26 de dezembro de 2007

Alegria

Há algum tempo, comentei uns versos de Shelley, inglês nascido em 1792 e falecido em 1822, que verti para nosso idioma da seguinte forma: Eu era criança quando minha mãe foi ver queimar um ateu. Levou-me lá ... Sua dor e morte inundou meu coração! A insensata turba proferiu triunfante grito, eu chorei. "Não chora, criança!" soluçou minha mãe, "porque este homem falou: não existe Deus".

Lembrei-me de Percy Bysshe Shelley pela semelhança de nome com Friedrich Schiller, alemão nascido em 1759 e falecido em 1805, cuja Ode à Alegria inspirou Ludwig van Beethoven a produzir sua monumental obra prima, da qual, o quarto movimento foi adaptado e é hoje o Hino da União Européia, a Nona Sinfonia.

Mas não apenas pelos nomes parecidos ou por terem sido contemporâneos. A lembrança me ocorre pela contraposição de temas e sentimentos, de estado de espírito. O poema de Shelley descreve um desses momentos negros na história da Humanidade, a bárbara condenação e assassinato de um ser humano por causa de sua crença, ou descrença, de seu pensamento, suas idéias. E o pior, a aceitação do crime pela turba, como se fora coisa natural, um simples espetáculo.

Meu desespero, frustração e tristeza é exatamente o que o primeiro verso de Schiller conclama a abandonar: "Oh amigos, mudemos de tom! Entoemos algo mais prazeroso, e mais alegre!"

Estamos nas vésperas do Natal de 2007. É época de paz e de alegria. Não de um contentamento simples e rotineiro, mas de uma alegria profunda, a alegria da felicidade.

O coro da Nona entoa a última estrofe: "Abracem-se milhões! Enviem este beijo para todo o mundo! Irmãos, além do céu estrelado mora um Pai Amado. Milhões se deprimem diante Dele? Mundo, você percebe seu Criador? Procure-o mais acima do Céu estrelado! Sobre as estrelas onde Ele mora!"

É com este renovado estado de espírito que desejo a Você: Entusiasmo, exaltação, mais do isso, exultação. Felicidade, júbilo. Prazer, regozijo, otimismo. Deleite, fruição e gozo de todas as coisas boas da vida.

Boas Festas e Feliz 2008.

28 de setembro de 2007

Desenvolvimento e Sustentabilidade – Parte III

Mamutes congelados

Mastodontes, mamíferos pré-históricos, com altura de três metros e peso de sete toneladas, aproximadamente, muito semelhantes, porém distintos dos mamutes, viveram nas Américas e se extinguiram há cerca de dez mil anos, possivelmente, por oferecerem carne abundante e de boa qualidade aos caçadores primitivos que habitavam estes continentes.

Os mamutes viveram mais, desapareceram da América do Norte, Europa e Ásia por volta de quatro mil anos atrás. A extinção desta espécie pode ter acontecido pelo extremo frio da era glacial cujos últimos anos vivemos hoje. Alguns espécimes foram encontrados contendo comida na boca, a maioria em pé, afundada no permafrost, mistura de neve, terra, lama e vegetação de estepe, ransformada em densa camada degelo.

O fato de estarem em pé denota a possibilidade de terem sido surpreendidos por tempestades de neve na qual afundaram e congelaram. Tais tempestades podem ter baixado a temperatura de forma tão repentina que os animais foram paralizados quando ainda mastigavam o alimento.

O congelamento em pé de mamutes e outros animais comprova a severidade do clima glacial, o que nos leva a cogitar sobre o que seja uma era glacial e quais suas causas.

O planeta Terra viaja pela Via Lactea, acompanhando o Sol, descrevendo quatro movimentos principais: Rotação, Translação, Precessão e Revolução.

Rotação é o giro de vinte e quatro horas da Terra em torno de seu próprio eixo, que origina a sucessão de dias e noites;

Translação é o percurso de 365 dias e 6 horas em torno do Sol, numa órbita levemente elíptica. Devido à inclinação de vinte e três graus e meio do eixo interpolar em ralação à perpendicular ao plano dessa órbita, a incidência da radiação solar sobre os hemisférios Norte e Sul varia dando origem às estações do ano;

Revolução é a viagem redor do centro da Via Láctea em companhia do astro Rei.

Precessão é o movimento resultante das forças gravitacionais diferenciais da Lua e do Sol, perpendiculares ao eixo de rotação da Terra, que fazem os pólos Norte e Sul descreverem círculos completos a cada 25.868 anos, responsáveis pelas eras astronômicas, de 2.240 anos em cada signo zodiacal, fazendo com que a extensão do eixo polar Norte aponte sucessivamente para diversas estrelas referenciais, atualmente, para a Estrela Polar.

Se o movimento de translação provoca as diferentes estações do anos, o de precessão provoca as eras glaciais. A cada meio cíclo, de 12.934 anos, ora um, ora outro, os hemisférios Norte e Sul recebam mais intensamente a radiação solar, aquecendo um enquanto esfria o outro. Desta forma, quando o emisfério Norte esfria, América do Norte e Eurásia se cobrem de gelo enquanto a Antártica descongela, seguindo-se o congelamento da Antártica e dos oceanos que a circundam, enquanto a calota do polo Ártico se trans forma em mar aberto e as estepes canadenses, nórdicas e siberianas verdejam e florescem.

Após cada desgelo ocorrem o florescimento e decaimento da vegetação e, concomitantemente, os ciclos de maior e menor presença de gases de efeito estufa na atmosfera, sendo tal fenômeno mais intenso no hemisfério Norte devido á sua maior extensão territorial.

Assim, durante milhões de anos, têm ocorrido tais ciclos de esfriamento e aquecimento, de surgimento e desaparecimento de vegetação, de concentrção de gases carbônico e metano, de expansão e limitação do desenvolvimento de espécies vegetais e animais, inclusive de hominídeos.

Àqueles que desejam aprofundar o conhecimento sobre a precessão e seus efeitos no clima recomendo a leitura dos trabalhos de   William F. Ruddiman: "A mão do Homem", in Scientific American Brasil, Edição Especial nº 12 Aquecimento, 2005, bem como, "The anthropogenic greenhouse era began thousands of years ago", Department of Environmental Sciences, University of Virginia, 2002.

A Terra encontr-se a meio caminho de completar meio ciclo de precessão. Consequentemente, o hemisfério Norte deveria estar congelado e coberto de neve enquanto o Sul deveria derreter e arder. No entanto, o Norte, tanto quanto o Sul estão aquecidos. A precessão falhou?

Ocorre que aproximadamente no início deste meio cíclo, o ser humano aprendeu a arte da agricultura e começou a utilizar a aluvião dos rios egípcios, mesopotâmicos e chineses para produzir alimento rico e abundante, o que permitiu a esses povos, e outros que os imitaram, a crecer e desenvolver suas tecnologias e artes, passando da idade da pedra para as do bronze e do ferro, a cronstruirem cidades, religiões e sistemas de governo.

O agricultor precisa de chão para plantar, tanto quanto de madeira para seus utencílios e energia para aquecer e cozinhar. Assim, as florestas da Eurásia foram devastadas e a escaces de madeira e outros recursos naturais originou guerras sem conta.

À medida que mais e mais florestas foram derrubadas e queimadas, dando lugar a campos agrícolas, juntamente com o desenvolvimento das culturas úmidas, como a do arroz, e a criação de gado, quantidades crescentes de gas carbônico e metano foram liberadas dando início ao efeito estufa provocando o aquecimento do clima que evitou o congelamento do hemisfério Norte.

Se este aquecimento não houvesse ocorrido, não teria havido condições para o crescimento da população humana nem o desenvolvimento da civilização. A Humanidade estaria ainda na pré-história, abrigada em cavernas, mal alimentada e correndo o risco de extinção.

Este aquecimento pré-industrial permitiu que a Humanidade chegasse ao início do século dezenove apta e ávida por maior desenvolvimento e mais riqueza, iniciando o uso intensivo de materiais não renováveis, tanto os minerais não carbônicos, como o ferro, cobre e chumbo, quanto os combustíveis fósseis: carvão e petróleo.

Começou um novo cíclo de produção acelerada de lixo e toda sorte de poluentes, contaminadores de mananciais, que colocam em risco a vida e, de fato, tem ceifado muitas pessoas, além, é claro, dos gases de efeito estufa, que acelera o aquecimento do clima.

Até o presente momento, em termos de crescimento populacional, de aumento da longevidade, da diminuição de doenças, da ignorãncia e da fome, os resultados têm sido positivos, apesar dos grandes males que ainda pesam sobre grande parte da Humanidade. Portanto, o aquecimento tem sido benéfico. O Homem não teria atingido o estágio atual sem este importantíssimo fator. A grande dúvida é se esse aquecimento pode progredir sem reversão das expectativas benéficas. Aqui está o desafio para a ciência. Mas tal resposta ainda não foi apresentada.

 

Desenvolvimento e Sustentabilidade – Parte II

Síndrome de Rapa Nui

Rapa Nui, nome nativo da ilha de Páscoa, é caso emblemático do destino dos desatinados que usam a Natureza de modo inconseqüente. Não há dúvidas quanto à existência, nessa ilha, de árvores e palmeiras que serviram como trenós, trilhos, roletes e alavancas necessários ao transporte e levantamento de portentosas estátuas, os gigantescos Moais de pedra.

A população dessa pequena ilha isolada do resto do Mundo, no centro do Pacífico do Sul, a meio caminho entre o Chile e a Polinésia e a mais de dois mil quilômetros da população mais próxima, cresceu e exauriu seus recursos naturais além da capacidade de auto-sustentação. O resultado foi a devastação da floresta até a última arvore e o esgotamento da terra desnuda pela erosão dos ventos e da chuva.

A luta pela sobrevivência, num ambiente exaurido, derivou para a mortandade. A população, que alguns pesquisadores estimam ter alcançado dez mil habitantes, foi quase totalmente dizimada. Quando o navegador holandês, almirante Roggeveen, a encontrou no dia da Páscoa de 1722, não havia mais do que uma ou duas centenas de pessoas na ilha.

Era uma população isolada na vastidão do Pacífico. Embora seus ancestrais fossem navegadores, bons o suficiente para encontrar e povoar aquela ilha remota, a população remanescente não podia navegar mais do que uns poucos metros além da praia com seus botes construídos com desconjuntados pedaços de madeira antiga e desgastada, amarrados com fibras e sem calafeto. Não havia, naquela ilha, os materiais necessários à construção de barcos de longo curso.

Sem terra agricultável e sem barcos pesqueiros, não havia como alimentar os habitantes. As conseqüências da Síndrome de Rapa Nui nos fazem temer a exaustão dos recursos naturais da Terra, nos aconselha parcimônia e prudência no uso deles, além de muito esforço de pesquisa científica para que possamos julgar e agir com objetividade e conhecimento de causa, para encontrar substitutos às matérias primas esgotadas e alternativas aos atuais modos de viver e consumir. Uma excelente reconstituição de fatos pré-históricos na ilha de Páscoa é desenvolvida por Jarred Diamond in Colapso, Editora Record, 2005.

Em nossa vida como indivíduos, nações ou a própria espécie humana temos, a cada momento, de priorizar valores em decisões, por vezes, muito difíceis. Como a do cirurgião ao decidir se salva a mulher em complicado trabalho de parto ou a criança por nascer. A Humanidade tem de tomar o mesmo tipo de decisão com relação às florestas e outros recursos naturais, diante do risco de perder valores tão importantes quanto elas.

Uma dessas decisões é a que hoje (2007) se discute: a proposta do Presidente dos Estados Unidos da América de permitir que a indústria madeireira abra grandes aceiros nas florestas públicas daquele país, com dois objetivos: evitar a propagação de grandes incêndios, o que seria útil para as próprias florestas e aumentar a produção madeireira o que seria benéfico para os desempregados e para os consumidores, além de diminuir a poluição do ar e propagação dos incêndios para áreas urbanas.

Diante da imensidão das queimadas em todo o Brasil, em especial na Amazônia, decorrente da pequena umidade do inverso setentrional, cabe perguntar se não seria o caso de adotar, pelo menos experimentalmente, tal medida em nossas florestas.

A discussão, amplificada pela mídia, no entanto, se processa muito mais no plano emocional. Isto se deve ao profundo sentimento de perda que todos sentimos por tão grande destruição. O debate deveria estar em plano científico, objetivo, para que possamos mensurar prós e contras e avaliar até que ponto essa medida seria útil e eficaz, ou se, por outro lado, não seria um passo adiante a caminho da manifestação global da Síndrome de Rapa Nui.

Pode a Humanidade sobreviver sem a floresta? Não somente é provável que possa, como é certo que a vida na Terra tenha existido alguns milhares de anos sem elas. Nos dias de hoje, em algumas regiões do Ártico e do Saara, existem populações sem florestas.   Durante os milhares de anos dos Períodos Glaciais, grande parte do Mundo todo esteve privado de florestas, pelo menos as do tipo que encontramos na Amazônia.

A floresta é bem de alto valor para a Humanidade, mas talvez não seja necessidade absoluta imediata como é, por exemplo, o ar que respiramos. A destruição do ar pela poluição provoca imediata sufocação, graves doenças respiratórias, desconforto insuportável. O mesmo não ocorre ao se derrubar uma árvore ou destruir a floresta inteira cujo efeito só será sentido muito depois. É essa falta de resposta imediata da Natureza, ou de percepção instantânea de seus efeitos pelo Homem que permite a este continuar a se ariscar a provocar a grande e global Síndrome de Rapa Nui.

Podemos, portanto, concluir que embora sejam de extrema utilidade, não só pelo que representam e produzem por elas mesmas mas pela biodiversidade que suportam, a Humanidade poderia sobreviver sem florestas. O que não sabemos é por quanto tempo.

 

Desenvolvimento e Sustentabilidade - Parte I

Lógica versus Emoção

Ao término de quase um ano dedicado ao estudo e à reflexão sobre a sustentabilidade da civilização ocidental e seu papel como paradigma do desenvolvimento mundial , preocupado com as ameaças que pesam sobre a Amazônia, inclino-me a discorrer sobre tema de tanta relevância para nosso futuro, para a definição do tipo e qualidade de vida que desejamos e o que seria realizável, para obtê-los, sem prejudicar a sobrevida de nossa espécie.

Na série de artigos que agora inicio, começarei por apresentar um pequeno rol de leis fundamentais que regem o Universo, a Cosmologia, a Física, a Química, as Ciências Naturais, de forma geral, pois que estas regulam o funcionamento da própria vida e, por conseqüência, da produção de todo tipo de bens, essenciais ou não a ela. As ciências exatas, como o nome diz, buscam descrever o Universo com a melhor precisão possível e são muito mais confiáveis do que as Ciências Humanas.

Arthur Koestler, in The Act of Creation (Arkana, London, 1984, pg. 332), posiciona diversas áreas do conhecimento segundo os respectivos graus de objetividade. O autor discorre sobre o tema com grande precisão lógica, profundidade científica e beleza literária.

Quanto maior a objetividade de uma matéria, maior sua verificabilidade, isto é, melhor pode ela ser comprovada por métodos matemáticos e, portanto, maior a certeza. Por outro lado, quanto menor a objetividade, maior a componente emocional, maior a dificuldade em exprimi-la por meio de equações e, portanto, maior a incerteza. As ciências denominadas exatas possuem maior grau de objetividade, verificabilidade e certeza, em contraposição ás ciências humanas, sempre submetidas a alto grau de subjetividade.

Quanto mais estatísticos sejam os procedimentos matemáticos que definem as leis de um determinado ramo da ciência, mais este apontará tendências, em lugar de fatos. É por isto que as Leis de Newton são tão precisas e as predições da Meteorologia tão aproximativas. Esta inexatidão nos aconselha a duvidar da certeza nas profecias apocalípticas que apregoam o próximo fim da humanidade pelo aquecimento global. Por outro lado, não podemos ignorar que as probabilidades de que muitos cataclismos aconteçam é realmente muito alto.

No entanto, não seria possível entender os fenômenos da civilização ocidental e, mesmo, as das demais civilizações, as atuais e as do passado, apenas com base nas Leis Naturais, sem analisar a evolução histórica dos fatos sociais e econômicos, sem considerar ciências associadas a fenômenos culturais e psicológicos.

É o conjunto do conhecimento humano, disciplinado pela metodologia científica, que nos permite prosseguir na busca das possíveis soluções para a estagnação, ignorância e pobreza dos povos da Amazônia, dos caminhos que nos conduzam ao conhecimento e à informação específicos da região, à prosperidade e a abundância.

Um dos benefícios de uma sociedade se encontrar atrasada em relação a outras, como o Brasil em ralação às sete maiores potencias econômicas mundiais, é poder observar os bons e maus métodos adotados por estas, selecionar o que possa ser útil e evitar os erros, assim como, dar saltos tecnológicos, posicionando nossos sistemas produtivos em posição de competitividade perante indústrias a caminho da obsolescência dos países mais desenvolvidos.

Observar o comportamento das nações mais desenvolvidas nos ajudará a evitar desperdícios e otimizar a eficiência ecológica, além de permitir encontrar procedimentos metodológicos e tecnológicos capazes de aumentar nossa eficiência econômica. Neste aspecto, é de extrema importância o exame acurado da história sob a ótica ecológica. É por isso que, aos fundamentos científicos, associo alguns aspectos da História, da Sociologia e das tendências evolutivas da Humanidade. Alguns dos fenômenos mais importantes a serem estudados encontram-se na área da Ecologia e, para ressaltá-los, formulo o conceito da "Síndrome de Rapa Nui", que descreve o uso indiscriminado dos recursos naturais até que, exauridos, não mais pudessem sustentar a população de Ilha de Páscoa.

Japão, América do Norte, Europa constituem sociedades afluentes, com altos índices de qualidade de vida. Não é justo e não há porque acreditar que amazônidas devam ser condenados à miséria, à condição de meros mantenedores de sorvedouros do carbono que outros fazem jorrar na atmosfera. Certamente, há barreiras a serem vencidas, caminhos a serem trilhados, métodos e processos produtivos que nos conduzam à felicidade.

28 de junho de 2007

Beatriz Lalor Imbiriba - Saudades



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Beatriz Lalor Imbiriba (nascida Beatriz de Jesus Machado Lalor) faleceu às 22:45 h de 26 de junho de 2007, por falência múltipla culminando com parada respiratória. O óbito ocorreu no Hospital Sagrado Coração, em Santarém. No dia seguinte, 27, Beatriz foi velada na Igreja São Sebastião e seu corpo enterrado no Cemitério dos Mártires, na tumba onde jazem os restos mortais de seu esposo.

Filha de Pedro Piani Lalor e Beatriz Machado Lalor (nascida Beatriz Meireles Machado), Beatriz nasceu em Belém no dia 1º de abril de 1908, falecendo, portanto, com 99 anos. Foi casada com o Coronel Mário Fernandes Imbiriba (falecido em 1972), de quem teve 11 filhos, 42 netos, 35 bisnetos e 2 trinetos, no total de 90 descendentes.

Beatriz foi educada no Rio de Janeiro, na casa que pertencera a seu avô materno, barão do Solimões, Manoel Francisco Machado. Cursou o Conservatório Nacional de Música, formando-se pianista, tendo se apresentado como solista antes de casar-se e conservando por muitos anos suas qualidades de virtuose e interprete de grande sensibilidade, apesar dos trabalhos domésticos e cuidados de muitos filos. Escritora (História de Fernando de Noronha), articulista, comentarista radiofônica, teve vida cheia de trabalhos em prol dos desvalidos e da Igreja Católica, como irmã da Ordem Terceira de São Francisco (com o nome religioso de irmã Verônica), membro da Renovação Carismática e patrocinadora das Vocações Sacerdotais.

Beatriz foi enterrada como viveu, conforme suas últimas vontades, simples, humilde e pobre, tendo se desfeito de todas as jóias e outros bens para se dedicar inteiramente à vida de meditação, oração e obras sociais. Acima de tudo, Beatriz foi uma mulher de caráter firme e moral inabalável, de grande sabedoria e profundo entendimento da natureza humana.

A família agradece a Eunice Imbiriba Correa que durante os últimos seis anos dedicou sua vida a cuidar da mãe inválida e prograssivamente incapacitada, bem como, ao Dr. Fábio Botelho pela competência e extraordinária dedicação com que cuidou de Beatriz.

30 de março de 2007

Alcoa: um viés imperialista?

Sebastião Imbiriba, 29/03/2007

A tradição imperialista de origem das empresas mineradoras deixou marcas profundas que permeiam a cultura corporativa, não apenas em seus escalões superiores, mas em todo o corpo funcional. As empreiteiras contratadas herdam esse jeito centrado em seus próprios interesses, prepotente, colonialista.

O mundo moderno exige outra postura. As novas teorias de administração de negócios, o melhor e ampliado interesse dos acionistas, suas modernas sociedades de origem e as atrasadas comunidades em que atuam, requerem comportamento mais aberto, mais participativo, mais includente, de modo que os ganhos corporativos se tornem mais seguros, estendidos e maiores, na medida em que a repartição dos benefícios seja mais abrangente e mais duradoura. Se todos ganham, todos são felizes.

Seguindo essas diretrizes, as mineradoras estabelecem políticas de direcionamento de aquisições para as áreas em que atuam. Junto com o governo, em seus três níveis, usando a liderança local da Associação Empresarial de Santarém como instrumento de mobilização e coordenação, buscam capacitar e qualificar fornecedores desta região.

Ambos, compradores e fornecedores, tentam criar nova abertura, nova atitude, nova cultura. Abertura, para entender que o esforço atual resultará em benefícios de longo prazo. Atitude, para predispor aos objetivos ampliados. Cultura, para formar a complexa gama de conhecimentos e informações necessários à execução de sofisticados procedimentos. As empresas locais desenvolvem esforço quase insuportável, que requer coragem, investimento e dedicação desproporcionais ao porte das firmas regionais.

Tal esforço tem sido frustrado. Pequenas empresas se estabelecem, iniciam o fornecimento e são preteridas tão logo um fornecedor preferencial se apresente. A sociedade reclama, se mobiliza. A direção da mineradora declara surpresa e promete correção de rumos.

O problema reside na mudança de atitude de aquisição das mineradoras e suas contratadas. A inércia é grande e prejudica as mudanças. O jogo de interesses é muito maior e beneficia grupos e esquemas pré-estabelecidos.

As mais diversas e sutis formas de enganar acionistas e sociedade são adotadas para proteger tais interesses e impedir o ingresso de fornecedores locais. Um artifício, por exemplo, é a consulta genérica, vaga, sem especificações, sem parâmetros, destinada a contemplar apenas a quem esteja familiarizado e saiba o que o comprador de fato deseja. Outro é solicitar propostas complexas, com prazos exíguos de 24 horas. Tudo simplesmente para mostrar ao público, se houver indagações, que as firmas regionais são incompetentes ou não se interessam e, prova disto, é que não se enquadram nos requisitos ou nem respondem às tomadas de preços.

Fornecedores metropolitanos, com relações de amizade e interesse estabelecidos, protegidos e beneficiados por informação privilegiada produzem propostas imbatíveis. Esse estamento se consolida dentro e junto das grandes empresas porque serve para garantir tranqüilidade a executores e executivos. Falhas de fornecedores tradicionais são prontamente escondidas ou neutralizadas. Nenhum comprador se arrisca a contratar desconhecidos, sem credibilidade, fora do esquema, exatamente as empresas locais que desesperadamente lutam por se qualificar.

Retirar minério, adquirindo materiais e serviços qualificados na metrópole, mantendo baixa qualificação na área de produção é extrativismo anacrônico, explorador e colonialista que, ao se esgotar, deixa imenso buraco repleto de frustração e ódio, ignorância e miséria.

A sociedade desta região aclama o advento da ALCOA como abertura de possibilidades de desenvolvimento econômico, social e cultural. Todos acreditam nas doces palavras dos mensageiros do advento, têm fé nos declarados propósitos corporativos de introduzir a empresa em Juruti e seu entorno no Baixo Amazonas, com o menor trauma e o maior benefício para a região e seus habitantes. A prática desmente a palavra.

Ajudaria muito se os procedimentos de aquisição além de éticos, igualitários e transparentes, buscassem com grande ênfase, na fase inicial, promover e consolidar os fornecedores locais, capacitando-os a concorrer com os metropolitanos. Mas o maior benefício seria a capacitação cultural das lideranças locais, trazê-las para o universo do conhecimento e da informação, desenvolver capacidade empreendedora e administrativa nas áreas de governança e empresarial. É o que colonizadores não fazem. É o que está por ser realizado. É o que se espera da Alcoa.

 

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29 de março de 2007

Çairé: Uma estratégia de vendas

Sebastião Imbiriba, 22/03/2007

Santarém necessita que o Turismo gere empregos para absorver as dezenas de novos turismólogos que se formam a cada ano, os milhares de desempregados decorrentes dos entraves aos negócios madeireiros e a outro tanto de jovens que, desesperançados, se apresentam ao mercado de trabalho.

O atual fluxo de turistas é insignificante diante das necessidades. Cerca de trinta mil passageiros dos navios de excursão produzem insignificantes empregos sazonais com apenas cerca de trinta dias de trabalho por ano. O turismo de negócios não tem força suficiente e promove ocupação hoteleira anual inferior a quarenta por cento. O turismo de lazer ocorre com maior intensidade durante o Çairé e, mesmo assim, a maior parte do fluxo se hospeda com familiares, deixando muito pouco para a economia local.

Árduo esforço é desenvolvido por diversas entidades públicas e privadas na tentativa de gerar fluxo turístico para esta região. Esse trabalho se realiza com grande eficiência, mas infelizmente, com pouca eficácia, sem resultados práticos. Esse esforço enfrenta concorrência de centros receptivos muito melhor aparelhados e com maiores recursos, de modo que o Pólo Tapajós desaparece das vistas do público, dos agentes emissivos e dos operadores. Há necessidade de estratégia de vendas muito mais agressiva para vender nossos produtos.

No enfoque do Marketing, nosso produto mais poderoso, sem sombra de dúvidas, é o Çairé, ou melhor, o Festival dos Botos que o acompanha. Será este, portanto, o ponto de partida para esforço de vendas em âmbito mundial que requer recursos e muita, muita audácia.

Proponho a formação de uma troupe de cerca de vinte rapazes e moças, em dois grupos representando os botos Tucuxi e Cor de Rosa que, ensaiada pelo melhor coreógrafo que possa encontrar, equipada com tudo o que seja necessário para um bom espetáculo, se apresentará regionalmente para adquirir experiência e familiaridade com apresentações, tanto em casas de espetáculo quanto ao ar livre. Então, a troupe percorrerá grandes cidades, no Brasil e no exterior, mostrando ao Mundo que temos excelente produto, somos hospitaleiros e ansiosos por receber visitantes.

Parte dos custos serão cobertos por patrocínio cultural, outra, por fundos públicos e privados da área do turismo, o restante por eventual renda de bilheteria.

O objetivo principal é apresentar o Çairé e outros produtos, em ambientes fechados, para convidados do segmento turístico e formadores de opinião. Igualmente importante pelo impacto serão as performances em movimentadas vias públicas e em frente às agências emissivas e operadoras de turismo, formando pequenas multidões em ligeiros carnavais, tudo acompanhado e televisado pela mídia previamente convidada. Enquanto isto, agentes comerciais bem treinados venderão, dentro da agencia, o produto exibido na rua.

A repercussão será grande o suficiente para atrair, e não apenas no Çairé, quantidades crescentes de turistas para usufruir os produtos que podemos desenvolver e oferecer.

O efeito será bombástico pelo uso de música, dança, canto, efeitos cênicos, tudo envolto pela alegria e simpatia naturais de nossa gente. Não temos bombas, mas temos carnaval. No caso, temos Çairé. Então, vamos sair e vender Çairé.

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19 de março de 2007

8 de março - Dia Internacional da Mulher

Discurso, baseado em letras de música popular brasileira, proferido por Maria Avelina Imbiriba Hesketh, Conselheira Federal da OAB, na Sessão Plenária do Conselho Federal da OAB do dia 12MAR2007..

Em nome do Conselho Federal, por delegação do Exmo. Sr. Presidente César Brito, inicio minha fala em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, declamando o

 

POEMA DO POSICIONAMENTO

Clarice Lispector

 

NÃO TE AMO MAIS.

Estarei mentindo se disser que

Ainda te quero como sempre quis.

Tenho certeza de que

Nada foi em vão.

Sinto dentro de mim que

 

Você não significa nada.

Não poderia dizer jamais que

Alimento um grande amor.

Sinto cada vez mais que

Já te esqueci!

E jamais usarei a frase

EU TE AMO!

 

A autora pede que, agora, leiamos o poema de baixo para cima. Vejamos:

 

 

EU TE AMO!

E jamais usarei a frase

Já te esqueci!

Sinto cada vez mais que

Alimento um grande amor.

Não poderia dizer jamais que

Você não significa nada.

Sinto dentro de mim que

 

Nada foi em vão

Tenho certeza de que

Ainda te quero como sempre quis.

Estarei mentindo se disser que

NÃO TE AMO MAIS.

 

Escolhi esse poema, porque somente uma mulher, - quem tem a delegação divina de fazer a vida -, seria capaz de transformar, num único texto, o não amor em amor.

Assim, a MULHER desafiou a história e a humanidade. Rompeu conceitos e preconceitos

Da Amélia que acreditava ser mulher de verdade, num espaço privado, a lavar a roupa e beijar a boca, ela não se conformou mais em viver a toa na vida, vendo e deixando a banda passar.

Cantando coisas de amor, juntou a sua gente sofrida e despediu-se da dor.  Levou a marcha alegre a se espalhar nas avenidas da vida e do mundo, e insistiu para que a Carolina, que passava o tempo na janela, com seus olhos fundos, a guardar tanta dor, visse, apesar da dor deste mundo sentida por tantas mulheres, que o amanhã haveria de ser outro dia.

Agora, falando sério, a moça triste que vivia calada sorriu, e todas as Marias e Marias compreendendo que era preciso ter força, ter raça, ter gana e ter manha, impunharam a bandeira da luta pela liberdade e pelo direito.

Como conquista, a Rosa triste que vivia fechada se abriu e a lua cheia que vivia escondida surgiu para dizer que daí em diante, todos seriam iguais em direitos e obrigações, sem distinção de credo, cor e sexo.

Mas, caminhando e cantando, ainda sem lenço e sem documento, a Rita foi acusada de ter levado o sorriso dele no sorriso dela, junto com ela o que lhe era de direito, arrancou-lhe do peito, causou-lhe perdas e danos, porque levou, também, os seus planos e seus pobres enganos.

Daí, a Maria sem se abater, com a certeza de que a sua gente sofrida se despedira da dor, chamou a Cléa, a Marilma, a Gladys, a Gisela, a Wanderly, a Adélia, a Avelina  e tantas outras, e disse: vocês são um dom, uma certa magia, são o som, a cor e o suor, são mulheres que merecem viver e amar, mas é preciso ter força, ter raça, ter gana e ter manha.

E nós, acreditando ser divinas e graciosas, estátuas majestosas do amor, por Deus esculturadas e formadas com ardor; ser de Deus a soberana flor e a criação, deixamos a porta do nosso barraco sem trinco, para receber de braços abertos a chegada da liberdade, do respeito, do reconhecimento e de todos os direitos.

Mas a lua furando nosso zinco, salpicou de estrelas o nosso chão. E, pisando nos astros distraídas, passamos a ter a certeza de que mais do que nunca, a partir de agora, a despeito de nosso mais novo papel, continuaremos a ser luz, sedução e poema divino cheio de esplendor.

 

Tel:  55 93 3523-2181

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17 de março de 2007

Dois poemas em homenagem ao Dia Internacional da Mulher

Mulher

 

Sebastião Imbiriba

Santarém, 8 de março de 2006

 

Mulher...

Quem te olha,

Quem te quer

Em toda forma

Que tiver,

Seja mãe,

Filha, irmã,

Amante, amiga,

Mulher!

 

Me rendo a ti

E te respeito

E reconheço

O teu valor,

Me rendo a ti

Porque te amo,

Mulher.

 

 

 

Mulheres

 

Sebastião Imbiriba

Rio, 14 de outubro de 1995

 

Mulheres são belas,

Mulheres belas são belas,

Mulheres resolutas são belas,

Mulheres inteligentes são belas.

 

Esposas são belas

E Mães são muito belas,

Avós são lindas

E Mães de avós me deixam pasmo:

Donde vem tanta beleza?

 

Sim... Mulheres são belas.

São belas nos gestos,

São belas no olhar,

São belas no fazer,

São belas no ter,

São belas no ser.

 

Sim... Mulheres são belas.

São belas na alma

E belas no saber

E lindas no querer

E mais ainda no amar.

 

Mulheres.

É muito bom tê-las.

Melhor ainda,

Muito melhor,

É ser delas.

 

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10 de março de 2007

Túneis verdes nas avenidas e estradas de Santarém

Sebastião Imbiriba, 08/03/2007

O artigo "Bosques e jardins Perfumados para Santarém" repercutiu de modo extraordinário; parece que um ponto sensível nos corações das pessoas que vivem e amam esta cidade foi atingido por um toque mágico, exatamente porque, longe de ser uma idéia original nossa ou de qualquer outro, individualmente, há um desejo profundo no inconsciente coletivo de nosso povo de compensar as agressões que Santarém tem sofrido ao longo dos séculos com falta de planejamento e inconseqüência das pessoas.

Alguns me enviaram mensagens comovidas oferecendo colaboração pessoal irrestrita, outros revelam que já cultivam bosques em seus sítios ou consorciam árvores e pastagens em suas fazendas, há quem ofereça mudas ou apresente sugestões, as mais variadas, desde doação de mudas a recém nascidos na própria maternidade até homenagens a pessoas que, por iniciativa individual, plantam árvores em seus quintais, nas ruas e praças desta cidade.

Bem no início da Rua dos Artistas, na Praça São Sebastião há uma frondosa mangueira cuja sombra ocupa a largura da rua. Se vocês já notaram a presença desse belo espécime, saibam que foi semeada há mais de setenta anos pela matriarca de uma das famílias tradicionais de Santarém, Dona Marcolina Ayres. Essa árvore era cercada por um tosco banco de madeira onde seu genro, o vereador Xixito Gentil, recebia correligionários e quantos lhe iam pedir favores. A linda mangueirinha do Trevo da Calcinha foi plantada por Dudu Dourado e Ney Imbiriba em uma manifestação Verde. As estórias são muitas e a crônica delas merece ser levantada e quem souber de casos semelhantes, por favor envie para simbiriba@gmail.com.

Muita gente já sabe, mas ainda não estou autorizado a revelar oficialmente que uma associação civil composta por importantes membros de nossa sociedade toma a iniciativa de um projeto que, posto em prática, transportará essas idéias e ações individuais do mundo de sonhos e fantasia para a realidade concreta através de um projeto realista devidamente financiado por particulares e profissionalmente administrado, evidentemente que em harmonia com o poder público, mas sem ingerência governamental. Será a sociedade civil organizada mostrando sua capacidade de contribuir efetivamente para o desenvolvimento humano desta região. O grande diferencial é que, em vez de falar, estão agindo em silêncio, executando.

O momento é oportuno, portanto, para alertar a sociedade e exigir que duas grandes vias atualmente em obras de reconstrução e ampliação, estradas que dão acesso ao Aeroporto e à hidroelétrica Curuá-una, sejam arborizadas, formando longos e belos túneis verdes. Imagine só o viajante que chegue a Santarém e, no caminho para a cidade, percorra uma bela avenida ajardinada, florida, coberta por árvores perfumadas. Que encantamento, que emoção.

A construtora responsável pela obra da estrada do Aeroporto deveria reparar o péssimo serviço que executou na Orla, com calçadão sem inclinação para correto escoamento das águas pluviais, que ficam empoçadas e sujas, e a imundície em que transformou as praias, tomando a iniciativa de reparar o mal que cometeu e, além disso, arborizar densamente a Fernando Guillon.

Medidas como estas devem, oportunamente, ser adotadas em todas as avenidas, ruas e mesmo as estradas, da cidade, sejam elas federais, estaduais ou municipais. A sociedade civil estará atenta a estas questões e não deixará que se cometam novos atentados contra nossa cidade, ao mesmo tempo em que se aplicará em torná-la mais humanizada e mais bela.

1 de março de 2007

Bosques e jardins perfumados para Santarém

Sebastião Imbiriba, 01/03/2007

Para corrigir e melhorar, não somente o clima, mas os aspectos urbanístico e paisagístico que irão humanizar esta cidade, nada mais adequado, urgente e meritório do que a arborização de nossos logradouros através da criação de parques, bosques e jardins com espécies essenciais perfumosas.

Há muitos anos alerto e escrevo sobre a urgente necessidade de arborização de Santarém, do plantio de parques, bosques e jardins nesta cidade cada vez mais desnudada de sua cobertura arbórea. A ocupação com múltiplas e compactas edificações dos antigos quintais onde outrora existiam frondosas e centenárias árvores, associada à destruição da arborização das vias públicas para abrir espaço aos veículos, eliminou os micro-climas amenizadores do calor de Santarém.

Em 2001, em artigo publicado em um dos periódicos desta cidade, sob o título "Árvore na Orla, nome na História ", instei para que a administração municipal marcasse seu nome nas crônicas desta cidade, para ser lembrada por muitos séculos, plantando alguns milhares de árvores ao longo de toda a orla ribeirinha, reforçando com o argumento de que Santarém ficaria ainda mais bela. Um dos maiores feitos do Imperador Pedro II foi mandar restaurar a Floresta da Tijuca e Mendonça Furtado é lembrado por arborizar com espécies exóticas inúmeras cidades brasileiras.

Em 2004, sob o título "Árvores e bosques para Santarém", afirmei que: "Se há tema que me apaixona e sobre o qual de vez em quando volto a falar, certamente, arborização urbana é um deles".  Numa audiência pública sobre o Plano Diretor de Santarém realizada em 2003 na Câmara Municipal, manifestei preocupação com a falta de árvores na orla e no centro da cidade. Parecia-me inconcebível que tais projetos, de grande importância ecológica, não contemplem o paisagismo, a arborização, a humanização do ambiente urbano.

Há nesta cidade inúmeros locais perfeitamente adequados à construção de bosques, parques e jardins, todos eles ameaçados por olhos ávidos por enchê-los de concreto armado. O pior é que este verdadeiro atentado contra a humanização desta cidade é perpetrado por veneráveis instituições que, elas mesmas, proclamam a defesa ecológica.

Entristece-me profundamente o crime que a construtora da Orla perpetrou ao não plantar sequer um único arbusto e, além disto, revolver as areias, misturando-as com barro, deixando um monte de lixo, restos de estacas de concreto e outros materiais sobre a praia, transformando-a em horror para a vista e risco para banhistas e embarcações que embicam nas margens do rio. Este crime ambiental deve ser reparado e evitado a todo custo no prosseguimento das obras da orla. Alguma solução técnica deve ser introduzida de modo a que o novo trecho da Orla seja arborizado e, quem sabe, se possa beneficiar a parte já construída.

A alameda central da avenida Anízio Chaves, estendida desde a Cuiabá até a margem do rio nas proximidades da Tecejuta, deveria ser totalmente preenchida com árvores frondosas e canteiros de flores. Assim, muitos outros espaços tais como os da Aeronáutica, do Exército, do Ibama poderiam, inclusive por iniciativa de seus detentores, ser transformados em parques, bosques, jardins, canteiros, jardineiras, sempre que possível com plantas essenciais que exalem perfume ou possuam intensa floração.

Este é um sonho antigo, não apenas meu, mas de muitas outras pessoas que amam apaixonadamente esta terra. Por isto mesmo, acompanho, com grande entusiasmo, muita alegria e pleno interesse em integrar-me ao projeto, a iniciativa de pessoas de visão e altamente competentes em suas respectivas atividades particulares, dispostas a investir dinheiro do próprio bolso para disparar o processo de transformação de Santarém num das mais belas, mais floridas e mais perfumadas cidades deste Planeta.

Iniciamos, todos juntos, a marcha para sermos, com profundo orgulho, uma cidade de bosques e jardins perfumados.

Um dino em meu quintal

Sebastião Imbiriba, 09/11/2001
 

Imagine você dirigindo seu reluzente automóvel novinho em folha por uma das principais avenidas da cidade, levando a bordo sua mulher, sua sogra, seu filho de quatro anos parecidíssimo com o avô paterno e seu bebê de oito meses, uma lida menina com a cara de sua mãe. Passeio tranqüilo. De repente você ouve um tropel infernal. Bandos de monstruosos dinosauros perseguem o almoço do dia. Um dos dinos pisa em seu carro e o amassa quase eesmagando todos os que estão dentro. O dino que vem atrás percebe movimento dentro do carro e resolve investigar. Seu bebê lhe parece bem apetitoso. Ele enfia a garra e pucha a sogra com o bebê no colo. Você nada pode fazer. Suas pernas estão presas nas ferragens. Outros dinos percebem o movimento e logo você, sua mulher e seu lindo filho são completamente devorados. Nada resta daquela bela família que saira a passear em tranqüila tarde de domingo. Não sobra quem reclame o seguro.

Se os dinosauros não tivessem desaparecido da face da Terra há milhões de anos, este seria um acidente comum e muitas ONGs estariam gritando que famílias a passeio em tardes de domingo são ameaça de extinção dos dinos.

Existem coisas das quais não sinto a mínima falta e das quais gostaria que a Humanidade se livrasse, para sempre, junto com os dinos e todas as insubstituíveis espécies que já se foram junto com eles. O virus da AIDS é uma delas. Há também os insetos transmissores da dengue, da malária, da doença de Chagas e muitos outros vetores de males que nos afligem. A lista é infindável e o Homem ficaria melhor sem qualquer deles.

No entanto, sou particularmente apaixonado por árvores frondosas, milenares protagonistas da vida natural. É doloroso ver qualquer delas ser derrubada. Milhões vieram a baixo para servir de dormentes no apogeu das ferrovias. Muitos outros milhões delas continuam a ser abatidas para os usos mais diversos, muitos deles muito pouco nobres. É triste ver o desperdício e sinto que se deve fazer muito para evitar a destruição completa.

Mas meu instinto preservacionista é mitigado pela constatação de que esse ideal tem se transformado em fanatismo radical, algumas vezes e, muitas outras, em fachada para esconder a defesa de interesses exóticos descasados das necessidades dos povos da Amazônia. O primeiro caso dá origem a comportamentos idiosincráticos. O segundo a vergonhosos testemunhos de venalidade e subserviência aos financiadores dessa quinta coluna paga para dividir os brasileiros e entregar a Amazônia.

É necessário racionalismo na discussão dos temas ecológicos. Para exemplificar: - tem sido aladeardo o grande potencial de processamento de CO 2 pelas florestas e, daí a importância da preservação destas. No entanto, o volume total de carbono armazenado pela floresta é praticamente constante ao logo de séculos, aumentando um pouco a cada ano. Na realidade, praticamente todo o carbono existente nas florestas de hoje foi acumulado no decorrer das muitas décadas do crescimento das árvores.

 Ao contrário, a quandidade acmulada em campos agrícolas brasileiros com suas duas ou três safras anuais, sendo a palha incorporada ao solo, não somente aumenta substancialmente a cada ano, como o valor econômico da produção é muito maior e mais imediato.

Vejamos o caso da Reserva Extrativista Tapajós Arapiuns situada em região reconhecidamente pobre e esgotada onde a capacidade de produção é ridícula se comparada com a de áreas semelhantes dedicadas à agricultura intensiva. A única razão de ser dessa aberração socio-ecológica é a de justificar o custeio de determinados agentes que vivem de iludir a boa fé dos incautos.

As questões ecológicas deveriam ser analizada do ponto de vista da utilidade social do uso da terra para a Humanidade. Neste caso teríamos de julgar se as terras dos povos em desenvolvimento, como o Brasil, devem servir para neutralizar o veneno gerado pelas nações poluidoras, as mais ricas, ou se devem produzir alimentos para toda a Humanidade.

Gosto muito de visitar museus. Essas instituiçães são repositórios da memória da Humanidade e do Universo. O Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, merece ser revisitado várias vezes pela quantidade e diversidade de seu acervo, desde sarcófagos egípcios até meteóritos gigantes. Bem ali perto, o Jardim Zoológico é museu vivo da nossa fauna, assim como o Jardim Botânico do Rio de janeiro o é da flora brasileira. Foi ali que conheci o Pau Brasil. O Museu de História Natural de Nova Iorque possui gigantescas reconstituições de ossadas de dinossauros.

Parques e reservas são museus naturais vivos. Devem existir em extensão e quantidade suficiente para preservar tesouros desconhecidos e manter a chance de a Humanidade os conhecer sificientemente para deles se beneficiar no futuro.

Se fosse possível evitar  contaminação e propagação de doenças e outros males, sejam eles provocados por micoorganismos ou gigantescos dinossauros, seria recomendável instituir e manter museus biológicos com todas as espécies existentes no Universo, inclusive dinossauros e virus da AIDS. Mas eu jamais me arriscaria, assim como condeno a geração de materiais radioativos em usinas atômicas. O risco é grande demais e todos conhecemos a lei natural que rege: "Se algo pode dar errado, isto certamente ocorrerá".

Se temos que preservar, devemos usar os meios apropriados, museus, conservatórios, reservas e parques para abrigar a flora e a fauna a serem resguardadas, corretamente dimensionados e criteriosamente distribuidos. Mas não podemos impedir que os povos do Mundo sejam alimentados apenas porque alguns xiitas ecológicos querem fazer prevalecer suas irralísticas idéias.

Há alguns anos, brincando em meu quintal com um neto de dois anos, tive a inspiração para um poema intitulado Pitanga. O neto insistia em que eu o levantasse bem alto para que ele catasse as pitanguinhas. Relembrando aqueles momentos de felicidade e de amor, afirmo a vocês: - não sinto a mínima falta de nenhum dinossauro ciscando em meu quintal.



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23 de fevereiro de 2007

Êxtase das águas

(Bodas do Amazonas com o Tapajós - Encontro das Águas)

 

Sebastião Imbiriba, Santarém 22-02-2007.

 

Escarlate fimbria matinal do Sol

No horizonte verde da floresta imensa,

Fita altos gelos do gigante Andes

E as alvas neves da montanha branca

Despertam o Astro, em ofuscante brilho,

E o fazem erguer-se, enamorado e quente,

Sem cuidar da amada, em seu desejo louco,

Aquece-a tanto, em seu fulgor celeste,

Que a faz chorar em estertor de gozo.

 

São estas lágrimas de paixão ardente

Que escorrem frias no basalto negro,

Sagrado líquido... insensíveis rochas...

Despencam livres... temerário salto!

Encontram logo a planície vasta

Por onde fluem, chorando mágoas

Do infiel amante que se deita avante

Com o Mar da Paz pro amor da noite.

 

As nuvens cinzas, que a tudo assistem,

Têm dó profundo das águas tristes

E também choram torrentes francas,

Aliviando a dor de quem tanto sofre

Por tanto arroubo... tão pouco amor!

 

As duas águas, agora unidas,

De alvas neves e escuras nuvens,

Disparam juntas, rumo d'Atlântico

Cortando matas, mitigam a sede

D'Amazonas nuas buscando pares,

As águas ocres do longo rio

Fluem fogosas, do Tapajós sedentas,

Que logo esposam, em estreito laço

Do matrimônio que não tiveram.

 

Cingem as águas dos grandes rios,

Impetuoso enlace, arrebatados beijos,

Línguas sedentas de encontrar depressa

Ventres abertos, entrâncias fáceis,

Descobrem logo responder com fogo

Avanços loucos de desejo ardente

E se penetram em extasiante ardor,

Completo êxtase, prazer e amor

Que estende e alonga até o fim do mundo

Onde as acolhe... o Oceano... sem fim.

 

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13 de fevereiro de 2007

De volta à Terra da Felicidade

Sebastiãoo Imbiriba

Nancy e eu passamos setenta e cinco maravilhosos dias em companhia de nossa filha, genro e netos, Valéria, Ricardo, Ícaro, Ivo e Clara, vivendo as delícias de estar em frente ao mar, na praia de Boa Viagem, com pessoas tão amadas e há tanto tempo distantes de nossos olhos e nossos carinhos. E ainda tivemos a felicidade de nossa neta Jaqueline vir do Rio de Janeiro nos brindar com sua alegria e nos matar as saudades.

Muito cedo pela manhã, antes do Sol começar a espiar por cima da África distante, do outro lado do oceano, já estava eu à janela apreciando a beleza dinâmica do vento movendo ondas por sobre os arrecifes, jogando-as contra as areias, em espetáculo de movimento contínuo, não só do mar, mas das folhas dos coqueiros animadas pela brisa constante, das pessoas compenetradas a se exercitarem na pista de Cooper, dos automóveis, raros naquele momento, que começavam o percurso matinal para o trabalho que logo se transformaria em rush, formando tudo um conjunto de sensações prazerosas, inesquecíveis.

Ali ficava eu embevecido, aguardando que dentro em pouco Nancy me convidasse a gozar as delícias das piscinas naturais que se formam de quando em quando por toda a extensão da imensa praia, porque o ambiente ali era todo irrecusável convite à ação, à agitação, ao frevo. Frevo. Em festas contínuas, Recife comemorava cem anos de frevo.

Mas as saudades apertavam. Retornamos. Santarém, ah Santarém... Enquanto vínhamos do aeroporto para casa lembrava-me do que meu pai me dissera há tantos anos quando comentei o quanto esta cidade era grande, dinâmica e bela. Ele amou Santarém com toda sua alma e buscou dar-lhe o melhor de seu espírito operoso e magnânimo, mas num momento de realismo cético disse: "Vais agora ao Rio, na volta compara e me diz o que achas".

Cheguei e logo fui pedir benção a minha mãezinha. Gratificado por ter revisto minha mãe muito amada, macambúzio por vê-la no hospital onde se recupera de mais um problema de um organismo quase centenário, reanimado por sua inquebrantável vontade de viver, caminhava pela cidade, observando-a, com os antigos pensamentos repovoando minha cabeça.

Muito cedo na manhã seguinte, antes do Sol começar a espiar por cima da floresta imensa do outro lado do grande rio, já estava eu à janela apreciando a beleza tranqüila do Tapajós passando diante de mim em sua lenta marcha nupcial com o Amazonas. Não me contive, atravessei a rua e fui à beira-rio, reencontrando rostos conhecidos que me abanavam a mão e me sorriam enquanto passavam em seus compenetrados exercícios matinais. Olhei as águas escuras com seus tons avermelhados típicos das cheias quando o rio lava as árvores dos igapós. Olhei as mangueiras pejadas de frutos quase maduros fazendo a alegria de multidões de periquitos. Olhei o casario familiar, a fachada da casa onde moro e na qual meu pai viveu seus últimos dias. Aqui tudo é tranqüilidade, convite ao pensamento, à reflexão, ao estudo desta terra e da gente que a habita.

Então me dei conta de onde realmente estou. Não há outro lugar onde queira estar. Pois que aqui é meu lugar, o lugar ao qual pertenço, a terra que amo, o povo a quem amo, Santarém, a Terra da Felicidade.

7 de fevereiro de 2007

O exaustivo charme do turismo*

Sebastiao Imbiriba
O turismo é tão encantador, divertido e restaurador que se tornou a maior industria mundial, tanto em volume de transações financeiras quanto no número de pessoas nela envolvidas profissionalmente e mais inda nas que praticam essa charmosa atividade. Para os que viajam por lazer ou a negócios e aproveitam para fazer turismo, que vão a lugares interessantes, exóticos ou passeiam nas proximidades e até mesmo dentro das cidades onde vivem é tudo divertimento, alegria, prazer, quem sabe, contrição, nos eventos religiosos ou esforço físico, nas excursões esportivas.

Há de tudo, porque turismo se pratica de muitas formas e utilizando os mais diversos pretextos, dos festivais gastronômicos e de chope ou vinho aos carnavais e micaretas, de praias e pântanos às montanhas e corredeiras, de congressos médicos e de outras profissões aos leilões de arte, antiguidade e gado, dos campos de nudismo as desfiles de moda, dos concertos musicais às apresentações de dança, drama e comédia. É sempre tudo muito divertido, no sentido de festejar ou de divergir da rotina. Este aspecto de diversão geral dá a impressão de que turismo é tudo festa, só festa.

Engano. Nada mais sério, absorvente e árduo para os profissionais do turismo, desde a camareira que arruma os quartos no hotel modesto ao comandante do grande transoceânico de altíssimo luxo, dos atendentes na central de informações e reservas aos empresários das redes hoteleiras e grandes operadoras mundiais. E, enquanto os turistas se preparam para suas excursões, se divertem ou descansam do divertimento o trabalhador do turismo labuta ativa e exaustivamente. A montagem de uma feira é um pandemônio de atividades múltiplas acontecendo ao mesmo tempo. Enquanto técnicos em eletricidade, telecomunicações e informática estendem cabos, instalam luzes e montam equipamentos, outros operários edificam estandes, pintam e assentam alcatifas. Ai é a vez dos recepcionistas, modelos e manequins, dos vendedores e executivos recepcionarem os visitantes.

Muito antes, no entanto, arquitetos, engenheiros, mestres de obras e operários da construção trabalharam na edificação de hotéis, centros de convenções, parques de diversão, museus, teatros e facilidades públicas como estações de ônibus e trens, portos, aeroportos e uma infinidade de outros equipamentos. É incrível a quantidade de papel impresso dedicado ao turismo, revistas, jornais, cadernos encartados, folhetos e cartazes. Jornalismo especializado em turismo é importante ramo da profissão dedicado a reportagens e documentários destinados à mídia impressa e televisiva.

Estes aspectos do turismo, quase sempre desapercebidos do público e do próprio turista ainda não revelam a seriedade com que se realiza essa grande festa universal. A impressão que o público tem é de que há uma certa displicência associada ao divertimento. É outro engano. Nenhum outro negócio se faz com tanta seriedade e, no entanto, apenas de boca, sem documentação como os negócios de turismo. Em primeiro lugar, as pessoas se conhecem e as feiras e congressos do ramo turístico servem exatamente para isto. Na realidade, as agências de viagem e operadoras mais ativas estão sempre nas mesmas feiras, representadas pelas mesmas pessoas, com alguma variação e pouca renovação. Embora o número de jovens seja muito grande, é importante o contingente dos veteranos que vão e voltam com as mudanças nos negócios, nas empresas ou na política. Desta forma, os profissionais do ramo se conhecem pessoalmente e as notícias se propagam boca a boca com enorme celeridade.

De modo geral, as transações se realizam por meio eletrônico. Carta, teletipo e fax são coisas do passado. Usa-se intensivamente o telefone e a Internet. Negócios grandes e pequenos se fazem com um simples telefonema ou e-mail e raramente falham. Vamos ver um exemplo, caso real, acontecido no Marajó. Uma família portuguesa, grupo de oito pessoas, comprou em agência de Lisboa uma excursão ao Brasil, por Fortaleza, Belém e Marajó. Por algum motivo, o chefe do grupo desgostou do hotel em Fortaleza e a partir de então acumulou ressentimentos por onde passou. Enquanto os demais se divertiam, ele se aborrecia e, ao chegar à fazenda no Marajó, típico turismo rural com búfalos e frito do vaqueiro, o prato mais autêntico da grande ilha, o chefe do clã achou que as acomodações não ofereciam o luxo que ele esperava. Não somente reclamou aos donos da fazenda como à agência lisboeta informando que não pagaria a excursão. Ora, a fazenda em questão fora filmada pelo canal Futura como exemplo de caso bem sucedido de turismo rural, além de merecer elogios de hospedes que por ali passaram. A reclamação era infundada e injusta. Até hoje os donos da fazenda não sabem se o português pagou ou não sua conta à agência de origem. Apesar de não haver qualquer documento escrito, nem da agência portuguesa para a operadora de São Paulo, nem desta para a agência receptiva de Belém ou desta para a os proprietários da fazenda, o fato é que, sem discussões, a fatura foi paga apenas com o tempo necessário para agentes e operadora se certificarem de que não havia cabimento na reclamação, de que se tratava de idiossincrasia e não de venda de gato por lebre.

Muitos bilhões de dólares circulam pelo mundo do turismo sem troca de documentos de papel, uma prova de que o melhor comércio se faz com ética e competência.

* Érica Cínara Santos Silva teve a gentileza de reproduzir este artigo em um grupo do Yahoo! Relendo-o, resolvi acrescentar algumas palavras ao final para republicá-lo aqui. À Érica Cínara meus agradecimentos.

3 de fevereiro de 2007

O potencial energético do Tapajós

Sebastião Imbiriba*

Apesar de pouco inovador, o PAC – Programa de Aceleração da Economia lançado pelo Governo Federal possui a excelente qualidade de englobar num grande projeto nacional todos os antigos projetos longamente ansiados por comunidades na totalidade do país. Sendo projeto nacional, reduz consideravelmente as oposições e os entraves de toda sorte que têm impossibilitado a realização de sonhos antigos, entre os quais, para nós o mais importante, a construção da rodovia Cuiabá-Santarém.

No que diz respeito à geração de energia elétrica pelo aproveitamento de potenciais hídricos, o mais perto de se realizar, embora com fortíssimo antagonismo ideológico pseudo-social ambientalista, seria Belo Monte. Agora vemos abrir-se a perspectiva de São Luiz do Tapajós, trazendo para mais perto das populações às margens deste belíssimo rio a perspectiva de forte injeção de recursos na economia local com a geração de milhares de novos empregos.

É inegável a necessidade que tem nosso país de grande aumento da capacidade geradora de eletricidade para atender intensas demandas do crescimento econômico que se antevê para os próximos meses e anos. Os alertas ecológicos contra-indicam o uso de combustíveis fósseis e, mesmo, qualquer forma de produção de eletricidade por meio de combustão, mesmo que de renováveis. O custo-benefício da hidroeletricidade é insuperável.

O programa do governo aponta a participação da iniciativa privada e a diminuição dos entraves ambientais como fatores dinamizadores da realização de projetos de pequeno, médio e grande porte. Agora mesmo, se anuncia a formação de parceria público-privada do governo federal com a maior empreiteira do país para realização do inventário hidroelétrico do rio Tapajós, no qual se antevê a construção de barragens e eclusas totalizado potencial superior a onze mil megawatts, cinqüenta por cento maior do que Tucurui.

Exatamente a construção de barragens com eclusas permitirá a concretização de outro sonho regional e nacional, a hidrovia Teles Pires-Tapajós, alcançando os contrafortes que separam por poucas dezenas de quilômetros as bacias do Prata e do Amazonas, o que nos permite esperar que seja possível desobstruir o caminho e estabelecer um canal interligando Buenos Aires a Belém. Com isto, Santarém se tornaria importante centro comercial continental.

Tais projetos apontam todos - rodovia, hidrovia, energia abundante - promissores horizontes para nossa terra e nossa gente. Compete a nós trabalhar sem descanso para que tudo isto se torne realidade.

*Articulista amazônico.
*Artigo publicado em O Estado do Tapajós, jornal diário de Santarém, Pará, onde Autor (75) escreve sobre temas de interesse geral, principalmente amazônicos.