O Brasil deposita muitas esperanças no muito que poderá fazer
com os recursos que obterá quando se tornar grande exportador de petróleo do
pré-sal.
A dúvida principal é o quanto o pré-sal poderá contribuir
para o tanto de recursos necessários aos projetos nas áreas da educação e
saúde, os dois grandes problemas brasileiros, se o preço internacional do petróleo cair devido à autossuficiência norte-americana.
O óleo do pré-sal é o mais caro do mundo devido às enormes
dificuldades da exploração em águas tão profundas e tão afastadas da costa.
Os Estados Unidos se aproximam da autossuficiência com
petróleo e gás de xisto. Se e quando isto acontecer, haverá superprodução de
petróleo no Mundo.
Neste caso, se apresentam duas hipóteses: a) Por motivos estratégicos e ecológicos os EEUU manteriam seus
depósitos como reserva e continuariam a importar; b) Por motivos
econômicos e para melhorar a balança de pagamentos os EEUU se tornariam
exportadores de petróleo e gás. Em ambos os casos
o preço do barril de petróleo cairá a níveis muito baixos, ainda mais na
segunda hipótese, a mais provável, inclusive para libertar a Europa do garrote
imposto pela Rússia, e para manter a hegemonia econômica diante da ameaça
chinesa.
No primeiro caso, não havendo a autossuficiência ou os EEUU
optando por continuar importando e o pré-sal brasileiro produzindo o suficiente
para o abastecimento nacional e para exportação a bons preços, os lucros,
royalties e impostos gerarão imensas somas aplicáveis nos projetos educacionais
e médicos.
Por outro lado, se os EEUU, que hoje importam uma
enormidade de petróleo de diversos países, atingirem a autossuficiência, certamente,
os preços internacionais do produto cairão, afetando as economias de todos os
produtores, inclusive o Brasil, se a produção do pré-sal se tornar importante,
como esperado.
Neste caso, o Brasil poderia suprir suas necessidades com
óleo importado a preços muito inferiores ao custo de produção do pré-sal, que
permaneceria como reserva por mais uns cinquenta anos. A Petrobrás continuaria abastecendo o mercado
interno quer com o caro óleo do pré-sal, ou com o importado mais barato, mas, muito
provavelmente, não disporia da enorme renda esperada.
Para se ter uma ideia, atualmente (2014), Japão e Coreia
pagam US$ 14 por mil pés cúbicos de gás do Qatar, a Gazprom russa cobra US$ 12
pelo gás que fornece à Europa, enquanto o preço do gás nos Estados Unidos é de
apenas US$ 2.90, uma queda de preço de 80% desde 2008 resultando numa economia
anual de 100 bilhões de dólares para a balança comercial do país.
O gás de xisto norte-americano é séria ameaça ao gás russo
e Putin usa sua mídia e poder de propaganda para tentar impedir que os Estados
Unidos se tornem fornecedores mundiais, inclusive apoiando os ambientalistas
norte-americanos. Guerra de foice geopolítica.
Sei que são muitas as variáveis, tanto econômicas, quanto
ambientais e geopolíticas. Também, não posso desconsiderar os interesses das
próprias grandes petroleiras norte-americanas e seus lobbies, mais ainda das
maiores petroleiras mundiais que estão todas fora dos EEUU. Mas os fatos
econômicos são expressivos, e minha preocupação de que o sonho não se realize é
real.
Basta notar que a estabilidade artificial do preço da
gasolina que a Petrobras está sendo forçada a praticar, quase eliminou
totalmente a indústria alcooleira nacional.
É por isso que lanço essa discussão, na tentativa de buscar
uma saída para o que me parece ser importante ameaça, as promessas do pré-sal se frustrarem,
invalidando todas as esperanças de financiamento dos programas nacionais de investimento com os
recursos do pré-sal em saúde e educação.
Eu apreciaria muitíssimo receber comentários e críticas a
estas hipóteses.
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