A nação brasileira está ameaçada de assistir a feitura de
gigantesca pizza de marmelada no encerramento da Comissão Mista Parlamentar de
Inquérito que investiga Carlos Augusto Ramos, conhecido como Carlinhos
Cachoeira, e seus comparsas nos meios políticos nacionais.
Waldomiro Diniz era companheiro de quarto, amigo dileto e
assessor de Zé Dirceu, ministro chefe da Casa Civil do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, em seu primeiro mandato. Zé Dirceu era o segundo homem mais
poderoso da República Federativa do Brasil, despachava diretamente com Lula e
coordenava todos os demais ministros do Poderoso Chefão. Pois bem, há oito anos,
esse Waldomiro foi filmado pedindo propina a um empresário então desconhecido,
o hoje famosíssimo Carlinhos Cachoeira. Desse evento surgiram as CPIs dos
Bingos, Correios e Mensalão.
Carlinhos foi esquecido pela mídia, mas não pela Polícia Federal,
nem pelo Ministério Público, que desvendaram os mistérios na nova caverna de Ali
Babá e seus incontáveis ladrões, instalada em pleno Planalto Central
Brasileiro, donde dominava os acontecimentos no Estado de Goiás e no Distrito
Federal e irradiava seus tentáculos pelo resto do país. A PF detonou a Operação
Monte Carlo e prendeu Cachoeira.
As primeiras notícias revelavam que informações de Cachoeira à mídia
investigativa alimentaram as denúncias das falcatruas do PT que derrubaram Zé
Dirceu e seus comparsas e ameaçara a estabilidade do governo Lula. Alguns
petistas viram ai a oportunidade de desqualificar os denunciantes, desmoralizar a mídia e impedir os
investigadores do mensalão, inclusive Roberto Gurgel, Procurador Geral da
República. Como náufragos desesperados, agarraram-se ao primeiro objeto que boiava
ao alcance das mãos, a tábua de salvação para livrar Zé Dirceu e seus comparsas
do xilindró.
Lançaram-se à formação da CPMI, a que denunciaria os
denunciantes, desmoralizaria a mídia e inocentaria os culpados. Melhor ainda, o
mais ferrenho inimigo do PT, Senador Demóstenes, estava intimamente implicado
com Cachoeira, e com cereja no bolo, Marconi Perillo, governador de oposição também
envolvido. Zé Dirceu, o intocável, Rui Falcão, presidente do PT, Vaccarezza,
deputado do PT e o próprio Lula saltitavam contentes com o desenrolar dos
acontecimentos.
De repente, foi um deus nos acuda, corre-corre, mexe-mexe. A
CPMI nem fora ainda inaugurada, embora já sem retorno, quando explodiram as
denúncias de que o governador petista do DF, Agnelo Queiroz, o governador
aliado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho, e outros políticos de vários
partidos, mormente da base aliada, pertenciam à folha de pagamento de Cachoeira
e seu comparsa, Fernando Cavendish, presidente da Construtora Delta, maior
empreiteira superfaturadora dos governos federal e do Rio de Janeiro.
Zé Dirceu confessou: "O
efeito foi o contrário do imaginado. A única consequência da CPI foi acelerar o
processo do mensalão". Cândido Vaccarezza contemporizou: "Não podemos
fazer dessa CPI um debate político ou um acerto de contas entre desafetos".
Lula decretou: “Esta CPI tem ficar do jeito que está”, isto é, nada
fazer, ficar na moita.
A CPMI comandada pelo PT e seu mais íntimo aliado, o PMDB, se reúne
em sessões secretas. Sua primeira providência foi criar sala super-reservada, guarnecida
por seguranças e com cofre-forte destinado a enfurnar documentos da
investigação, impedindo que o público tome conhecimento de fatos que afetam profundamente
os interesses do povo brasileiro.
Isto, simultaneamente com a entrada em vigor da Lei de Acesso à
Informação, exatamente a que dá efetividade aos preceitos constitucionais de
que “todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de
seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão
prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas
cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado”,
garantindo “o acesso dos
usuários a registros administrativos e a informações sobre atos de governo”.
O que estamos assistindo, é a tentativa de nada inquirir, nada
registrar e nada revelar para não afetar mais e novos integrantes do PT, o partido
mais bem estruturado no uso e abuso de todos os métodos de corromper para dominar.
A CPI do Cachoeira está se transformando em incrível, lastimável e abjeta CPI do abafa.
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