17 de maio de 2012

CPI do abafa


A nação brasileira está ameaçada de assistir a feitura de gigantesca pizza de marmelada no encerramento da Comissão Mista Parlamentar de Inquérito que investiga Carlos Augusto Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira, e seus comparsas nos meios políticos nacionais.

Waldomiro Diniz era companheiro de quarto, amigo dileto e assessor de Zé Dirceu, ministro chefe da Casa Civil do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em seu primeiro mandato. Zé Dirceu era o segundo homem mais poderoso da República Federativa do Brasil, despachava diretamente com Lula e coordenava todos os demais ministros do Poderoso Chefão. Pois bem, há oito anos, esse Waldomiro foi filmado pedindo propina a um empresário então desconhecido, o hoje famosíssimo Carlinhos Cachoeira. Desse evento surgiram as CPIs dos Bingos, Correios e Mensalão.

Carlinhos foi esquecido pela mídia, mas não pela Polícia Federal, nem pelo Ministério Público, que desvendaram os mistérios na nova caverna de Ali Babá e seus incontáveis ladrões, instalada em pleno Planalto Central Brasileiro, donde dominava os acontecimentos no Estado de Goiás e no Distrito Federal e irradiava seus tentáculos pelo resto do país. A PF detonou a Operação Monte Carlo e prendeu Cachoeira.

As primeiras notícias revelavam que informações de Cachoeira à mídia investigativa alimentaram as denúncias das falcatruas do PT que derrubaram Zé Dirceu e seus comparsas e ameaçara a estabilidade do governo Lula. Alguns petistas viram ai a oportunidade de desqualificar os denunciantes, desmoralizar a mídia e impedir os investigadores do mensalão, inclusive Roberto Gurgel, Procurador Geral da República. Como náufragos desesperados, agarraram-se ao primeiro objeto que boiava ao alcance das mãos, a tábua de salvação para livrar Zé Dirceu e seus comparsas do xilindró.

Lançaram-se à formação da CPMI, a que denunciaria os denunciantes, desmoralizaria a mídia e inocentaria os culpados. Melhor ainda, o mais ferrenho inimigo do PT, Senador Demóstenes, estava intimamente implicado com Cachoeira, e com cereja no bolo, Marconi Perillo, governador de oposição também envolvido. Zé Dirceu, o intocável, Rui Falcão, presidente do PT, Vaccarezza, deputado do PT e o próprio Lula saltitavam contentes com o desenrolar dos acontecimentos.

De repente, foi um deus nos acuda, corre-corre, mexe-mexe. A CPMI nem fora ainda inaugurada, embora já sem retorno, quando explodiram as denúncias de que o governador petista do DF, Agnelo Queiroz, o governador aliado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho, e outros políticos de vários partidos, mormente da base aliada, pertenciam à folha de pagamento de Cachoeira e seu comparsa, Fernando Cavendish, presidente da Construtora Delta, maior empreiteira superfaturadora dos governos federal e do Rio de Janeiro.

Zé Dirceu confessou: "O efeito foi o contrário do imaginado. A única consequência da CPI foi acelerar o processo do mensalão". Cândido Vaccarezza contemporizou: "Não podemos fazer dessa CPI um debate político ou um acerto de contas entre desafetos". Lula decretou: “Esta CPI tem ficar do jeito que está”, isto é, nada fazer, ficar na moita.

A CPMI comandada pelo PT e seu mais íntimo aliado, o PMDB, se reúne em sessões secretas. Sua primeira providência foi criar sala super-reservada, guarnecida por seguranças e com cofre-forte destinado a enfurnar documentos da investigação, impedindo que o público tome conhecimento de fatos que afetam profundamente os interesses do povo brasileiro.

Isto, simultaneamente com a entrada em vigor da Lei de Acesso à Informação, exatamente a que dá efetividade aos preceitos constitucionais de que “todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado”, garantindo “o acesso dos usuários a registros administrativos e a informações sobre atos de governo.

O que estamos assistindo, é a tentativa de nada inquirir, nada registrar e nada revelar para não afetar mais e novos integrantes do PT, o partido mais bem estruturado no uso e abuso de todos os métodos de corromper para dominar. A CPI do Cachoeira está se transformando em incrível, lastimável e abjeta CPI do abafa.

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