Há poucos dias escrevi que “Não basta tolerar, o democrata ama a diferença e respeita o diferente”. É este estado de espírito aberto ao entendimento que nos faz apreciar a obra de arte e o desempenho virtuoso do artista e descolar essa apreciação do caráter e das ideias do autor e do intérprete. Ao ser produzida a obra de arte adquire vida própria, autonomia e valor intrínseco.
Este
entendimento me vem à lembrança ao ler o comentário laudatório de interpretação
musical de um de meus sobrinhos, filho de irmão muito amado, por uma neta a
quem amo e respeito por sua inteligência e cultura. Algumas primas e a própria
mãe dela a acompanharam nos elogios ao primo violonista.
De
fato, eu próprio admiro os dotes virtuosos desse talentoso sobrinho e seria o
primeiro a cumprimentá-lo efusivamente, se me fosse aberta a oportunidade, não
fora triste fato ocorrido há já alguns anos.
Um
de meus prazeres mais apreciados é o debate de opiniões, as mais diversas, com
pessoas democráticas e cultas, e tive o prazer de trocar ideias, pelo Facebook,
com esse talentoso sobrinho, cada qual com suas bem enraizadas verdades. No
entanto, em determinado momento, meu contra debatedor me fez a seguinte
declaração: “Tio, só não o chamo de imbecil porque o senho é meu tio”.
Respondi-lhe com palavras gentis e apaziguadoras, o que
parece tê-lo irritado ao ponto de me eliminar do seu rol de amigos no Facebook.
Não me ofendi, apenas fiquei triste com o que me pareceu atitude intolerante, antidemocrática e imatura de alguém que não tendo argumentos apela para a ofensa. Mas isto, em absoluto, jamais prejudicou minha apreciação pelo talento musical desse sobrinho que continua a ser muito querido.
Antigo
provérbio chinês afirma que o sábio a tudo perdoa por conhecer as causas de
todas as coisas. Não sou sábio, longe disso, luto arduamente para adquirir
algum saber e é por isso mesmo que, além de ser um socrático fazedor de
perguntas, aprecio o bom debate.
E, acima de tudo, sei dar valor à Arte e ao Artista de alta qualidade.
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