Naquela oportunidade, comentando a restauração e readequação
da Estação das Docas, do Parque Residência, Feliz Luzitânia, Polo Joalheiro e
Mangal das Garças, disse ao Secretário de Cultura que Belém sempre fora, para
mim, apenas um ponto forçado de baldeação entre Santarém e meus destinos
finais, mas que agora a capital do Pará era uma cidade agradável de ser visitada
e apreciada e que o responsável por isto era ele, Paulo Chaves, por sua visão,
sua pertinácia e seu talento.
Recordo-me disto por ter afirmado, em artigo recente, que o
governo e a alta burguesia de Belém sugam e se apoderam dos recursos dos povos
do interior para os aplicar em seus parques e palácios para seu próprio uso e
prazer. Mas não sou apenas eu que afirma isto e, para exemplificar, embora não
concorde no todo ou parte com seus autores, transcrevo alguns comentários a
respeito daquelas atrações de turismo e lazer.
“Olha as construções de obras eleitoreiras: a Alça Viária, o
Mangal das Garças, o Palacete Pinho”. O Liberal, Poder, 14/06/2004.
“Uma obra faraônica, inegavelmente bela, mas claramente
elitista que privilegia, sobretudo os turistas de grande poder aquisitivo e a
classe média alta. (...) Mangal da Garças, apresentado como um
parque naturalístico, construído em área de aproximadamente 40 mil metros
quadrados e cujo custo final, inicialmente estimado em R$ 7 milhões, ficou em
R$ 15 milhões.” Diário do Pará, Luxo do Mangal agride a pobreza. 16/01/2005.
“Vivemos em um país de terceiro mundo, onde realidades
distintas se confrontam diariamente, e não podemos vendar nossos olhos para
essa realidade que temos e vivemos, ou seja, privilegiar uma parte da população
em detrimento de outra. Criar espaços para poucos e monopolizar o direito que é
de todos. Temos que compreender o lazer dentro de uma totalidade, levando em
consideração os interesses políticos e econômicos que estão intimamente
relacionados a ele”. MANGAL: CONSTRUÍDO PRA QUEM? Elba Maia Silva, Esp. em
Lazer / UEPA, Eliane do S. de Sousa Aguiar, Esp. em Lazer/ UEPA.
Os dois primeiros comentários revelam clara oposição
política ou contrariedade de interesses com o governo de então, enquanto o
terceiro deixa transparecer forte viés ideológico. No entanto, todos corroboram
minha firmação quanto à exploração que a metrópole exerce sobre o interior e a
pobreza impede o povo de se beneficiar daqueles atrativos.
Não sou, absolutamente, contra Estação das Docas, do Parque
Residência, Feliz Luzitânia, Polo Joalheiro e Mangal das Garças. Muito pelo
contrário, sou plenamente a favor. Apenas constato duas coisas: primeiro - que
tais atrativos só podem ser alcançados por turistas e cidadãos mais abastados,
sendo impossíveis de fruição pela grande maioria da população, as classes de
menor poder aquisitivo; segundo – essas obras estão, como sempre, restritas à
capital e nada é feito, neste sentido, e muitos outros, nas cidades do
interior.
No primeiro caso, fica evidente que o “Pará que te quero
grande” se destina ao gozo de pequena minoria abastada de Belém, enquanto o
povo fica relegado ao abandono e à pobreza. De que adianta tal enormidade
territorial se o povo não frui nada do que faz grande o Pará?
No segundo caso, fica mais evidente ainda, que a única
maneira de corrigir esta e outras grandes injustiças é o desmembramento do Grão
Pará em vários estados conforme as peculiaridades regionais, a começar pela
criação do Tapajós e Carajás.
O que queremos é que obras de embelezamento, lazer e atração
turística, como essas que realçam a faceirice de Belém, sejam também realizadas
em Óbidos, Marabá, Prainha, Jacareacanga, Altamira, enfim, por toda parte. Que
tenhamos restaurações e readaptações similares ao Mangal das Garças e Estação
das Docas realizadas em Santarém, Beltrerra, Fordlândia... E que nossas
populações se beneficiem do desenvolvimento cultural, social e econômico para
poder delas gozar.
E isto só alcançaremos votando SIM 77 Carajás, SIM 77 Tapajós.
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