Sebastiao Imbiriba*
Como disse, em artigo anterior, estamos no Recife visitando filha, genro e netos. Embarcaríamos de volta a Santarém na véspera de Dia de Reis, mas quando a data foi se aproximando o coração apertou, o medo das saudades afluiu. Sentimentos conflitantes, medo de deixar os daqui, saudades dos de lá começando a machucar. Desejamos, Nancy e eu estar em vários lugares ao mesmo tempo, junto de nossos netos, nossa alegria, nossa continuidade. Adiamos para início de fevereiro. Mais um mês pernambucano.
Aproveitamos para outra encantada visita, desta vez a uma fábrica, ao mesmo tempo museu, exatamente no lugar visitado por mim há mais de cinqüenta anos, onde existira grande fábrica de tijolos, telhas e porcelana fina. Onde havia a Cerâmica São João da Várzea, fundada em 1917 por Ricardo Brennand, cujas atividades encerraram na década de 1950, Francisco Brennand, filho do antigo proprietário, reabriu o estabelecimento, em 1971, com o nome de Oficina Brennand.
Francisco começara sua vida como desenhista, pintor, escultor e ceramista sob orientação de importantes artistas contratados por seu pai para alimentar de talento e arte as linhas de produção fabris. Com apoio do pai enveredou pelas artes, mas não perdeu a herança industrial. A Oficina Brennand é uma indústria que produz arte e isto se percebe no jeito peculiar deste museu ímpar. É aqui que o artista fabrica seus sonhos.
A Oficina produz pisos e revestimentos de altíssima qualidade requisitada por arquitetos famosos para enriquecer seus projetos. Produz, também, objetos utilitários e decorativos, jarras, copos, cinzeiros, pés de mesa, uma infinidade de coisas, cada uma delas carregadas do espírito criador, inventivo, deste grande artista que é Francisco Brennand. Mas é no museu que o talento do escultor, do desenhista se revela em toda plenitude.
Ao nos aproximarmos, somos saudados por quatro figuras de saltimbancos, esculpidas pelo artista e plantadas junto ao portão de entrada. Nossa visita começa pelo Templo Central, que guarda em sua cúpula o Ovo Primordial, símbolo da imortalidade.
Por trás do Templo, encontramos primoroso jardim projetado pelo paisagista Burle Max, enriquecido com esculturas de Brennand, a Praça Burle Max. Penetramos o enorme Salão de Esculturas, com esculturas e painéis do artista em exposição permanente e onde também encontramos o Anfiteatro com piso em forma de mandala.
Vamos agora à Academia, prédio moderno onde encontramos galeria com mais de trezentos desenhos e pinturas do artista. Ao lado, encontramos o Auditório Heitor Villa Lobos, com cento e trinta lugares, cujo lobby serve de sala de exposição dos objetos de arte à venda. Passamos pelo Estádio, espaço onde se realizam eventos, e vamos até o Templo do Sacrifício que, segundo o artista, se destina ao resgate de culturas assassinadas. Os dois templos possuem grandiosidade peculiar impressa pelo artista.
Chegamos, por fim, à Loja-café, onde compramos algumas lembranças e fazemos um lanche de comidas regionais, enquanto recordamos e comentamos as mais de duas mil peças - sem contar pisos e revestimentos variados - murais, painéis, esculturas, desenhos, pinturas de alto valor artístico que acabáramos de admirar.
O que mais me admira é a capacidade deste fantástico ceramista, escultor, desenhista, pintor, tapeceiro, ilustrador, gravador e poeta de unir senso fabril com extraordinário talento artístico. Esta foi realmente uma visita encantada pelo reino da imaginação de Francisco Brennand.
* Artigo publicado em O Estado do Tapajós, jornal diário de Santarém, Pará, onde Autor (75) escreve sobre temas de interesse geral, principalmente amazônicos.
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