No primeiro se decide se as margens de cursos d’água serão
reflorestadas ou não, em que extensão, e não apenas nas propriedades rurais,
mas em locais que me parecem improváveis, como o Palácio Alvorada, a marginal
do Tietê, as lagoas Pampulha e Rodrigo de Freitas.
O segundo determinará a continuidade das cotas raciais nas universidades,
coisa que considero equivocada, não pela política afirmativa, com a qual
concordo plenamente, mas porque esta deveria ser aplicada desde a pré-escola, a
todas as crianças, sem distinção, para que não haja necessidade de introduzir o
abominável critério de raças.
O terceiro é o sacrifício de Lula em sair de sua convalescença
para instruir sua discípula como se comportar diante das tormentas em cascatas da
CPI do Cachoeira, águas que podem levar de roldão próceres de todos os
partidos, começando com o ex delegado, ex promotor e atual senador Demóstenes,
ameaçando paralisar obras do PAC, da Copa e das Olimpíadas.
O quarto são as conferências e palestras que o ilustre economista
indiano profere, esta semana, em importantes centro acadêmicos de nosso país.
Armatya Sen é autor de um dos livros sobre economia mais difundidos das últimas
décadas: Desenvolvimento como Liberdade, no qual disserta sobre a liberdade como
importante fator de melhoria nas condições de vida, e vice-versa, e propõe que
grau de liberdade seja excelente indicador de qualidade de vida.
São assuntos que merecem reflexão. No entanto, comentários sobre
comportamentos sociais, proferidos por pessoas que considero e admiro, me fazem
refletir e comentar a questão dos costumes e da variação destes conforme as
épocas. Eis alguns comentários de J. Ninos sobre Valesca
Popozuda: “É o fim do poço para a música
brasileira... Pensei que ainda ia demorar mais um pouco a degradação final...
Sodoma e Gomorra é aqui!!!” Antenor Giovannini repercutiu estes
comentários em seu blog.
Em 1950, na praia de Boa Viagem, no Recife, vi pela primeira vez
algumas moças vestindo biquínis. Gostei do que vi, mas foi verdadeiro escândalo
comentado por moças em duas peças e senhoras em maiô completo. Hoje em dia
estão todas de fio dental e ninguém diz nada, assim como o publico que passeava
por uma praia artificial inaugurada na Dinamarca em 2005 nem olhava para os
casais que entravam n’água completamente despidos. O tempo muda os costumes.
As práticas sexuais da Sodoma e Gomorra - que deram origem ao
vocábulo sodomia, pecado abjeto para todos até algum tempo atrás, e para
alguns ainda hoje - são livremente exercitadas por muitos e extensamente aceitas
pelos demais, inclusive com matrimônios homossexuais sacralizados pela lei
civil. O tempo muda a moral.
Até bem poucas décadas mulheres não votavam, eram relegadas ao
exercício dos afazeres do lar, vestiam-se recatadamente e iam à igreja cobertas
por véus, nunca diziam palavrões, não olhavam diretamente para homens e, se cometessem adultério, eram
assassinadas em defesa da honra masculina. Mas a
mulher mudou sua condição, se homens podem ascender à presidência, elas também,
se eles dizem palavrões, elas os imitam, se homens buscam livremente parceiras
sexuais eventuais, elas os igualam e fazem, sem restrições, tudo o que os homens
praticam sem queixas ou recriminações desde o início das eras. O tempo muda a
sociedade.
Piriguetes nada fazem diferente do que os rapazes sempre
fizeram: buscam sexo como divertimento descompromissado. E se eles se referem a
elas em termos depreciativos, bravateando feitos com palavras cruas, a
recíproca agora é verdadeira. Em bailes funks, mulheres são chamadas cachorras
e se aceitam como tal, multidões delas se agitam em coreografias sexuais,
declarando em versos candentes que podem se divertir quando e com quem lhes
convier e aceitar. O tempo muda os costumes, a moral e a sociedade.
O tempo muda tudo. A verdade imutável é: dentro da lei e da ordem,
desde que não prejudique os demais, cada indivíduo tem o direito de se
comportar como lhe convier em busca da felicidade. O resto é preconceito.