4 de abril de 2012

Apenas caixa dois...


Este não é o primeiro e não será o último dos escândalos envolvendo políticos renomados pela bravura com que se batem pela ética e contra a corrupção. O Senador Demóstenes é apenas mais um de enorme lista. E olhe que suas malfeitorias nem são tão graves assim, como as de outros melhor aquinoados. Convenhamos, desde quando parece estranho ver um delegado, ou ex, envolvido com contraventores do jogo do bicho e da jogatina em geral no mundo todo? Faz parte da crônica policial e é relatada em todos os jornais, todos os dias, em toda parte. E coisas normais são desculpáveis, plenamente aceitáveis. Afinal, ninguém pode consertar o mundo. Nada de mais. Como disse Lula, é apenas caixa dois.

É apenas caixa dois... Triste caixa dois, infame caixa dois, desgraçado caixa dois que arruína o cerne da política e destrói os últimos resquícios de moral no caráter dos políticos.

Todo político, todos eles, precisam de dinheiro para financiar eleições e, mesmo quando o têm em abundância, como alguns milionários, sempre recorrem aos amigos, quaisquer que sejam, buscando contribuições. Alguns políticos, dos que hoje estão nos píncaros do poder nacional, inclusive na própria presidência, acham, ou assim lhes parecia, plenamente justificável assaltar bancos e sequestrar ricaços para financiar ativismo político, propaganda e terrorismo. Tudo, é claro, em favor da democracia, do povo sofrido, da soberania nacional e contra a burguesia retrógrada e o imperialismo esmagador.

Então, quando a necessidade aparece, não custa nada receber ajuda de quem está sempre pronto a contribuir em troca de algum favor ou proteção. É normal. Como disse o Lula, é apenas caixa dois. Nada de mais.

O que fez o Demóstenes? Andou por algumas repartições verificando onde poderia ajudar ou proteger um querido amigo que lhe fizera inesquecível presente de casamento, um querido amigo que não é nem criminoso, senão apenas um simples contraventor, desses que simpaticamente financiam nossa alegria no carnaval, no país todo. Enquanto não trabalhava por Cachoeira, seu querido amigo, Demóstenes verberava contundentemente contra ministros nomeados por Lula para o governo Dilma, ministros dominós que caem um após o outro numa sequência vergonhosa de tiro ao alvo disparado por essa mídia lesa majestade que é contra tudo e contra todos e não poupa nem os coitadinhos dos ministros malfeitores.

Até parece que Demóstenes era o mais virtuosos dos santos, o menos pecador dos mortais, exemplo de varão bíblico, homem reto, corajoso e digno. Era tanta, tanta dignidade que transbordava pelo senado e se espraiava pelo cenário nacional a receber admiração e aplauso. Até que terríveis revelações, obtidas não se sabe como, nem por quais artifícios, de sindicâncias policiais que de repente se tornam públicas, entornam baldes de água fria sobre a resplandecente imagem do ilustre senador, o virtuoso. A luz se apaga, fenece, extingue.

Agora temos novo escândalo para curtir, esquecer das grandes roubalheiras que continuam, ininterruptamente, a retirar verbas da educação, da saúde, da segurança, da infraestrutura, da ciência e da cultura. Não nos lembramos mais do mensalão, nem de seus autores, que ainda não foram julgados e correm o risco de não o serem por decurso de prazo.

A vida continua. Escândalos vão e vêm. Novos alvoroços aparecerão e logo nos esqueceremos deste. Talvez Demóstenes perca o mandato e fique inelegível por muito tempo. Coitadinho, não fez nada de mais, foi apenas amigo do amigo, e amigos são para sempre, como o Zé Dirceu que continua aos beijos e braços com os companheiros, provando a todos nós que certas coisinhas que se praticam na política são normais, desculpáveis, plenamente aceitáveis. Afinal, como disse Lula, é apenas caixa dois.

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