Historicamente, até a Constituição de 98, sempre foi muito forte a participação das Forças Armadas Brasileiras, do Exército, principalmente, na política nacional. Para não ir longe demais, mesmo após a reorganização e profissionalização do Exército Brasileiro levada a efeito pelo futuro Duque de Caxias, em meados do século XIX, a oficialidade era contaminada pelas mais recentes ideologias européias, culminando na disseminação do Positivismo de Augusto Conte cujas idéias deram origem à proclamação da República (inclusive com a inserção do dístico positivista "Ordem e Progresso" na bandeira nacional republicana).
Diversas revoltas e o fenômeno do "tenentismo" permearam o meio militar até a ascensão de Vargas em 1930. Após a Revolução Constitucionalista de 1932, Góes Monteiro conseguiu enquadrar os arroubos idealistas da juventude militar e sufocar as ideologias comunista e fascista permitindo que Vargas proclamasse o Estado Novo em 1937. A Intentona Vermelha de 1935 e a derrota do nazi-fascismo na Segunda Grande Guerra , incutiram sentimentos anticomunistas e pró-democráticos em nossas forças armadas, apoiando a negação do totalitarismo do Estado Novo, a deposição de Vargas e a redemocratização do país em 1945.
À parte as inconseqüentes insurreições do tipo das cometidas pelo major Veloso, menos ideológicas e mais emotivas, injustificadas no momento em que se inaugurava o governo democrático de JK ou, antes disto, da revolta pelo atentado a Carlos Lacerda, o advento da Guerra Fria provocou uma cisão ideológica no seio do Exercito, a maioria mantendo-se legalista e uma minoria muito ativa, ideologizada e treinada nas práticas revolucionárias do Cominterm, emanadas de Moscou, ou nas táticas de guerrilhas de Mao Tse. Essa minoria estava , no início de 1964, prestes a assumir o poder em um golpe de estado que estabeleceria um regime totalitário semelhante ao de Fidel Castro, embora mantendo por algum tempo a figura do presidente João Goulart como títere de um governo comunista aliado a Cuba e à União Soviética.
Num ambiente de ameaças e preparação de golpes e contragolpes de pleno conhecimento dos serviços de inteligência das três Forças, não seria sem séria razão de autodefesa que Mourão se antecipou, marchando com suas tropas de Juiz de Fora para o Rio de Janeiro na noite de 31 de março de 1964 inaugurando o Regime Militar.
Embora nunca tenham sido templos imaculados de puras vestais - há notícias de praticas de abusos e locupletações, principalmente na área da intendência militar - o povo brasileiro sempre encarou nossas Forças Armadas como a reserva moral da nação, esperando delas o exemplo e a edificação, senão a correção, de nossas instituições políticas. Infelizmente, o regime ditatorial que se implantou em nosso país, sem controles e sem censura, pela supressão da liberdade de imprensa e pela ocupação por oficiais superiores de praticamente todos os cargos administrativos importantes em autarquias e empresas estatais, criou o caldo de fermentação da corrupção moral deslavada que assaltou a nação e cujos efeitos se refletem até hoje.
A politização das forças armadas nunca foi algo que beneficiasse a democracia em nenhum lugar do mundo. Por isso mesmo, as democracias plenamente estabelecidas mantém suas forças armadas como corpos totalmente apolíticos, altamente profissionalizados a serviço exclusivo das normas constitucionais pétreas e dos interesses nacionais.
Aqui chegamos a dois conceitos de extrema importância ética no comportamento das forças armadas nacionais, temas que abordaremos no próximo artigo.
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