Discurso, baseado em letras de música popular brasileira, proferido por Maria Avelina Imbiriba Hesketh, Conselheira Federal da OAB, na Sessão Plenária do Conselho Federal da OAB do dia 12MAR2007..
Em nome do Conselho Federal, por delegação do Exmo. Sr. Presidente César Brito, inicio minha fala em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, declamando o
POEMA DO POSICIONAMENTO
Clarice Lispector
NÃO TE AMO MAIS.
Estarei mentindo se disser que
Ainda te quero como sempre quis.
Tenho certeza de que
Nada foi em vão.
Sinto dentro de mim que
Você não significa nada.
Não poderia dizer jamais que
Alimento um grande amor.
Sinto cada vez mais que
Já te esqueci!
E jamais usarei a frase
EU TE AMO!
A autora pede que, agora, leiamos o poema de baixo para cima. Vejamos:
EU TE AMO!
E jamais usarei a frase
Já te esqueci!
Sinto cada vez mais que
Alimento um grande amor.
Não poderia dizer jamais que
Você não significa nada.
Sinto dentro de mim que
Nada foi em vão
Tenho certeza de que
Ainda te quero como sempre quis.
Estarei mentindo se disser que
NÃO TE AMO MAIS.
Escolhi esse poema, porque somente uma mulher, - quem tem a delegação divina de fazer a vida -, seria capaz de transformar, num único texto, o não amor em amor.
Assim, a MULHER desafiou a história e a humanidade. Rompeu conceitos e preconceitos
Da Amélia que acreditava ser mulher de verdade, num espaço privado, a lavar a roupa e beijar a boca, ela não se conformou mais em viver a toa na vida, vendo e deixando a banda passar.
Cantando coisas de amor, juntou a sua gente sofrida e despediu-se da dor. Levou a marcha alegre a se espalhar nas avenidas da vida e do mundo, e insistiu para que a Carolina, que passava o tempo na janela, com seus olhos fundos, a guardar tanta dor, visse, apesar da dor deste mundo sentida por tantas mulheres, que o amanhã haveria de ser outro dia.
Agora, falando sério, a moça triste que vivia calada sorriu, e todas as Marias e Marias compreendendo que era preciso ter força, ter raça, ter gana e ter manha, impunharam a bandeira da luta pela liberdade e pelo direito.
Como conquista, a Rosa triste que vivia fechada se abriu e a lua cheia que vivia escondida surgiu para dizer que daí em diante, todos seriam iguais em direitos e obrigações, sem distinção de credo, cor e sexo.
Mas, caminhando e cantando, ainda sem lenço e sem documento, a Rita foi acusada de ter levado o sorriso dele no sorriso dela, junto com ela o que lhe era de direito, arrancou-lhe do peito, causou-lhe perdas e danos, porque levou, também, os seus planos e seus pobres enganos.
Daí, a Maria sem se abater, com a certeza de que a sua gente sofrida se despedira da dor, chamou a Cléa, a Marilma, a Gladys, a Gisela, a Wanderly, a Adélia, a Avelina e tantas outras, e disse: vocês são um dom, uma certa magia, são o som, a cor e o suor, são mulheres que merecem viver e amar, mas é preciso ter força, ter raça, ter gana e ter manha.
E nós, acreditando ser divinas e graciosas, estátuas majestosas do amor, por Deus esculturadas e formadas com ardor; ser de Deus a soberana flor e a criação, deixamos a porta do nosso barraco sem trinco, para receber de braços abertos a chegada da liberdade, do respeito, do reconhecimento e de todos os direitos.
Mas a lua furando nosso zinco, salpicou de estrelas o nosso chão. E, pisando nos astros distraídas, passamos a ter a certeza de que mais do que nunca, a partir de agora, a despeito de nosso mais novo papel, continuaremos a ser luz, sedução e poema divino cheio de esplendor.
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