Antecedentes
Luiz Inácio Lula da Silva, ao tomar posse, recebeu um estado
estruturado e hiperinflação dominada, mas uma economia conturbada pela
desconfiança do mercado em relação aos seus pretensos propósitos socializantes
e estatizantes. A carta-compromisso que dirigiu aos brasileiros, as declarações
tranquilizadoras de Fernando Henrique Cardoso e a escolha do mais importante
industrial do setor têxtil como seu vice-presidente, ocorridas antes das
eleições, bem como, logo no início do governo, a nomeação e as medidas
ortodoxas de Henrique Meirelles, no Banco Central, e de Antônio Palocci, no Ministério
da Fazenda, estabeleceram e mantiveram a confiança do mercado durante o
primeiro mandato de Lula.
A imediata volta à estabilização do Real, a forte demanda
mundial por commodities, criando importantes superávits comercial e fiscal, proporcionou
um período de crescimento econômico, aumento do emprego, eliminação da dívida
pública externa e financiamento de um dos maiores programas mundiais de transferência
de renda para as classes menos favorecidas, as quais aumentaram a base de
consumidores, ampliando o mercado interno nacional.
No segundo mandato de Lula, a crise do sistema financeiro
mundial, colocando a economia global em recessão, o escândalo do mensalão, a demissão
de Palocci e nomeação de Guido, o câmbio valorizado e outros fatores internos e
externos iniciaram um processo de degradação de diversos setores industriais
brasileiros e a progressiva diminuição dos saldos positivos no comércio externo.
O
estado da economia brasileira
Ao assumir a presidência, Dilma se viu
às voltas com sucessivos escândalos de corrupção em alto nível, tendo que
demitir sete ministros e um sem número de outros altos funcionários, em seu
primeiro ano de governo. Dilma e Mantega adotaram diversas medidas heterodoxas
- diminuindo o superávit fiscal, praticaram “pedaladas” contábeis, tentando
esconder o crescente déficit, contiveram os preços dos combustíveis e esvaziaram
o caixa da Petrobras, reduziram as margens das empresas de eletricidade - provocando
suspeição e descrédito no mercado quanto à correta condução da economia
brasileira. O descrédito fez com que a Bovespa, já afetada e não recuperada da crise
financeira mundial de 2008, continuasse despencando e inviabilizando projetos dependentes
da confiança dos investidores.
O panorama mundial revela decréscimo da demanda de commodities,
afetando o agronegócio e as mineradoras brasileiras; a autossuficiência já
atingida pelos Estados Unidos na produção de gás e quase alcançada na de
petróleo, coloca a indústria petroleira mundial na perspectiva de superprodução
e queda de preços. A balança comercial externa brasileira é afetada negativamente
pelo menor valor das commodities e positivamente por menores dispêndios na
importação de petróleo e derivados. A próxima entrada em funcionamento de
algumas refinarias e dos poços do pré-sal darão ao Brasil autossuficiência em
petróleo e seus derivados, no entanto, baixos preços mundiais e os altos custos
da produção em grandes profundidades impedirão que o país se torne grande
exportador de petróleo.
O emprego está caindo e o desemprego já se manifesta em alguns
setores industriais. A destruição provocada pela seca prolongada que afetou a
maior parte da agricultura no Sudeste brasileiro levará de dois a quatro anos
para ser recuperada e retornar aos níveis de produção e produtividade de 2013.
Um dos instrumentos de alavancagem do crescimento econômico, o incentivo ao
consumo pelo mercado interno pelo oferecimento de crédito fácil esgotou sua
capacidade devido ao endividamento da população.
Tudo isto indica que a economia brasileira enfrentará sérias dificuldades
nos próximos anos.
O
perfil dos candidatos
Qualquer que seja o próximo presidente, Dilma ou Aécio, terá que
enfrentar esses problemas com os arsenais que possuem.
Ambos os candidatos tem formação acadêmica em Economia e
experiência em administração pública, possuem visão estratégica e geopolítica,
são patriotas e bem intencionados, gozam de boa saúde, são dinâmicos, enérgicos,
disciplinados e são suportados por grandes partidos coligados a outros de menor
porte. Ambos e se propõem a bem servir ao Brasil e a seu povo.
As propostas dos dois são muito semelhantes: combate a inflação,
à criminalidade e à corrupção; melhoria na saúde e na educação; expansão dos
programas sociais; investimento em infraestrutura. Embora o governo Dilma tenha
sido marcado por algumas heterodoxias, é possível que sua promessa de
substituição de Mantega e slogans de campanha “governo novo” e “ideias novas”
indiquem o retorno à ortodoxia do início do governo Lula. A prática econômica dos
dois candidatos pode ser classificada como socialdemocracia próxima às vigentes
no norte europeu.
Embora isto não seja óbice eleitoral, Dilma possui um discurso
complicado - às vezes desconexo, com incorreções gramaticais, prejudicado por
caretas e trejeitos - que lhe dificulta a interlocução, enquanto o discurso Aécio
é claro, correto e fluido, apoiado em adequada expressão facial e corporal. Mas
a principal diferença entre Dilma e Aécio é a experiência político-eleitoral de
cada um.
A única experiência anterior de Dilma foi sua candidatura a
presidente, proposta, planejada e dirigida por Lula. Dilma agora conduz sua
campanha à reeleição com mais autonomia, porém ainda com o apoio indispensável
de Lula, sem o qual, provavelmente não teria chances. No entanto seu período na
presidência lhe proporcionou grande conhecimento e experiência nos diversos
aspectos do exercício do cargo.
Aécio foi educado na habilidade política de seu avô, Tancredo
Neves; participou, articulou e conduziu eleições vitoriosas para deputado
federal, presidente da Câmara dos Deputados, governador de um grande estado e
para senador da república; sua capacidade de articulação e congregação ficou
demonstrada quando muitos políticos de partidos da base de apoio a Dilma e
quase todos os candidatos derrotados no primeiro turno lhe declaram apoio no
segundo.
Perspectivas
O ano de 2015 será crucial para o sucesso do mandato do
presidente eleito, seja Dilma ou Aécio.
Como visto, são pouco promissoras as previsões para a economia brasileira
nos próximos anos. Há uma crise de confiança do mercado na solidez econômica
nacional.
Houve renovação no Congresso Nacional. Na Câmara dos Deputados, ocorreu
diminuição da atual bancada de apoio firme a Dilma, de 121 para 99 deputados;
também houve racha dentro de outros partidos apoiadores pouco confiáveis; estes
partidos fazem parte de uma bancada - propensa a aderir a quem mais ofereça - que
aumentou de 253 para 262; a bancada de apoio firme a Aécio aumentou de 136
para 147 deputados.
A nova configuração na Câmara aponta a possibilidade Dilma ter
que enfrentar dificuldades mais sérias para constituir maioria do que no
mandato anterior. As dificuldades de Aécio seriam menores devido à sua maior
base de apoio firme. Ambos, porém, não terão vida fácil no Congresso: - Dilma
por necessitar de intermediários devido à sua limitação na interlocução direta
e Aécio devido ao reconhecido poder de fogo opositor do PT e seus aliados, PDT
e PCdoB.
Os investimentos em infraestrutura têm papel primordial na
alavancagem da economia e na melhoria da competetividade nacional. Resta saber de
onde advirão os recursos tão grandes e tão necessários para concluir tantas obras
inacabadas e iniciar outras tantas ainda maiores. E isto sem descurar da
educação, da saúde, da segurança e da redução da pobreza.
O cenário exige grande competência administrativa, alta capacidade
de liderança, muita firmeza e paciência, e extraordinária habilidade política.
Ambos os candidatos são muito dignos e muito competentes, mas
qual dos dois disporia de maior capacidade de liderar, criar confiança, atrair
investidores, conciliar o Congresso em torno de projetos nacionais, introduzir processos
administrativos mais eficazes e incentivar a participação cooperativa dos servidores
públicos, levantar o moral dos empreendedores e da população?
Esta é a resposta que cabe ao eleitor.
Isto é o que descobriremos ao fim do mandato.
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