“Conhecemos
uma única ciência, a ciência da história. ... mas, quanto à história dos
homens, será preciso examina-la, pois quase toda ideologia se reduz a uma
concepção distorcida dessa história ou a uma abstração dela. [Marx &
Engels, Ideologia alemã, p. 86-97]
Citado em aula de Bianca Imbiriba Bonente no Curso Livre Marx & Engels
2017, UFF.
O
trabalhador do século XXI trabalha muito menos do que o do início da Revolução
Industrial. No Norte da Europa, menos de 1500 horas/ano ou 32 horas semanais.
As demais nações acompanham esse movimento de socialização da produtividade.
Quando
o preço do trabalho encarece em uma região já desenvolvida, parte de seus
postos de trabalho migra em busca da competitividade para locais onde o custo
da mão de obra seja mais barato. Outra parte é substituída por máquinas cada
vez mais aperfeiçoadas. Esse processo se
reproduz até que todas as nações se equalizem em termos de preço do trabalho,
ou qualquer que seja o custo do trabalho humano necessário, o custo do trabalho
da máquina será sempre menor.
A
contínua evolução dos robôs, da sinergia, dos métodos e dos processos de
produção automatizados, que trabalham “como se a máquina tivesse amor no
corpo”, produz sempre mais, melhor e mais barato, e com menor uso de trabalho
humano, acumulando saber e habilidades das forças produtivas na inteligência
artificial (AI) e, a partir daí desenvolvendo-as exponencialmente.
Este
fenômeno se acelera à medida que a AI se desenvolve e se aproxima do que alguns
cientistas denominam “singularidade da AI”, momento em que o domínio do
planejamento da produção passa do Homem para a AI e as máquinas se reproduzem,
mais perfeitas, de modo autônomo, sem interferência humana.
Nesse
ínterim, o homem é alijado de seus postos de trabalho, podendo-se imaginar que,
em futuro próximo, talvez menos de meio século, a Humanidade será uma sociedade
em que não haverá mais trabalho humano. Em termos humanos, devido à eficiência
da máquina, o tempo de trabalho necessário diminuirá até se tornar próximo de
zero, e tanto o pouco necessário quanto o muito supérfluo serão executados pela
máquina.
Teríamos
uma situação esdrúxula em que a máquina produz para ela mesma com excedente de
produtos os quais não encontrarão comprador pois que a humanidade,
desempregada, não terá com o que pagar. Uma situação em que não haveria nem
preço nem mercado. Tal impossibilidade será resolvida se o dono da máquina
distribuir a toda humanidade uma renda mínima com a qual cada indivíduo fará o
que melhor lhe aprouver, inclusive adquirir os bens e serviços produzidos pela
máquina.
Segundo
Marx e Engels, trabalho é um elemento definidor do ser do homem, de sua
dimensão ontológica, é característica essencial do ser humano enquanto ser social.
Sendo assim, como fica essa definição se e quando o trabalho humano não seja
mais necessário, e o homem não precise mais ou até seja impedido de trabalhar?
O
que fazer dessa “força de trabalho em espera”, dessa “superpopulação relativa”
ou “exército industrial de reserva” que nunca mais será empregado?
Teremos,
então, a prova de que toda ideologia seja concepção distorcida ou abstração da
História?
Ou,
finalmente, atingiremos a emancipação humana?
Socialismo
pressupõe controle consciente e planejado da socialização do trabalho. A IA
terá controle consciente e planejado do trabalho, mas não haverá socialização,
porque esta implicaria participação humana. Podemos dizer então que haveria
socialismo da máquina?
O
pertencimento à classe trabalhadora dispensa pressupostos. Então, o operariado
será constituído por robôs, mas a classe trabalhadora será composta por humanos
desempregados?
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