19 de abril de 2012

Erros de Karl Marx


Este título, para ser mais coerente, deveria ser “Limites da Perspectiva de Karl Marx”, porquanto não me atrevo a apontar erros nas teorias desse filósofo, assim como não o faria nas de Isaac Newton. Ambos se fundamentaram no conhecimento de suas épocas para desenvolver as próprias hipóteses, algumas das quais vigentes ainda hoje, outras apenas aplicáveis em casos especiais, mas não em outros e, finalmente, as que se tornaram obsoletas.

A formação cultural de Karl Marx - de seu nascimento em Tréveris (1818), até a obtenção do doutorado em Filosofia em Berlim (1841) - se processou no período de implantação das ideias do Congresso de Viena consolidadas no Tratado de Paris: reorganização geopolítica da Europa, colonização dos demais continentes, restauração das monarquias pré-napoleônicas e aliança da burguesia internacional. Ao mesmo tempo, a Revolução Industrial se espalhava pelo continente europeu e nos estados ianques da Nova Inglaterra. Os três estados - nobreza, clero e povo - desapareceram dando lugar a duas classes: burguesia e proletariado.

Foi esta a paisagem econômica e sociológica existente durante o desenvolvimento da visão de mundo de Karl Marx. E foi este o cenário que encontrou ao se refugiar em Paris (1843) e iniciar, de fato, sua extraordinária produção intelectual, panorama que perdurou por toda sua vida.

A perspectiva de Karl Marx lhe permitia enxergar a sociedade dividida em duas classes pela posse ou destituição de dois predicados: renda e meios de produção. Para ele são estes fatores, senão únicos, os predominantes no destino das pessoas e nações. Qualquer mudança nessa estrutura solidamente estratificada se torna impossível a menos que transtornada por revolução sangrenta. Além disto, Marx propõe que a mais valia seja expropriação do valor do trabalho e que religião seja alienante.

Para não estender demais o tema, convidemos outro pensador de igual estatura intelectual, Max Weber, e sua tese de que, em ambiente de liberdade, as classes se definem também por outros fatores, inclusive e algumas vezes predominantemente conforme as virtudes, talentos e habilidades individuais, com recompensas correspondentes em renda e status, formando tecido social mais variado, flexível e muito menos rígido.

Ao observarmos as sociedades do século XXI, reconhecemos panoramas muito mais parecidos com o descrito por Weber do que o proposto por Marx. Enquanto este acredita que o proletário é completamente cerceado pelas condições impostas pelo burguês, o outro reconhece a capacidade do indivíduo influir em seu destino pelo exercício de suas capacidades, talento e determinação, e propõe a existência de maior número de classes e a mobilidade interclasses em função de características individuais.

O moderno e democrático estado de direito permite o surgimento de múltiplas manifestações da sociedade civil organizada, do livre embate de interesses entre os diversos grupos sociais, e dispõe de meios para dirimir pacificamente os conflitos.

É certo que a religião católica atribui pecado à riqueza, mas a moral protestante, que atribui virtude ao trabalho e á prosperidade, explicitada por Weber como sendo indutora da diligência na busca da melhoria de condições de vida, renda e status, contradiz o mau conceito que Karl Marx atribui generalizadamente à religião.

Não há dúvida de que o capitalista retém parte do valor da mercadoria processada pelo conjunto constituído por meios de produção e trabalho assalariado. Karl Marx chama a isto de mais valia a trata como se fosse o maior dos males que afligem a Humanidade.

No entanto, podemos comparar lucro, ou mais valia, com o tributo arrecadado pelo Estado, parte do qual cobre o custeio da máquina governamental e parte se destina a investimento para satisfação de necessidades futuras da sociedade. O orçamento estatal cobre as mais diversas despesas, desde encargos educacionais até o custeio de obras suntuárias,  como palácios, carruagens e aviões reais, presidenciais e de seus “laterones” ou “nomenklatura”, sem contar o que se esvai por caminhos da burocracia, incompetência, desídia e corrupção.

O lucro, por sua vez, é remuneração do capital e investimento em aprimoramento e expansão dos empreendimentos, com importante função de fornecimento de mais, melhores e mais baratos produtos, além da fundamental geração de emprego e renda.

Ambos, Estado e empreendedor privado, são semelhantes e exercem importantes funções sociais benéficas a todas as classes.

Ao longo da História do Conhecimento, teses surgem, evoluem e fenecem. Uma ou outra se torna marco milenar enquanto as demais se esvaem como fumaça passageira. Certas proposições de Karl Marx continuam com maior ou menor validade, enquanto outras se diluem em suas próprias contradições e erros de perspectiva.

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