É inegável que a Rio +20 foi um grande sucesso de organização e de público, pelo menos em quantidade, uma vez que os presidentes das principais potências econômicas e poluidoras, Estados Unidos e China, exatamente as que mais e melhor poderiam contribuir, se escusaram de vir ao Rio de Janeiro. Portanto, o documento final da conferência retratou o consenso possível, o que não deixa de ter relevância, mesmo porque, embora desacompanhados de cronograma e metas financeiras, contém assuntos antes evitados em reuniões semelhantes.
O fato mais relevante é que os temas
climáticos foram quase totalmente suprimidos das discussões e que a ênfase
recaiu sobre a sustentabilidade e equalização do desenvolvimento. O Mundo
demonstrou que quer e precisa se desenvolver igualmente por todos os povos, ao
mesmo tempo em que reconhece a exiguidade dos recursos utilizáveis pela
tecnologia atual.
Para formar ideia da predominância
dada ao desenvolvimento sobre o clima podemos ver a lista dos temas do Fórum de Ciência,
Tecnologia, Inovação e Desenvolvimento Sustentável realizado na PUC-RJ com a
presença de cientistas de inúmeros países, todos enfocando os diversos aspectos
da sustentabilidade em diversas áreas. A única exceção foi a palestra de Carlos
Nobre sobre Mudanças climáticas. E isto foi apenas a replicação do que ocorreu
no Riocentro e no Parque do Flamengo.
Dogmas
de fé ecológicos, que apontam a ação do Homem como o pecado que muda o clima
global, mas jamais aceitos por nações poluidoras e consumidoras de recursos não
renováveis, e agora mais fortemente contestados por teorias científicas, são abandonados
por alguns de seus fiéis menos convictos e substituídos pela constatação nua e
crua da destruição do meio ambiente local, todos os ambientes locais, pelo uso
equivocado da natureza.
A
antiga verdade - nova descoberta para muitos - é que são as pequenas ações
destruidoras em diminutas porções do meio ambiente que causam os grandes
problemas com os quais se depara a Humanidade. Cada um de nós, individual ou
coletivamente, reunidos em lares, vilas, cidades e metrópoles, pequenas
oficinas, fábricas, usinas, refinarias e grandes indústrias, hortas, ortos e
jardins, pequenas chácaras, sítios e grandes fazendas, pequenos açudes e
grandes represas, pequenos canais e grandes redes de irrigação, está a cada
momento colocando em risco a Humanidade toda. É o somatório dessas
insignificantes ações que nos coloca em risco maior, e nos afeta em maior
número do que, por si sós, os fenômenos naturais poderiam fazer.
Quando
ocupamos margens de rios ou encostas íngremes, quando garimpamos usando
mercúrio, quando irrigamos com água salobra, quando desmatamos
indiscriminadamente, quando cultivamos monoculturas, quando produzimos
micropartículas de combustíveis fósseis e gases tóxicos de produtos químicos,
quando fabricamos lixo de toda sorte e o despejamos junto com esgoto, enfim,
quando emporcalhamos o mundo e a nós mesmos estamos nos oferecendo em
sacrifício à vingativa e cruel deusa Natureza.
O
que a Rio +20 nos aponta é nossa responsabilidade coletiva, que requer
políticas, liderança e financiamento públicos, não há dúvida nenhuma, mas que
começa em cada um de nós, individualmente, em nossa postura diante dos
problemas de manter o capital econômico, social e cultural que já acumulamos e
de sustentar e distribuir equitativamente o desenvolvimento de que a maior
parte da Humanidade necessita.
Há
um exemplo que já utilizei em outras partes, mas que se aplica para demonstrar
os problemas da sustentabilidade. É o caso da jovem mãe tentando sustentar a
vida do recém-nascido em seu colo. Ela chora desesperada ao ver o bebê definhar,
mas não sabe que a criança está desidratada e que um pouco de água misturada a
uma pitada de sal e três de açúcar pode salvar aquela minúscula vida. A mãe não
tem instrução, não tem conhecimento, não tem informação das coisas mais simples
e mais fundamentais, coisas que podem salvar vidas, a dela mesma e a de seus
filhos.
O
desenvolvimento sustentável e equitativo começa na educação. Não há
possibilidade de desenvolvimento, muito menos sustentável ou equitativo sem
conhecimento e informação, fatores indispensáveis à prática do Futuro de
Queremos proposto na Rio +20.