Em entrevista à revista DINHEIRO,
edição de 18/03/2015, o navegador, empresário e economista Amyr Klink,
comparando empresa em dificuldades com barco fustigado pela tempestade, respondeu,
entre outras, às seguintes perguntas:
DINHEIRO:
Como navegar na tempestade, ter frieza para lidar com o perigo?
AMIR
KILNK: O senso de urgência determina isto. Esse é o problema, por exemplo, de
uma empresa em dificuldade. Num caso assim, quando você é empregado e está
ganhando seu salário, sabe que que está difícil, mas não tem aquela urgência de
resolver. O pensamento deve ser: é hoje que nós temos que solucionar o
problema. Não é amanhã. É já. Na crise em alto mar, ninguém dorme até resolver.
Não tem outro jeito. Deu um problema? Enquanto não resolver, ninguém dorme.
Ninguém come.
DINHEIRO:
Se a Petrobras fosse um barco, no meio de uma tempestade, que senso de urgência
deveria prevalecer?
KILNK:
Neste caso, a solução é: abre o registro, afunda e aciona o seguro. Faz outro.
Lá, eles não têm senso de urgência. Uma empresa que detém um monopólio dessa escala
não pode ser competente. Já trabalhei com eles, já tive patrocínio deles, é um
inferno. Funcionário da Petrobras num canteiro de obras olha para o funcionário
terceirizado com um desdém deplorável. Esse tipo de orgulho discriminador,
classista, não faz bem para nenhuma empresa. Tem que fechar a Petrobras e abrir
quatro empresas novas, divididas por áreas. Transporte, exploração, refinaria.
Há modelos interessantes. Não precisa só olhar para a Noruega. Tem que estudar.
Mas não pode ser um modelo baseado no monopólio puro. Senão a gente vai para a
Venezuela.
Se bem que Amyr Klink não esteja certo
em tudo do que disse, suas ideias nos proporcionam matéria suficiente para
refletir longamente sobre a empresa orgulho dos brasileiros.
É claro que a Petrobras possui corpo
funcional de primeira linha, com alguns muito abnegados. Mas também é certo que
a muitos deles falta senso de urgência, de comprometimento e que alguns hajam com
arrogância de quem tenha rei na barriga.
Outro ponto é o monopólio em si e a
imensidão dele no caso da Petrobras.
Alguns dizem que monopólio estatal é
útil para dar funcionalidade a políticas de governo.
Discordo. Políticas por meio de
estatais, são discricionárias, não passam pelo crivo dos representantes do povo,
e por isso mesmo, frequentemente, causam grandes problemas a essas empresas e,
por fim, ao povo e ao interesse nacional.
Se o governo quer subsidiar agricultura,
comprador de casa própria ou consumidor de gasolina, deve fazê-lo diretamente
ao cidadão a ser beneficiado. Mas quando o fizer será a todos para que não
cometa injustiças, ou não abra portas à corrupção.
Péssimos resultados de más
administrações se ocultam sob alegação de gastos no cumprimento de políticas de
governo
Políticas de Estado devem ser exercidas
exclusivamente por meio de orçamento previamente discutido e aprovado pelo Congresso
Nacional.
O mesmo princípio cabe ao
desenvolvimento tecnológico necessário à exploração do pré-sal. Se é política
de governo a obtenção de autossuficiência nacional na produção de petróleo, e este
não é encontrado em quantidade suficiente no território nem no mar continental,
é forçoso procura-lo em mares profundos.
Para isto se torna necessária nova
tecnologia para cuja pesquisa e desenvolvimento se requerem pesados e demorados
investimentos, os quais devem, também ser objeto de proposta orçamentária debatida
e aprovada pelo parlamento.
O que não deveria ser admitido é a
sobrecarga do consumidor, o cidadão comum, que paga altos custos de fretes cumulativos
embutidos em todos os preços, cujo insumo maior é o combustível superfaturado
para cobrir custos de políticas governamentais não aprovados pelo Congresso. Isto
sem falar em propinas a funcionários e políticos corruptos.
Se assim fosse, a Petrobras seria
saneada de obrigações que não lhe competem e poderia manter o foco, com maior
zelo e eficiência, em suas atribuições específicas: pesquisa, exploração,
refino e oleodutos entre estes dois últimos. Ainda melhor se também se livrasse
de atividades fora de seu escopo, como geração de energia, distribuição de
combustíveis e produção de álcool e petroquímicos.
Esta grande crise por que passa a
Petrobras pode ser a grande oportunidade de reestruturação e consolidação de
que tanto necessita.
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