Nesta
quarta-feira, 13 de junho de 2012, abriu-se a Conferência Rio +20. O foco não
recai sobre mudanças climáticas, mas sobre desenvolvimento sustentável. Essa
expressão, sustentável, ligada a desenvolvimento, foi primeiramente usada no
Clube de Roma, em 1972, por cientistas do MIT, em relatório sobre Limites ao
Crescimento, onde declaram estar em busca de modelo representativo de um
sistema mundial sustentável e sem colapso, capaz de satisfazer as necessidades
básicas de toda sua população.
Sustentável
é o desenvolvimento que atende às necessidades do presente sem comprometer o
suprimento das gerações futuras. Esta é a definição do Relatório da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento de
1987. Ela contém dois conceitos fundamentais: a noção de prioridade que se deve
dar às necessidades básicas dos pobres do mundo todo e a dos limites do
ambiente em atender essas necessidades, presentes e futuras, devido à falta de
tecnologia e de adequada organização social.
Com
estes fatores, o desenvolvimento humano sustentável deve ser social e
economicamente equitativo, econômica e ambientalmente viável, e ambiental e
socialmente suportável.
Para
que isto aconteça, será necessário que o conhecimento sobre o meio ambiente se
converta em tecnologias capazes de multiplicar sua capacidade de produzir bens
e que a sociedade humana, isto é, o conjunto de governos, empresas e
organizações de toda sorte desenvolvam métodos de repartição universal e
equitativa dos bens produzidos.
Este
não é um processo novo. A Humanidade já enfrentou e sobreviveu a muitos
períodos de escassez. Algumas teorias sobre o crescimento populacional e dúvidas
sobre a capacidade do ser humano produzir alimentos em quantidade suficiente
tem sido lançadas, não apenas, como profecias aterrorizantes, mas como reificação
de fatos históricos em leis naturais imutáveis que lançam dúvidas sobre o
futuro da Humanidade. A resposta se encontra na quebra de barreiras
tecnológicas e de governança.
A
hipóteses de Thomas Malthus, em seus Ensaios de 1798 e 1803, repousam sobre dois
fatores que impedem o desenvolvimento harmônico da Humanidade: o crescimento
descontrolado da população aumenta em razão geométrica, enquanto os alimentos
aumentam em razão aritmética. O princípio da população se baseia na lei natural
da tendência da vida crescer além dos meios de nutrição, a qual se defronta com
outra lei natural, a da necessidade, que reprime o crescimento, mantendo-o
limitado.
Ao
analisar o que diz Malthus poderíamos deduzir que a relação entre recursos escassos
e população em crescimento contínuo transforma argumentos a favor do controle
populacional em verdades evidentes.
Meio
século mais tarde Carl Marx contestava tais verdades autoevidentes como meros
argumentos reacionários, característicos da natureza da produção capitalista,
uma das instâncias de como economistas burgueses reificam relações históricas,
sociais, políticas e econômicas.
Talvez,
tal como, no século XVIII, as classes dominantes inglesas combateram as ideias
da Revolução Francesa com argumentos como os Ensaios de Malthus, as classes
dominantes das economias centrais da atualidade estejam utilizando as
terrificantes profecias climáticas para controlar os despossuídos do Terceiro
Mundo. Não interessa às ricas nações do Norte que pobres do Sul se libertem da
ignorância e da pobreza, nem que os emergentes lhes façam concorrência
econômica.
As
conotações ideológicas das citações de Malthus e Marx não impedem a constatação
empírica do desempenho da Humanidade na crescente produção de bens em
sucessivas quebras de paradigmas. O contínuo crescimento das pesquisas científicas
e tecnológicas prometem produtos em abundância, melhores, inovativos, bonitos e
baratos para abastecer toda a Humanidade.
E não
há que temer a escassez de insumos, porquanto a própria inovação tecnológica é
capaz de prover novos e melhores materiais para substituir, com vantagem,
recursos naturais esgotados. E aqui nos deparamos com o verdadeiro problema, a
ignorância, a falta do conhecimento e da informação capazes de gerar a
tecnologia necessária aos povos ignorantes e, por isso mesmo, miseráveis do
Mundo.
Este, a
tecnologia, é um dos fatores, e neste, apesar de tudo, estamos indo bem. Já
hoje, a produção de alimentos seria capaz de abastecer toda a população da Terra.
Não o faz por falta do outro fator essencial, governança mundial adequada, que
é onde a Humanidade se perde no jogo de interesses e rivalidades de todos os
tipos, das econômicas e políticas, às religiosas e raciais.
O Mundo
precisa de governança da sustentabilidade, coisa que as Nações Unidas não tem
sido capazes de proporcionar, nem mesmo de produzir documento passível de ser
assinado por todos os participantes da Rio +20, protocolo que todos aceitem
como coisa viável e necessária. Esta é a grande questão com a qual se deparam
os participantes desta Conferência.
Será a
Rio +20 capaz de desatar o nó górdio da governança mundial, a única capaz de
conduzir a Humanidade ao desenvolvimento sustentável?
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