É
uma lástima. Eis aí o resultado. Você acha que, depois do plebiscito, o
Grão-Pará continua o mesmo? Vejo claramente a profunda divisão expressa em números
indiscutíveis, mais de 90% em cada lado, em Marabá, mais de 92%, em Santarém,
ultrapassou 98%, em Piçarra chegou a 99,5% de SIM. E por todo o Grão-Pará, os
mesmos números para o NÃO. Quer me dizer que isto não é profunda divisão? De uma
parte, Grão-Pará, do outro lado do abismo, Tapajós e Carajás. No meio, o
indeciso Xingu, ansioso por ter seu próprio Estado. Trombetas foi mais sábio,
entende que apoiando o Tapajós encontrará mais facilmente o caminho de sua
própria autonomia.
Como
já disse, o indiviso Pará está dividido. Não há como negar. Minha posição de
luta de sempre pelo Tapajós e, a partir da campanha do plebiscito, também pelo
Carajás, reflete essa realidade, com a qual teremos que conviver da melhor
forma, civilizadamente.
Por
algum tempo, queiramos ou não, vamos conviver com o governo dissimulado,
prepotente e colonizador do Grão-Pará. O mesmo que tentou nos engodar fazendo
de conta que a capital do Pará era Santarém nos 350 anos da cidade, como se
fossemos crianças a enganar com rebuçado. Não vamos ceder um mícron em nossa
luta pelo Tapajós e Carajás. Mas nas questões administrativas temos de ser
pragmáticos. Se necessário, beijaria o Jatene, se assim pudesse atar-lhe as
mãos por trás, junto ao traidor Helenilson. Isto é pragmatismo. Porém, Tapajós
e Carajás sempre defendendo seus ideais, até que um dia encontremos a solução
final, nossa autonomia.
Talvez,
improvável talvez, se ambas as partes reconhecerem a realidade da divisão
sentimental, moral, cultural, psicológica e se encararem realisticamente a
situação, o Grão–Pará possa encontrar a solução mágica que conduza à união.
Isto não é novidade, os Estados do Rio de Janeiro e da Guanabara se uniram para
benefício mútuo.
Poderia
o Pará se reunir? Isto cabe exclusivamente ao Grão-Pará. Nós queremos separar,
não moveremos uma palha para unir, está fora de cogitação
qualquer
iniciativa nossa neste sentido. O Grão-Pará quer a união. Ao Grão-Pará compete
agir se desejar, encontrar meios de atrair, conquistar, convencer para reunir,
não de fato, por imposição da maioria intransigente, prepotente e colonial como
é agora, mas pelo coração, pela alma, com sinceridade e ternura, se for capaz,
o que duvido.
Como
homem experiente, vivido, sei que este é o caminho deles, dos colonialistas.
Não moverei um átimo para trilhá-lo e estarei sempre atento a possíveis
melífluas artimanhas do embusteiro para antecipá-las e desfazê-las de imediato.
Ao
mesmo tempo, sem qualquer consideração com o que possa vir do Grão-Pará, nós,
Tapajós e Carajás unidos e solidários, legitimados por votação quase unânime de
mais de 90 % de nosso povo, vamos estabelecer nossos comandos centrais comuns,
o ostensivo e o secreto, nosso estado-maior para planejar em longo prazo nossas
campanhas de relações-públicas, propaganda, ação parlamentar, recrutamento,
finanças, inteligência e guerrilha civil pacífica. Vamos instituir nosso
quartel general e comandos operacionais para executar movimentos de
desobediência civil, resistência passiva, ação direta de ataca-e-foge, sempre
em ordem e sem violência.
Vamos
bloquear o tráfego de balsas do Sabino e do Flexa e outros balseiros de Belém ao
longo do Amazonas, fechar o Estreito de Breves, conquistar apoio do Xingu e parar
Belo Monte, interditar postos da Receita Federal e Secretaria de Finanças do
Estado em todos os municípios do Tapajós e Carajás (MST pode, porque não
podemos?), fechar os portos da Cargill (Greenpeace pode, por que não podemos?),
da Alcoa e da MRN, paralisar trens e minas da Vale, vamos dar o troco pelo
apoio de que necessitávamos e não nos concederam, vamos cessar o lucro dessas
mineradoras, interromper o crescimento da China por falta de alumínio e ferro.
Quando
interrompermos o tráfego de mercadorias da Zona Franca, a indústria paulista
vai tomar conhecimento de nossa existência (porque faremos relações públicas
prévias) e ajudar a resolver nosso problema. Todos os nossos atos serão de
propaganda e seremos sempre os mocinhos perseguidos pelo dragão do mal. O Mundo
inteiro vai tomar conhecimento de nós e de nossa luta. O Congresso vai tomar
conhecimento.
A
polícia colonial do Grão-Pará vai nos sentar o pau. Virão aqui na minha casa e
me levar preso, do que já me ameaçam. Vamos ter que aguentar isto, porque
sabemos que fazemos o que é certo e justo, e que a vitória final será nossa.
Gandhi nos ensinou isto. Martin Luther King prosseguiu. Mandela confirmou. Todos
sofreram. Todos venceram. Vamos perseguir e realizar nosso sonho.
O
Grão-Pará obteve vitória de Pirro. Como romanos, reagrupamos nossas legiões,
reformulamos nossa estratégia. Unidos, Tapajós e Carajás, Trombetas,
Baixo-Amazonas e Xingu, atacaremos em todas as direções e venceremos.
Nossa
posição é firme e única, ao Tapajós e Carajás NOSSA VIDA! Ao Grão-Pará,
simplesmente, NÃO e NÃO!
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