Lembro da Usina de Luz, onde hoje funciona o Mercado Municipal,
na Praça Rodrigues dos Santos. Eu ia lá admirar aquela que me parecia enorme termoelétrica,
a fornalha queimando lenha, a caldeira soltando vapor e fazendo mover o motor,
tudo para acionar um pequeno gerador elétrico, acho que fornecia uns meros 50
KW que mal davam para iluminar precariamente as ruas da frente no centro da
cidade com luzinhas que mais pareciam lamparinas. A fornalha era alimentada
desde cedo para fornecer vapor suficiente das seis às nove da noite quando os
apitos da usina anunciavam o acender e apagar das luzes.
Quando a usina apitava era hora dos rapazes se despedirem,
porque nenhuma moça de família namorava depois que a luz apagava. O pai
pigarreava, a mãe vinha espiar e dizer entre dentes: “Tá na hora”. Acabava o
namoro e iniciava o caminho da Fuluca, das Sete Bandeirinhas, onde a bebida, a
música e as mulheres à luz de candeeiros estavam disponíveis a noite toda. Mas
eu era congregado mariano e não podia frequentar tais lugares, então ia visitar
residências com pais menos repressivos namorar meninas mais liberais.
A sessão do Cinema Olímpia terminava às nove, justo quando
iniciava o apagão. Por isso as meninas tinham que ser sempre acompanhadas por
responsáveis, os próprios pais, irmãos mais velhos ou tios. Sempre equipados
com lanternas para iluminar os caminhos. A Avenida Tapajós não existia. Só a
Rua do Comércio (Lameira Bittencourt), Siqueira Campos, Marechal Floriano e o
trecho da Adriano Pimentel diante da Prefeitura eram pavimentadas, com esgoto a
céu aberto. As demais vias eram de terra batida e muitas não passavam de areais
que dificultavam a passagem dos carros de boi. Caminhões e carros eram apenas
dois ou três de cada. O carro do Von, pai do Alexandre, era o único que
transportava passageiros.
A Rádio Rural ainda não existia, não havia energia elétrica nem
Frei Juvenal, o precursor de padre Edilberto Sena. Quem precisasse de energia
durante o dia tinha de instalar seu próprio gerador diesel-elétrico. Era o caso
das Prensas de juta que funcionavam na Rua do Imperador, a fábrica de gelo do
Bar Mascote e a do Guaraná Sacil, a primeira de Santarém, que fornecia força
para nossa casa no horário comercial.
Finalmente o sonho de Silvio Braga se realizou e a hidroelétrica
do Palhão foi inaugurada com muitas festas e seus 40 MW, suficientes para acalentar
o início do desenvolvimento econômico da cidade. Foi uma alegria, assim como
agora que a Light restabeleceu o fornecimento de energia e eu posso escrever
estas recordações.
A carência de energia é um dos maiores empecilhos ao
desenvolvimento e bem estar da Humanidade, como nestas horas em que fiquei no
apagão, isolado do Mundo, do conhecimento, da informação, dos parentes e
amigos, imaginando como fica infeliz e triste a vida sem eletricidade. E sem
Internet.
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