23 de fevereiro de 2007

Êxtase das águas

(Bodas do Amazonas com o Tapajós - Encontro das Águas)

 

Sebastião Imbiriba, Santarém 22-02-2007.

 

Escarlate fimbria matinal do Sol

No horizonte verde da floresta imensa,

Fita altos gelos do gigante Andes

E as alvas neves da montanha branca

Despertam o Astro, em ofuscante brilho,

E o fazem erguer-se, enamorado e quente,

Sem cuidar da amada, em seu desejo louco,

Aquece-a tanto, em seu fulgor celeste,

Que a faz chorar em estertor de gozo.

 

São estas lágrimas de paixão ardente

Que escorrem frias no basalto negro,

Sagrado líquido... insensíveis rochas...

Despencam livres... temerário salto!

Encontram logo a planície vasta

Por onde fluem, chorando mágoas

Do infiel amante que se deita avante

Com o Mar da Paz pro amor da noite.

 

As nuvens cinzas, que a tudo assistem,

Têm dó profundo das águas tristes

E também choram torrentes francas,

Aliviando a dor de quem tanto sofre

Por tanto arroubo... tão pouco amor!

 

As duas águas, agora unidas,

De alvas neves e escuras nuvens,

Disparam juntas, rumo d'Atlântico

Cortando matas, mitigam a sede

D'Amazonas nuas buscando pares,

As águas ocres do longo rio

Fluem fogosas, do Tapajós sedentas,

Que logo esposam, em estreito laço

Do matrimônio que não tiveram.

 

Cingem as águas dos grandes rios,

Impetuoso enlace, arrebatados beijos,

Línguas sedentas de encontrar depressa

Ventres abertos, entrâncias fáceis,

Descobrem logo responder com fogo

Avanços loucos de desejo ardente

E se penetram em extasiante ardor,

Completo êxtase, prazer e amor

Que estende e alonga até o fim do mundo

Onde as acolhe... o Oceano... sem fim.

 

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