajamento, quem sabe do proselitismo, possam viver a plenitude da criação e traduzir em obras de livre inspiração o sentimento atávico, o espírito redivivo, eternamente moderno e vibrante, dos antigos Tapajó. Teremos então atingido a plenitude da criação de uma escola nossa, de uma estilística própria, nossa, exclusivamente nossa, a “Arte Tapajó”.

A Exposição de Arte Brasileira do Tapajós é um projeto que vai tomando corpo à medida em que contatos vão sendo estabelecidos e novas contribuições são agregadas, como é o caso dos entendimentos em reuniões que o idealizador do projeto manteve com o Gerente Geral do Instituto Dinamarquês de Cultura, Sr. Finn Andersen, a proprietária da Galleri SHAMBALA de Copenhague, Sra. Libusé Muller, o Secretário Especial de Estado da Promoção Social, Gerson Peres, com o Secretário Executivo de Cultura, Paulo Chaves Fernandes, com a Coordenadora de Comunicação e Extensão do Museu Paraense Emílio Goeldi, Luiza Hussak van Velthem, a Coordenadora do Ministério da Cultura e do IPHAN, Milene Lauande.

Logo após os primeiros contatos realizados na Dinamarca, o Idealizador comunicou por e-mail à Prefeita de Santarém, Maria do Carmo e ao Coordenador de Cultura Roberto Vinholte, por intermédio da professora Terezinha Amorim os entendimentos estabelecidos e solicitou o apoio indispensável da Prefeitura Municipal de Santarém.

A Exposição de Arte Brasileira do Tapajós é um projeto com extraordinário alcance estratégico, mas está apenas em seu início e muito há por fazer. Há necessidade da participação dos artistas e de todos os que, de uma forma ou outra estão envolvidos com o desenvolvimento cultural e social de nossa terra.

 

Comentário em 2020:

Logo após publicar esse artigo, o Autor foi submetido a duas cirurgias, em Belém do Grão Pará, o que o obrigou a mais de um ano de convalescência, sem dar continuidade ao projeto, cuja oportunidade se perdeu, embora suas premissas continuem válidas.



[i] Cariátide [Do gr. Karyátides, pelo lat. Caryatides.]  Substantivo feminino.
1.Figura humana, geralmente feminina, esculpida em fachadas de edifícios da Grécia antiga com a função de suporte de cornija ou arquitrave: “Na platibanda de friso ladrilhado, que duas cariátides de gesso amparavam e guarneciam, um par bisbilhoteiro de janelinhas em guilhotina” (Josué Montelo, A Décima Noite, p. 1). [Cf. telamão.] – Dicionário Aurélio

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10 de junho de 2020

Meia lágrima por um Pataxó

Sebastiao Imbiriba

Santarém do Tapajós, 14/08/1997

É madrugada na cidade fantasma. As longas e largas avenidas, desoladas e desertas, daquela Brasília cruel, abrigam apenas os pequenos redemoinhos de pó vermelho que a brisa morna levanta aqui e acolá.

Índio Pataxó.(Santa Cruz de Cabrália, Bahia) | FernandoPaoliello ...
Pataxó da Bahia

Vejo um índio de meia idade. Foi à capital em missão de sua tribo. Está hospedado em pequeno hotel, pagou adiantado e preencheu regularmente sua ficha. Mas, apenas por ser diferente, por estar vestido como índio que é, não lhe abrem a porta na madrugada. Humilhado, triste, desconsolado, desorientado, sai a perambular sem rumo, sem ter onde ficar, onde deitar seu cansaço, dormir um pouco, repousar para a luta do dia seguinte.

Vejo rapazes bonitos, saudáveis, bem vestidos, filhos de famílias de classe média, de altos funcionários, bem encaminhados, bem relacionados, cheios de expectativas perfeitamente realizáveis, alegres com a vida e contentes consigo mesmos. Vejo a exuberância da juventude em sua plena forma. É uma alegria vê-los assim tão joviais, expansivos, brincalhões a circular de automóvel pelas ruas desertas.

Que procuram eles? Uma menina desavisada a ser estuprada? Um travesti solitário a ser espancado? Um cachorro ou gato a ser atropelado? O que se passa na cabeça deles? Por certo, não pretendem ir à igreja a essa hora. Procuram diversão, algo que os tire da monotonia de ser feliz.

Então avistam o índio. Sem forças, deitara-se na calçada de um ponto de ônibus e dormira. Está ali, só, à mercê de qualquer intenção macabra. Pensamentos macabros é o que ocorre na cabeça dos belos jovens. O que fazer, perguntam-se. Silêncio. Não o despertem, deixem que ali fique até que estejam preparados. Partem quietamente em busca de combustível.

Voltam pouco depois. É apenas um mendigo, um candango pé rapado, talvez até um índio. Certamente dará bela fogueira. Será bonito ver a tocha humana levantar-se e perambular agitando os braços. Nem vai gritar. A primeira golfada de ar lhe queimará as cordas vocais. Maravilhoso espetáculo. Uma celebração.

Num instante, encharcam de álcool o infeliz. Antes que o índio desperte assustado, afastam-se dois passos e lhe jogam fósforos acesos. A chama azul soa surda em pequena explosão. O índio nem consegue levantar-se. Fica ali, no chão, agitando-se freneticamente. As labaredas logo tornam-se amarelas ao consumir a pele e queimar a gordura. O cheiro ativo de carne humana assada chega às narinas fidalgas. Os jovens gozam a sensação de poder absoluto, o poder de vida e morte. Gozam a visão da morte, o cheiro da morte. É o prazer supremo. Então, calmamente, entram no carro e partem. Vão em silêncio, felizes, realizados, comungando a expiação da vítima ao deus do horror, da estupidez e do absurdo.

As chamas queimam músculos e tendões. O índio não consegue mais se mover. Apenas agita-se nervosamente no sofrimento atroz. O corpo todo queimado. Os pulmões queimados. Os olhos, as narinas, o rosto, tudo queimado. De nada adianta o socorro. O sofrimento continua durante a longa agonia que o corpo rijo e forte estende por mais tempo.

A sociedade estremece. A TV notícia, o jornal comenta, a revista analisa, o político discursa. Um diz uma coisa, outro diz outra. É mais um fato macabro a ser comentado em nosso cotidiano. Nada que tenha consequências. Nada que seja consistente.

Adeus Pataxó anônimo, celebridade na agonia. A sociedade faz o que pode para limpar a consciência e, aliviada, chora por ti meia lágrima.


21 de maio de 2020

A grande esperança energética da Humanidade

A humanidade precisa de enormes quantidades de energia barata para resolver a maioria dos seus problemas. Se tivermos energia suficientemente barata, poderemos dessalinizar água para transformar a região nordeste do Brasil em verde oásis capaz de alimentar e enriquecer toda sua população. Poderíamos até fazer o mesmo com o Saara. Fusão nuclear será a resposta.

Assim, a energia obtida pela fusão é a grande esperança da Humanidade, porque será incrivelmente barata e segura, uma vez que possamos controlar as altas temperaturas de sua produção. A energia de fusão será muito mais barata que os combustíveis fósseis e mais prática do que a energia eólica e solar.

Uma vez iniciado, o processo é auto sustentável por produzir uma partícula de site - muito instável, rara e difícil de obter - causar uma fusão com partícula deutério - muito estável, comum e barata - para gerar um átomo de hélio e um próton livre, liberando energia numa reação em cadeia não radioativa.

A fusão é uma fonte de energia que pode viabilizar missões estrelares e, juntamente com a Inteligência Artificial, libertar a Humanidade do serviço de trabalho com afluência.

As promessas e a esperança são tremendamente grandes: poderíamos fechar todas as usinas atômicas e eliminar o risco de lesão por fissão, interromper o uso de combustíveis fósseis e parar o aquecimento global, limpar os oceanos, alimentar toda a população e assim por diante.

O Brasil não pode ficar fora dessa corrida para o futuro. Instituições científicas e acadêmicas envolvidas e privadas devem investir dinheiro e talento na pesquisa e desenvolvimento de tecnologia de fusão para colocar este país no país mais avançado.


14 de maio de 2020

A beleza da Vida

Todo ser vivo tem três funções básicas: nutrição, proteção e reprodução que consubstanciam a existência orgânica, a perpetuação da espécie, a vida.

Portanto, vida é o primeiro, o máximo e mais sagrado direito do ser humano e a busca da felicidade é seu maior objetivo.

Mas a vida é cheia de ameaças que devem, constantemente, ser superadas, o que exige permanente aprendizado, não só com erros próprios, também com a observação de falhas alheias.

O enfrentamento das ameaças e a dureza do aprendizado provocariam rápida desistência, e a extinção da vida, não fora a permanente esperança de superação das dificuldades e do prêmio final, a felicidade.

A vida é, apesar dessa dificuldades, não somente o maior bem e o mais importante direito, é também muito linda, desde a gestação, o nascimento, os primeiros passos e palavras, as perguntas, o primeiro dia na escola, o desenvolvimento do intelecto, a profissão, a família, a velhice, cada fase com sua beleza particular, inclusive a da memória que permanece na saudade.

É por isso que canto com Gonzaguinha: “Viver é não ter vergonha de ser feliz”.


10 de maio de 2020

Expectativa de vida humana 150 anos?

O Centro de Distúrbios do Câncer e Sangue Infantil de Boston, vinculado à Universidade Harvard, procede a estudos sobre telômeros, fiapos protetores nas extremidades das cadeias de DNA.

As células do organismo humano têm vida limitada. Elas são reproduzidas por auto-divisão e morrem. A cada renovação das células, os telômeros ficam mais curtos ao ponto de não proteger mais o DNA, que desbasta até impedir a reprodução. As células morrem, provocando doenças e envelhecimento.

O avanço do saneamento e da medicina aumentou a expectativa de vida humana de 45 anos, após a Segunda Grande Guerra, para mais de 75 hoje em dia.

Cientistas editam DNA de embrião humano pela primeira vez nos EUA ...


Testes em camundongos, nos estudos referidos, mostram que os telômeros podem ser protegidos de forma a preservar o DNA e permitir que as células continuem a se reproduzir, pelo menos por mais algum tempo, a ser esclarecido.

Esta é importante promessa de sobrevida para o ser humano e estará disponível dentro de poucos anos.

Parece que o futuro da Humanidade é se tornar sociedade de pessoas idosas e ativas.



 


9 de abril de 2020

Covid-19 - China strangles the world


Developed countries complain about job losses, but have social policies that protect the unemployed, while third world people, living below the poverty line, desperately need jobs. It is true that systemic unemployment, resulting from automation and artificial intelligence, grows exponentially, but it demands large capital and has to compete with cheap labor from underdeveloped countries, allowing a reduction in the pace of robotization and unemployment.
Globalization is democratizing and equalizing, it distributes wealth everywhere, it raises people from extreme poverty. Globalization - understood as the free worldwide movement of people, goods, services and capital - is an ideal to be pursued for the prosperity of Man and the good of Humanity.

Globalização: o que é, origem, efeitos, pontos positivos e ...The Covid-19 pandemic, however, is demonstrating that such an ideal needs supranational planning and regulation, in order to avoid the monopolization of the production of certain goods, of vital need to all countries, by nations that have some intrinsic competitive advantage, such as the immensity of China's population, which makes it the largest domestic market, whose service demands and causes industrial production on an extremely high scale.
The European unified market is about a third, the North American a quarter and the Brazilian only fifteen percent of the Chinese. The first two have long been in the class of economically developed people, therefore with little leverage for growth, because the basic needs of their people are already largely satisfied. Brazil is a strong candidate for rapid development because it has many people in need of basic needs such as sanitary sewage. On the other hand, more than five hundred million Chinese are at the lower and lower middle class level, which means almost two populations of the United States as a market eager to consume and grow.
In addition, the Chinese people have been subjected - and accustomed to obeying - to dictatorial governments for thousands of years, are extremely hardworking and highly literate, offering laborious, disciplined, educated and cheap labor, everything that the industry needs, along with management, technology and capital to develop very quickly.
European and American industrialists and workers prospered and enriched in the post-war period and became fat cats and all they want is to be asleep on the sofa. It is no wonder that Europe and North America attracted millions of immigrants to take up their menial jobs and went through the third world in search of laborious, disciplined, educated and cheap labor.
When Mao Tse-Tung ascended the Marxist pantheon, he opened the way for Deng Xiaoping to carry out the “second revolution”, a mixed policy of nationalizing a few sectors considered strategic and freeing the rest for entrepreneurship and capital, both Chinese and foreign. From 1978, China started a “great march” towards prosperity that, in four decades, transformed it into the largest exporter of industrial goods on the planet, to the point that it is now almost the sole supplier of some products and threatens to monopolize, for example, the fifth generation of mobile internet.
At this moment of great affliction caused by the coronavirus, the World, in a long Indian line, begs the Chinese industrialists for pulmonary ventilators essential to the treatment of severe cases of pneumonia caused by Covid-19.
Donald Trump, considered by many as a crude unsympathetic, with his vision of a businessman accustomed to the clashes of interests in millionaire negotiations, has enough acuity to perceive the mess his country was taken by political immediacy and lack of long-term strategic vision. Trump knows that, in addition to the competitive advantages inherent in Chinese work culture, China undervalues ​​its currency, the yuan, making its production extremely attractive compared to the rest of the world.
The "America first" campaign aims to return to the United States jobs that have been taken to other nations and prevent technologies of general application, such as the G5, from escaping American control.
The fact that the rest of the world is dependent on China for equipment and supplies for medical treatment, even the simplest ones, such as surgical masks, in this Covid-19 crisis, leads us to reflect on the future of globalized trade and regarding arrangements to diversify sources of supply.
China has long invested heavily in infrastructure and encourages food production in Africa to become less dependent on its two largest protein suppliers: United States and Brazil.
This example must be emulated by other countries that, like Brazil, whose industry loses successive clashes with China, not only due to its smaller scale of production, but also due to exchange rate disadvantage. This, however, can lead to successive market closures through bureaucratic, sanitary, currency devaluation and fiscal barriers, with retrocession of globalization, which has contributed so much to the spread of wealth around the world, benefiting extremely poor nations, like Bangladesh, although, as we see now, mainly China.
The UN or WTO should study this issue and propose an international trade policy that, at the same time, promote free movement of people, goods, services and capital, and avoid the concentration of benefits and monopolies in just one country or region.
The world needs alternative sources, second suppliers, to gain independence from Chinese strangulation.

PLEASE COMMENT.

8 de abril de 2020

Coronavirus versus globalização


Países desenvolvidos se queixam da perda de empregos, mas possuem políticas sociais que protegem os desempregados, enquanto povos do terceiro-mundo, vivendo abaixo da linha de pobreza, necessitam desesperadamente de postos de trabalho. É certo que o desemprego sistêmico, decorrente da automação e da inteligência artificial, cresce exponencialmente, mas demanda capital vultoso e tem que concorrer com a mão de obra barata dos países subdesenvolvidos, permitindo diminuição do ritmo da robotização e do desemprego.
A globalização é democratizante e equalizadora, distribui riqueza por toda parte, soergue populações da pobreza extrema. Globalização - entendida como livre circulação mundial de pessoas, bens, serviços e capitais - é ideal a ser perseguido para a prosperidade do Homem e bem da Humanidade.
Conceito Internacional Global Da Globalização Do Mapa Do Mundo ...A pandemia do Covid-19, no entanto, está demonstrando que tal ideal precisa de planejamento e regulamentação supranacional, para evitar a monopolização da produção de certos bens, de necessidade vital a todos os países, por nações que possuam alguma vantagem competitiva intrínseca, como é o caso da imensidão populacional da China, que a torna o maior mercado interno, cujo atendimento exige e provoca produção industrial em escala extremamente elevada.
O mercado europeu unificado é cerca de um terço, o norte-americano um quarto e o brasileiro apenas quinze por cento do chinês. Os dois primeiros estão há muito na classe dos economicamente desenvolvidos, portanto com pouca alavancagem para crescimento, porque as necessidades básicas de seus povos já estão mormente satisfeitas. O Brasil é forte candidato a rápido desenvolvimento porque tem muita gente carente de necessidades tão básicas como rede de esgoto sanitário. Por outro lado, mais de quinhentos milhões de chineses estão no nível de classe média baixa e inferior a esta, o que significa quase duas populações dos Estados Unidos como mercado ansioso por consumir e crescer.
Além disto, o povo chinês é milenarmente submetido - e acostumado a obedecer - a governos ditatoriais, é extremamente trabalhador e grandemente alfabetizado, ofertando mão de obra laboriosa, disciplinada, instruída e barata, tudo o que a indústria precisa, a par de administração, tecnologia e capital para se desenvolver de modo muito acelerado.
Os industriais e os trabalhadores europeus e norte-americanos prosperaram e enriqueceram no pós guerra e se tornaram gatos gordos que tudo o que querem é ficar dormitando no sofá. Não é atoa que Europa e Norte-américa atraíram milhões de imigrantes para assumir seus trabalhos servis e saíram pelo terceiro-mundo em busca de mão de obra laboriosa, disciplinada, instruída e barata.
Quando Mao Tse-Tung ascendeu ao panteão marxista abriu caminho para Deng Xiaoping realizar a “segunda revolução”, política mista de estatização de poucos setores considerados estratégicos e liberação dos demais para o empreendedorismo e o capital, tanto chineses quanto externos. A partir de 1978, a China iniciou “grande marcha” para a prosperidade que, em quatro décadas, a transformou no maior exportador de bens industriais do planeta, ao ponto se ser hoje quase único fornecedor de alguns produtos e ameaçar monopolizar, por exemplo, a quinta geração de internet móvel.
Neste momento de grande aflição causada pelo coronavirus, o Mundo, em longa fila indiana, implora aos industriais chineses por ventiladores pulmonares essenciais ao tratamento de casos graves de pneumonia provocados por Covid-19.
Donald Trump, considerado por muitos como grosso e antipático, com sua visão de empresário acostumado aos embates de interesses em negociações milionárias, tem acuidade suficiente para perceber a enrascada à qual seu país foi levado por políticos profissionais imediatistas sem visão estratégica de longo prazo. Trump sabe que, além das vantagens competitivas inerentes à cultura chinesa, a China subvaloriza de sua moeda, o yuan, tornando sua produção extremamente atrativa diante do resto do mundo.
A campanha “America first” tem por finalidade devolver aos Estados Unidos os empregos que foram levados a outras nações e evitar que tecnologias de aplicação geral, como a G5, fujam do controle americano.
A constatação, pelo resto do mundo, de estar dependente da China, quanto a equipamentos e insumos para tratamento médico, mesmo os mais simples, como máscaras cirúrgicas, nesta crise do Covid-19, nos leva à reflexão sobre o futuro do comércio globalizado e quanto às providências para diversificar fontes de suprimentos.
Há muito, a China investe maciçamente em infraestrutura e incentiva a produção de alimentos na África para se tornar menos dependente de seus dois maiores fornecedores de proteína: Estados Unidos e Brasil.
Este exemplo deve ser emulado pelos demais países que, como o Brasil, cuja indústria perde sucessivos embates com a China, não só pela menor escala de produção, como por desvantagem cambial. Isto, no entanto, pode conduzir a sucessivos fechamentos de mercados por barreiras burocráticas, sanitárias, cambiais e fiscais, com retrocesso da globalização, que tanto tem contribuído para difusão de riqueza pelo mundo, beneficiando nações extremamente pobres, como Bangladesh, embora, como vemos agora, principalmente a China.
A ONU ou a OMC devem estudar esta questão e propor uma política comercial internacional que, ao mesmo tempo, promova a livre circulação de pessoas, bens, serviços e capitais e evite a concentração de benefícios e monopólios em apenas um país ou região.
O mundo precisa de fontes alternativas, segundos fornecedores, para obter independência do estrangulamento chinês.

POR FAVOR, COMENTE.

26 de março de 2020

Pandemia – Isolar ou aglomerar?


O CoVid-19 se propaga entre seres humanos através de contato físico de mucosas do recipiente com mãos ou objetos e gotículas de saliva lançadas pela fala, espirro ou tosse do transmissor.O vírus ataca o organismo inoculado que reage tentando impedir a penetração em suas células.
Se o organismo for jovem e sadio, os anticorpos neutralizarão o vírus, que morre em poucos dias sem que a pessoa infectada apresente qualquer sintoma da agressão.
Por outro lado, se houver baixa imunidade, por doença prévia ou idade avançada, o vírus vence a barreira natural dos anticorpos e penetra as células onde se reproduz causando adoecimento das vias respiratórias.
Dependendo de grau de infecção e de reação dos anticorpos, bem como da sanidade prévia do organismo, tratamento sintomático e respiração forçada por aparelhos, com duração aproximada de uma a quatro semanas, permitirão que o organismo se recupere e sobreviva. Em caso extremo o paciente não resiste e morre.
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As estatísticas do CoVid-19 indicam mortalidade inferior a três por cento dos infectados e propagação exponencial da infecção, em maior ou menor velocidade, dependendo da aglomeração das pessoas.
Se todo o povo estiver próximo, em condições ótimas de transmissibilidade, em menos de uma semana todos os indivíduos estarão infectados. A taxa de transmissão diminui conforme o grau de isolamento da população. De qualquer forma, a infecção se propaga até que a maior parte da população adquirira imunidade e o vírus seja impedido de se reproduzir. Este será o fim da pandemia.
O objetivo dos infectologistas é impedir que pessoas dos grupos de risco sejam atingidas até que que a pandemia cesse, isto é, que a maioria da população adquira imunidade, estágio em que o risco de infecção se aproxima de zero.
Aqui, o caso deixa de ser de medicina e passa a ser problema de logística porque, se o isolamento for total – risco zero – não haverá condições de prover a população com alimentos, tratamento médico e outras necessidades básicas.
Por outro lado, se o isolamento for mínimo – risco máximo – não haverá condições de prover assistência médica à maioria dos infectados.
Temos então, que o dilema consiste em calibrar o isolamento de forma a resguardar os grupos de risco e, ao mesmo tempo, manter a produção de bens e serviços em nível adequado a que toda a população seja abastecida e medicada.
E este é o grande desafio das autoridades médicas e políticas.

20 de março de 2020

Corona vírus versus economia nacional


Ao apresentar novas medidas econômicas para mitigar os problemas causados pela pandemia do Covid-19 o Ministro Paulo Guedes elogiou o Bolsa Família e diz que Lula mereceu ganhar várias eleições.
Milton Friedman, expoente do Liberalismo na Universidade de Chicago, é o pai da proposta do imposto de renda negativo, dinheiro pago pelo governo a quem tenha renda abaixo de determinado nível, de modo a equalizar e distribuir renda, eliminando pobreza e dinamizando a economia.
Hoje, essa ideia é promovida por diversos pensadores e eu defino como Renda Mínima Universal - RMU, benefício pago incondicionalmente a todos os cidadãos, substituindo todas as atuais formas de distribuição de renda, como BPC, Bolsa Família, Aposentadoria, Auxílio Desemprego, etc., e eliminando legislação salarial e outros entraves às relações de trabalho. Uma vez que a RMU o livra da pobreza, o cidadão não precisaria trabalhar e só aceitaria emprego que lhe proporcionasse compensação emocional e moral além da econômica, o que resolveria o problema do desemprego sistêmico provocado pela automação e inteligência artificial.
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Paulo Guedes raciocina dentro desta linha de pensamento econômico, reabastecendo financeiramente a base da pirâmide social para dinamizar a economia, estagnada há tanto tempo por erros macroeconômicos de administrações anteriores. Para facilitar o trânsito de suas propostas o Ministro justifica politicamente sua atitude citando o exemplo dado por Lula ao transformar as diversas bolsas introduzidas por FHC na Bolsa Família. É indiferente se o gato é malhado ou preto, o que importa é que nos livre dos ratos, no caso, fazer a economia retomar o crescimento.

Tais medidas são emergenciais e compensam minimamente a perda de renda de determinados segmentos do setor de serviços mais dispensáveis, como o de cabelereiro comparado ao de saúde. São válidos por  curtíssimo período por esgotarem rapidamente as reservas financeiras do Estado que, por sua vez, sofre enorme queda na arrecadação de tributos.
Por outro lado, os protocolos de quarentena devem preservar a produção e circulação de mercadorias para evitar desabastecimento e impedir o colapso total da economia e, por consequência, desorganização social.
Enfrentamos problema de solução extremamente complexa e multifacetada que requer esforço concentrado de todas as facções em busca de salvação nacional.