Os redatores da
Declaração de Independência, na Revolução Americana, proclamada antes da
Declaração dos Direitos do Homem, na Revolução Francesa, colocam entre as
liberdades caras ao ser humano a do direito à busca da própria felicidade. Ali
não se especifica o que seja felicidade, conceito particular a cada indivíduo,
mas se reafirma sua importância e precedência sobre os demais direitos.
Parece que
felicidade é o estado psicológico de contentamento, sensação de plena
satisfação das necessidades fundamentais em qualquer circunstância, mesmo
quando estamos doentes, passamos fome ou estamos retidos em masmorras, mesmo
quando sentimos pesar pela perda de um bem, de um amor ou pela morte de alguém
que amamos, porque podemos derramar lágrimas, sofrer, mas não perder a alegria
de viver, de nos sentirmos plenos.
Esta é a lição
que aprendemos com pessoas que nunca tiveram ou que perderam alguma e mesmo
várias faculdades, como a de ver, ouvir, caminhar, mas que apesar disto
irradiam otimismo, coragem e alegria de viver.
Apesar de
minhas intensas e vastas buscas, não encontrei a felicidade em lugar algum, em
pessoa nenhuma, senão por fugazes momentos. Mas tanto busquei que aprendi: não
podemos achar nada nem ninguém que nos proporcione felicidade, se não a
encontramos, em primeiro lugar, dentro de nós mesmos.
Assim, aprendi
a ser feliz comigo mesmo, com o que sou como cidadão, como camarada de
brinquedos e de trabalhos, como irmão, companheiro, marido, amante, mas muito
primordialmente, como ser humano que se basta a si próprio para ser feliz,
independentemente de qualquer outra pessoa, de qualquer outro fator, seja saúde
ou riqueza.
No momento em
que adquiri a capacidade de ser feliz comigo mesmo, passei a almejar a ser
feliz em qualquer circunstância e com qualquer pessoa e, mais ainda, a
capacidade de ser feliz junto com outras pessoas, numa parceria de felicidade
infinita.
Vejo muitas
pessoas sofrendo porque outras pessoas não lhe dão felicidade, como se isto
fosse possível, como se felicidade pudesse ser doada ou talvez vendida. Não dá
certo. Em primeiro lugar, temos que ser emocionalmente independentes, não que
sejamos imunes ao sofrimento, nada disto, sofrimento faz parte da vida, como
perder uma pessoa amada para a coisa mais inexorável que existe, a morte. Por
incrível que possa parecer, a menos que alguém se queira entregar, o sofrimento
não pode impedir ninguém de ser feliz.
Temos incrível
exemplo disto em pessoa de minhas relações, a quem chamo ternamente de irmã e
acaba de completar cem anos de vida, lúcida, experta, jocosa e irônica.
Sofrimentos têm se abatido sucessivamente sobre ela. Apesar de tudo, não se
abate, não se entrega ao sofrimento, à amargura, ao desespero, simplesmente
porque é feliz consigo mesma, sempre a irradiar felicidade, alegria, bom humor,
simpatia e mansidão.
Devemos aprender
a ser felizes com nós mesmos, simplesmente pelo fato de existirmos.
Parafraseando René Descartes, “existo, logo sou feliz”. Não vale dizer: “sou
feliz, logo existo”, o que nos tiraria deste mundo, já que, não sendo
felizes, não existiríamos.
Quando somos
felizes deixamos de recriminar, acusar, ranzinzar, irritar a nos mesmos e aos outros,
o que alivia, suaviza, aplaina a convivência com pessoas e animais, nos permite
circular em todos os ambientes com tranquilidade, naturalidade, jovialidade. As
pessoas se sentem felizes com quem é feliz, se aproximam, procuram, amam e são amadas.
Este é o mundo
ideal, o mundo em que todos são felizes por existirem, se amam e assim podem
amar e ser amados, proporcionar e receber maior felicidade.
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