13 de março de 2018

Mais valor x satisfação.



Análise comparativa do mais valor (mais valia) extraído pelo capitalista com a sensação de satisfação e recompensa do consumidor pelo usufruto dos bens adquiridos, nas sociedades de livre circulação de pessoas, mercadorias, serviços e capitais.

É fato histórico, empiricamente comprovado que, em sistema de livre produção e circulação de pessoas, mercadorias, serviços e capitais, a riqueza se concentra em cada vez menor número de proprietários do capital.
Essa concentração deriva da aplicação do capital na produção de mercadorias e serviços lucrativos, isto é, cujos preços cubram todos os custos e ainda contenham margem adicional, mais valor (mais valia), que remunere a aplicação do capital. Se o capitalista mantém seu capital imobilizado ou o aplica em atividade não lucrativa, o resultado é perda de capital. Pelo contrário, se o aplica em empreendimento lucrativo, terá seu capital aumentado. Quanto mais eficiente seja o capitalista na obtenção de mais valor mais rico fica em relação e detrimento dos menos produtivos.

Mas nem todo produto é lucrativo. Apenas a mercadoria ou serviço que seja suficientemente gratificante, que proporcione satisfação recompensadora do preço pago pelo comprador, produz mais valor, e apenas se este efetuar efetivamente a compra. Caso contrário o produto fica paralisado do estoque gerando despesas, diminuindo o potencial de lucro, eventualmente deteriorando ou tornando-se obsoleto, causando prejuízo.
O mais valor somente se realiza quando a venda se completa.
Se, de um lado, o capitalista é livre para aplicar seu dinheiro onde lhe aprouver, do outro, o comprador também é livre, exceto em caso extremo, para escolher onde, de quem e o que comprar. O consumidor decide se quer ou não pagar o preço solicitado pelo produto oferecido.
Portanto, o lucro, tanto quanto a concentração do capital, necessariamente deriva da satisfação ou recompensa que o consumidor atribui ao produto que lhe é oferecido, e somente se este aceita pagar o preço.
Podemos, então, dizer que o mais valor objetivado pelo capitalista só existe se, simultaneamente, houver suficiente satisfação ou recompensa do comprador.
Também é fato histórico, empiricamente comprovado, que há constante renovação e surgimento de produtos, até de suas finalidades, bem como da sensação de satisfação e recompensa percebidas pelos consumidores, todas variando ao longo do tempo conforme a evolução da informação, do conhecimento e da cultura dos povos. Grandes companhias desapareceram porque não se adaptaram e foram substituídas por outras completamente novas, oferecendo novos produtos, satisfazendo novas necessidades.
A sensação de recompensa percebida pelo capitalista se processa em prazos maiores do que a do consumidor.
O primeiro deve pesquisar, planejar, projetar, construir, contratar, produzir, estocar, distribuir, vender e receber antes de receber o benefício. O retorno do investimento lhe chega às mãos a médio e longo prazo, a conta-gotas.
O consumidor recebe o produto e o usufrui imediatamente, muitas vezes muito antes de terminar o pagamento. A sensação de recompensa é imediata. No entanto, sua contribuição para o maior valor é imperceptível fração do preço pago.
O consumidor moderno está informado do mais valor que faz o lucro do capitalista, assim como dos tributos e outros itens inclusos no preço do produto. Não obstante, considera todos esses itens partes necessárias à formação do produto e de seu preço. Assim como os tributos custeiam as funções de Estado, as despesas pagam os insumos e a mão de obra, o mais valor paga o risco assumido pelo capitalista ao investir seu capital na satisfação da necessidade do comprador. É do usufruto do bem adquirido que o comprador extrai a sensação de recompensa. É isto que cria o contentamento geral nas sociedades mais desenvolvidas.
O que importa não é o quanto ganham todos os que contribuem para a produção do bem adquirido, mas o quanto o consumidor dispõe para adquirir as mercadorias e serviços de que necessita e o sentimento de satisfação que percebe ao usufruir os bens que adquire.


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