12 de abril de 2012

Em busca da felicidade


Os redatores da Declaração de Independência, na Revolução Americana, proclamada antes da Declaração dos Direitos do Homem, na Revolução Francesa, colocam entre as liberdades caras ao ser humano a do direito à busca da própria felicidade. Ali não se especifica o que seja felicidade, conceito particular a cada indivíduo, mas se reafirma sua importância e precedência sobre os demais direitos.

Sei da importância da felicidade, dou imenso valor a ela. Por isso mesmo, sempre, não somente busquei a felicidade, mas me preocupei em entender o que seja ela e onde se esconde.

Parece que felicidade é o estado psicológico de contentamento, sensação de plena satisfação das necessidades fundamentais em qualquer circunstância, mesmo quando estamos doentes, passamos fome ou estamos retidos em masmorras, mesmo quando sentimos pesar pela perda de um bem, de um amor ou pela morte de alguém que amamos, porque podemos derramar lágrimas, sofrer, mas não perder a alegria de viver, de nos sentirmos plenos.

Esta é a lição que aprendemos com pessoas que nunca tiveram ou que perderam alguma e mesmo várias faculdades, como a de ver, ouvir, caminhar, mas que apesar disto irradiam otimismo, coragem e alegria de viver.

Apesar de minhas intensas e vastas buscas, não encontrei a felicidade em lugar algum, em pessoa nenhuma, senão por fugazes momentos. Mas tanto busquei que aprendi: não podemos achar nada nem ninguém que nos proporcione felicidade, se não a encontramos, em primeiro lugar, dentro de nós mesmos.

Assim, aprendi a ser feliz comigo mesmo, com o que sou como cidadão, como camarada de brinquedos e de trabalhos, como irmão, companheiro, marido, amante, mas muito primordialmente, como ser humano que se basta a si próprio para ser feliz, independentemente de qualquer outra pessoa, de qualquer outro fator, seja saúde ou riqueza.

No momento em que adquiri a capacidade de ser feliz comigo mesmo, passei a almejar a ser feliz em qualquer circunstância e com qualquer pessoa e, mais ainda, a capacidade de ser feliz junto com outras pessoas, numa parceria de felicidade infinita.

Vejo muitas pessoas sofrendo porque outras pessoas não lhe dão felicidade, como se isto fosse possível, como se felicidade pudesse ser doada ou talvez vendida. Não dá certo. Em primeiro lugar, temos que ser emocionalmente independentes, não que sejamos imunes ao sofrimento, nada disto, sofrimento faz parte da vida, como perder uma pessoa amada para a coisa mais inexorável que existe, a morte. Por incrível que possa parecer, a menos que alguém se queira entregar, o sofrimento não pode impedir ninguém de ser feliz.

Temos incrível exemplo disto em pessoa de minhas relações, a quem chamo ternamente de irmã e acaba de completar cem anos de vida, lúcida, experta, jocosa e irônica. Sofrimentos têm se abatido sucessivamente sobre ela. Apesar de tudo, não se abate, não se entrega ao sofrimento, à amargura, ao desespero, simplesmente porque é feliz consigo mesma, sempre a irradiar felicidade, alegria, bom humor, simpatia e mansidão.

Devemos aprender a ser felizes com nós mesmos, simplesmente pelo fato de existirmos. Parafraseando René Descartes, “existo, logo sou feliz”. Não vale dizer: “sou feliz, logo existo”, o que nos tiraria deste mundo, já que, não sendo felizes, não existiríamos.

Quando somos felizes deixamos de recriminar, acusar, ranzinzar, irritar a nos mesmos e aos outros, o que alivia, suaviza, aplaina a convivência com pessoas e animais, nos permite circular em todos os ambientes com tranquilidade, naturalidade, jovialidade. As pessoas se sentem felizes com quem é feliz, se aproximam, procuram, amam e são amadas.

Este é o mundo ideal, o mundo em que todos são felizes por existirem, se amam e assim podem amar e ser amados, proporcionar e receber maior felicidade. 

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