Há de tudo, porque turismo se pratica de muitas formas e utilizando os mais diversos pretextos, dos festivais gastronômicos e de chope ou vinho aos carnavais e micaretas, de praias e pântanos às montanhas e corredeiras, de congressos médicos e de outras profissões aos leilões de arte, antiguidade e gado, dos campos de nudismo as desfiles de moda, dos concertos musicais às apresentações de dança, drama e comédia. É sempre tudo muito divertido, no sentido de festejar ou de divergir da rotina. Este aspecto de diversão geral dá a impressão de que turismo é tudo festa, só festa.
Engano. Nada mais sério, absorvente e árduo para os profissionais do turismo, desde a camareira que arruma os quartos no hotel modesto ao comandante do grande transoceânico de altíssimo luxo, dos atendentes na central de informações e reservas aos empresários das redes hoteleiras e grandes operadoras mundiais. E, enquanto os turistas se preparam para suas excursões, se divertem ou descansam do divertimento o trabalhador do turismo labuta ativa e exaustivamente. A montagem de uma feira é um pandemônio de atividades múltiplas acontecendo ao mesmo tempo. Enquanto técnicos em eletricidade, telecomunicações e informática estendem cabos, instalam luzes e montam equipamentos, outros operários edificam estandes, pintam e assentam alcatifas. Ai é a vez dos recepcionistas, modelos e manequins, dos vendedores e executivos recepcionarem os visitantes.
Muito antes, no entanto, arquitetos, engenheiros, mestres de obras e operários da construção trabalharam na edificação de hotéis, centros de convenções, parques de diversão, museus, teatros e facilidades públicas como estações de ônibus e trens, portos, aeroportos e uma infinidade de outros equipamentos. É incrível a quantidade de papel impresso dedicado ao turismo, revistas, jornais, cadernos encartados, folhetos e cartazes. Jornalismo especializado em turismo é importante ramo da profissão dedicado a reportagens e documentários destinados à mídia impressa e televisiva.
Estes aspectos do turismo, quase sempre desapercebidos do público e do próprio turista ainda não revelam a seriedade com que se realiza essa grande festa universal. A impressão que o público tem é de que há uma certa displicência associada ao divertimento. É outro engano. Nenhum outro negócio se faz com tanta seriedade e, no entanto, apenas de boca, sem documentação como os negócios de turismo. Em primeiro lugar, as pessoas se conhecem e as feiras e congressos do ramo turístico servem exatamente para isto. Na realidade, as agências de viagem e operadoras mais ativas estão sempre nas mesmas feiras, representadas pelas mesmas pessoas, com alguma variação e pouca renovação. Embora o número de jovens seja muito grande, é importante o contingente dos veteranos que vão e voltam com as mudanças nos negócios, nas empresas ou na política. Desta forma, os profissionais do ramo se conhecem pessoalmente e as notícias se propagam boca a boca com enorme celeridade.
De modo geral, as transações se realizam por meio eletrônico. Carta, teletipo e fax são coisas do passado. Usa-se intensivamente o telefone e a Internet. Negócios grandes e pequenos se fazem com um simples telefonema ou e-mail e raramente falham. Vamos ver um exemplo, caso real, acontecido no Marajó. Uma família portuguesa, grupo de oito pessoas, comprou em agência de Lisboa uma excursão ao Brasil, por Fortaleza, Belém e Marajó. Por algum motivo, o chefe do grupo desgostou do hotel em Fortaleza e a partir de então acumulou ressentimentos por onde passou. Enquanto os demais se divertiam, ele se aborrecia e, ao chegar à fazenda no Marajó, típico turismo rural com búfalos e frito do vaqueiro, o prato mais autêntico da grande ilha, o chefe do clã achou que as acomodações não ofereciam o luxo que ele esperava. Não somente reclamou aos donos da fazenda como à agência lisboeta informando que não pagaria a excursão. Ora, a fazenda em questão fora filmada pelo canal Futura como exemplo de caso bem sucedido de turismo rural, além de merecer elogios de hospedes que por ali passaram. A reclamação era infundada e injusta. Até hoje os donos da fazenda não sabem se o português pagou ou não sua conta à agência de origem. Apesar de não haver qualquer documento escrito, nem da agência portuguesa para a operadora de São Paulo, nem desta para a agência receptiva de Belém ou desta para a os proprietários da fazenda, o fato é que, sem discussões, a fatura foi paga apenas com o tempo necessário para agentes e operadora se certificarem de que não havia cabimento na reclamação, de que se tratava de idiossincrasia e não de venda de gato por lebre.
Muitos bilhões de dólares circulam pelo mundo do turismo sem troca de documentos de papel, uma prova de que o melhor comércio se faz com ética e competência.
* Érica Cínara Santos Silva teve a gentileza de reproduzir este artigo em um grupo do Yahoo! Relendo-o, resolvi acrescentar algumas palavras ao final para republicá-lo aqui. À Érica Cínara meus agradecimentos.
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