Ao procurar outro documento, encontrei por acaso palesras do Encontro Nacional dos Convention e Visitors Bureaux realizado em Brasília, nos dias 15 e 16 de setembro de 2005, com ênfase no Programa Excelência em Gestão de Turismo de Eventos. Entre as palestras, a de Rui Carvalho, uma das cabeças pensantes do turismo no Brasil, que conheci quando ele era executivo do bureaux de Campinas.
O que considero importante não são as palestras, mas o tema: Eventos. E é isto que me traz a escrever novamente sobre esta minha paixão: Turismo.
As ações do corpo institucional de governo dedicado ao turismo, Ministério, Secretarias estaduais e municipais, Embratur e outras agências semelhantes, com apoio do Sebrae e suas similares, tem papel importante na estruturação e aperfeiçoamento da atividade turística. No entanto, como não poderia deixar de ser, tratando-se de orgãos oficiais ou para-oficiais, suas ações possuem os entraves da mentalidade e da legalidade burocráticas. E isto se reflete em todas as atividades dessas instituições. Elas são necessárias como órgãos normativos e promotores, mas não são nem poderiam ser, pela própria natureza delas, é claro, executores dos negócios turísticos.
Isto me faz pensar no que de fato constitui a base do turismo e qual o resultado desejado. Turismo se faz, essencialmente, com espírito de aventura e empreendedorismo.
Ninguem faz turismo sem o mínimo de curiosidade e disposição para o encontro de situação diferente das habituais. Conheço gente que não sai de casa nem para ir até a esquina comprar cigarro; se o vício não a move, nada mais o fará. Portanto, quanto maior seja a predisposição e a curiosidade para o contato em primeira mão com paisagens, pessoas, costumes, sons e sabores nunca dantes encontrados, ou o desejo de reencontrá-los, maior será a iniciativa de pegar as malas, ou a moxila, e partir no rumo do mundo. Para estes não há necessidade de infra-estrutura, de facilidades, de amenidades. Tem gente que se aventura e dorme em cama feita de sal no deserto de Astracan e enfrenta outros desconfortos, alguns ainda piores.
O apóstolo Paulo inventou o turismo religioso e percorreu regiões marginais do Mediterraneo levado pelo espirito catequético. Marco Polo inventou o turismo cultural. Quem teria inventado o turismo científico? Ou o de negócios? E quantos viajantes não percorreram dificuldades enormes em nome ou em busca da Ciência? Turismo requer a ânsia da novidade.
Mas nem todos os que têm esse desejo dispõem dos recursos necessários. É ai que entra o outro elemento essencialmente necessário ao turismo, o empreendedor, a pessoa que vislumbra oportunidades e os meios de as realizar. Thomas Cook, por exemplo. Aproveitando excesso de capacidade de navios de transporte de tropas inglesas e francesas, Cook vendeu a abastados londrinos a oportunidade de conhecer o mítico Egito.
Nas épocas de Paulo, Marco Polo, de Cook e sua clientela, não havia aeroportos nem lindas recepcionistas uniformizadas, o próprio conceito e a palavra turismo não existiam. Não havia infra-estrutura turística. No entanto, o turismo se fez com apenas suas duas coisas essenciais: aventurismo e empreendorismo.
Fico refletindo sobre o enorme desperdício de talento e dinheiro com firulas acadêmicas e burocráticas a pretexto de promoção, aperfeiçoamento e incentivo ao turismo. Sei que muitos destes investimentos são necessários no mundo moderno e globalizado desta idade do conhecimento e da informação. O que desejo é chamar a atenção para o fato de que se perde o foco na essencia e se despende esforço desproporcional no acessório.
Todos sabemos, é claro, que o grosso do dinheiro da atividade turísticca encontra-se no turismo de eventos. Não está no turismo ecológico, não está no turismo de laser, está em eventos. Eventos culturais e profissionais, principalmente. Mas estes eventos, por vezes, são realizados sem o apoio ou intervenção, até mesmo sem o conhecimento dos órgãos promotores do turismo. Isto porque são iniciativas de grupos diretamente interessados, sejam em congressos médicos ou feiras comerciais.
Evento é a conjugação de esforços de muitas áreas de atividade, cultural, profissional, econômico, social, com suas diversas nuances, na qual o setor do turismo entra como especialista no planejamento e coordenação de eventos, colocando-se a serviço do setor diretamente interessado. Apesar disto, ressalta a carência de iniciativas consistentes, abrangentes e competentes de alguns setores do turismo nesta importantíssima função.
O investimento dos órgão promotores deveria priorizar o espírito de aventura e o empreendedorismo, o aventureiro e o empreendedor, o turista e o operador de turismo. E se o objetivo for o faturamento, lotar hoteis e restaurantes, fazer casas de diversão, comércio e taxistas felizes, então o foco é um só: Eventos.
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